AS LIÇÕES DO GOLPE EM HONDURAS: DA DEPOSIÇÃO REACIONÁRIA DE
ZELAYA AO “ACORDÃO NACIONAL” QUE RESULTOU EM NOVAS ELEIÇÕES LEGITIMANDO O
RETORNO DA DIREITA BURGUESA NA PRESIDÊNCIA ATÉ HOJE
O Blog da LBI publica uma série de artigos sobre o golpe
constitucional em Honduras contra o governo de Manuel Zelaya, ocorrido há 7
anos atrás, em junho de 2009. Este arremedo de putsch “civil” reacionário
inaugurou a onda de “golpes parlamentares” na América Latina no Século XXI
contra os governos da centro-esquerda burguesa, que agora tem como alvo o
mandado da petista Dilma Rousseff no Brasil. Além de denunciar a trama da
direita apoiada pelo imperialismo ianque, em uma ação orquestrada pela Justiça
e o Congresso Nacional executada por um grupo de militares que expulsaram o
presidente hondurenho para a Costa Rica, os textos elaborados pela LBI analisam
também o acordo político em torno da volta de Zelaya a Honduras meses depois,
costurado por Obama e Lula que previa a realização de eleições presidenciais e
a acolhida do presidente deposto na embaixada brasileira. Zelaya acabou dando
seu aval para a convocação do pleito que só viria a ocorrer em 2013. Na disputa
sua esposa (candidata pelo Partido Libre - Liberdade e Refundação) foi
derrotada pelas forças políticas civis conservadoras agrupadas no PN (Partido
Nacional), legenda de direita apoiada pelos golpistas. Essa manobra eleitoral
estabelecida por um “acordão nacional” contou com participação da “esquerda”
agrupada na Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe (FNRG) e acabou por
legitimar os golpistas que controlam até hoje a presidência do país via o PN,
sabotou de fato a resistência das massas. Como Marxistas consideramos
necessário abstrair as lições políticas e programáticas deste episódio
fundamental para a esquerda revolucionária brasileira, inclusive porque Dilma e
amplos setores da Frente Brasil Popular agora defendem a convocação de um
plebiscito por novas eleições caso consiga derrotar o impeachment no Senado.
Ela busca um acordo aos moldes do estabelecido por Zelaya em Honduras,
caminho que pavimentou o fortalecimento da reação burguesa no país, o que pode
acontecer aqui com a vitória do neobonarpatista Moro nas eleições antecipadas
convocadas com o aval do PT.
HONDURAS URGENTE: DERROTAR COM A AÇÃO DIRETA DA CLASSE
OPERÁRIA O "PUTSCH" REACIONÁRIO!
Na madrugada deste domingo, dia 28, o presidente de
Honduras, Manuel Zelaya, foi alvo de um golpe de Estado. Ele foi preso pelo
Exército, pouco antes da realização de um referendo para a mudança na
Constituição do país que entre outros temas abordaria a possibilidade da
reeleição presidencial. A ação foi orquestrada pela Justiça e o Congresso
Nacional, sendo executada por um grupo de militares que o expulsaram para a
Costa Rica. Carros blindados e tanques ocupam desde então Tegucigalpa. Veículos
de combate tomaram as ruas que dão acesso à residência presidencial, enquanto
aviões-caça sobrevoam a capital hondurenha, impondo repressão às manifestações
populares contrárias ao golpe. Eleito presidente pelo Partido Liberal em 27 de
novembro de 2005, uma legenda tradicional de uma das alas da classe dominante
hondurenha, Zelaya liderou um frágil governo burguês que levou a adesão de
Honduras à Alba em 2008, provocando a reação do empresariado temeroso de que
ele fosse promover estatizações, devido sua aproximação com o chavismo.
Enquanto se afastava de sua base tradicional oligárquica, tratou de cooptar os
sindicatos e o movimento indígena, ganhando a simpatia de parte dos explorados
do país ao aumentar em 60% o salário mínimo em 2006. A reacionária
ultra-direita, aproveitando a margem de manobra cada vez mais estreita do
governo de Zelaya, denunciou suas relações com o chavismo (Petrocaribe e a
ALBA) e promoveu uma campanha reacionária contra a suposta intromissão do
presidente venezuelano nos assuntos internos de Honduras. Esta cantilena serviu
de cobertura para a oposição burguesa ao governo ir à ofensiva, mas desta vez
com o apoio das FFAA.
