sábado, 25 de outubro de 2014


Tentativa de golpe eleitoral da VEJA não colou em função do suporte de Dilma nas frações mais expressivas da burguesia nacional

O campo militante de apoio político mais ativo da candidatura Dilma esperava que nesta reta final de campanha se repetissem fatos semelhantes aos ocorridos em 89, quando a burguesia preparou uma sequência de armações pesadas contra Lula, incluindo até mesmo acusação de sequestro na véspera do dia da eleição. A publicação da última edição do esgoto VEJA, antecipada para circular nesta sexta (24/10), parecia indicar a repetição de um golpe eleitoral, semelhante ao acontecido 25 anos atrás. Esta edição "extra" da imunda VEJA traz uma suposta revelação do doleiro Beto Youssef onde acusa Dilma e Lula de estarem sabendo da atuação criminosa do ex-diretor da PETROBRAS Paulo Costa. A grande expectativa do campo de "esquerda" era que o Jornal Nacional desse enorme repercussão as "denúncias" da VEJA, aliás como sempre feito, não deixando tempo hábil para o PT articular uma resposta, já que horário eleitoral gratuito acabou na própria sexta. Acontece que apesar de algumas semelhanças com a polarizada campanha de 89, o PT não "assusta" mais a burguesia, muito pelo contrário, sua gerência a frente do Estado burguês potencializou enormes lucros e novos mercados para as classes dominantes, e desta vez a tentativa de terrorismo eleitoral da VEJA não recebeu a chancela nem mesmo da famiglia Marinho, que determinou aos seus editores do JN que desconhecessem as "denúncias". Esta conduta das Organizações Globo, que continua apoiando a candidatura Tucana, é coerente com a manipulação dos resultados apresentados pelos "institutos" de pesquisa, também controlados pelo clã Marinho. No último levantamento do IBOPE/ GLOBO Dilma aparece com uma vantagem de oito pontos sobre Aécio, o que nos parece ser uma determinação política mais geral da burguesia, para além dos interesses corporativos da GLOBO. Sem o respaldo do JN restou a Aécio inserir a sujeira da VEJA em seu programa eleitoral e no próprio debate ocorrido na noite de sexta, resultando em um verdadeiro tiro no seu próprio pé naquilo que poderia ser a "bala de prata" do Tucanato para derrotar o longo ciclo de "poder" do PT.

Quanto ao conteúdo da matéria da VEJA muitos companheiros da esquerda antigovernista podem afirmar que apesar da publicação ter um objetivo reacionário, inclusive na direção da privatização completa da PETROBRAS, não poderíamos negar a prática de corrupção vigente no governo da Frente Popular. Trata-se de uma meia verdade e portanto uma mentira incompleta... Toda a estrutura institucional deste regime burguês opera desta forma, não se trata de fatos "ilícitos" exclusivos ao governo central, desde os gestores da menor prefeitura do país na fronteira com a Bolívia, passando por todos os governos estaduais e seus legislativos até chegar as robustas empresas estatais, pratica a cobrança de "comissões" por cada serviço e material fornecido a esta República. Não há uma única exceção desde a compra de um simples lápis escolar até a execução de uma grande obra, do porte de uma refinaria por exemplo. Paga a "comissão" estabelecida pelo respectivo gestor público, a iniciativa privada superfatura seu produto ou serviço da forma legal que a Constituição permite. Se este ou aquele escândalo vem a tona na imprensa "murdochiana" não é por nenhum "exagero" de corrupção (que existem aos milhares) mas em função de alguma disputa feroz pelo controle do botim estatal. Foi assim com o caso do chamado "Mensalão" e agora se repete com as denúncias de superfaturamento em obras contratadas pela PETROBRAS. Nos governos estaduais do PSDB ou quando ocuparam a presidência se praticou as taxas mais elevadas na cobrança das "comissões", são fartos os exemplos do alto custo na compra de equipamentos para o Metrô paulista, ou do enriquecimento de toda a cúpula Tucana após a privataria que "queimou" boa parte do patrimônio estatal do país. Para acabar com uma "praga" inerente ao modo de produção capitalista e suas relações com o Estado burguês, não basta trocar de governo, ou eleger "políticos honestos", é necessário demolir as bases deste regime através da Revolução Socialista!

