Vitória arrasadora de Cristina Kirchner e o “fim das ilusões” para uma esquerda integrada ao regime democratizante
A presidente argentina, Cristina Kirchner, obteve ontem (23/10) uma estrondosa vitória eleitoral ao conseguir sua reeleição ao cargo com quase 55% dos votos. Em segundo lugar e muito distante de Cristina aparece o ex-governador da província de Santa fé, Hermes Binner da Frente Ampla Progressista. As candidaturas tradicionais, como a da UCR (Alfonsín) e do “velho” peronismo (Duhalde e Rodriguez Saá) foram praticamente trucidadas. A FPV de Cristina conseguiu não só ampliar a votação obtida nas primarias de agosto como reconquistar a maioria na Câmara dos Deputados, assim como eleger seis governadores das oito províncias que renovaram seus mandatários. Foi a maior diferença eleitoral obtida por uma candidatura à presidência desde o fim da ditadura militar em 1983, desta forma Cristina consolida uma liderança política nacional do calibre de Juan Domingo Perón, em seu último período de vida, onde o nacionalismo era apenas um leve traço desbotado.
O triunfo da família Kirchner, apesar do falecimento prematuro do patriarca Néstor no ano passado, tem a mesma base do sucesso Lulista no Brasil, ou seja, uma forte expansão econômica baseada na bolha de crédito internacional. A Argentina também é beneficiada com a alta no valor das commodities agrominerais no mercado mundial, impulsionando um grande mercado interno consumidor. Redução nos índices de desemprego e um relativo aumento do controle estatal sobre preços e serviços públicos e privados, foram os ingredientes políticos que finalizaram a aplastante vitória de Cristina no cenário nacional. Um capítulo a parte nestas eleições foi a virulenta campanha dos meios de comunicação contra a presidenta, acusada de “totalitarismo” e até mesmo de pretender transformar a Argentina em uma nova Cuba. O jornal “El Clarín” comandou uma cruzada ultrarreacionária contra Cristina, chegando a apostar suas fichas nas candidaturas da esquerda “oficial”, que obtiveram a “generosidade” das principais páginas do asqueroso periódico da direita pró-imperialista portenha.
Outro grande derrotado nestas eleições foram as organizações da esquerda revisionista que formaram a “FIT”, uma verdadeira fraude política que tinha como principal slogan eleitoral: “Meta diputados de izquierda”. O Partido Obrero (PO), principal integrante da “FIT”, meses antes das eleições afirmava rotundamente com seu catastrofismo ridículo e peculiar que “Cristina marcha a un derrumbe generalizado”, para em poucas semanas da realização das primárias, tentando “surfar” na onda Kirchnerista, pedir aos eleitores peronistas “cortar boleta e votar en los candidatos de la FIT”. Passadas as primárias onde a FIT obteve o “milagro” oportunista de superar o piso proscritivo, graças ao apoio descarado dos “camaradas” do Clarín, Altamira saiu a brindar com o jornalista fascista “Chiche” Gelblumg o resultado obtido pela “FIT”. O PTS que repudiou a postura vergonhosa de Altamira foi logo ameaçado de expulsão da FIT pelo PO. Logo depois foi o próprio PTS quem aceitou sem “verguenza” a edição do seu livro, “A esquerda frente a Argentina Kirchnerista”, por uma editora hiper reacionária (Planeta), a “ABRIL” de lá.
Projetando ampliar a votação das primárias, onde a FIT obteve pouco mais de 2% dos votos, o PO passou a delirar com a eleição de vários deputados. O resultado foi que apesar de uma campanha eleitoralista e palatável à mídia capitalista, sem a publicidade de qualquer referência revolucionária e comunista (chegaram a negar a defesa da ditadura do proletariado nos programas televisivos), a FIT estacionou nos 2% ficando muito distante de conquistar uma bancada parlamentar. A esquerda revisionista argentina que embarcou de conjunto no amálgama da FIT, mostrou que é completamente incapaz de passar, de forma Leninista, no teste elementar da democracia burguesa, ou seja, a farsa do circo eleitoral.
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