O “unguento milagroso” das “Jornadas de Junho” justifica até o triunfo do Opus Dei Alckmin. Para os revisionistas a “Onda Conservadora” é pura
ficção política!
Muitas correntes revisionistas dentro e fora do PT, com a
Esquerda Marxista (EM) ou a LER-QI escreveram artigos na tentativa de
“explicar” (ou melhor, negar!) que nas eleições de 2014 houve o crescimento da
direita no Brasil, entendido este espectro político como as forças burguesas
mais conservadoras, como o PSDB do Opus Dei Alckmin. As “teses” apresentadas
por estes agrupamentos são tragicômicas porque, antes de tudo, se especializam
em negar a realidade para encaixá-la no seu esquema de que as “Jornadas de
Junho” abriu perspectivas revolucionárias (ou no mínimo progressistas) no
Brasil. A EM é categórica ao afirmar que “Não existe ‘onda conservadora’ no
Brasil, nem em SP” (13/10) e assevera “As jornadas de junho de 2013
representaram o despertar de uma massa de jovens para a vida política. Uma
massa de jovens que não conhece a história do PT, que não conheceu o PT que
lutava pelos direitos dos trabalhadores, por mudanças na sociedade. Trata-se de
uma juventude que passou toda sua ‘vida consciente’ sob o governo do PT em
coalizão com partidos burgueses. Para esta camada de jovens, o PT não é
sinônimo de mudança, mas sim de continuidade da ordem vigente. Não é de se
estranhar que ao mesmo tempo em que queiram mudanças, estes jovens sejam
anti-petistas. E, em meio à despolitização, podem acabar buscando expressar seu
anseio por mudanças em qualquer voto contra o PT, inclusive em Aécio do PSDB no
2º turno”. A contra gosto, a própria EM é obrigada a nos confirmar que as
tendências direitistas se consolidaram no país desde as “Jornadas de Junho”, na
medida em que no primeiro turno foi a candidatura Marina que galvanizou
politicamente o espírito das “Jornadas” e, agora, a ecocapitalista apoia o
tucano Aécio, representante-mor das forças da reação burguesa na disputa
presidencial! Este deslocamento ocorreu porque o fenômeno social das “Jornadas”
nem de longe expressava um conteúdo revolucionário das camadas proletárias e
mais oprimidas da população, ao contrário foram a manifestação de “indignação”
da pequena burguesia com a precariedade dos serviços estatais. Neste processo
multitudinal culparam o governo do PT por todas suas mazelas capitalistas e
históricas, abrindo espaço para a entrada das forças neofascistas no movimento
de “Junho”. A reeleição de Alckmin em primeiro turno em São Paulo e o
crescimento do espectro reacionário no estado só confirma esta caracterização,
que não é “apenas” um fenômeno eleitoral mais acima de tudo ideológico, com o
fortalecimento de grupos fascistas e de extrema-direita para “combater o PT e
sua ditadura comunista”, como vimos em Junho de 2013 e agora nas urnas em 2014!
Mesmo defendendo o Voto Nulo, denunciado o circo eleitoral e a fraude imposta
pela urna “roubotrônica” que manipulou resultados tanto no Rio como em São
Paulo, não podemos fechar os olhos para esta realidade que exige dos Marxistas
Revolucionários saber apontar onde nasce o Ovo da Serpente para não mensoprezar
o seu perigo imediato e histórico!
Compartilhando deste mundo da fantasia, a LER-QI nos brilha
com a seguinte constatação (também hilária) com relação ao resultado eleitoral
dos dois mais importantes estados da federação: “Rio de Janeiro - O primeiro
turno mostrou que Junho segue vivo: Nem Pezão nem Crivella!” e “Eleições em São
Paulo: Giro à direita ou falta de alternativas ao PT?”. Em seu delírio
revisionista, a LER afirma que “Como parte da campanha nacional em defesa do
voto em Dilma não faltam ativistas nas redes sociais e até analistas em grandes
meios que analisam os resultados das eleições no Rio para concluir duas coisas:
Junho não se expressou ou a ‘direita’ se fortaleceu. Esta análise interessada
não corresponde aos fatos. A reeleição do deputado direitista Bolsonaro e
outros candidatos conservadores com votações superiores a 2010 não muda o
sentido geral destas eleições: elas expressaram Junho. Em três sentidos:
fragmentação e debilidade dos representantes do ‘regime’ e do governo Cabral e
Dilma, aumento da crise de representatividade, grande votação do PSOL em geral
e especialmente no ‘centro’ do Junho carioca (capital e Niterói)” (Palavra
Operária, 10/10). Para a LER, o fato de dois candidatos direitistas terem ido
para o segundo turno e haver o fortalecimento da bancada parlamentar
conservadora a nível nacional demonstrou que “Junho segue vivo”! De fato! O que
“convence” a LER que o espírito das “Jornadas” se fez presente nas urnas foi a
votação dos ultra-oportunistas do PSOL! Por esta razão afirma “A grande votação
do PSOL também é uma expressão de Junho! O PSOL conseguiu captar eleitoralmente
uma parte expressiva dos votos daqueles que foram às ruas em Junho. Isso pode
ser medido pelo seu aumento de votos em todos os níveis. Luciana Genro
conseguiu 220 mil votos no Rio, ficando em quarto lugar atrás de Dilma
Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. O candidato a governador Tarcísio
alcançou impressionantes 712 mil votos (8,92%), e as votações para deputados
federal e estadual também aumentaram muito (mais de 530 mil votos nos dois
níveis” (idem). Ocorre que o PSOL já vinha crescendo eleitoralmente no Rio
desde 2010 e o desgaste do PT no apoio ao governo Cabral fez com que a parcela
constante do eleitorado de esquerda se dividisse entre Lindberg e o candidato a
governador do PSOL. Por sua vez, os parlamentares psolistas foram apoiados por
celebridades “marineiras” como Caetano Veloso e artistas globais como Wagner
Moura, havendo uma aliança informal entre a candidatura de Marina para
presidente e as do PSOL no estado! Em resumo o voto massivo da classe média que
apoiou Marina também premiou o PSOL no Rio de Janeiro, como herdeiro parcial
das Jornadas!
