sexta-feira, 3 de junho de 2016

DA GLOBO AO PSTU... FRENTE ÚNICA EM DEFESA DE PENAS RIGOROSAS DO ESTADO CAPITALISTA CONTRA O “ESTUPRO COLETIVO”: QUANDO UM CRIME BÁRBARO SERVE DE PRETEXTO PARA INCREMENTAR A PERSEGUIÇÃO POLICIAL E MIDIÁTICA A JUVENTUDE POBRE E NEGRA DAS PERIFERIAS


Um grande consenso formou-se em torno do caso do “estupro coletivo” de uma jovem de 16 anos ocorrido no final de maio no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio de Janeiro e divulgado em vídeos na internet pelos que abusaram sexualmente da vítima. Desde a Rede Globo e o fascista Bolsonaro até o PSTU e o MRT-LER, passando pelo PT e o conjunto da Frente Popular a indignação é geral: esse arco “eclético”, de mãos dadas e em voz única diz que não se pode tolerar o crime brutal de “estupro coletivo” e todos juntos pedem repressão dura aos mais de 30 acusados. Brada-se pela prisão dos bárbaros delinquentes, exige-se caçada pública e policial aos estupradores, apontados à exaustão pela mídia como jovens negros, envolvidos com o tráfico de drogas, portadores de fuzis e armas no morro do Barão em Jacarepaguá. Manifestações feministas saem às ruas reivindicando penas mais duras para os criminosos, unindo todo o espectro da esquerda aos moralistas de plantão do “politicamente correto”, donos de um cinismo próprio dos valores “éticos” decadentes da burguesia. Figuras asquerosas como o fascista Bolsonaro e o ultra-neoliberal governador fluminense Francisco Dornelles exigem aprovação da castração química ou a pena de morte. O líder o governo Temer no Senado, o Tucano Aluísio Nunes, já desengavetou nesta semana o projeto para redução da menoridade penal. O PSTU pede “punição rigorosa para os agressores”, “exigimos justiça já diz o MRT-LER e, por fim a CST, prega sem rodeios “Penas mais duras para estupradores e cumprimento rigoroso da lei que tipifica feminicídio como crime hediondo! Delegacias da mulher em todos os bairros!”. Em suma, os apologistas da democracia como valor universal (oposta pelo vértice à ditadura do proletariado), como o PSTU, CST e MRT correm sempre a reboque da pauta reacionária da “opinião pública”, a serviço dos interesses capitalistas e dos valores morais da burguesia. Para além das versões do ocorrido que tem pouca importância nesse debate, onde os agressores “acusam” a vítima de ser “habitué” das orgias e festas no morro do Barão e que levada ao local pelo namorado ela inicialmente teria consentido as relações sexuais (como se isso os inocentasse de forçar depois a realização do sexo grupal com a garota que disse ter sido dopada), o que está claro para o Marxistas Revolucionários é que esta seção de estupro faz parte da prática cotidiana da cultura da barbárie capitalista, onde ninguém pode ser considerado “inocente”, nem mesmo a vítima. Seja em um baile funk em uma comunidade pobre carioca, seja nas festas em mansões ou motéis de luxo promovidas pela “High Soçaite” regadas a uísque e cocaína, a mulher “bonita, sarada e loira” no modo de produção capitalista é vendida (e se vende!) como uma mercadoria cara a ser usufruída pelo seu “comprador” (ou compradores, como parece ser no caso em questão), seja ele um grande empresário e sua corte ou um traficante e seu bando. A diferença é que quando isso vem a público são exclusivamente sobre os fatos ocorridos na favela ou no morro, com os charlatões midiáticos, os políticos burgueses e os defensores da moral pregando a punição exemplar para os criminosos, via de regra, jovens pobres e pretos. As orgias da elite dominante com todas as suas taras sexuais e desejos pedófilos são guardadas a sete chaves e o mesmo aparato policial que caça a pobreza “criminosa” é o que encobre o crime do rico, forja álibis e relaxa prisões ocasionais de “playboys e mauricinhos” em troca de propina graúda para preservar os nomes das famílias burguesas nos jornais ou intimidades “sujas” da classe média alta expostas em noticiários da TV. Em resumo, até no caso do “estupro coletivo” em questão - que repudiamos vigorosamente - está embutida a diferença de classe social e do papel do Estado capitalista de defensor da classe dominante e chacal dos trabalhadores e dos pobres em geral, sejam eles “marginais” ou não, como no caso dos cinco jovens negros inocentes mortos dentro de um carro por PM´s, que, diga-se de passagem, não ocupou um décimo do destaque da mídia como o “estupro coletivo” de agora. Guardada as proporções, é como o caso do “Helicoca” (500 kg de cocaína pura e de alto teor de qualidade apreendida no helicóptero da quadrilha Perrella) trazida para saciar o vício da decadente burguesia e sua elite política, a mesma que diariamente manda a PM aos morros, favelas e bairros das periferias para supostamente perseguir os “traficantes” e reprimir o conjunto da população pobre destas comunidades quando, na verdade, os maltrapilhos traficantes expostos à exaustão na mídia não passam de meros elos da cadeia de distribuição controlada pelos barões do tráfico de drogas, gente como os Parrella, Aécio e Sérgio Cabral. Os genuínos Marxistas Leninistas sabem muito bem diferenciar um crime sexual produto da barbárie capitalista da campanha desatada pela burguesia, sua mídia e seu aparato de repressão para criminalizar a juventude pobre e negra dos morros e favelas de conjunto. Não nos somamos à frente política com a Rede Globo, Bolsonaro e ao arco da esquerda pedindo “punição exemplar” para os acusados, perseguição que vai representar mais incursões policiais nas comunidades pobres cariocas e o endurecimento da legislação contra o povo trabalhador como um todo. Ao repudiar publicamente o “estupro coletivo” ocorrido no Rio alertamos que as taras e as doenças da sociedade capitalista só podem ser eliminadas por meio da destruição revolucionária dessa sociedade de classe senil e apodrecida, que violenta diariamente a vida de milhões de homens e mulheres, trabalhadores que vivem em condições aviltantes, sub-humanas e que sofrem a opressão e a exploração além da violência policial própria do capitalismo decadente!