“TODOS CONTRA O GOLPE!”
Frente ao golpe militar formou-se uma ampla frente política,
que vai desde Obama até Uribe, passando por Chávez, Fidel Castro e Lula, além
da OEA e da ONU, em rechaço à ação inconstitucional dos generais. O chefe do
imperialismo ianque, Barack Obama, ao lado de Álvaro Uribe, que estava em
reunião na Casa Branca poucas horas antes de ocorrer o putcsh, definiu o golpe
como “ilegal” e se declarou “profundamente consternado com os informes que
chegam de Honduras sobre a detenção e expulsão do presidente Zelaya” (EFE,
30/06), arrematando: “Peço a todos que respeitem as normas democráticas, o
império da lei e a Carta Democrática Interamericana”? (Idem). A secretária de
Estado norte-americana Hillary Clinton, afirmou em carta que o episódio “viola os
preceitos da Carta Democrática Interamericana e deve ser condenado” (Ibdem).
No final da reunião, ambos presidentes fizeram declarações
de condenação do golpe militar. Para Obama, o êxito deste “golpe de Estado
abriria um terrível precedente” para a região latino-americana, que registrou
“tremendos progressos” democráticos nos últimos 20 anos: “Não queremos retornar
a um passado obscuro”. Cinicamente o presidente colombiano também condenou o
golpe. O fascista Uribe, que negocia com Obama sua reeleição disse que é
necessário distinguir “o debate sobre se um presidente deve permanecer um
mandato a mais no poder” e “a solidez das instituições” (O Estado de São Paulo,
30/06).
Festejando a posição do governo dos Estados Unidos e
buscando um rápido acordo com o imperialismo, Zelaya afirmou que este “se
portou muito bem, em suas declarações, tanto o presidente Obama, como a
secretária de Estado Hillary Clinton e o embaixador dos EUA em Honduras, que se
pronunciaram de modo enfático que não reconheceriam nenhum outro presidente que
não fosse eu, ratificando assim seu apoio ao sistema democrático” (Vermelho,
30/06). A ONU também aprovou uma resolução que pede a “imediata e incondicional
restituição de Manuel Zelaya como presidente legítimo e constitucional de Honduras”
(Folha On Line, 30/06). Agradecendo a posição das Nações Unidas, o presidente
deposto declarou que “Esta resolução expressa a indignação do povo de Honduras
e do resto da comunidade internacional” (Idem), classificando-a de “histórica”
e concluiu: “A resolução que a ONU acaba de aprovar unanimemente expressa a
indignação do povo de Honduras e de todo o mundo”. O covil de bandidos chamado
de “Nações Unidas”, instrumento do imperialismo ianque, passou a ser porta-voz
dos povos oprimidos! Já a União Européia (UE) em comunicado divulgado pelos 27
chanceleres classificou a deposição de ?inaceitável violação da ordem
constitucional em Honduras? (Reuters, 30/06). A UE também exigiu ainda a
imediata libertação de Zelaya e “a volta à normalidade constitucional”.
No campo dos aliados “tradicionais” do presidente
hondurenho, a principal saudação às posições dos governos imperialistas e seus
organismos multilaterais veio de Fidel Castro. Em artigo, o dirigente cubano
escreveu que “Os golpistas, encurralados e isolados, não têm salvação possível
se o problema for encarado com firmeza. Até a Senhora Clinton declarou que
Zelaya é o único Presidente de Honduras, e os golpistas hondurenhos nem sequer
respiram sem o apoio dos Estados Unidos” (Gramna, 29/06). No papel de “ala
esquerda” desse amplo bloco político, Fidel aconselha a ONU e Obama a não
negociarem com os golpistas: “Com esse alto comando golpista não se pode
negociar, é necessário exigir a sua renúncia e que outros oficiais mais jovens
e não comprometidos com a oligarquia ocupem o comando militar, ou não haverá
jamais um governo ‘do povo, pelo povo e para o povo’ em Honduras” (Idem).
Já Chávez, em mais uma de suas bravatas, colocou o exército
venezuelano de prontidão e declarou: “É um momento de prova suprema para nós.
Não podemos ceder diante dos gorilas. São uns homens das cavernas” (Telesul,
29/06). Lula optou por uma rápida reação diplomática e afirmou que o embaixador
brasileiro só voltaria a Honduras com o retorno ao posto do presidente deposto.
