quinta-feira, 10 de agosto de 2017

HÁ 4 ANOS DO GOLPE NO EGITO: FARSESCA “PRIMAVERA ÁRABE” PARIU UMA DITADURA MILITAR, UMA TRANSIÇÃO ORQUESTRADA PELO IMPERIALISMO E APOIADA PELA ESQUERDA REVISIONISTA (LIT, UIT, CMI)


Entre os meses de julho-agosto de 2013 houve um golpe militar no Egito e sua consolidação política. O desenrolar dos acontecimentos foi uma prova cabal do que a LBI afirmava anteriormente: não houve qualquer “revolução” no Egito, mesmo democrática, como pregada pelos revisionistas do trotskismo como o PSTU, a CST e a Esquerda Marxista. Ao contrário, vimos a volta da Junta Militar diretamente ao governo. Entretanto, as ácidas lições que devem ser apreendidas no Egito não param por aí. O fato de um amplo setor das massas apoiarem inicialmente o golpe das FFAA claramente orquestrado com o suporte do Pentágono contra o governo eleito da Irmandade Muçulmana (Mursi) significa que na ausência de um programa e de uma direção revolucionária o “povo na rua” pode apoiar saídas reacionárias. Como Leninistas não fazemos nenhum tipo de fetiche teórico da espontaneidade das massas, ainda mais na ausência de norte programático e inexistência de uma direção classista e revolucionária. Na época reafirmamos que tanto no Egito como no Brasil (Jornadas de Julho), sem o protagonismo histórico do proletariado o movimento das massas pode facilmente girar à direita e convergir com interesses reacionários das classes dominantes. Ao contrário, os Morenistas apoiaram os “rebeldes” pró-OTAN na Líbia, saudaram os mercenários na Síria e no Egito defenderam a unidade com os militares golpistas a serviço da Casa Branca. Hoje, como em 2013, declaramos que para avançar rumo a uma verdadeira revolução no Egito, ainda que seja democrática, será preciso que o proletariado imponha suas próprias demandas de classe, sem estabelecer nenhuma “unidade tática” com a cúpula das FFAA, que até hoje governa abertamente a serviço do imperialismo ianque no comando de um brutal regime repressivo! Esse debate faz-se muito importante porque na Venezuela está em curso um ofensiva reacionária da direita fascista, que deseja inclusive ter o apoio de um setor das FFAA para derrubar o governo Maduro, movimento golpista que vem novamente sendo apoiado pelo PSTU e CST, cinicamente apresentando-o como uma "rebelião popular" como fizeram no Egito.


BANHO DE SANGUE NO EGITO: GOLPISTAS MASSACRAM APOIADORES DE MURSI, DECRETAM ESTADO DE EMERGÊNCIA E TOQUE DE RECOLHER...ESSA É A "REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA" TÃO FESTEJADA PELOS REVISIONISTAS DO TROTSKISMO?
(Blog da LBI, 9 de agosto de 2013)

As FFAA promoveram um novo massacre no Egito durante as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, 09/08. Em uma verdadeira operação de guerra mais de 600 apoiadores da Irmandade Muçulmana foram mortos pelo exército, que acaba de decretar o toque de recolher e o Estado de Emergência por um mês como nos tempos de Mubarak. Mais de 10 mil apoiadores de Mursi ficaram gravemente feridos quando protestavam contra a ampliação do prazo de prisão do presidente deposto. A resistência ao golpe vem se ampliando no Egito e o massacre provocou uma crise no gabinete golpista a ponto do vice-presidente “interino” do Egito, Mohamed ElBaradei, homem de confiança do imperialismo ianque, anunciar sua renúncia. Tal decisão demonstra que os EUA resolveram aparentar que estão contra a repressão enquanto, de fato, apoiam a medida de força tomada pelos generais que não agem sem o aval do Pentágono. Segundo a imprensa local, houve intensos confrontos na capital do país com as FFAA atacando os manifestantes e acusando-os de “terrorismo”. As forças de segurança - com policiais, metralhadoras, blindados e helicópteros - atacaram acampamentos dos seguidores do deposto presidente, deixando um rastro de sangue e destruição pelas ruas de Cairo. Frente a mais este massacre, o que nos dizem os apoiadores do “golpe revolucionário” no Egito?

O imperialismo tratou com “moderação” o massacre desferido pelas FFAA. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou: “Diante das violências de hoje, apelo a todos os egípcios que concentrem seus esforços na promoção genuína, inclusive na reconciliação”. Já a União Europeia fez um “Apelo às forças de segurança para exercer máxima moderação e todos os cidadãos egípcios para evitar mais provocações e uma escalada da violência”, declarou a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton. Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca, disse que a repressão “dificulta o progresso da situação” no Egito. Em resumo, reclamam em palavras genéricas dos acontecimentos, mas de fato avalizam o massacre na tentativa de sufocar a massas que resistem ao golpe, acusando seus líderes de “terroristas”. Como um típico ataque de guerra, logo após o amanhecer, helicópteros sobrevoaram os acampamentos dos apoiadores da Irmandade Muçulmana. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que começaram a derrubar as tendas. Cinicamente, o governo emitiu um comunicado dizendo que as forças de segurança mostraram o “maior grau de autocontenção refletido em poucas baixas diante do número de pessoas e do volume de armas e violência dirigidos contra as forças de segurança”. Os revisionistas que apoiaram o golpe de estado (como a LIT e a CMI de Alan Woods) apresentando-o como um triunfo popular e apregoavam que se deveria organizar as massas para atacar a Irmandade Muçulmana devem ter ficado eufóricos com o massacre, afinal de contas foram eliminados milhares de “islâmicos reacionários”!!!

