Eleição no
Uruguay vai para um polarizado segundo turno, mas seguindo a
"receita" de estabilidade social que a burguesia encaminhou no Brasil
As eleições
presidenciais no Uruguay serão decididas em um acirrado segundo turno em 30 de
novembro, com o candidato da Frente Ampla (FA) Tabaré Vázquez disputando a vaga
de gerente dos negócios da burguesia com Luis Lacalle Pou, do direitista Partido
Nacional. O 3º colocado no pleito deste domingo, 26 de Outubro, Pedro
Bordaberry, acaba de declarar apoio a Lacalle, ou seja, a “oposição
conservadora” está unida contra a “esquerda”. As pesquisas após o primeiro
turno indicam Tabaré com até 46% de vantagem contra a “direita”. Como se
observa no Uruguay, não apenas a data da disputa foi a mesma das eleições no
Brasil, mas também a burguesia e o imperialismo estão impondo idêntica receita
política que ditou na reeleição de Dilma Rousseff. Como no país vizinho não há
a possibilidade da reeleição, a FA trocará o governo do social-populista Mujica
pelo neoliberal de esquerda Tabaré, muito mais afinado com os “ajustes” que
exigem a classe dominante nativa e os rentistas. Como a LBI alertou
previamente, o ciclo de governos da “centro-esquerda” burguesa está em estágio
de extrema fadiga na América Latina e a vitória apertada tanto de Dilma como a
previsível recondução da FA ao governo central por uma pequena margem de votos
são a antessala de futuras gestões de corte mais conservador no
continente. Assim como aqui, não há no
Uruguay nenhum perigo de “golpe da direita” ou “ameaça fascista” como advogam
alguns impressionistas no arco da frente popular nos dois países, porque tanto
Dilma como Tabaré são gestores testados pela burguesia na aplicação da receita
neoliberal no comando do Estado burguês.
O plebiscito
para introduzir uma reforma constitucional que pretendia reduzir de 18 para 16
anos a idade penal ocorrido paralelamente as eleições presidenciais recebeu o
apoio de 47,1% dos eleitores, mas precisava do 50% dos votos mais um para ser
aprovada. Esta medida, apesar de derrotada na urnas, demonstra bem a dimensão
da pressão conservadora contra a FA, que ao mesmo tempo que fez populismo
político com a legalização do uso da maconha mantém um governo tutelado pelas
FFAA e servil as ordens do imperialismo. Assim como foi reeleita Dilma (que
sucedeu dois mandatos de Lula), o atual presidente Mujica, ex-dirigente
histórico do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaro que hoje se denomina
Movimento de Participação Popular (MPP), devolverá o governo ao seu antecessor
Tabaré Vázquez, representante da ala direita da FA. Como no Brasil, há seis
meses, a FA parecia ser favorita com certa folga para assegurar um terceiro
mandato de cinco anos na presidência, com suas políticas econômicas voltadas a
agradar os capitalistas e garantir “compensações sociais” aos setores populares
mais empobrecidos. Mas depois de uma vitória inesperada nas primárias do
Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, de 41 anos, passou a subir constantemente
nas pesquisas, canalizando via a defesa de uma “nova política” o
descontentamento pela “direita”, algo parecido com o que Marina representou no
Brasil.
Como
pontuamos no artigo “As eleições na América Latina expressam a fadiga crescente
dos governos da ‘centro-esquerda’ burguesa” (Blog da LBI, 10/10) portanto antes
das eleições no Uruguay, Brasil e Bolívia, “Neste ano ocorrem as eleições
presidenciais de várias países governados pela centro-esquerda burguesa como
Brasil, Bolívia e Uruguai. Em 2015 a disputa será na Argentina e na Venezuela,
neste último a direita golpista deve levar a frente o pedido de ‘referendo
revogatório’ contra o governo de Nicolás Maduro. A tomar como exemplo as
eleições presidenciais no Brasil, onde a direita pró-imperialista avança,
quadro que se repete na Argentina e Venezuela, temos claramente um impasse
político no ‘cinturão progressista’ que gerencia o Estado burguês no
continente. No Uruguai, Mujica será substituído possivelmente por Tabaré
Vasquez, representante da ala direita da Frente Ampla, após a realização de um
segundo turno bastante disputado em novembro. Somente o governo de Evo Morales
parece ter a reeleição garantida”. No caso específico do Uruguay vimos com
Mujica o trânsito do “reformismo armado” a um governo de unidade nacional com
as velhas oligarquias. O ex-guerrilheiro representou interesses diametralmente
opostos aos da luta antiimperialista pela qual combatera há 40 anos e fez um
governo de continuidade de Tabaré Vasquez, de perfil conservador dentro do
bloco de governos da centro-esquerda burguesa.