O “ABRAÇO DE URSO” IANQUE
Durante os últimos meses, a relação diplomática entre os EUA
e Honduras começou a deteriorar-se. Em novembro de 2008, o presidente Zelaya
felicitou Obama por sua vitória eleitoral, classificando-a como “uma esperança
para o mundo”. Porém, dois meses depois, Zelaya enviou uma carta pessoal a
Obama acusando os EUA de
“intervencionismo” em que chama o novo governo norte-americano à
“respeitar a os princípios da não ingerência nos assuntos políticos de outras
nações”. Frente ao anúncio da ação militar de depôs Zelaya a administração de
Obama inicialmente condenou o golpe em Honduras de forma muito cautelosa e
buscando o “diálogo entre as partes”, ou seja, um acordo com os golpistas. Esta
posição permitiu aos EUA manter a relação diplomática com os generais,
inclusive mantendo a ajuda militar e econômica ao país nestes dias.
Segundo análise de Eva Golinger, estudiosa sobre os serviços
de informação e contra informação dos Estados Unidos, há uma base
norte-americana no país, em Soto Cano, onde as tropas ianques, com um efetivo
de 600 homens, têm feito exercícios militares com forças hondurenhas comandadas
pelos altos oficiais que estão participando do golpe. A base fica a 97 km da
capital hondurenha. O comando sul realizou cerca de 55 manobras anualmente com
as forças armadas de Honduras. O presidente Zelaya havia anunciado a intenção
de construir um terminal civil em Soto Cano e autorizar vôos internacionais
comercias com a desativação da base. A constituição de Honduras não permite
legalmente a presença militar estrangeira no país. Um acordo firmado em 1954
entre Washington e Honduras autoriza a estratégica presença de militares
ianques. O acordo foi estabelecido como parte da ajuda militar que Estados
Unidos a Honduras. A cada ano, Washington libera milhões de dólares em ajuda
militar ao país, que é terceiro país mais pobre do hemisfério. Este acordo que
permite a presença militar dos Estados Unidos no país centro-americano pode ser
cancelado sem aviso prévio. Por outro lado, a Agência Internacional de
Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) financia grupos da chamada
“sociedade civil” em Honduras com aportes de mais de 50 milhões de dólares/ano.
Grupos como Paz e Democracia, que saíram publicamente respaldando o golpe de
Estado recebem parte desse dinheiro.
Como se vê, a “condenação” formal ao golpe por parte de
Obama corresponde a uma estratégia política bastante definida, que visa tornar
os governos burgueses centro-esquerdistas completamente reféns do império, como
já havia ocorrido na Venezuela e também está em curso com a “revolução verde”
no Irã. O próprio golpe em Honduras aparenta ser um balão de ensaio para quando
o imperialismo estiver diante da necessidade de depor de fato os governos que
têm fricções com ele.
ZELAYA VOLTARÁ A HONDURAS SOB A TUTELA DO IMPERIALISMO
Frente a esse amplíssimo leque de apoio, o presidente Manuel
Zelaya afirmou que regressará em poucos dias ao país para reassumir o cargo:
“Voltarei por vontade própria, com a proteção de Cristo e do povo. Voltarei a
meu país e pedirei à OEA que me acompanhe, e aceito a companhia de todos
aqueles que quiserem me acompanhar. Isso é um convite feito por um chefe de
Estado e não por ingerência em assuntos internos” (Vermelho, 30/06). Está
previsto que além da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, Manuel Zelaya
também será acompanhado por Miguel D'Escoto, presidente da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas e por José Miguel Insulza, secretário-geral da
OEA.
Está claro que o imperialismo, depois de fragilizar o
governo deposto, busca uma solução para recolocá-lo no cargo na qualidade de
refém e assim estabelecer um modelo de intervenção “pacífica” onde Obama seja
apresentado como o grande artífice do processo de “reconciliação
nacional”. A Casa Branca já havia feito
isso na Palestina quando da transição entre Bush e Obama. Antes da posse do
novo chefe do imperialismo, Israel, por ordem dos EUA, ocupou e bombardeou a
Faixa de Gaza para debilitar o Hamas, para logo depois Obama propor um acordo
com o objetivo de formar um governo de coalizão entre o fragilizado grupo
islâmico e a ANP de Abbas. A estratégia deu certo para conter a revolta do povo
palestino e está sendo aplicada em Honduras.
