HÁ 4 ANOS DO GOLPE NO EGITO: FARSESCA “PRIMAVERA
ÁRABE” PARIU UMA DITADURA MILITAR, UMA TRANSIÇÃO ORQUESTRADA
PELO IMPERIALISMO E APOIADA PELA ESQUERDA REVISIONISTA (LIT, UIT, CMI)
Entre os meses de julho-agosto de 2013 houve um golpe
militar no Egito e sua consolidação política. O desenrolar dos acontecimentos
foi uma prova cabal do que a LBI afirmava anteriormente: não houve qualquer
“revolução” no Egito, mesmo democrática, como pregada pelos revisionistas do
trotskismo como o PSTU, a CST e a Esquerda Marxista. Ao contrário, vimos a volta da Junta Militar
diretamente ao governo. Entretanto, as ácidas lições que devem ser apreendidas
no Egito não param por aí. O fato de um amplo setor das massas apoiarem
inicialmente o golpe das FFAA claramente orquestrado com o suporte do Pentágono
contra o governo eleito da Irmandade Muçulmana (Mursi) significa que na
ausência de um programa e de uma direção revolucionária o “povo na rua” pode
apoiar saídas reacionárias. Como Leninistas não fazemos nenhum tipo de fetiche
teórico da espontaneidade das massas, ainda mais na ausência de norte
programático e inexistência de uma direção classista e revolucionária. Na época
reafirmamos que tanto no Egito como no Brasil (Jornadas de Julho), sem o
protagonismo histórico do proletariado o movimento das massas pode facilmente
girar à direita e convergir com interesses reacionários das classes dominantes. Ao contrário, os Morenistas apoiaram os “rebeldes” pró-OTAN na Líbia, saudaram os mercenários na Síria e no Egito defenderam a unidade com os militares
golpistas a serviço da Casa Branca. Hoje, como em 2013, declaramos que para
avançar rumo a uma verdadeira revolução no Egito, ainda que seja democrática,
será preciso que o proletariado imponha suas próprias demandas de classe, sem
estabelecer nenhuma “unidade tática” com a cúpula das FFAA, que até hoje
governa abertamente a serviço do imperialismo ianque no comando de um brutal
regime repressivo! Esse debate faz-se muito importante porque na Venezuela está
em curso um ofensiva reacionária da direita fascista, que deseja inclusive ter
o apoio de um setor das FFAA para derrubar o governo Maduro, movimento golpista
que vem novamente sendo apoiado pelo PSTU e CST, cinicamente apresentando-o
como uma "rebelião popular" como fizeram no Egito.
BANHO DE SANGUE NO EGITO: GOLPISTAS MASSACRAM APOIADORES DE
MURSI, DECRETAM ESTADO DE EMERGÊNCIA E TOQUE DE RECOLHER...ESSA É A
"REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA" TÃO FESTEJADA PELOS REVISIONISTAS DO
TROTSKISMO?
(Blog da LBI, 9 de agosto de 2013)
As FFAA promoveram um novo massacre no Egito durante as
primeiras horas da manhã desta quarta-feira, 09/08. Em uma verdadeira operação
de guerra mais de 600 apoiadores da Irmandade Muçulmana foram mortos pelo
exército, que acaba de decretar o toque de recolher e o Estado de Emergência
por um mês como nos tempos de Mubarak. Mais de 10 mil apoiadores de Mursi
ficaram gravemente feridos quando protestavam contra a ampliação do prazo de
prisão do presidente deposto. A resistência ao golpe vem se ampliando no Egito
e o massacre provocou uma crise no gabinete golpista a ponto do vice-presidente
“interino” do Egito, Mohamed ElBaradei, homem de confiança do imperialismo
ianque, anunciar sua renúncia. Tal decisão demonstra que os EUA resolveram
aparentar que estão contra a repressão enquanto, de fato, apoiam a medida de
força tomada pelos generais que não agem sem o aval do Pentágono. Segundo a
imprensa local, houve intensos confrontos na capital do país com as FFAA
atacando os manifestantes e acusando-os de “terrorismo”. As forças de segurança
- com policiais, metralhadoras, blindados e helicópteros - atacaram
acampamentos dos seguidores do deposto presidente, deixando um rastro de sangue
e destruição pelas ruas de Cairo. Frente a mais este massacre, o que nos dizem
os apoiadores do “golpe revolucionário” no Egito?
