quarta-feira, 9 de agosto de 2017

“MAIS” FORMALIZA ENTRADA NO PSOL ANUNCIANDO A “NOVA” FORMULAÇÃO DO “LENINISMO DO SÉCULO XXI”: UMA MAQUIAGEM DO VELHO COMBATE SOCIALDEMOCRATA A ESTRUTURA DE UM PARTIDO CENTRALIZADO E DE QUADROS PROFISSIONAIS À SERVIÇO DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA

Por: Candido Alvarez, ex-dirigente da CS 
(Convergência Socialista) no início dos anos 80


O anúncio do ingresso formal do MAIS no PSOL, cujo prognóstico político a LBI já tinha realizado há um ano atrás (mesmo sem possuir nenhuma bola de cristal), foi seguido por um intenso debate nas redes sociais, apesar de poucos dirigentes da velha guarda Morenista (PSTU, CST, MES etc...) tenham deixados suas impressões digitais nesta discussão. Porém a militância mais jovem e de base do PSTU e do MAIS travou o "duelo" político centrando fogo na questão do "reformismo e eleitoralismo" do PSOL de um lado e do outro na necessidade da unificação da "esquerda socialista" como uma alternativa a "falência do PT". Ficou cristalino que nenhum dos dois campos, embora bem ácidos entre si, abordou a questão fulcral desta polêmica: A diluição ideológica de uma camada de antigos quadros formados em uma organização centralizada  que se reivindicava Leninista (embora no último período histórico muito timidamente), no projeto estratégico de um partido social-democrata "moderno" onde programaticamente suas tendências internas tem forte afinidade com o chamado "ecossocialismo", uma versão "teórica" maquiada de "sustentabilidade" para rejeitar visceralmente os princípios básicos do Bolchevismo e da Ditadura do Proletariado. Não por coincidência a principal contribuição programática de "peso" ao ingresso do MAIS ao PSOL veio de João Machado, ex-dirigente da ORMDS, tendência DS do PT, Enlace, Insurgência e agora corrente interna COMUNA (as três últimas no PSOL). Machado é quem melhor representa no Brasil as ideias de dissolução de uma organização Leninista em um novo agrupamento "socialista" (obviamente não Comunista), apologético do desenvolvimento sustentável de um modo de produção com "rosto humano", com forte proteção social por parte do Estado, e "responsavelmente ecológico", batizado de "ecossocialismo". Esta é a atual plataforma ideológica do SU (Secretariado Unificado,principal centro do revisionismo clássico da IV Internacional), após a morte de Enerst Mandel, o último representante do legado Trotskista no interior da corrente internacional. Hoje o SU tem a "cara" do teórico Michel Lowy e suas teses do ecossocialismo, como uma alternativa de construção societária tanto ao "velho capitalismo predador", como a "superada Ditadura Proletária estatizante, autoritária e Leninista". João da Comuna, em seu artigo de saudação aos novos companheiros do PSOL, chama o MAIS a "responsabilidade" de seu novo papel histórico de ruptura com a herança Morenista, convocando-o para a adesão das teses ecossocialistas, assim como fez o MES (também simpatizante do SU), a Insurgência e outros grupos menores. Portanto fica bastante claro aos militantes mais lúcidos que a disjuntiva posta para o MAIS não foi a de simplesmente praticar entrismo em um partido reformista maior (já que o PSOL sequer pode ser caracterizado como um partido de massas e enraizado na classe operária como foi o PT), ou mesmo "priorizar a questão eleitoral", o rádice da questão é bem mais profundo, trata-se de uma virada de "concepção de mundo" por parte de antigos quadros dirigentes Morenistas, descrentes da perspectiva da revolução proletária, impulsionada por um partido Leninista de vanguarda. O conteúdo do "Leninismo do Século XXI", publicitado pelo prof. Valério na abertura do congresso do MAIS, vai bem mais além da capitulação a política oficial de colaboração de classes do PSOL (como foi o silêncio da nova tendência interna a coligação estabelecida pelo partido com a REDE na recente disputa pelo governo do Amazonas), significa um "salto de qualidade" na superação ideológica da concepção Leninista do Partido Bolchevique, ou mesmo uma "nova" (velha) formulação programática que rejeita a estruturação de um partido centralizado e de quadros profissionais à serviço da revolução socialista. Com um ano de construção e cerca de milhar de "militantes", o MAIS sequer publicou um único jornal (não venham me falar em falta de recursos materiais quando seus dirigentes passeiam pelo mundo em turismo familiar nada "econômico"), não possuem uma sede pública nacional e ao que tudo indica seus principais quadros não tem a obrigatoriedade de uma cotização financeira regular. Estes elementos organizativos não são "detalhes" técnicos operacionais, marcam uma concepção Menchevique de partido, compartida por todas as correntes ecossocialistas do PSOL, que mantém suas estruturas internas ancoradas nos gabinetes dos parlamentares do partido, em última instância dependem do Estado burguês para sobreviverem politicamente. Por isso mesmo o ecossocialismo não pode conceber um regime social por fora da democracia capitalista, bem "civilizada" e não "antropofágica", como nos países europeus nórdicos, as referências políticas contemporâneas para os neorrevisionistas.  É verdade que o MAIS recém está dando seus primeiros passos na "nouvelle école" de Michel Lowy, a completa dinâmica teórica de sua futura trajetória ainda é incerta, porém é certo que seus antigos cânones da LIT estão completamente despreparados para travarem um debate programático consistente com seus ex-camaradas, pela simples razão de que também estão corroídos pelo "cupim" da democracia burguesa e seu regime de benesses sindicais e corporativas, apesar de ainda proclamarem formalmente a vigência do partido Leninista. O caminho da dissolução ideológica no PSOL não tem retorno, as forças centrífugas da pequena burguesia para liquidar o passado Trotskista são poderosas, como testemunhou presencialmente João Machado e sua "COMUNA", apenas uma pálida sombra do que foi a Organização Revolucionária Marxista Democracia Socialista, um prenúncio do que será o futuro político do MAIS.

Assis Araújo, bancário e militante do MAIS,
 recebe o livro da LBI com bastante interesse político