Esse movimento fica mais evidente quando há claras provas de
que o Pentágono sabia dos preparativos do golpe. Os militares americanos e a
embaixada ianque em Tegucigalpa tinham pleno conhecimento dos acontecimentos.
Segundo jornais norte-americanos, representantes do Departamento de Estado
comentaram que seu embaixador e uma equipe da diplomacia “estavam em
discussões” com os generais golpistas há mais de um mês. Essas “conversações”
se intensificaram durante a semana passada, quando o embaixador ianque, Hugo
Llorens, se reuniu três vezes com os militares golpistas e os chamados “grupos
cívicos” para tratar de buscar outra saída que não necessariamente o golpe.
Inclusive membros do parlamento que apoiaram o golpe declararam que o
embaixador propôs que se deixasse realizar o referendo programado para o dia
28, porque “mais a frente podemos resolver o problema da reforma
constitucional, não se preocupem”. Essa avaliação ianque estratégica estava
baseada na fragilidade do governo Zelaya, sem apoio de seu próprio partido e de
setores fundamentais da classe dominante, com o mandato acabando em novembro de
2009. Porém os golpistas não queriam esperar até novembro e permitir que Zelaya
avançasse em seu projeto de reeleição.
NENHUMA ILUSÃO EM OBAMA E NA ONU!
Amplos setores da esquerda, inclusive que se reivindicam
trotskistas, têm saudado a conduta de Obama e da ONU de condenar o golpe,
estabelecendo com os governos imperialistas e seus organismos uma frente única
contra o putsch reacionário, onde no máximo criticam a tentativa destes de
proporem algum tipo de “diálogo” ou “acordo” com os golpistas. Copiam assim os
conselhos que Fidel Castro dá a Obama e a ONU, criticando-lhe pelos limites de
seus atos.
A LIT, por exemplo, afirma no artigo “Por uma grande
campanha unitária contra o golpe em Honduras”: “O governo de fato instalado em
Honduras ficou em um grande isolamento internacional, sem reconhecimento por
parte dos governos da imensa maioria dos países do mundo, da América Latina e,
inclusive, da ONU, OEA e do próprio Obama. Neste marco, alertamos contra
qualquer negociação as escondidas que deixe impune os golpistas. Por isso,
exigimos também o castigo dos responsáveis e chefes do golpe e da repressão
contra o povo hondurenho” (Declaração LIT, 29/06). Desta forma o conjunto da
esquerda e os revisionistas do trotskismo colocam nas mãos do imperialismo e
seu chefe, responsáveis por debilitar o próprio governo Zelaya e abrir caminho
para os militares, encontrar uma “solução” contra o golpe. Trata-se de uma
política suicida, que subordina o movimento de massas e ação independente dos
trabalhadores a uma aliança com os governos da centro-esquerda burguesa do
continente e com o imperialismo (ONU e Obama).
Há ainda aqueles que, para melhor traficarem a unidade com
Obama, isentam o imperialismo de responsabilidade pela ação dos golpistas. A
CMI de Alan Woods alega que: “Nenhum governo de qualquer país, nem mesmo os
EUA, reconheceu o golpe militar como legítimo. Pelo contrário, todas as
declarações de chefes de estado e porta-vozes de diversos países têm sido de
condenação do golpe. Isso mostra que o golpe militar foi uma ação isolada da
cúpula burguesa de Honduras que ficou desesperada com as últimas medidas do
Presidente Zelaya que vinha se apoiando nas manifestações do povo hondurenho
para promover uma reforma constitucional no país” (Esquerda Marxista, 29/06).
O generalizado rechaço formal ao golpe é uma manobra para
levar a solução da crise para o terreno institucional, ou seja, para as
próximas eleições, marcadas para 29 de novembro. O golpe aparentemente tem o
objetivo de impedir que Zelaya tenha um novo mandato e se mantenha no governo
apenas até que se realizem as eleições. Sabedores deste artifício, os governos
da centro-esquerda burguesa condenaram o golpe do ponto de vista diplomático,
esperando que se restitua a ?institucionalidade? o mais rápido possível. Tal
conduta representa uma capitulação à direita golpista em seus próprios países e
ao imperialismo que a apóia de fato, uma vez que eles mesmos foram e continuam
sendo alvos e ameaçados de serem depostos. Por essa razão, é ainda mais
escandalosa a política de claudicação do conjunto da esquerda reformista e do
revisionismo em estabelecer uma frente única com Obama e a ONU, aqueles que
justamente orquestraram essa situação e visam subordinar o movimento de massas
a seus interesses políticos e econômicos no conjunto do continente.