A jovem estuprada diz que foi humilhada na delegacia, pela conduta machista dos policiais e do delegado. Apesar disso, contra a violência cada vez mais sofrida que cresce com a exploração, a esquerda vem reivindicando a criação de organismos coercitivos dentro do Estado capitalista (delegacias de mulheres e a Lei Maria da Penha). Esta visão acaba sendo a “lógica” da esquerda, que vende sempre a mulher como um dócil objeto de consumo a ser protegido pela lei e pela polícia! A “esquerda” revisionista como PSOL e PSTU e seus satélites como o MRT-LER, além obviamente da própria frente popular (PT, PCdoB), sempre defende as “mulheres” (independente do caráter de classe) em geral via rígida aplicação da “Lei Maria da Penha” e as delegacias especializadas, tudo isso sem nenhum critério de análise marxista. Quando uma mulher é assassinada ou agredida, ainda que seja burguesa ou faça parte de seu submundo, esta esquerda “feminista” sem os menores princípios de classe, reivindica que o Estado capitalista intervenha como resolução policial para estes casos, configurando um campo completamente distante da luta de classes e do marxismo revolucionário. O mais escandaloso é que os que ontem defenderam a criação das delegacias da mulher para encarcerar os “operários machistas” hoje são devotos da reacionária “Lei Maria da Penha”, revelando assim a ausência de qualquer independência de classe na questão feminista. O que estes vestais defensores das “mulheres em geral” não dizem é que a mulher é encarada pelo sistema capitalista como uma mercadoria de consumo e quanto mais se adequar aos padrões de beleza capitalista mais se incorpora valor “agregado” a esta “mercadoria”, isto é, quanto mais bela pelos padrões ocidentais, mais alto o valor do “produto” no leilão de seres humanos. Não à toa, disseminam-se em todo o mundo academias e clínicas estéticas, onde o culto ao corpo é a tônica e entendido como mais uma “necessidade” criada para o consumo de um produto. O proletariado deve denunciar esta questão como parte das barbaridades próprias do capitalismo senil a ser liquidado pela ação consciente da classe trabalhadora, com independência diante da burguesia e seus agentes, sejam de que sexo e cor forem.

