HÁ 12 ANOS DA MORTE DE LEONEL BRIZOLA: UM ADVERSÁRIO
POLÍTICO QUE OS REVOLUCIONÁRIOS RESPEITAM POR SEUS ACERTOS E O COMBATERAM POR
SEUS GRAVES ERROS, PRÓPRIOS DO LIMITE DE CLASSE DO NACIONALISMO BURGUÊS
O Blog da LBI publica o artigo elaborado logo após a morte
de Leonel Brizola, em 21 de junho de 2004. Como Marxistas Revolucionários somos
críticos da trajetória do legendário Brizola, porta-voz do nacionalismo burguês
no Brasil, limitado por seu próprio conteúdo de classe, mas respeitamos a sua
combatividade e a denúncia de fazia da submissão do Brasil ao imperialismo e a
sua representante no país, as organizações Globo, tão denunciada por ele como
uma máfia midiática anti-povo. Lembramos que o histórico fundador do PDT, que
inicialmente apoiou o governo de Lula em 2003, havia rompido com o PT em função
da opção entreguista e do arco de aliança reacionário montado para dar apoio
político a Frente Popular. O velho Brizola pouco antes de morrer em 2004 travava
uma dura batalha no interior do PDT para tirar completamente o partido da “base
aliada”, apesar dos inúmeros arrivistas sedentos por cargos e verbas estatais
do Planalto. Pessoalmente Brizola se preparava para sua candidatura à
prefeitura do Rio em 2004, com uma plataforma política de oposição frontal ao
governo de Lula, mas a sua vida faltou a este último e decisivo “encontro”,
deixando o PDT “órfão” como mais um partido fisiológico e nas mãos de picaretas
sem nenhuma história de luta, como Lupi e seus comparsas mafiosos. O carioca
Carlos Lupi foi quem se apropriou do espólio partidário do finado Leonel
Brizola, que em função de sua morte súbita não preparou um herdeiro político a
sua altura no PDT. Lupi, sem a menor história no trabalhismo e dotado de uma
“ideologia” pragmática, primeiro vendeu o partido para a primeira oferta do
governo da frente popular, com o qual o velho Brizola mantinha uma certa
reserva e agora para Ciro Gomes ser candidato à presidente pela legenda em
2018. Neste sentido, o atual PDT de Lupi
representa uma caricatura grotesca do que foi o velho “Brizolismo”, com toda a
sua carga de incoerências e sua própria natureza de classe. O PDT hoje é uma
sigla oca ultracorrompida que nada tem a ver com o velho nacionalismo burguês
de Brizola e Darcy Ribeiro. Do velho nacionalismo burguês de Jango, Darcy
Ribeiro e Brizola parece que não restou muita coisa, apenas um oportunista PDT
sem o menor perfil ideológico, povoado por máfias sindicais e oligarquias
regionais sem a menor história política, como os irmãos Gomes no Ceará. Brizola, que chegou a presidir a
Internacional Socialista, deve estar se remoendo no túmulo ao ver seu velho
partido nacionalista burguês ser traficado por Lupi em negociatas com figuras
sinistras deste calibre. Para os “nacionalistas” do PDT que juram fidelidade ao
trabalhismo de Brizola fica a patética tarefa de hoje aceitar passivamente os
novos “companheiros” representantes das reacionárias oligarquias dos Ferreira
Gomes, inimigos históricos dos trabalhadores, de qualquer traço de soberania
nacional e, obviamente, do socialismo!
MORRE LEONEL BRIZOLA, UMA CARICATURA DO ESGOTADO
NACIONALISMO BURGUÊS
Na noite de 21 de junho morreu, aos 82 anos, o ex-governador
do estado do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola.
Era o presidente de honra do PDT e vice-presidente da Internacional Socialista.
