quarta-feira, 28 de outubro de 2015


LULA COMPLETA 70 ANOS COM MUITOS "NEGÓCIOS FAMILIARES" QUE INTERESSAM À OFENSIVA DA DIREITA CONTRA AS CONQUISTAS DOS TRABALHADORES

Lula acaba de completar 70 anos, sem dúvida uma grande conquista de vida para um retirante nordestino que chegou à Presidência da República e superou (pelo menos temporariamente) um câncer muito agressivo. Porém aos 70 Lula atravessa um dos momentos mais delicados de sua vida, em primeiro lugar pelo esgotamento precoce do governo que impôs ao partido em 2010. Poderia neste momento ter indicado qualquer outro nome petista para concorrer ao Planalto que teria êxito, mas optou por uma neopetista sem nenhuma história no partido, com credenciais de "gerenciamento tecnocrático" desde o tempo que abdicou de suas convicções ideológicas após o período da luta armada contra o regime militar. Dilma fracassou estrepitosamente já no início do seu segundo mandato, comprometendo todo o projeto de poder do PT para os próximos anos ou décadas. Com o partido desmoralizado e cercado pela ofensiva da direita, a sobrevivência política da liderança de Lula é a única esperança dos petistas para salvar a Frente Popular e seus aliados menores. Mas não foi só o default econômico e social do governo Dilma que obscureceu as comemorações dos 70, Lula tem pleno conhecimento que é o alvo preferencial da ofensiva jurídico-policial das forças reacionárias, e que neste momento sua prisão ou de seus entes mais próximos depende da correlação de forças entre governo e o bloco da oposição. Nós da LBI fomos a única corrente a caracterizar o processo de "caça às bruxas" detonado em 2005 com o escândalo do "Mensalão", revestido de operação de "moralização do patrimônio público". A "Lava a Jato" é a mera continuidade deste processo, porém com um foco mais específico, quebrar grandes empresas nacionais (públicas e privadas) para favorecer a entrada de corporações transnacionais na economia do país. Tudo sob a maquiagem de "passar o Brasil a limpo", devolvendo milhões de dólares aos cofres estatais capturados de lobistas e diretores de empresas que realizaram negócios com o governo petista. Lula acompanha apreensivo cada detenção da PF que cada vez mais se aproxima de seu estreito círculo pessoal e político. Todas as prisões requeridas pelo Ministério Público tem como "base" o recebimento ilegal de "comissões" auferidas a título de facilitação de contratos com empresas estatais ou medidas de isenção fiscal do governo. O PT "protesta" com veemência, afinal neste país todos os gestores e políticos de todos os níveis recebem "comissões" mas só os petistas e seus "parceiros" é que vão em cana. Lula em seu primeiro governo reproduziu a mesma estrutura corrupta de toda a história republicana deste país, entretanto "democratizou" e ampliou o leque dos beneficiários das tradicionalíssimas "comissões" (propinas), simplesmente rebaixando seus percentuais com o objetivo de atingir mais gente. Entre estes verdadeiros "corretores" das transações comerciais do Estado, estão incluídos milhares de petistas que elevaram consideravelmente seu patrimônio pessoal ou mesmo o nível de vida. Repetimos, os petistas não foram os únicos e tampouco os mais "agraciados" com as "generosas comissões", neste bojo da corrupção estatal estão na primeira fila, tucanos e todos os políticos burgueses vinculados as oligarquias capitalistas. Lula não se auto excluiu ou aos "seus" desta prática corriqueira do Estado burguês e agora com o colapso de Dilma se vê às voltas com constantes fustigamentos policiais que visam eliminá-lo da disputa de 2018. Tanto as empresas de seus filhos Luis Cláudio como Fábio Luiz são alvo de investigações do Ministério Público em virtude de "vertiginoso" crescimento. É óbvio que filhos de FHC, Serra, Alckmin e afins jamais serão investigados ou presos, apesar de estarem todos bilionários. A cruzada da "moralização" atinge somente petistas ou seus "parentes e amigos" e nunca teve por objetivo reduzir a corrupção no Brasil, não passa de puro espetáculo midiático para incautos. É bem verdade que petistas também "provaram do bolo", ainda que em menor proporção, mas não se justifica que um partido que se diz "democrático e dos trabalhadores" reproduza a mesma engrenagem da elite capitalista dominante. Lula não tem como "tapar o sol com a peneira" diante do enriquecimento de seus filhos e segue com apreensão os passos da PF. Muito provavelmente a PF não venha a tocar em Lula e seu círculo familiar, deverá escolher outro petista para "bode expiatório", como fez com Vaccari e José Dirceu. A "bola da vez" seria a família do ex-Secretário-Geral de Lula, Gilberto Carvalho, sua filha que possui uma modesta cantina está sendo ameaçada pela "Zelotes", enquanto os sonegadores barões da mídia "mudochiana" fazem um "carnaval fora de época" com as ações da PF. Não temos a menor dúvida dos objetivos estratégicos da "cruzada moralizadora" que permeia o país, pretende aprofundar a quebra das conquistas históricas, sociais e econômicas do povo brasileiro. Isto não significa que endossamos a prática política da esquerda que se deixou "seduzir" pelas benesses do gerenciamento do Estado Burguês. Lula nos seus 70 anos de vida e 35 do surgimento do PT, atravessa seu pior "inferno astral", provocado por uma confiança absoluta na política de colaboração de classes, não esperava que agora a burguesia resolveria "sangrá-lo", ignorando os longos anos de "parceria e amizade".