MOBILIZAR A CLASSE OPERÁRIA PARA DERROTAR O GOLPE
REACIONÁRIO!
Os bolcheviques leninistas não compartilham do projeto
político “bolivariano” de Zelaya, que consiste em pequenas reformas no marco do
regime capitalista. Seu governo é um governo burguês de traços oligárquicos que
representa os interesses de uma ala da classe dominante. Por essa razão
chamamos a classe operária a derrotar o golpe militar pela sua ação direta
independente e a construir uma alternativa revolucionária de poder dos
trabalhadores. Só os trabalhadores com seus próprios métodos de luta podem
defender as liberdades democráticas dentro do próprio regime burguês hoje
atacada pelos generais. Estas devem ser defendidas pelos trabalhadores através
de sua ação direta, utilizando os seus próprios métodos de luta como greves,
paralisações, piquetes, ocupações de fábrica e terra, cortes de rua e controle
dos trabalhadores das empresas capitalistas. Os explorados da cidade e do campo
também devem se organizar para enfrentar a repressão em curso. É necessário
organizar comitês de autodefesa armados, construir milícias operárias,
estudantis e camponesas que preparem o armamento geral da população para evitar
massacres futuros.
Esta política proletária visa fortalecer o combate de classe
por um Governo Operário e Camponês em Honduras, único capaz de libertar o país
da dependência econômica norte-americana e que faz parte da luta pela revolução
proletária mundial, que exproprie a burguesia em todas as suas facetas e
derrote o imperialismo no continente.
BLOG DA LBI 30/06/2009
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HONDURAS: DO GOLPE “CONSTITUCIONAL” DE 2009 AO ATUAL GOLPE
“ELEITORAL” PATROCINADO PELO IMPERIALISMO IANQUE CONTRA A CENTRO-ESQUERDA BURGUESA!
As feridas do golpe “constitucional” cívico-militar contra o
presidente Manuel Zelaya, deposto em junho de 2009 pouco antes da realização de
um referendo para a mudança na Constituição do país que entre outros temas
abordaria a possibilidade da reeleição presidencial, estão mais abertas do que
nunca em Honduras. Os resultados oficiais das eleições presidenciais ocorridas
neste domingo, 24 de novembro, são expressão de uma grotesca fraude eleitoral
para impedir que sua esposa, Xiomara Castro, candidata pelo Partido Libre
(Liberdade e Refundação) seja proclamada presidente. A mafiosa cúpula do TSE
claramente manipulou os resultados da apuração declarando-o “irreversível” para
permitir que o candidato governista Juan Orlando Hernández, do PN (Partido
Nacional) se declarasse antecipadamente eleito, tentando assim impor um fato
consumado. Até agora, pouco mais de 60% das urnas apuradas, Hernández estava à
frente com 34,14% dos votos seguido por Xiomara com 28,43%. Poucos minutos após
o primeiro boletim do TSE, o candidato direitista se declarou ganhador. Sua
vitória foi reconhecida imediatamente pelos presidentes do Panamá, Ricardo
Martinelli, e da Colômbia, Juan Manuel Santos, dois homens que representam
abertamente as posições da Casa Branca na América Latina. Já a embaixadora dos
Estados Unidos, Lisa Kubiske, cinicamente disse ter visto “um processo
transparente” em um claro apoio a fraude em curso. De acordo com a denúncia
apresentada pelo ex-presidente Manuel Zelaya, o TSE não havia computado entre 19
e 20% das urnas por supostas anormalidades e inconsistências, justamente um
total de quase 400 mil votos com o objetivo de alterar os resultados. Zelaya
declarou que “Proclamo que não aceitamos os resultados do Tribunal Supremo
Eleitoral. Se for necessário, iremos às ruas defender nossos direitos, como
sempre fizemos. Protestamos contra esse resultado e o rechaçamos, porque nossas
pesquisas de boca de urna e nossa contagem de atas confirmam que Xiomara ganhou
a Presidência da República com mais de 3%”. Este cenário, que vem se tornando
regra em toda a América Latina demonstra claramente uma ofensiva da direita,
apoiada pelo imperialismo ianque, contra os governos da centro-esquerda
burguesa, como no Paraguai mais recentemente, que vem demonstrando a completa
incapacidade, pelo seu caráter de classe, de resistir consequentemente a estas
investidas reacionárias!