Um dos políticos burgueses mais antigos em atividade no país, sua trajetória
remonta do populismo varguista, ao qual aderira formalmente em 1945. Nesta
época fundou um núcleo do PTB (partido recém-criado por Vargas) no Rio Grande
do Sul na rabeira do chamado “movimento trabalhista”, uma vertente do populismo
na América Latina, o qual primava em seu âmago por atrelar as massas ao Estado capitalista
através dos aparatos sindicais semi-estatais, estimulando a formação do
peleguismo. Para o populismo era necessário destruir a independência de classe
do jovem proletariado brasileiro que começava a se enfrentar com a exploração e
miséria capitalistas, características de um país semicolonial.Um ano depois fora eleito deputado estadual e posteriormente
reeleito para um segundo mandato (1950), tornando-se líder da bancada petebista
na Assembléia Legislativa. Cinco anos depois, consegue eleger-se prefeito de
Porto Alegre com um número recorde de votos, superando em muito a soma de todos
os adversários juntos. Até então sua trajetória era obscura. Somente a partir
de 1958, após assumir a cadeira do Palácio do Piratini como governador do
estado do Rio Grande Sul, é que sua figura começa a ganhar projeção nacional,
ao encampar as companhias de energia elétrica (Bond & Share) e de telefonia
(ITT), pertencentes a empresas norte-americanas. João Goulart, seu cunhado,
assume a vice-presidência do país no dia 31 de janeiro de 1961.
Alarmado com um possível golpe branco, Brizola organizou a
chamada “Campanha pela Legalidade” em apoio à posse de Jango. Na condição de
governador do estado, encampou as rádios Guaíba e Farroupilha de Porto Alegre,
dando o ponta-pé inicial para a formação da “Cadeia da Legalidade”, ou seja, a
adesão de 104 emissoras de rádio à campanha em nível nacional. Brizola requisitou
da fábrica de armas Taurus, três mil revólveres e distribuiu-os a voluntários
de sua absoluta confiança política e armou trincheiras em torno do Palácio
Piratini. Recebera, em poucos dias, o decisivo apoio do comandante do III
Exército, o general Machado Lopes, declarando-se fiel também a João Goulart.
Somente no dia 2 de setembro a tentativa de golpe fora
dissuadida, quando o Congresso Nacional aprova uma emenda à Constituição que
institui o regime parlamentarista, uma manobra que retira poderes do presidente
da república. Desfeita a ameaça, Brizola tratou de desmobilizar a população. A
sua “resistência” jamais questionou o regime político; ao contrário, fora
cimentada pela Constituição burguesa, segundo a qual “estando a presidência
vaga quem assume é seu vice”. Ou seja, não adquiriu contornos de levante
popular armado, nem propunha algo semelhante, buscava a continuidade do
democratismo burguês. O que Brizola fez, foi canalizar o forte descontentamento
popular das massas para uma saída institucional nos marcos do regime vigente.
A mobilização organizada por Brizola conseguiu impedir o
golpe? Em parte sim, porque serviu para demonstrar que o Exército ainda se
encontrava dividido (o importante III Exército, por exemplo estava ao lado de
Jango) interna e externamente, uma vez que a aliança com o capital financeiro
internacional ainda não estava totalmente cristalizada, o que viria ocorrer
três anos mais tarde.
No fatídico dia 31 de março, quando as tropas saíram às
ruas, Brizola conclamou a que Jango resistisse. Jango imediatamente tratou de
demove-lo desta idéia. Brizola, então se submete, subordina-se à covardia e
passividade política típicas dos governos populistas que temem a ação das
massas populares.
Após o golpe de 1964, Brizola praticamente saiu da cena
política, dedicando-se à vida de latifundiário nas suas fazendas no Uruguai,
para só retornar em 1979 com a “Anistia” concedida pelos militares.
A DEFESA DE UM TRABALHISMO RECICLADO
Brizola, recolhido às suas fazendas no Uruguai, na condição
de latifundiário, estava afastado da política, tempo suficiente para estreitar
seus laços políticos com os grandes “estancieiros” — como eram conhecidos os
grandes latifundiários dos pampas gaúchos — da fronteira do RS com o Uruguai.
Em 1977, através da “Operação Condor” fora expulso do Uruguai, sendo obrigado a
exilar-se em Portugal e depois nos EUA, quando entrou em contato com a social
democracia européia (II Internacional). Dois anos mais tarde, inicia uma
articulação da qual surge a “Carta de Lisboa”, um libelo da fundação do
“socialismo moreno”, agora sob forte influência de intelectuais como Darcy
Ribeiro que tinha a educação e as questões sociais como manto ideológico de sua
nova orientação política (a idéia dos CIEPs, por exemplo). Na realidade,
Brizola queria se livrar da pecha de “subversivo” que lhe fora inculcada pelos
militares durante todo esse tempo.