Lembremos que o governo de “Pepe”, que vem publicitando mundialmente uma
imagem de “progressista”, em Junho de 2014 não considerou que houvesse a
supressão do estado democrático de direito no Brasil, mesmo com dezenas de
ativistas políticos criminalizados e presos nos estados do Rio e São Paulo sob
a absurda alegação de “terrorismo” e “formação de quadrilha”. Na verdade, o
presidente Mujica não quis criar o menor atrito político com sua colega Dilma,
“madrinha” da reeleição do corrupto governador Pezão. Os presidentes Dilma e
Mujica ambos ex-presos políticos e também vítimas de acusações absurdas como as
que foram lançadas contra os militantes sociais do Rio e São Paulo, foram
cúmplices dos fascistas Alckmin e Pezão e jogaram na lata do lixo da história
suas trajetórias políticas de guerrilheiros contra as injustiças do capital.
Foi com a
ascensão da FA ao governo central do país nas eleições de 2005 que se acentuou
o controle do capital internacional sobre a terra, o favorecimento do
agronegócio exportador de papel e soja, ou seja, agudizou-se a dependência
externa. O investimento estrangeiro saltou da média em torno dos 280 milhões
para dois bilhões de dólares. Também se agravaram o monocultivo e o êxodo
rural. Pelo menos 800 mil dos quase três milhões de habitantes país saíram do
país, “exilados pela pobreza”, restando quase tão somente os idosos e as
crianças. Mesmo assim, quando quase um terço da população foi obrigada a fugir
da miséria imposta pelo parasitismo internacional que impôs uma profunda
desvalorização da força de trabalho, Mujica defendeu uma política econômica que
dê ainda mais garantias aos investidores externos e legalize o trabalho de
crianças com mais de 10 anos. Conclusões: O Uruguai jogou por terra o mito
neoliberal de que o chamado investimento estrangeiro produz emprego e ajuda a
desenvolver o país. Enquanto sob o governo da FA o investimento estrangeiro
cresceu em mais de 700%, quase um terço da população foi obrigada a sair do
país para trabalhar.
Por seu
turno, a gestão anterior de Tabaré (que deve ser reconduzido à presidência)
aumentou o contingente militar uruguaio na criminosa ocupação do Haiti pelos
governos da centro-esquerda burguesa a serviço do imperialismo e também
participou da invasora missão de paz genocida no Congo. Acelerou as negociações
para um acordo comercial bilateral com os EUA, o TIFA, privatizou o porto de
Montevidéu, derrotou as tentativas de anulação da Lei da Caducidade (que
consagrou a impunidade dos bárbaros crimes cometidos pela ditadura que teve
como principais alvos a população trabalhadora e a guerrilha) e também vetou a
lei que despenalizava o aborto, aprovada no Congresso e mais recentemente
aplicada por Mujica. Por fim, aprovou uma Lei de Educação que liquida a
Autonomia e a “administração compartilhada” entre professores e estudantes e
permite a ingerência dos mercenários da educação privada nos planos da educação
pública. Tudo isto o governo frenteamplista fez dispondo da direção do
executivo e do legislativo, onde possuía a maioria parlamentar em ambas as
casas do Congresso. Esta conjuntura extremamente favorável em que a Frente
Ampla assume a condição de partido principal do imperialismo no país joga por terra
a surrada justificativa usada pelas frentes populares de que apesar de
dirigirem o executivo seriam reféns de um parlamento controlado pela direita.
Nestas
eleições no Uruguay defendemos o Voto Nulo e reafirmamos que é preciso
construir uma ferramenta política revolucionária, dos trabalhadores e de
combate aos gerentes populares do imperialismo. As massas trabalhadoras
uruguaias precisam de um partido operário revolucionário para acabar com a
profunda dependência do país ao imperialismo, combater a concentração de
terras, realizar a revolução agrária, punir os que perseguiram, torturaram,
assassinaram e desapareceram com milhares de lutadores proletários e populares,
conquistar o direito ao aborto garantido pelo Estado para as trabalhadoras,
reverter o exílio da pobreza e impedir que a juventude seja superexplorada.
Para tudo isto é preciso derrotar tanto a reação burguesa como a FA e sua
política de unidade nacional com os patrões, através de uma luta sem tréguas
que exige a fundação de uma genuína seção da IV Internacional no Uruguay.