A tragédia grega abre caminho para o fortalecimento da direita frente à ausência de uma genuína alternativa comunista
Nos últimos meses tem sido comum ler em várias publicações de “esquerda” que a crise econômica grega se arrasta a um nível tão profundo que estaríamos à beira de uma explosão capaz de colocar abaixo, por si só, a própria ordem capitalista no país, afetando o conjunto da União Europeia. Em meio a esses delírios catastrofistas ocorreu neste mês de setembro em Atenas, na Grécia, um seminário internacional promovido pelo Partido Comunista da Grécia (KKE) em que participaram várias correntes que se reivindicam comunistas em nível mundial, inclusive o PCB. O que chama atenção é que essa articulação política apresenta a luta do povo grego como o principal exemplo de resistência à ofensiva imperialista, mas encobre o papel nefasto que a direção do próprio KKE teve neste processo. O KKE levou durante os últimos combates uma política sindicalista e ultrarrebaixada, tanto que em nenhum momento teve como eixo político a derrubada do governo Papandreu, limitando-se à pressão sobre o parlamento burguês. O resultado desta orientação foram às seguidas derrotas das greves gerais, a desmoralização de um amplo setor de vanguarda e fortalecimento da direita que já se prepara para assumir o governo através de uma nova maioria parlamentar que deve conquistar nas próximas eleições, seguindo o exemplo de Portugal.
O próprio informe do representante do PCB no seminário, assim como o artigo do KKE sobre as últimas mobilizações na Grécia revelam o que afirmamos. Apesar da defesa genérica do socialismo, própria dos dias de festa, o texto elaborado pelo PCB não aponta nenhuma estratégia comunista de luta contra o governo burguês do Pasok (que sequer é citado), limitando-se a crítica rebaixada de que “as elites econômicas em sincronia com os ditames das burguesias internacionais seguem as orientações do FMI” (site PCB, 29/9). Já o KKE nos aponta que a alternativa a essa realidade seria “que uma forte aliança popular seja formada por trabalhadores, auto-empregados na cidade e zonas rurais, juventude, mulheres para o derrube do poder dos monopólios, retirada da UE com poder do povo” (idem, 01/10). Em resumo, depois de negaram-se a chamar a derrubada do governo burguês durante a greve geral de junho, agora apresentam como alternativa “revolucionária” a saída da Grécia da União Europeia.
A proposta de “saída da UE” está mais para uma medida protecionista que poderiam chegar a recorrer desesperadamente às burguesias mais frágeis no velho continente, opção que tem a simpatia de setores da própria direita europeia. A entrada da Grécia na chamada zona do Euro a colocou em um colapso previamente anunciado. O rombo em suas contas públicas, produto de uma incapacidade de acumular reservas cambiais em uma moeda “forte”, foi potenciado pela própria retração do mercado “comprador” internacional. A única “saída possível” para a burguesia grega seria a renúncia ao Euro e o rompimento com o receituário draconiano do Banco Central europeu (BCE), mas isso seria impossível no marco estatal de uma classe dominante associada às burguesias imperialistas europeias, em especial a alemã, que se beneficia das exportações primárias da Grécia. Diante da covardia da burguesia nativa, o KKE assume a tarefa... dando-lhe uma maquiagem de esquerda, mas sem questionar em nenhum momento o próprio poder burguês!
Prova disso é que a chamada “Nova Democracia”, o tradicional partido de direita grego, votou contra as medidas exigidas pelo BCE para se cacifar eleitoralmente, soliticando inclusive a antecipação das eleições: "Eleições são a única solução. Desse modo o desejo da população será expressado" (OESP, 17/09), disse o líder do partido da oposição conservadora, Antonis Samaras. De lá e do KKE partiram os votos contra o pacote de ajuste imposto por Papandreu. Como parte desse circo, a direita tem ao seu lado a bancada de deputados “comunistas” do KKE, liderada por Aleka Papariga. Para a classe operária mundial que acompanha atenta o desenrolar dos combates na Grécia fica a lição de que as energias dos trabalhadores não podem ser desperdiçadas no jogo da pressão institucional sobre o corrupto parlamento burguês. As lutas proletárias devem ter como estratégia revolucionária a construção de uma alternativa de poder proletário sobre os escombros das instituições do Estado burguês e de seus governos fantoches.