34 ANOS DA FUNDAÇÃO DA CUT: A TRANSFORMAÇÃO DE UMA CENTRAL
OPERÁRIA PELAS MÃOS DA FRENTE POPULAR EM AUTARQUIA BUROCRÁTICA A SERVIÇO DA
COLABORAÇÃO DE CLASSES COM A BURGUESIA
Por: Hyrlanda Moreira - Fundadora da CUT, encabeçando a chapa de oposição que unificou a esquerda revolucionária em 1997
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) celebra hoje seus 34
anos de fundação realizando neste exato momento um “Congresso Extraordinário e
Exclusivo” da central em meio a ofensiva privatizadora do governo golpista de
Temer. O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, abriu oficialmente o
Congresso da entidade para patrocinar a candidatura Lula em 2018, “o líder que
é a cara do povo brasileiro... O ódio que as elites têm do Lula é que o Lula
mostrou que a classe trabalhadora não nasceu para ser capacho da burguesia. É
por isso que ele é perseguido. Eles querem fazer uma eleição sem o Lula.
Eleição sem o Lula é fraude”, afirmou Freitas. Em resumo, a paralisia da CUT em
impulsionar a luta direta das massas tem como lastro apostar suas fichas no
circo eleitoral de 2018. Fundada no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo,
durante a ditadura militar na época sob o comando do general Figueiredo e
opondo-se, via o chamado “novo sindicalismo”, aos pelegos do PCB, PCdoB e MR-8,
a CUT hoje está completamente integrada ao Estado capitalista após os mandatos
do PT no governo central. Mesmo agora estando na “oposição” ao golpista Temer a
CUT não tem quase poder de reação operária pelos seguidos anos de sua política
de colaboração de classes. Enquanto o ascenso das greves operárias no final dos
anos 70 provocou o nascimento da CUT, uma central operária que centralizava a
luta dos trabalhadores contra a ditadura militar, defendendo liberdade e
autonomia sindical, significando um acontecimento histórico progressivo, a
ascensão do governo de frente popular do PT, por sua vez, é um acontecimento
político importante porque completou o processo de integração e cooptação
política e material da CUT ao Estado burguês. Tal fato representa também um
marco histórico que decretou a morte e a falência política dessa entidade como
instrumento de luta das massas exploradas. Coube, por exemplo, ao VIII CONCUT
em 2003 inaugurar essa nova etapa histórica em que a CUT dá um salto de
qualidade no caráter de classe da Central. Se antes a CUT era um braço sindical
do PT, depois de 14 anos de gestão da Frente Popular ela consolidou-se como uma
sucursal do próprio governo petista, intervindo como guardiã dos interesses
econômicos e políticos da burguesia, ao ponto de agora frente ao Golpe
Institucional contra Dilma seguir a política da direção nacional do PT de
apenas desgastar eleitoral e midiaticamente o governo Temer apostando na volta
de Lula em 2018.
Neste marco, o surgimento da Conlutas em 2004 correspondeu
historicamente ao esgotamento do ciclo cutista, iniciado em 1983, enquanto uma
referência de independência e superação do velho sindicalismo getulista que
perdurou até os últimos anos de vida da ditadura militar. A ascensão da frente
popular ao gerenciamento do Estado burguês foi o golpe de misericórdia no
espectro político de uma CUT que já há algum tempo tinha consolidado seu
“espaço” burocrático, impermeável à luta das tendências classistas que ainda
habitavam seu interior. Nós, da LBI, fomos pioneiros em caracterizar este
processo e propor a construção de uma nova central, classista e independente
dos patrões e seus capatazes da frente popular. Estávamos balizados não só por
um “desejo”, mas sim pelo surgimento de toda uma nova vanguarda sindical e
popular em clara rota de choque com os neopelegos da CUT que tinham
transformado a central em uma autarquia semiestatal, conselheira de “esquerda”
do governo monetarista e pró-imperialista do PT. Neste contexto, surge a
Conlutas, após um breve período de vacilação do próprio PSTU em abandonar a
parte que lhe cabia no aparelho burocrático cutista, afinal passaram anos de
convivência pacífica com a “Articulação” (direção majoritária da CUT), chegando
até mesmo a representarem a central no congresso internacional da OIT, órgão
imperialista a serviço das grandes transnacionais econômicas. Fundada a
Conlutas sob a orientação revisionista do PSTU, que declarava apenas uma
autonomia formal em relação ao governo da frente popular (política de “oposição
de esquerda” nos marcos do regime vigente), estava colocada a tarefa para os
setores classistas de travar uma árdua luta política no sentido de não permitir
uma rápida reedição da trajetória de integração da CUT ao Estado capitalista.
No congresso de 2006 já se delineava a inflexão à direita da Conlutas, colocada
a serviço da candidatura reacionária de Heloísa Helena sem ao menos um debate
minimamente democrático em sua base. A precoce falência política da Conlutas
não corresponde aos mesmos fatores históricos do esgotamento da CUT. O PSTU,
força majoritária da nova central, está longe de assumir qualquer
responsabilidade na gestão estatal capitalista, não por sua própria vontade
política e sim por sua absoluta inexpressão eleitoral, mas isto não significa
que esteja isento de seguir os passos de colaboração de classes. A falta do
ascenso do movimento operário nestes últimos anos e a consolidação da hegemonia
do projeto da frente popular aprofundaram os desvios programáticos que marcaram
a gênese da Conlutas, fazendo com que os sintomas de burocratização do
organismo se transformassem em uma orientação “regimental” e política. No afã
de unificar-se com outras alas burocráticas “de esquerda”, a Conlutas embarcou
em uma rota de completa descaracterização de um projeto original classista,
chegando mesmo ao fiasco de um congresso de unificação com os sindicalistas
reformistas do PSOL. A estratégia de “crescimento” imposta pela direção da
Conlutas, controlada pelo PSTU auxiliado por pequenos satélites, resultou em um
estancamento organizativo ou até mesmo em diminuição de sua influência
sindical. Ao contrário da própria CUT, que em seu nascimento apostou fortemente
nas oposições sindicais, a Conlutas praticamente cassou o direito de
representação das oposições em suas instâncias internas, sofrendo rupturas e
abrindo espaço para o surgimento da Intersindical ligada ao PSOL.