“Indignados” são duramente reprimidos nos EUA quando marchavam por regular Wall Street contra a “avareza dos mais ricos”
A mídia burguesa tem dado grande destaque aos “indignados” norte-americanos agrupados no movimento “Ocupar Wall Street”. Neste sábado, 1º de Outubro, mais de 700 manifestantes foram presos durante um protesto que bloqueou a ponte do Brooklyn, em Nova York, enquanto centenas de ativistas mantém um acampamento no Zucotti Park, na Praça Liberdade, no centro de Manhattan. No domingo, 02/10, a maioria dos manifestantes detidos foi liberada, porém 20 ativistas permanecem encarcerados no quartel da polícia por “perturbação da ordem pública”. A mobilização critica principalmente o sistema financeiro, a chamada ganância corporativa, a ajuda do governo Obama aos bancos privados. Propõe a “taxação dos ricos”, uma “economia justa” e a “paz mundial”. O movimento é uma reedição, em forma ainda mais ordeira e pacífica, das manifestações que ocorreram em 1999 a partir da cidade de Seattle contra a globalização mundial e a OMC, que inspiraram a criação do Fórum Social Mundial, hoje completamente desmoralizado por sua completa inutilidade política. Protestando contra a “avareza dos mais ricos”, os manifestantes levam à frente o slogan “We the People” (Nós, o Povo), as primeiras palavras do preâmbulo da Constituição dos EUA, o que por si só aponta os limites do movimento. Tais reivindicações revelam o caráter pequeno-burguês desse movimento e a recusa em admitir o princípio científico marxista de que o Estado burguês é essencialmente uma máquina a serviço dos interesses dos capitalistas, um balcão de negócios comuns da burguesia e como tal não deve ser regenerado para dar continuidade à exploração capitalista, mas destruído pelo proletariado revolucionário através de uma revolução socialista. Como marxistas revolucionários nos colocamos contra a repressão estatal ianque ao movimento “Ocupar Wall Street”, mas não vemos nele nenhuma expressão revolucionária da luta direta da classe trabalhadora norte-americana contra os ataques as suas conquistas.
Toda a formulação do “Ocupar Wall Street” visa amenizar as mazelas capitalistas e não combater sua causa. É uma plataforma programática própria das ONGs financiadas por fundações privadas mantidas por conglomerados imperialistas através de fundos sociais. As ONGs, ao patrocinarem a assistência não-estatal e a regulação do mercado, criticando a “avareza dos ricos” e, obviamente, não defendendo a destruição do capitalismo, acabam minando a resistência das massas aos ataques oriundos da crise do capitalismo e de seus governos, contribuindo para a preservação do regime. Por isso, os “indignados”, sejam na Europa ou nos EUA para não falar dos arquirreacionários de Israel, rechaçam o comunismo como alternativa a barbárie capitalista, como explica um dos manifestantes, Robert Cammiso, para a BBC: “Não somos anarquistas. Não somos vândalos. Sou um homem de 48 anos de idade. Este não é um protesto contra a polícia de Nova York. É um protesto de 99% da população contra o poder desproporcional de 1% que controla 50% da riqueza do país”. Para o bom entendedor meia palavra basta...
O centro da proposta do movimento é a implantação de "taxas sobre os ricos", uma espécie de imposto sobre os fluxos financeiros especulativos para criar um fundo de desenvolvimento social nos EUA, ou seja, a migalha capitalista serviria para amenizar a condição de pobreza das massas norte-americanas, amortecendo as lutas sociais e a revolta dos explorados que poderiam jogar pelos ares a ordem burguesa no coração do monstro imperialista. Seguindo essa lógica, a tarefa dos “indignados” não seria derrotar pela via da ação direta os planos de ajuste do imperialismo e do FMI em nível mundial e organizar-se para derrubar os governos burgueses de plantão, sejam eles “socialistas” ou “conservadores”, através da luta revolucionária sob a direção de um partido comunista, abrindo desta forma o caminho para a construção de uma alternativa própria de poder do proletariado e do campesinato. A alternativa reside em simplesmente reafirmar alegoricamente que são homens e mulheres a favor de uma “cidadania planetária”, de “referendos vinculantes” e da “paz mundial”, o que significa ir a fundo na lógica do aperfeiçoamento do próprio regime democrático-burguês, substituindo o enfrentamento entre as classes sociais pela “pressão das praças sem sindicatos e partidos” para que os governos capitalistas sejam sucedidos por gestores supostamente éticos e não corrompidos “que cumpram o que prometeram”, como esperam até hoje de Obama e seu “Yes We Can”. Já a “paz” defendida pelos “indignados” resume-se a ocas palavras contra as “guerras”, enquanto se colocam de fato a favor dos “rebeldes” apoiados pela OTAN na Líbia, já que são entusiastas da fantasiosa “revolução árabe” que não passa de uma transição ordenada controlada pela Casa Branca. Também são ferozes inimigos dos atos de resistência militar dos povos árabes contra o império, os quais chamam de “terrorismo” e apóiam as “Damas de Branco” em Cuba que seriam porta-vozes da democracia contra a “ditadura comunista”.
Exigimos a imediata libertação dos ativistas presos, defendemos seu direito de expressão e manifestação impedido pela farsesca democracia ianque e nos colocamos pelo fim de todos os processos judiciais contra os participantes do movimento mesmo não considerando o “Ocupar Wall Street” uma expressão conseqüente da luta direta da classe trabalhadora norte-americana contra os ataques as suas conquistas. Como o próprio nome “indignados” expressa, para esse movimento inexiste trabalhadores com interesses de classe antagônicos aos da burguesia, mas sim cidadãos com interesses comuns básicos, como saúde, educação, habitação. Seria então necessário aplicar um programa de inclusão social, mantendo de fato o modo de produção capitalista intocável, recorrendo a políticas compensatórias e adotar uma forma com aparência democrática para gerir o Estado burguês para rumar na resolução de todos os problemas sociais da população do planeta. A partir desse programa, na prática, impõe-se aos explorados a lógica de aceitar o ônus da crise capitalista, amenizá-la a partir de ações assistencialistas e “humanitárias”, opondo-se assim a defender que a única estratégia capaz de gerar um mundo livre, sem explorados e exploradores, é a luta pela revolução proletária mundial e pela construção do socialismo em todo planeta a partir da luta insurrecional dos explorados da cidade e do campo.