Segundo Rixi Moncada, representante do Partido Libre no
Conselho Consultivo do TSE, existe uma manipulação dos dados reais e uma fraude
descarada para favorecer um dos candidatos: “Há mais de 1.900 atas de
departamentos (estados) onde o Libre ganha contundentemente que não foram
incorporadas ao sistema de contagem, mas transferidas a um denominado
procedimento de escrutínio especial”. Moncada garantiu ter informes fidedignos
que provam que foram introduzidos ao sistema de contagem “atas via escanner de
lugares onde o escrutínio ainda não tinha sido concluído”. No Brasil este
sistema fraudulento é ainda mais “eficiente” com o uso da urna “roubronica” que
pode alterar os resultados através do software de totalização dos votos. Tanto
Moncada como o candidato à vice-presidência, Enrique Reyna, disseram ainda que
o que aconteceu neste domingo foi “uma clara fraude frente à vontade popular
que, sem dúvidas, está sendo alterada através da transmissão irregular de
resultados”. Reyna afirmou também que representantes das MER (Mesa Eleitoral
Receptora) tinham atrasado o envio de atas onde ganha o Libre, para assim
atrasar o aumento da vantagem. Além disso, ele acusou o TSE de “não
contabilizar atas onde ganhamos e que estranhamente foram escanneadas com a
ponta dobrada, para ocultar o número. Essas são as que foram enviadas para
auditoria”. O ex-presidente Zelaya assinalou que um cálculo matemático pode
estabelecer que, mediante o procedimento, mais de 400 mil votos foram excluídos
dos resultados preliminares anunciados pelo TSE. Além disso, o ex-presidente do
tribunal, Arístides Mejías disse que os membros do instituto aplicaram o truque
de dar preferências arbitrariamente às atas nas quais o Partido Nacional vai à
frente. Já Juan Barahona, primeiro candidato à vice-presidência e
subcoordenador da FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular) fez um chamado
aos representantes do Libre para que “não abandonem as urnas e cuidem dos
votos”. Ao mesmo tempo, pediu aos militantes e simpatizantes do partido “estar
atentos e atentas a qualquer chamado feito pelo Libre”, declarando que “Este
povo está disposto a defender esta vitória pela via legal, pela via diplomática,
mas também nas trincheiras nas quais sempre estivemos nas ruas. Aqui ninguém se
rende, ninguém, companheiros”. Por seu turno, o candidato governista Juan
Orlando Hernández, do PN (Partido Nacional) disse que conseguiu seu triunfo nas
urnas e que “não vai negociar com ninguém”, rechaçando as denúncias de fraude:
“A voz do povo é a voz de Deus, passamos aos grandes acordos nacionais”, disse,
ao reconhecer que a nova formação do Congresso vai incluir pelo menos dois
partidos novos, entre eles o de Xiomara. “Já que o povo escolheu, vamos
trabalhar”, disse, ao anunciar que nomeou uma comissão para a transição de
governo: “Hoje anunciamos a todos os hondurenhos que amanhã começamos a
trabalhar em um pacto nacional por uma vida”. Já a embaixadora dos Estados Unidos,
Lisa Kubiske, cinicamente disse ter visto “um processo transparente” em um
claro apoio à fraude em curso, que tem o aval dos generais da FFAA que deram o
golpe “constitucional” em Zelaya há quatro anos. Em 2009, ele foi preso pelo
Exército, pouco antes da realização de um referendo para a mudança na
Constituição do país que entre outros temas abordaria a possibilidade da
reeleição presidencial. A ação foi orquestrada pela Justiça e o Congresso
Nacional, sendo executada por um grupo de militares que o expulsaram para a
Costa Rica.