Como se vê cotidianamente nos noticiários, no seio das relações privadas da “high society” e da classe média “alta” engendram-se todo um arco de podridão: interesses meramente materiais e econômicos em detrimento de laços afetivos e/ou de camaradagem. A falsidade, agressões, belicosidade, espancamentos e assassinatos são as normas imperantes. Em suma, relações típicas de uma sociedade em profunda decomposição, uma excrescência que a cada dia ganha terreno em uma época de intensa ofensiva imperialista sobre os povos do planeta onde se perdeu qualquer referência política no socialismo. A ruptura com esta concepção de mundo burguesa só será possível através da violenta ação da classe operária contra seus algozes capitalistas, sejam eles homens ou mulheres, através da revolução socialista, a partir da qual pela necessidade de todo um coletivo, os interesses mesquinhos e podres oriundos da velha sociedade de classes serão extintos. Os revolucionários defendem consignas democráticas pela igualdade de direitos entre os sexos, mas não mentem para as trabalhadoras dizendo que terão seus sofrimentos derivados da opressão e da exploração de classe solucionados dentro do capitalismo e menos ainda disseminam ilusões de que o aprimoramento do aparato repressivo capitalista trará melhor sorte para elas.

Nossa luta deve ser também pelo direito ao aborto legal e gratuito para as mulheres trabalhadoras, por educação sexual nas escolas e distribuição de contraceptivos gratuitos. Queremos mais creche para as mulheres trabalhadoras. Para combater essa realidade é preciso levantar um programa que defenda: salário igual para trabalho igual, descriminalização do aborto e direito universal sem qualquer restrição a todas as mulheres que queiram fazê-lo, realização do aborto com acesso gratuito e garantido pelo Estado nos hospitais da rede pública para as mulheres trabalhadoras, assim como o pleno direito de uso de preservativos, anticoncepcionais e pílulas do dia seguinte, distribuídos gratuitamente pelo Estado. Aposentadorias custeadas pelo Estado para donas de casa e empregadas domésticas. Criação de creches, lavanderias, restaurantes públicos e gratuitos próximos aos locais de trabalho, estudo e moradias. A erradicação completa da opressão social sobre a metade feminina do gênero humano requer a revolução socialista, liquidando o modo de produção capitalista e sua barbárie que usa o fantasma da crise para atacar as conquistas das trabalhadoras e seus companheiros de classe! É necessário compreender que a luta pela descriminalização e legalização do aborto, tornando-o livre, gratuito e incondicional, soma-se a tantas outras reivindicações de caráter democrático dos trabalhadores, mas cuja realização é impossível nos marcos da senil democracia dos países atrasados. Desse ponto de vista, portanto, a defesa do aborto livre, legal e gratuito para as mulheres trabalhadoras deve ligar-se indissoluvelmente à destruição do regime capitalista e a superação de suas podres instituições. O fim da opressão feminina depende da capacidade da classe operária, mobilizada de forma centralizada e com seus próprios métodos de luta, liquidar o Estado burguês e sua exploração capitalista como parte da luta pela revolução socialista.

O caso do estupro coletivo no Rio de Janeiro reafirma que a luta pela libertação da mulher da opressão do machismo capitalista pressupõe um combate sem tréguas a todas as ilusões no movimento das mulheres trabalhadoras no Estado burguês, suas leis e seu aparato repressivo, guardião da ordem social justificada pela ideologia burguesa e o machismo que dela faz parte. Toda saída para o problema da opressão feminina por dentro da democracia burguesa, como defendem o reformismo e o revisionismo do trotskismo, conduz à divisão do proletariado entre gêneros distintos, ao recrudescimento e ampliação do aparato repressivo estatal contra os trabalhadores. Em outras palavras, o feminismo burguês é contrarrevolucionário porque divide o proletariado, enfraquece sua luta e fortalece a repressão de seus inimigos de classe. Para combater o governo Temer e colocar abaixo o modo de produção capitalista é necessário construir um movimento operário feminino classista que coloque a mulher trabalhadora como vanguarda da luta sem quartel contra o regime opressor dos homens e mulheres burguesas. Trata-se da unidade do conjunto da classe trabalhadora sob um programa revolucionário para derrotar a barbárie capitalista. Portanto devemos lutar pela superação do machismo que nasceu com a propriedade privada, do feminismo policlassista e da mercantilização das relações pessoais, que só será plenamente realizada com a abolição do modo de produção capitalista, por meio da revolução socialista, destruindo qualquer forma de opressão contra as mulheres trabalhadoras e a exploração de classe. A abolição da propriedade privada é o elemento sine qua non para a libertação da mulher e o combate de classe pelo comunismo!