O cartel das empreiteiras, setor da burguesia nacional que hoje mais acumula capital as custas do Estado, por motivos óbvios, apóia Dilma não por razões políticas e sim pela forte ampliação dos negócios aferidas nas gerencias do PT. Este oligopólio, dividido entre cinco famílias, está diretamente envolvido no pagamento de generosas "comissões" a toda diretoria da PETROBRAS por conta da construção das plantas de novas refinarias no Brasil. Se ontem trabalharam para derrotar o PT, hoje inverteram a ordem, apostando grandes recursos financeiros na campanha de Dilma. As frações burguesas ligadas ao PSDB, sabem do peso econômico das empreiteiras assim como de um BRADESCO e do grupo JBS por exemplo, e não estão dispostas a abrir uma "guerra" contra a reeleição de Dilma. Por isso mesmo nestas eleições é bastante remota a possibilidade de vingar no seio da burguesia um "golpe" contra o PT, tão desejado e articulado pelo desespero falimentar dos Civitas.

Como um prognóstico eleitoral para este domingo, crivamos uma diferença de 1 ou 2% em favor de Dilma, provavelmente no resultado mais apertado de toda a história republicana. A campanha petista cresceu neste segundo turno entre os setores mais explorados da população diante da ofensiva reacionária e xenófoba dos Tucanos. Porém o PT está muito distante de representar minimamente os interesses sociais dos oprimidos, os vínculos programáticos estabelecidos com a burguesia neste últimos quinze anos são bastante sólidos e vão além de qualquer período eleitoral. Caracterizar o PT ainda como um partido operário "deformado" (como acreditam os revisionistas de OT ou da Esquerda Marxista ), seria o mesmo que pensar que o PS francês ou os Trabalhistas britânicos conservam até hoje as considerações feitas por Trotsky e Lenin em meados do século passado. A gerência "domesticada" de um Estado burguês por muitos anos transforma o caráter social de qualquer organização política, e com o PT este fenômeno não poderia ser diferente.

A acirrada disputa eleitoral, que vem empolgando muitos militantes honestos da esquerda, não pode camuflar o fato de que se trata de um enfrentamento entre duas alas da burguesia. Se os Tucanos são a "fração dura do neoliberalismo" os governos do PT seguiram a mesma trilha das privatizações, com a diferença de terem ampliado a rede social de proteção do estado em função da "gordura" cambial gerada com as exportações nos dois governos de Lula. Não podemos esquecer que o apoio do Bradesco a Dilma está relacionado a privataria dos bancos estaduais, bancada pelo então ministro Pallocci, considerado o neomonetarista do PT. Muito menos omitir o envio de tropas brasileiras, ordenado desde a Casa Branca, para um ocupar militarmente um país amigo, pobre e negro como o Haiti. Seria até patético atribuir aos governos petistas algum caráter antiimperialista, ou mesmo de solidariedade aos povos latinos, se levaram um porto para Cuba (Mariel) foi para beneficiar comercialmente os "amigos" da Odebrecht e avançar no processo de restauração capitalista em curso na "Ilha Operária". "Ajudas" como estas até mesmo o governo de Rafael Correa do Equador recusou, expulsando o cartel de empreiteiras brasileiras de seu país levadas pelo PT.

Não há uma alternativa política para a classe trabalhadora neste segundo turno, tampouco existe na candidatura do PT traços mínimos de "nacionalismo burguês" ou antiimperialismo. Repetimos que o confronto eleitoral ocorre integralmente no campo do neoliberalismo e dos ataques as conquistas sociais do proletariado arrancadas com muita luta. Para desnudar este circo eleitoral, marcado pela fraude e manipulação econômica das classes dominantes em toda linha, só nos resta o Voto Nulo e o boicote, traduzido em milhões de abstenções que deslegitimam este regime da democracia dos ricos!