“MAIS” FORMALIZA ENTRADA NO PSOL ANUNCIANDO A “NOVA”
FORMULAÇÃO DO “LENINISMO DO SÉCULO XXI”: UMA MAQUIAGEM DO VELHO COMBATE
SOCIALDEMOCRATA A ESTRUTURA DE UM PARTIDO CENTRALIZADO E DE QUADROS
PROFISSIONAIS À SERVIÇO DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
Por: Candido Alvarez, ex-dirigente da CS
(Convergência Socialista) no início dos anos 80
O anúncio do ingresso formal do MAIS no PSOL, cujo
prognóstico político a LBI já tinha realizado há um ano atrás (mesmo sem
possuir nenhuma bola de cristal), foi seguido por um intenso debate nas redes
sociais, apesar de poucos dirigentes da velha guarda Morenista (PSTU, CST, MES
etc...) tenham deixados suas impressões digitais nesta discussão. Porém a
militância mais jovem e de base do PSTU e do MAIS travou o "duelo"
político centrando fogo na questão do "reformismo e eleitoralismo" do
PSOL de um lado e do outro na necessidade da unificação da "esquerda
socialista" como uma alternativa a "falência do PT". Ficou
cristalino que nenhum dos dois campos, embora bem ácidos entre si, abordou a
questão fulcral desta polêmica: A diluição ideológica de uma camada de antigos
quadros formados em uma organização centralizada que se reivindicava Leninista (embora no
último período histórico muito timidamente), no projeto estratégico de um
partido social-democrata "moderno" onde programaticamente suas
tendências internas tem forte afinidade com o chamado
"ecossocialismo", uma versão "teórica" maquiada de
"sustentabilidade" para rejeitar visceralmente os princípios básicos
do Bolchevismo e da Ditadura do Proletariado. Não por coincidência a principal
contribuição programática de "peso" ao ingresso do MAIS ao PSOL veio
de João Machado, ex-dirigente da ORMDS, tendência DS do PT, Enlace, Insurgência
e agora corrente interna COMUNA (as três últimas no PSOL). Machado é quem melhor
representa no Brasil as ideias de dissolução de uma organização Leninista em um
novo agrupamento "socialista" (obviamente não Comunista), apologético
do desenvolvimento sustentável de um modo de produção com "rosto
humano", com forte proteção social por parte do Estado, e
"responsavelmente ecológico", batizado de "ecossocialismo".
Esta é a atual plataforma ideológica do SU (Secretariado Unificado,principal centro do revisionismo clássico da IV Internacional), após a
morte de Enerst Mandel, o último representante do legado Trotskista no interior
da corrente internacional. Hoje o SU tem a "cara" do teórico Michel
Lowy e suas teses do ecossocialismo, como uma alternativa de construção
societária tanto ao "velho capitalismo predador", como a
"superada Ditadura Proletária estatizante, autoritária e Leninista".
João da Comuna, em seu artigo de saudação aos novos companheiros do PSOL, chama
o MAIS a "responsabilidade" de seu novo papel histórico de ruptura
com a herança Morenista, convocando-o para a adesão das teses ecossocialistas,
assim como fez o MES (também simpatizante do SU), a Insurgência e outros grupos
menores. Portanto fica bastante claro aos militantes mais lúcidos que a
disjuntiva posta para o MAIS não foi a de simplesmente praticar entrismo em um
partido reformista maior (já que o PSOL sequer pode ser caracterizado como um
partido de massas e enraizado na classe operária como foi o PT), ou mesmo
"priorizar a questão eleitoral", o rádice da questão é bem mais
profundo, trata-se de uma virada de "concepção de mundo" por parte de
antigos quadros dirigentes Morenistas, descrentes da perspectiva da revolução
proletária, impulsionada por um partido Leninista de vanguarda. O conteúdo do
"Leninismo do Século XXI", publicitado pelo prof. Valério na abertura
do congresso do MAIS, vai bem mais além da capitulação a política oficial de
colaboração de classes do PSOL (como foi o silêncio da nova tendência interna a
coligação estabelecida pelo partido com a REDE na recente disputa pelo governo
do Amazonas), significa um "salto de qualidade" na superação
ideológica da concepção Leninista do Partido Bolchevique, ou mesmo uma
"nova" (velha) formulação programática que rejeita a estruturação de
um partido centralizado e de quadros profissionais à serviço da revolução
socialista. Com um ano de construção e cerca de milhar de
"militantes", o MAIS sequer publicou um único jornal (não venham me falar
em falta de recursos materiais quando seus dirigentes passeiam pelo mundo em
turismo familiar nada "econômico"), não possuem uma sede pública
nacional e ao que tudo indica seus principais quadros não tem a obrigatoriedade
de uma cotização financeira regular. Estes elementos organizativos não são
"detalhes" técnicos operacionais, marcam uma concepção Menchevique de
partido, compartida por todas as correntes ecossocialistas do PSOL, que mantém
suas estruturas internas ancoradas nos gabinetes dos parlamentares do partido,
em última instância dependem do Estado burguês para sobreviverem politicamente.
Por isso mesmo o ecossocialismo não pode conceber um regime social por fora da
democracia capitalista, bem "civilizada" e não "antropofágica",
como nos países europeus nórdicos, as referências políticas contemporâneas para
os neorrevisionistas. É verdade que o
MAIS recém está dando seus primeiros passos na "nouvelle école" de
Michel Lowy, a completa dinâmica teórica de sua futura trajetória ainda é
incerta, porém é certo que seus antigos cânones da LIT estão completamente
despreparados para travarem um debate programático consistente com seus
ex-camaradas, pela simples razão de que também estão corroídos pelo
"cupim" da democracia burguesa e seu regime de benesses sindicais e
corporativas, apesar de ainda proclamarem formalmente a vigência do partido Leninista. O
caminho da dissolução ideológica no PSOL não tem retorno, as forças centrífugas da pequena burguesia para liquidar o passado Trotskista são poderosas, como testemunhou presencialmente
João Machado e sua "COMUNA", apenas uma pálida sombra do que foi a
Organização Revolucionária Marxista Democracia Socialista, um prenúncio do que
será o futuro político do MAIS.
Assis Araújo,
bancário e militante do MAIS,
recebe o livro da LBI com bastante interesse político
|