terça-feira, 6 de outubro de 2015


MANTER A GOVERNABILIDADE DA DEMOCRACIA BURGUESA AO PREÇO DE MASSACRAR O POVO TRABALHADOR

Quanto mais é achacado pela própria base corrupta de apoio, mais o governo Dilma cede ao capital financeiro e seus representantes políticos "divididos" nos dois principais blocos burgueses: PT e PSDB. Desta vez Dilma chegou ao ápice da desmoralização, entregando o Ministério da Ciência e Tecnologia ao "pau mandado" do achacador mor e chantagista do processo de impeachment, Eduardo Cunha. O sicário Cunha, achincalhado nas ruas pelo ativismo petista e de esquerda em geral, recebe tratamento "VIP" pelo Planalto apesar de atolado na lama até o pescoço após a revelação de suas contas "secretas" na Suíça. Colocamos entre aspas "secretas" porque seria muito cretinismo de nossa parte mostrar alguma surpresa com esta nova denúncia, pois sabemos muito bem que todo o arco de políticos da burguesia, do PT e Tucanos ao partido mais nanico do país, possui uma gorda poupança em algum paraíso fiscal do planeta. Os apologistas "chapa branca" do governo Dilma dirão mais uma vez que não tem muita importância política lotear os "reles" ministérios da Saúde e Ciência para a quadrilha peemedebista, afinal de contas já detinham tantos outros ministérios antes da "redução", e o principal está mesmo nas mãos dos rentistas e banqueiros com seu office boy, Joaquim Levy. Tudo deve ser feito para evitar o iminente "golpe de estado"... o "preço" da governabilidade burguesa é pago pelos trabalhadores e o povo pobre que deve aceitar perder direitos trabalhistas e conquistas sociais e até mesmo ficar sem a assistência vital a sua sobrevivência física... sacrifício máximo para evitar que a direita retorne ao controle da gerência capitalista estatal... porque para esta esquerda corrompida seria bem pior perder o fundo estatal e os "favores" do Planalto. O desemprego já atinge níveis muito próximos da "era de ouro" do governo FHC, e ainda estamos muito distantes do pico da recessão econômica, previsto para meados de 2016 com uma provável retração histórica de três pontos percentuais do PIB. No horizonte próximo deste governo petista ultra neoliberal paira uma draconiana reforma da previdência, para aprofundar as alterações monetaristas já realizadas e avançar em mais perdas dos direitos conquistados, no mesmo plano estão as privatizações e o desmonte das poucas estatais que sobreviverão. O arrocho salarial do setor público é usado como barganha em contraponto desemprego crescente do setor privado, enquanto o parque industrial do país vira "pó" diante da política estatal de impulsionar o agronegócio exportador. Aos poucos o Brasil no século XXI retrocede ao limiar da "revolução de trinta", importando todos seus bens de capital, convertido em um grande "fazendão" na produção de commodities agrominerais. Sem a bolha de crédito internacional o governo da Frente Popular esgota seus recursos de inflar o consumo no país, sem poupança nacional o truque ilusório do "neodesenvolvimentismo" chegou ao fim, agora só resta a conta amarga do "déficit" que deve ser cobrada nas costas do proletariado. Porém é óbvio que Dilma não conseguirá chegar ao fim da travessia do seu mandato, será descartada pelos rentistas no auge da crise econômica e social no final de 2016 ou início de 2017, até lá "sangramento" total e mais e maiores concessões ao capital. Como o "fantasma do golpe" não se dissipará até lá, ao contrário seguirá elevando o tom, o corso da esquerda reformista, cada vez mais cooptada pelo butim estatal, convocará a "defesa da democracia" como um "valor universal"... Mesmo que esta "universalidade" só represente os interesses de classe da elite rica e dominante. Acima de qualquer coisa deve estar a preservação do "fundo partidário", esta é a "conquista democrática" que a esquerda vendida (Planaltina) está disposta a lutar até a morte... Outras perdas e retiradas de direitos dos trabalhadores são apenas detalhes...