O imperialismo tratou com “moderação” o massacre desferido
pelas FFAA. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou:
“Diante das violências de hoje, apelo a todos os egípcios que concentrem seus
esforços na promoção genuína, inclusive na reconciliação”. Já a União Europeia
fez um “Apelo às forças de segurança para exercer máxima moderação e todos os
cidadãos egípcios para evitar mais provocações e uma escalada da violência”,
declarou a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton. Josh Earnest, porta-voz
da Casa Branca, disse que a repressão “dificulta o progresso da situação” no
Egito. Em resumo, reclamam em palavras genéricas dos acontecimentos, mas de fato
avalizam o massacre na tentativa de sufocar a massas que resistem ao golpe,
acusando seus líderes de “terroristas”. Como um típico ataque de guerra, logo
após o amanhecer, helicópteros sobrevoaram os acampamentos dos apoiadores da
Irmandade Muçulmana. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre
eles mulheres e crianças, fugiam. Veículos blindados avançaram ao lado de
tratores que começaram a derrubar as tendas. Cinicamente, o governo emitiu um
comunicado dizendo que as forças de segurança mostraram o “maior grau de
autocontenção refletido em poucas baixas diante do número de pessoas e do
volume de armas e violência dirigidos contra as forças de segurança”. Os
revisionistas que apoiaram o golpe de estado (como a LIT e a CMI de Alan Woods)
apresentando-o como um triunfo popular e apregoavam que se deveria organizar as
massas para atacar a Irmandade Muçulmana devem ter ficado eufóricos com o
massacre, afinal de contas foram eliminados milhares de “islâmicos
reacionários”!!!
O governo golpista defendeu a operação de guerra. O
porta-voz do Conselho de Ministros Sherif Shauqi leu um comunicado do Executivo
no qual afirmou que perseguirão “os arruaceiros” para proteger as propriedades
do povo. Além disso, o governo pediu à Irmandade Muçulmana que pare de
estimular seus seguidores a prejudicarem a segurança nacional. “O executivo
atribuirá aos dirigentes dos Irmãos Muçulmanos a responsabilidade total de
qualquer sangue derramado e de todo o caos e a violência atual”, advertiu o
porta-voz. O ministro do Interior interino, Mohammed Ibrahim, justificou a ação
dizendo que “foram dadas todas as chances para uma solução diplomática”, mas os
partidários de Mursi não se retiraram das ruas. “Nós não vamos mais permitir
qualquer cidadão acampado em qualquer lugar do país”, finalizou Ibrahim. Com
muito sinismo todos que apoiaram o golpe, agora se dizem contra a repressão
“exagerada” desferida pelas FFAA, sendo que até ElBaradei renunciou. O que
ocorre de fato é que a resistência à deposição de Mursi se fortaleceu ao ponto
de questionar o novo governo, o que provocou a ira dos generais aliados do
Pentágono e apresentado pela “esquerda” como homens que atuaram em função da
pressão das massas. O picareta Allan Woods e sua corrente internacional CMI (no
Brasil representados pela Esquerda Marxista) chegaram ao cinismo de afirmar
literalmente sobre a “lenda do golpe”. Segundo estes canalhas “O clamor dos
‘democratas’ burgueses sobre um golpe – que é vergonhosamente ecoado por alguns
da suposta esquerda – também não é uma defesa da democracia, mas uma calúnia
repugnante e um ataque à própria revolução. É uma tentativa hipócrita de negar
o direito do povo a realizar mudanças na sociedade. Que a mídia burguesa
prostituta possa usar o argumento de um suposto golpe para tentar desacreditar
o movimento revolucionário e desinflar sua confiança, é perfeitamente
explicável. Que pessoas que se reivindicam de ‘esquerda’ possam ecoar este
miserável campanha burguesa, é simplesmente desprezível” (sítio EM, 20/06).
Diante das FFAA que massacram apoiadores de Mursi, decretam Estado de
emergência e toque de recolher no Egito, o que dizem agora os apoiadores do
“golpe revolucionário”? Lembremos que logo após o massacre anterior a membros
da Irmandade Muçulmana a LIT apregoava que “No Egito, quando a Irmandade
Muçulmana sai às ruas defendendo a volta do governo bonapartista de Morsi, está
protagonizando uma mobilização contra o regime, mas de caráter
contrarrevolucionário, e por isso não é correto defender nenhum tipo de unidade
de ação com essa organização. Essa mobilização, portanto, não tem nada de
progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam,
erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um
‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de
mobilização que só serve à contrarrevolução. Diante disso, se impõe a
necessidade de que as organizações populares, que derrubaram Morsi, tenham
planos e organismos de autodefesa para impor a vontade das massas contra a
reacionária Irmandade Muçulmana, de tal forma que não dependam do Exército e da
polícia para impor sua vontade.” (sítio LIT, 26/07). Como podemos observar,
trata-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as
FFAA, responsáveis pelo verdadeiro banho de sangue dos últimos dias!