As eleições na América Latina expressam a fadiga crescente
dos governos da “centro-esquerda” burguesa
Neste ano ocorrem as eleições presidenciais de várias países
governados pela centro-esquerda burguesa como Brasil, Bolívia e Uruguai. Em
2015 a disputa será na Argentina e na Venezuela, neste último a direita
golpista deve levar a frente o pedido de “referendo revogatório” contra o
governo de Nicolás Maduro. A tomar como exemplo as eleições presidenciais no
Brasil, onde a direita pró-imperialista avança, quadro que se repete na
Argentina e Venezuela, temos claramente um impasse político no “cinturão progressista”
que gerencia o Estado burguês no continente. No Uruguai, Mujica será
substituído possivelmente por Tabaré Vasquez, representante da ala direita da
Frente Ampla, após a realização de um segundo turno bastante disputado em
novembro. Somente o governo de Evo Morales parece ter a reeleição garantida. No
resto da América do Sul há um “empate” mas com tendência de derrotas futuras no
próximo período. A Colômbia é governada pelo facínora Manoel Santos, reeleito
com o apoio vergonhoso da “esquerda” e cuja plataforma é o desarmamento total
das FARC e, no Chile, Bachelet retornou ao Palácio de La Moneda em uma apertada
vitória sobre os herdeiros do Pinochetismo, pregando uma guinada bem a direita
que a política de seu primeiro mandato, baseada na promessa de uma nova
Constituição para garantir um “Pacto Social” com os saudosistas da ditadura
militar. Assim segue o quadro político, depois que Zelaya e Lugo sofreram
golpes “constitucionais” respectivamente em Honduras e Paraguai, descortinando
os planos do Pentágono para a América Latina de conjunto, política reforçada
com a fraude aplicada nas recentes eleições hondurenhas para presidente. Se
houver uma vitória de Aécio Neves (PSDB) sobre a frente popular comandada pelo
PT no Brasil teremos definitivamente o “início do fim” do ciclo dos governos da
centro-esquerda burguesa no continente, já que o Brasil sempre foi o “fiador”
desta aliança pela sua pujança econômica e sua importância política
estratégica. Porém, independente do resultado imediato das urnas, é notório o
crescente esgotamento político e econômico desse modelo de gestão estatal como
vimos na acirrada disputa eleitoral na Venezuela no ano passado, tanto que o
imperialismo ianque exige que ela seja substituída para incrementar o
alinhamento com a Casa Branca na América Latina, retrocedendo nas relações
destes países com a Rússia e a China através dos BRIC´s. Para a classe
operária, que já vinha sendo atacada em seus direitos e conquistas por estes
governos “progressistas” que se limitam a política de “compensações sociais”
aos setores mais empobrecidos e desorganizados da sociedade capitalista, a
perspectiva que se avinha é de um golpe ainda mais duro sobre suas liberdades
democráticas e suas condições de vida, com ataque direto ao salário, emprego e
aposentadoria. Neste marco, sem patrocinar nenhum apoio eleitoral ou ilusões
nestes gerências “progressistas”, declaramos que a ofensiva pró-imperialista
que avizinha deve ser combatida com os métodos de luta direta da classe
operária na senda da construção de uma alternativa revolucionária de poder dos
trabalhadores da cidade e do campo!
É fundamental os marxistas revolucionários terem claro este
quadro político porque a tendência no continente e, em todo o planeta, é que as
forças mais reacionárias se fortaleçam mundialmente, rompendo inclusive a
esfera de democracia burguesa. A guerra na Ucrânia patrocinada pela OTAN contra
a Rússia e a recente investida “democrática” do imperialismo ianque e europeu
em Hong Kong contra a China foram lastreadas pela vitória da “Primavera Árabe”
no Oriente Médio e no norte da África, que resultou na derrubada do regime
Kadaffi na Líbia, no retorno da ditadura militar no Egito, na ocupação militar
do Mali e na desestabilização da Síria. Este processo do outro lado do planeta
tem sua “cara-metade” na América Latina através da aberta contestação dos
governos da “centro-esquerda” burguesa no continente por forças reacionárias.
As tendências fascistizantes se fortaleceram muito no último período na
Venezuela e mesmo no Brasil, onde a burguesia e o imperialismo podem até
admitir a reeleição de Dilma (cada vez mais improvável) mas já colocam 2018
como limite do “projeto de poder petista” apontando previamente Alckmin, membro
da Opus Dei, como seu homem forte a partir desta data. O assassinato de Chávez
e o enfraquecimento do governo Maduro, com os golpistas encabeçando
manifestações de massas contra o que chamam de “ditadura bolivariana” demonstra
que a direita cada vez mais se aproxima do uso de métodos de “guerra civil”
para se impor politicamente.