O novo compromisso de "fidelidade" do PMDB, tão festejado como a garantia de governabilidade, não deve durar nem um mês. Assim foi também o anterior compromisso assumido por Temer, que depois de nomear para seu bando todos os cargos do segundo e terceiro escalão do governo afirmou que sua "missão tinha chegado ao fim". Com a quadrilha peemedebista da Câmara dos Deputados, que agora se sente representada na primeira linha do governo, Dilma deve passar por um vexame ainda pior. Nenhum elemento da barganha estatal operada pela cúpula do PT e Lula terá a capacidade de aliviar o profundo desgaste social deste governo, convicto de sua estratégia em seguir a "planilha" do mercado diante do déficit público que veio à tona no final do ano passado. Desnudado o "rombo" das contas estatais, após anos financiando grandes empresas e impulsionando programas sociais, a receita do mercado foi a de "cortar tudo" para não comprometer o pagamento da dívida interna, leia-se "cortar tudo" como sendo eliminar todas as conquistas e direitos do povo trabalhador e setores mais carentes da população.

Neste cenário de crise é óbvio que para a burguesia nacional o único governo que teria a capacidade de absorver o impacto da recessão econômica sem detonar uma "rebelião popular" seria o da Frente Popular, por suas características de colaboração de classes. A "lenda" de que com o PSDB seria pior não passa de uma tática da esquerda reformista para imobilizar a resistência das massas contra o duro ajuste neoliberal em pleno curso. A dinâmica da crise do Estado segue as leis da própria economia capitalista, onde só existem duas veredas: ou se rompe com as regras do mercado ou se adapta a estas. O governo do PT possui um conteúdo de classe e apenas gerencia a crise segundo a ótica e os planos da elite capitalista, com o PSDB seria da mesma maneira. O diferencial entre as duas alas da burguesia reside em como administrar o Estado Capitalista em épocas de "fartura e bonança", nesta variante o corte social do PT é sem sombra de dúvida muito mais intenso.

É uma fraude grosseira e completamente antimarxista identificar a época dos governos centrais do PSDB como sendo a expressão de um "regime militar", e portanto projetar uma mudança eleitoral no quadro de uma disputa interburguesa como a instauração de um "golpe de estado", caso o Tucanato retorne ao governo. Este regime político da democracia dos ricos vigente em nosso país , já consolidou claramente duas alas siamesas: PT e PSDB. No caso da variante petista no "poder" há quatro mandatos, existe um ódio concentrado de setores médios e abastados da pequena burguesia, exatamente pelo fato de ter "socializado" as comissões das obras estatais (as chamadas propinas) para milhares de novos "intermediários" políticos, reduzindo assim em grande escala a grossa corrupção no Brasil. Porém no que tange às linhas mais globais da "moderna e ocidental" gerência estatal, PT e PSDB mantém uma enorme afinidade programática.

Caracterizar a escalada de greves que permeiam o país como um avançado sintoma político do debacle do governo Dilma é no mínimo um exagero que pode levar a táticas equivocadas do movimento de massas. As greves atuais devem ser configuradas como de resistência ao ajuste (demissões) e arrocho salarial do governo e patrões, e na esmagadora maioria dos casos vem sofrendo fragorosas derrotas. O exemplo mais emblemático foi o da greve dos servidores federais, que após mais de dois messes de combativa luta saíram do movimento com uma proposta salarial bem pior do que entraram. Vale ressaltar o cinismo das direções sindicais que mesmo diante do pior ataque do governo Dilma ao postergar a mísera correção salarial para o final do ano que vem, declararam que teriam conquistado uma "importante vitória". Não podemos cair no triunfalismo da "oposição de esquerda" que comemora a crise política do governo como sendo produto da ação do movimento de massas. O movimento operário está bem longe de estabelecer uma resposta política própria aos covardes ataques sofridos sua ação tem sido defensiva e derrotada em várias situações. O governo Dilma está nas cordas, porém é a reação direitista quem golpeia com mais intensidade.

Para a vanguarda classista que soube diferenciar politicamente a ofensiva da direita contra o governo petista da "esquerda burguesa", cabe a tarefa de construir uma alternativa de poder dos trabalhadores diante do colapso da Frente Popular. Este pólo operário deve ter claro que seu alcance histórico não se limita "a batalha eleitoral", palco privilegiado da esquerda reformista e tampouco as verbas estatais que hoje alimentam boa parte do revisionismo. Sem nenhum tipo de sectarismo devemos estender nosso chamado a unificar a luta com todos os setores que estejam dispostos a enfrentar o ajuste neoliberal do governo Dilma, sem no entanto atenuar a responsabilidade central dos ataques da Frente Popular.