O Partido Libre está sendo vítima de sua própria política
burguesa covarde, que marca a trajetória de Zelaya. Em junho de 2011, o
presidente deposto retornou ao país com parte de um “acordo de reconciliação”
celebrado com o atual presidente golpista Porfírio Lobo e patrocinado pelos
governos da Venezuela e Colômbia. Este pacto reacionário, orquestrado pelo chavismo,
permitiu que o governo parido da fraude eleitoral de 2011, montada após o
golpe, responsável por assassinar barbaramente centenas de lutadores, fosse
reconhecido por todos os organismos internacionais, inclusive com a
reintegração de Honduras à OEA. O acordo também indicou a realização de
eleições para este mês de novembro de 2013, tendo a participação eleitoral
inclusive da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) que, legitimando
esta nova farsa, transformou-se em partido político e integrou uma frente ampla
burguesa de oposição encabeçada pelo próprio Zelaya e sua esposa, escolhida
como candidata justamente para em busca de um acordo político com os golpistas,
já que Manuel Zelaya seria o candidato natural a presidente. Esse é o trágico
desfecho provocado pela política de colaboração de classes da FNRP, apresentada
até pouco tempo atrás por todo arco revisionista do trotskismo (LIT, PTS, PO)
como embrião de um “novo poder” revolucionário em Honduras, tanto que foi
saudada pelas correntes mais delirantes como a vanguarda de uma “insurreição”
que estava em curso no país centro-americano.
Depois de celebrado o acordo arquirreacionário, Zelaya
defendeu publicamente o retorno do país à OEA e o reconhecimento pela chamada
“comunidade internacional” do atual governo de Porfírio Lobo, inclusive
encobrindo cinicamente os crimes do regime golpista cívico-militar em curso no
país. O oligarca, que se reclama “bolivariano”, afirmou: “O acordo permite
criar as bases para a reincorporação de Honduras, com pleno direito, à
comunidade internacional... É recíproco: se o governo e o presidente Lobo
reconhecem os direitos democráticos que foram violados, a comunidade
internacional tem obrigação de reconhecer o governo do presidente” (O Estado de
São Paulo, 02/06/11) e arrematou: “Meu regresso é um passo importante para a
reconciliação de Honduras e para honrar a luta mantida pelo povo pela
democracia desta nação” (idem). Mediado na época por Chávez e Santos, como
parte da política do presidente venezuelano de buscar cada vez mais uma
aproximação com o imperialismo ianque, o acordo hondurenho previu o
reconhecimento da FNRP como partido político, em uma clara medida de tornar a
Frente uma fiadora do regime golpista parido das urnas no final de 2009. Tanto
que a criação do partido está respaldada pelo ponto 6 do “Acordo para a
Reconciliação Nacional e Consolidação do Sistema Democrático na República de
Honduras”, assinado por Zelaya e Porfírio Lobo, que amarrou politicamente a
Frente a ser avalista da farsa em curso, determinando “Velar pelo cumprimento
de todas as garantias que a lei concede para que a Frente Nacional de
Resistência Popular solicite sua inscrição ante o Tribunal Supremo Eleitoral e
participe democraticamente nos processos políticos eleitorais de Honduras”,
dispõe o documento. A transformação da FNRP em um partido de centro-esquerda
foi parte da estratégia de Zelaya em estabelecer uma ampla coligação burguesa
em apoio à candidatura de sua esposa nas atuais eleições de 2013. Tanto que o
presidente deposto anunciou no aniversário do golpe de Estado o lançamento da
candidatura de Xiomara, declarando sua completa submissão ao novo regime: “A
única forma de fazer justiça em Honduras é nas urnas e é com o voto popular,
para estabelecer um projeto político transparente de uma frente ampla”
(Vermelho, 28/06).
Aos marxistas leninistas cabe mais uma vez a tarefa de
denunciar a fraude desatada pelo governo golpista, o TSE e o imperialismo
ianque, demonstrando que a oposição democrática burguesa encabeçada por Zelaya
e a burocracia sindical na direção da Frente de resistência, tragicamente
colaboraram para a consolidação da estratégia da oligarquia golpista e da Casa
Branca, sabotando a reação operária em favor de negociações sob os auspícios da
Casa Branca. Para barrar efetivamente a fraude faz-se necessário que os
trabalhadores saiam às ruas para derrotar seus inimigos de classe. Mas
desgraçadamente não é esta a política de Zelaya e Juan Barahona. A perspectiva
revolucionária passa fundamentalmente por construir uma alternativa de poder
dos trabalhadores, forjando no interior da vanguarda classista o embrião de um
autêntico partido revolucionário. Nesse combate, é necessário ter como
estratégia a defesa de um Governo Operário e Camponês em Honduras, única via
capaz de libertar o país da dependência econômica norte-americana, parido como
parte da luta pela revolução proletária mundial, que exproprie a burguesia em
todas as suas facetas e derrote o imperialismo no continente!
BLOG DA LBI 26/11/2013