Quando da segunda prisão de José Dirceu, desta vez por determinação da operação Lava Jato, muitos petistas e intelectuais progressistas se mostraram chocados com as cifras de arrecadação financeira de sua "empresa de consultoria". Uma parcela considerável dos apoiadores de Dirceu utilizou o fato da revelação do "volume de alto calibre" da receita de sua empresa, provenientes de grandes empresas, para afirmar que diante das "evidências de enriquecimento pessoal" não defenderiam mais a liberdade do ex-guerrilheiro. Nesta ocasião, rebatendo os "decepcionados", a LBI sustentou que o caso de Dirceu não era muito diferente de Lula ou de inúmeros dirigentes e parlamentares petistas, ou seja, a degeneração programática destes os levou para o campo concreto da abrupta elevação do nível material de suas existências... Porém a defesa incondicional diante de ataques da reação direitista se mantinha da mesma maneira. Não poderíamos chancelar suas condutas de ruptura com os métodos da moral proletária, mas tampouco colocaríamos "lenha na fogueira" do fascismo, que não possui autoridade moral alguma para julgar e condenar burocratas da esquerda social- democrata.

O PT há muito tempo deixou de concentrar alguma característica política ou programática da esquerda operária, configura-se atualmente como uma organização democrática da esquerda burguesa com forte influência sobre o movimento social de conjunto. Lula é a expressão maior desta configuração partidária do PT, continua sendo a maior liderança do movimento de massa no país, ao mesmo tempo que representa os interesses econômicos de setores da grande burguesia nacional, como mineradoras, siderúrgicas e empreiteiras por exemplo. São frações das classes dominantes diretamente ligadas à infraestrutura do Estado nacional e com fortes fricções na disputa de mercado com trustes imperialistas. Também alas do segmento financeiro têm fortes vínculos com o PT, como é o caso do banco Bradesco beneficiado pelo governo em sua disputa de liderança com o grupo Itaú. O BNDES, sob o controle do governo petista nestes últimos dez anos, fomentou diversos setores da burguesia nacional, inclusive o agronegócio, estas "holdings" tem retribuído com bastante "generosidade" a várias personalidades do PT, direta ou indiretamente...

Mesmo com todos estes elementos "contraditórios", Lula e o PT não perderam sua capacidade de liderança política da esquerda brasileira (embora muito abalada), na realidade o partido é a síntese de uma esquerda "aburguesada" que vem se deslocando cada vez mais da relação com a vanguarda mais consciente e classista do movimento dos trabalhadores. Neste sentido o intenso desgaste do PT no interior dos setores "medianos" da população é um elemento muito bem aproveitado pelas forças reacionárias e conservadoras. Em uma etapa de forte retrocesso econômico nacional, regido pela pauta ultra-monetarista do governo Dilma, fica muito difícil para Lula pregar sua habitual demagogia da "exitosa" colaboração de classe. Ainda que não tenha surgido no Brasil uma alternativa revolucionária de massas a direção política do PT e Lula, é necessário organizar molecularmente uma via de independência de classe resgatando para o proletariado os valores da moral operária e seu programa genuinamente comunista.