25 DE AGOSTO DE 1936 - PRIMEIRO “PROCESSO DE MOSCOU”:
EXECUTADOS ZINOVIEV, KAMENEV E OUTROS 14 ACUSADOS DE INTEGRAREM O SUPOSTO
“CENTRO TERRORISTA TROTSKI-ZINOVIEV”, UMA FARSA JURÍDICA MONTADA POR STÁLIN
PARA PERSEGUIR E ELIMINAR SEUS ADVERSÁRIOS POLÍTICOS
Em 25 de agosto de 1936 Grigóri Zinoviev, Lev Kamenev e outros 14 dirigentes bolcheviques foram condenados sem provas e executados em Moscou sob a acusação de assassinar Kirov e planejar a morte de Stálin. O macabro espetáculo foi a primeira farsa jurídica de várias outras, sempre com o mesmo padrão: os réus, em sua maioria militantes do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), eram submetidos a torturas, ameaças e maus-tratos, e acabavam confessando crimes que não cometeram — como espionagem, envenenamento e sabotagem. Centenas de milhares de membros do Partido Comunista e do Exército Vermelho opositores de Stálin seriam perseguidos pela polícia, presos e, se não eram executados, seguiam para campos de concentração. Essa série de julgamentos públicos dos opositores de Stálin, ocorridos na União Soviética de 1936 a 1938, ficou conhecida como Processos de Moscou. Velhos líderes bolcheviques que dirigiram a Revolução de Outubro foram assim banidos, consolidando o poder burocrático de Stálin. O Grande Expurgo, também conhecido como o Grande Terror, entre 1936 e 1939 resultou na execução de 680.000 pessoas e a deportação de centenas de milhares. Em agosto de 1936, Stalin pessoalmente autorizou o uso da tortura nas prisões e só proibiu novamente no final de 1938.
Trotsky acompanhou
esses processos desde o México e denunciou-os como uma farsa jurídico-política
para eliminar os adversários de Stálin dentro e fora da URSS. No tomo IV de
seus Escritos, no texto intitulado “ A burocracia stalinista e o assassinato de
Kirov”, ele pontua “Em 17 de dezembro foi publicada uma notícia onde, pela
primeira vez, se afirma que Nikolaev fez parte do grupo de oposição de
Leningrado dirigido por Zinoviev em 1926. …. Em 1926 toda a organização
partidária de Leningrado, com muito poucas exceções, pertencia a oposição de
Zinoviev…. Posteriormente todos eles capitularam, com seu dirigente na cabeça;
mais adiante repetiram a capitulação de maneira mais decisiva e humilhante”. Em
seguida Trotsky afirma “Contudo, é evidente que essas informações referentes ao
‘grupo Zinoviev’ não foram lançadas acidentalmente; só podem significar que são
a preparação de um ‘amalgama’ jurídico, isto é, uma tentativa conscientemente
falsa de implicar no assassinato de Kirov a outros indivíduos e grupos que não
têm nem podem ter nada em comum com o ato terrorista”. Ligando o ato terrorista
de 1934 a mando da GPU com a antiga Oposição Unificada de 1926, a burocracia
stalinista ordenou a prisão de 15 membros do velho grupo de Zinoviev- Kamenev.
Acerca dessas prisões Trotsky escreveu “ Zinoviev: colaborador de Lenin durante
muitos anos no exílio, ex-membro do Comitê Central e do Birô Político,
ex-presidente da Internacional Comunista e do Soviete de Leningrado. Kamenev:
colaborador de Lenin no exílio durante muitos anos, ex-membro do Comitê Central
e do Birô político, vice-presidente do Conselho de Comissários do Povo,
presidente do Conselho de Trabalho e Defesa e presidente do soviete de Moscou.
Esses dois homens formaram, junto com Stalin, a troika (triunvirato) que
governou o país entre 1923 e 1925”. Buscando aprofundar a análise da farsa em
curso Trotsky escreveu “Esses 15 indivíduos são implicados, sem mais nem menos,
no assassinato de Kirov. Segundo as explicações dadas pelo Pravda (jornal
oficial do Partido), o objetivo deles era tomar o poder, começando por
Leningrado “com a secreta intenção de reestabelecer o regime capitalista”. Para
concluir Trotsky analisa que “Zinoviev e Kamenev não são tontos. No mínimo
entendem que a restauração do capitalismo significaria antes de mais nada o
extermínio de toda a geração que fez a revolução, incluídos, obviamente, eles
mesmos. Em consequência, não cabe a menor dúvida que a acusação engendrada por
Stalin contra o grupo de Zinoviev é totalmente fraudulenta, tanto no que se
refere ao objetivo especificado, a restauração do capitalismo, quanto aos
meios, os atos terroristas”. Apesar de denunciar os crimes de Stálin e os
Processos de Moscou, Trotsky pontua suas diferenças políticas e de caráter com Zinoviev e Kamenev em um artigo de dezembro
de 1936 “Não há razões de peso que me obriguem a assumir responsabilidade
política ou moral sobre Zinoviev e Kamenev. Sempre foram meus ferrenhos
adversários, com exceção de um breve período (1926-1927). Pessoalmente, não
confiava muito neles. Porém é certo que eles eram intelectualmente superiores a
Stalin. Porém lhes faltava caráter. Este é o traço que Lenin levou em conta
quando disse em seu testamento que ‘não é casual’ que Zinoviev e Kamenev haviam
sido contra a insurreição do outono de 1917. Não puderam suportar a pressão da
opinião pública burguesa. Quando as profundas mudanças sociais começaram a se
cristalizar na União Soviética, combinadas com a formação da burocracia, ‘não é
casual’ que Zinoviev e kamenev se deixaram arrastar para o bando da burocracia
stalinista. Em 1933 Zinoviev e Kamenev não somente voltaram a se retratar, como
também se prostraram frente a Stalin. Nenhuma calúnia lhes parecia
demasiadamente vil para lança-la contra a Oposição [trotskysta], e
especialmente contra a minha pessoa. Sua autodestruição os deixou impotentes
frente à burocracia, que a partir de então passou a exigir-lhes qualquer
confissão. Seu destino posterior foi o resultado destas capitulações e auto –
humilhações”. Trotsky, apesar de combater o Stalinismo e a degeneração
burocrática na URSS jamais abriu mão de defender o Estado Operário degenerado
Soviético das ameaças do imperialismo, do fascismo e de seus agentes internos,
reivindicando inclusive a frente única com Stálin e o Exército Vermelho contra
os inimigos capitalistas da URSS, preparando a revolução política para superar
a burocracia despótica, mas preservando as bases sociais da União Soviética,
uma lição que os revisionistas do Trotskismo trataram de esquecer quando
celebraram a queda da URSS e a restauração capitalista pelas mãos de Yeltsin em
agosto de 1991.