O governo golpista defendeu a operação de guerra. O porta-voz do Conselho de Ministros Sherif Shauqi leu um comunicado do Executivo no qual afirmou que perseguirão “os arruaceiros” para proteger as propriedades do povo. Além disso, o governo pediu à Irmandade Muçulmana que pare de estimular seus seguidores a prejudicarem a segurança nacional. “O executivo atribuirá aos dirigentes dos Irmãos Muçulmanos a responsabilidade total de qualquer sangue derramado e de todo o caos e a violência atual”, advertiu o porta-voz. O ministro do Interior interino, Mohammed Ibrahim, justificou a ação dizendo que “foram dadas todas as chances para uma solução diplomática”, mas os partidários de Mursi não se retiraram das ruas. “Nós não vamos mais permitir qualquer cidadão acampado em qualquer lugar do país”, finalizou Ibrahim. Com muito sinismo todos que apoiaram o golpe, agora se dizem contra a repressão “exagerada” desferida pelas FFAA, sendo que até ElBaradei renunciou. O que ocorre de fato é que a resistência à deposição de Mursi se fortaleceu ao ponto de questionar o novo governo, o que provocou a ira dos generais aliados do Pentágono e apresentado pela “esquerda” como homens que atuaram em função da pressão das massas. O picareta Allan Woods e sua corrente internacional CMI (no Brasil representados pela Esquerda Marxista) chegaram ao cinismo de afirmar literalmente sobre a “lenda do golpe”. Segundo estes canalhas “O clamor dos ‘democratas’ burgueses sobre um golpe – que é vergonhosamente ecoado por alguns da suposta esquerda – também não é uma defesa da democracia, mas uma calúnia repugnante e um ataque à própria revolução. É uma tentativa hipócrita de negar o direito do povo a realizar mudanças na sociedade. Que a mídia burguesa prostituta possa usar o argumento de um suposto golpe para tentar desacreditar o movimento revolucionário e desinflar sua confiança, é perfeitamente explicável. Que pessoas que se reivindicam de ‘esquerda’ possam ecoar este miserável campanha burguesa, é simplesmente desprezível” (sítio EM, 20/06). Diante das FFAA que massacram apoiadores de Mursi, decretam Estado de emergência e toque de recolher no Egito, o que dizem agora os apoiadores do “golpe revolucionário”? Lembremos que logo após o massacre anterior a membros da Irmandade Muçulmana a LIT apregoava que “No Egito, quando a Irmandade Muçulmana sai às ruas defendendo a volta do governo bonapartista de Morsi, está protagonizando uma mobilização contra o regime, mas de caráter contrarrevolucionário, e por isso não é correto defender nenhum tipo de unidade de ação com essa organização. Essa mobilização, portanto, não tem nada de progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam, erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um ‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de mobilização que só serve à contrarrevolução. Diante disso, se impõe a necessidade de que as organizações populares, que derrubaram Morsi, tenham planos e organismos de autodefesa para impor a vontade das massas contra a reacionária Irmandade Muçulmana, de tal forma que não dependam do Exército e da polícia para impor sua vontade.” (sítio LIT, 26/07). Como podemos observar, trata-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as FFAA, responsáveis pelo verdadeiro banho de sangue dos últimos dias!

Agora que a repressão do exército de abate com toda força sobre os apoiadores de Mursi fica insustentável a posição da “esquerda” que foi fiadora do golpe, inclusive daqueles setores reformistas e stalinistas que chegaram a dizer, como o próprio PC do Egito, que com a ascensão dos militares ao governo se romperia o eixo que o atual governo de Mursi formou com a Turquia e as petromonarquias do Golfo, como Arábia Saudita e Qatar, contra a Síria e o Irã. Esta tese é completamente falsa, já que o alto-comando militar encastelado no poder desde Sadat e Mubarak sempre esteve alinhado com os objetivos estratégicos do imperialismo ianque, tendo em vista que é diretamente financiado e orientado pelo Pentágono. O exército egípcio é cúmplice histórico dos massacres ao povo palestino perpetrado por Israel, tanto que o país é um dos poucos no Oriente Médio que tem relações diplomáticas com o enclave sionista desde os acordos de Camp David. Na verdade, ao Conselho Supremo das FFAA ter perpetrado o golpe militar se aprofundou ainda com maior força o alinhamento político e militar do Egito contra a Síria e o Irã, já que colaboram diretamente com os planos da OTAN! Os fatos atuais só comprovam o que afirmamos! Neste momento é necessário chamar a derrubada do “novo governo” golpista pela via da ação direta das massas, convocando atos e manifestações em frente única com a Irmandade Muçulmana e os setores populares que se opõem ao golpe, construindo comitês de autodefesa contra a repressão estatal. Ao contrário dos canalhas da LIT e seus irmãos da família revisionista, os genuínos trotskistas estão nas trincheiras dos que combatem os golpistas, serviçais da Casa Branca!