Com relação a SP, tanto a EM como a LER responsabilizam
apenas da impotência do PT e sua política de colaboração de classes pela
vitória do tucanato e não identificam um fenômeno político e ideológico muito
mais amplo, baseado no retrocesso da consciência de classe dos trabalhadores em
todo o Brasil (na verdade no planeta) e em São Paulo. Fazem este malabarismo
porque ambas correntes caracterizam que o mundo deu um “giro a esquerda” nos
últimos anos, particularmente desde o início da mal chamada “Primavera Árabe”.
Porém trata-se justamente do contrário: há o fortalecimento mundial da
tendência reacionária e o Brasil reflete este processo tanto no plano eleitoral
como político e ideológico. Incapaz de compreender esse fenômeno, EM declara “A
grande questão aqui é que o PT perdeu muitos votos. E isto não necessariamente
quer dizer que seja “uma guinada do eleitorado à direita” – ainda mais com a
política que o PT vem aplicando ultimamente, ampliando e aprofundando alianças
com partidos burgueses. De 2010 para 2014, o PT perdeu mais de 4 milhões e 300
mil votos, mesmo com um aumento de 7 milhões de eleitores no Brasil! E para
onde estes votos foram? Impossível dizer como cada indivíduo mudou seu voto”.
No mesmo caminho, a LER afirma “Giro a direita ou falta de alternativas ao PT?
Partindo deste quadro um pouco mais detalhado do que os dados percentuais
brutos que o PT utiliza de forma interessada, podemos ver que não houve um
fortalecimento da direita em São Paulo. Mais ainda, não é exagero afirmar que
em meio a muitas crises, o PSDB se mantém em função da debilidade ainda maior
dos seus adversários...O grande rechaço ao PT é consequência direta das
manifestações de junho e da crise de representatividade que golpeia o PT
duplamente, no aparato estatal e sindical. A votação do PSOL, que na reta final
do primeiro turno fez uma campanha centrada nas bandeiras democráticas contra a
homofobia e o machismo, em alguma medida é expressão do sentimento de junho”.
Em resumo para estas correntes a “crise do PT” em SP não fortalece a “direita”
e sim a “esquerda” ou mesmo ninguém! A LER vai mais longe e, novamente, sai a
comemorar os votos do PSOL, que manteve o quadro eleitoral que tinha em 2006 em
SP (1 deputado federal e dois estaduais)!
Só nas conclusões políticas eleitorais estas correntes
divergem...aparentemente. Enquanto os pilantroskos de EM declaram que “Apesar
de todas as traições da direção do PT, a classe trabalhadora ainda pode cumprir
seu papel e impedir a vitória do PSDB no segundo turno, dando ao PT mais uma
chance. E o PT será colocado à prova diante de toda a classe trabalhadora. É necessário
que a classe trabalhadora faça a experiência até o fim com estes que reconhece
como seus representantes históricos. Estará nas mãos da direção do PT continuar
com a política de conciliação com a burguesia e ser definitivamente abandonada
por sua classe ou virar à esquerda e reatar com as bandeiras originais do
partido, de luta pelo socialismo. Somente passando por essa experiência é que o
proletariado brasileiro encontrará uma saída para sua reorganização sobre um
novo eixo de independência de classe. Vote Dilma, vote 13!” demonstrando que
sua caracterização está voltada a chamar o voto no PT mais uma vez “contra a
direita”. Por outro lado a LER declara-se pelo Voto Nulo, mais de fato não
passa de um papagaio do PSOL, excitado pelo seu desempenho eleitoral! Isto
ocorre porque o conjunto da esquerda revisionista (PSOL, PSTU, LER, PCO e até
mesmo o neorreformista PCB), estabeleceu um verdadeiro fetiche político acerca
dos acontecimentos que se notabilizaram como as históricas “Jornadas de Junho”
de 2013. Para estes setores a intensa mobilização das “ruas” foi o fato
político mais importante da história do país, pelo menos segundo a ótica da
chamada “esquerda socialista”. O “espírito” de Junho passou a guiar
programaticamente as ações do bloco revisionista ao ponto de “sonharem” com sua
repetição em 2014 (o ano da Copa e eleições no Brasil), o que obviamente não
ocorreu, e também com uma imensa “enxurrada” de votos em seus candidatos
“herdeiros de Junho”, um delírio oportunista que não se concretizou. Para os
Marxistas Revolucionários o movimento das “ruas” só poderá significar um
ascenso revolucionário quando de fato estiver “colado” à organização estrutural
do proletariado e suas organizações de esquerda. Neste caso as “ruas” serão a
legítima expressão política do movimento organizado nas fábricas, empresas e
escolas. Como a própria luta de classes e os resultados nas urnas está
demonstrando, as “Jornadas de Junho” passaram bem longe da “revolução” e
acabaram por “engordar” no primeiro turno uma caricatura sinistra chamada
Marina, que hoje apoia Aécio! Como se observa, o espírito das “Jornadas de
Junho” de 2013 e o crescimento da “Onda Conservadora” nas eleições de 2014 são
dois lados da mesma moeda da reação burguesa!