O atual processo histórico é resultado de quase três década
de seguidos retrocessos políticos da classe operária no plano internacional,
particularmente desde a derrubada contrarrevolucionária da URSS. Não por acaso
desde então o vetor da direita foi a “luta pela democracia e contra as
ditaduras”. Foi assim na URSS e no Leste Europeu contra o “stalinismo”, no
Oriente Médio e agora nas fronteiras da China e da Rússia contra o
“totalitarismo”. O mesmo se observa no combate ao “bolivarianismo”, a Cuba e ao
petismo! Este discurso porém, pouco a pouco, vai sendo superado (ou
incrementado) por condutas cada vez mais xenófobas e anticomunistas, como vemos
hoje na Ucrânia e em vários países da Europa. Na França, a Frente Nacional do
fascista Le Pen já é a primeira força política, expressando uma tendência de
todo o “Velho Mundo”. Os ensinamentos de Trotsky sobre a conduta que os
revolucionários deveriam ter na Alemanha contra ascensão do nazismo e de Hitler
se fazem cada vez mais presentes e atuais. Este combate não passa
necessariamente pelo apoio eleitoral (mesmo crítico) ao governos da
centro-esquerda burguesa (ainda que em algumas situações, como foi na
Venezuela, este possa ocorrer) mas fundamentalmente pela política de denúncia
do caráter reacionário da ofensiva em curso e do chamado a base destes partidos
nacionalistas-burgueses, reformistas e social-democratas a reagir, a superarem
a conduta paralítica e acomodada de suas direções, sempre ávidas por um pacto
com o imperialismo. É assim que os leninistas tem agido na Ucrânia, China,
Líbia, Síria e no Oriente Médio. É desta forma que se lançam na luta política e
programática na América Latina, inclusive defendo frentes únicas de ação para
derrotar os fascistas, como na Venezuela!
Desgraçadamente, os pseudo trotskistas (LIT, UIT, CMI,
PTS...) tem atuado como sombra da direita em todos esses fenômenos políticos.
No Brasil, apoiaram a farsa do “mensalão” contra o PT e não combateram Marina
Silva desde o início, procurando um “diálogo” com a então candidata
preferencial dos rentistas. Na Venezuela, se negaram a apoiar criticamente a
eleição de Maduro para combater a direita em um caso extremo em que a luta de
classe estava expressa vivamente no terreno eleitoral após a morte de Chávez.
Na Argentina, somam-se a oposição de direita e seus “cacerolaços” contra ao
governo de Cristina Kirchner! No plano mundial, apoiaram as “revoluções made in
CIA” na Líbia e Síria e saudaram o golpe militar no Egito! Agora comemoram a
ofensiva da OTAN na Ucrânia e as manifestações “por democracia” em Hong Kong!
Esta orientação desastrosas mina as possibilidades de se construir uma
alternativa revolucionária à esquerda dos governos da centro-esquerda burguesa
e acabam favorecendo a reação fascista! De nossa parte alertamos que esse é o
caminho suicida da derrota, que favorece o recrudescimento da ofensiva contra o
conjunto da “esquerda”, como vimos durante as “Jornadas de Junho”, quando as
hordas fascistas caçavam qualquer bandeira vermelha e o símbolo da foice e do
martelo, colocando no mesmo saco de gatos, o PT e as organizações comunistas!
Os que saúdam a queda das estátuas de Lenin em Kiev na Ucrânia são os mesmo que
estabelecem alianças com a direita em nome de “combater o PT” como fez o PSTU e
CST no caso de “mensalão”! As eleições
na América Latina estão expressando o esgotamento dos governos da
“centro-esquerda” burguesa, cabe aos genuínos trotskistas estabelecer um duro
combate programático mostrando as consequências desta guinada a direita em
curso e a construir o Partido Revolucionário como contraponto militante a este
tendência fascistizante que se avinha, chamando as bases operárias e populares
que apoiam estes governos “progressistas” a responder as lutas a investida da
direita, superando inclusive a política de “coexistência pacífica” com a Casa
Branca, que a frente popular no Brasil e seus congêneres desejam manter no
continente, enquanto o “Ovo da Serpente” vai se desenvolvendo a cada dia que
passa!