Em 1982, nas primeiras eleições diretas para governador após
o golpe de 1964, Brizola candidata-se ao governo do Rio de Janeiro. Quase sem
chances diante das candidaturas já alicerçadas de Miro Teixeira (PMDB), Sandra
Cavalcanti (PTB) e Moreira Franco (PDS), no correr do processo eleitoral sua
campanha cresce e supera seus concorrentes de maneira surpreendente. Os
militares tentam barrar sua vitória através de fraude eleitoral com a ajuda da
Rede Globo, no que ficou conhecido como “Escândalo Proconsult”, que consistiu
na apuração dos votos primeiro do interior do estado, onde Brizola era
eleitoralmente fraco. A divulgação dos resultados da capital foi retardada ao
máximo, dando margem a uma descarada fraude eleitoral. Brizola dá início à
denúncia do estelionato em curso, estimulando uma imensa mobilização popular
para depois fechar um acordo de “governabilidade” com o ex-presidente João
Figueiredo, defendendo inclusive a prorrogação do mandato do milico de plantão
por mais um ano.
O FRACASSO DO NACIONALISMO BURGUÊS E O OCASO DO BRIZOLISMO
O golpe militar de 1964 foi produto do esgotamento do
nacionalismo burguês e do populismo, muito embora Brizola tenha mantido fôlego
até as eleições presidenciais de 1989. Derrotado nestas eleições, segue em
franco declínio político. Em 1990, já desgastado, Brizola consegue eleger-se
para o governo do Rio de Janeiro com a ajuda providencial do PT. Neste ano, no
Rio Grande do Sul, o PDT também consegue a vitória para o governo através da
figura de Alceu Collares, o colaborador mais próximo de Brizola até os últimos
dias. O fato exemplar desta eleição de 90 foi o apoio político dado ao PDT no
segundo turno não só pela direção do PT, mas por todas suas “correntes
internas”, inclusive “O Trabalho” e a então Convergência Socialista, hoje PSTU.
A decadência de Brizola enquanto fenômeno de massas torna-se
mais evidente quando declara apoio político a Fernando Collor, em troca de
verbas para o Rio de Janeiro. Posição que manteve até os últimos instantes do
impeachment de Collor. Ao ver o barco do PDT afundar, inúmeros “quadros” formados
por Brizola abandonaram o antigo chefe nos últimos 10 anos (Saturnino Braga,
Jamil Haddad, Marcelo Alencar, César Maia e Garotinho).
Em 1994 Brizola tenta alçar vôo sem a ajuda do PT,
candidatando-se a presidência da república, é fragorosamente derrotado,
comparada sua votação tanto a FHC como a de Lula. Nas eleições presidenciais
seguintes integra-se à frente popular, compondo como vice a chapa de Lula. Além
de todas as correntes do PT a chapa Lula/Brizola recebe o apoio do
recém-legalizado PCO, sob a justificativa que esta composição política agrupava
o conjunto da classe operária e das massas oprimidas contra a candidatura do
capital representada por FHC. Os morenistas do PSTU em 98 giram à esquerda e
apresentam a candidatura própria de José Maria de Almeida, rompendo com sua
tradição de apoio à frente popular nas eleições presidenciais de 89 e 94.
Podemos abstrair que todo o arco do revisionismo trotskista
(PSTU, PCO, DS, OT etc.) em momentos históricos distintos foi cúmplice do
brizolismo, embelezando suas pretensas características antiimperialistas e
democráticas que a luta de classes tratou de desmascarar.
Brizola, o velho caudilho das causas burguesas, morreu
quando costurava uma aliança com partidos da direita pró-imperialista (PFL e
PSDB) para construir uma alternativa conservadora ao governo Lula. Enquanto
diante dos holofotes da mídia criticava demagogicamente à “esquerda” o governo
Lula/Alencar, por detrás dos panos articulava uma “oposição” à frente popular
com os setores mais podres e reacionários da burguesia nacional. Esta é a marca
indelével de Brizola, uma caricatura do esgotado nacionalismo burguês.