segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Diante das “porteiras abertas” pelo PSOE, para a direita fascista na Espanha, ETA anuncia fim de suas atividades guerrilheiras

Nestes últimos dias passou quase que despercebido pela mídia “murdochiana” o anúncio de que o grupo guerrilheiro “Pátria Basca e Liberdade” (ETA) depunha as armas, cessando em definitivo as suas ações militares: “face à violência e a repressão, o diálogo e o acordo devem caracterizar o novo ciclo... o reconhecimento do Euskal Herria [País Basco] e o respeito à vontade popular devem prevalecer sobre a imposição” (Declaración de ETA, 20/10). Desgraçadamente, esta declaração segue o curso do profundo retrocesso da consciência do proletariado mundial, em meio ao bárbaro assassinato de Kadaffi pela OTAN e às vésperas da iminente vitória da direita fascista capitaneada pelo Partido Popular (PP) nas eleições espanholas de novembro próximo. Diante da ofensiva mundial do imperialismo e o avanço do fascismo na Europa, o ETA divulga a sua renúncia às armas após uma trégua com o regime político de Zapatero que já perdurava cerca de dois anos. As tentativas de acordos com o Estado espanhol (e francês) foram várias, sendo que a mais recente ocorreu no chamado “Acordo de Gernika”, em setembro de 2010, os quais culminaram na “Conferência de Aiete” na quinta-feira, 20 onde estiveram presentes nomes de confiança do imperialismo europeu como e ex-chefe de gabinete de Tony Blair, Jonathan Powell, o ex-secretário da ONU Kofi Annan e o dirigente do Sinn Fein Gerry Adams.

A decisão dos dirigentes do ETA está diretamente relacionada às sombrias perspectivas eleitorais de seu braço político, a “izquierda abertzale”, que nas eleições municipais de maio deste ano obteve 25% dos votos com a chamada “coalização Bildu” e às pressões políticas daí decorrentes para o “respeito à vontade popular”. Neste sentido, pesquisas demonstram que a direita franquista pode se eleger com cerca de 60% dos votos, uma vitória acachapante do PP através de Mariano Rajoy, enquanto a coalizão basca teria uma porcentagem irrisória de votos. Zapatero, ao antecipar as eleições gerais, ora marcadas para março do ano que vem, deu um cheque em branco para direita. O PP vem assumir o governo com um projeto que pretende durar vários anos no poder, razão pela qual o ETA, para se preservar decidiu pôr fim às suas ações militares e se integrar ao regime político em seu “novo ciclo”. Mesmo assim, as pressões são gigantescas, pois além da renúncia política à guerrilha, a burguesia espanhola exige segundo as Forças de Segurança do Estado, que o ETA entregue definitivamente seu “arsenal bélico” espalhados pelo país, em Portugal e na França. Até agora os dirigentes bascos não fizeram menção de colocar em movimento esta capitulação, o que na verdade seria uma completa rendição, haja vista que nenhum dos problemas relacionados à nacionalidade foram solucionados: há 700 militantes bascos presos nas masmorras espanholas e francesas, centenas de exilados, nem sequer houve a mínima retirada das Forças de Segurança do país basco. Num futuro governo PP esta condição, não obstante, tende a piorar drasticamente, como afirmou o candidato Mariano Rajoy ao jornal El Periodico (23/10) que o ETA “deve pagar algum preço... e sua dissolução é irreversível”. E arremata com violência: “Com o ETA não há nada o que falar... é um grupo criminoso que quer impor pela força suas teses”.

Como podemos ver, ao contrário do que a esquerda revisionista afirma, as tendências políticas para o próximo período, numa etapa de aguda crise do capitalismo, indicam um enorme retrocesso na consciência das massas no velho continente, onde, por exemplo, “indignados” espanhóis (e em vários outros países) não poupam esforços para demonstrar sua profunda rejeição a partidos de esquerda, o que representa uma porteira aberta para o retorno da direita fascista do PP. A possível vitória eleitoral da social democracia na França de forma alguma anula esta tendência geral, posto que a adoção de um programa de governo neoliberal pelo PS, apenas semeia o caminho do breve retorno de uma direita ainda mais recalcitrante do que Sarkozy.