terça-feira, 8 de setembro de 2020

A RESPEITO DA POLÊMICA REABERTA SOBRE DOMENICO LOSURDO: TROTSKISMO NÃO PODE SER CONFUNDIDO COM STALINOFOBIA! 


A revelação feita por Caetano Veloso, no programa de entrevista de Pedro Bial, acerca da sua aproximação com as ideias do comunista italiano Domenico Losurdo (falecido em junho de 2018), reascendeu a polêmica na esquerda sobre o papel histórico stalinismo, dando holofotes mais uma vez a uma série de “personalidades” da intelectualidade Social Democrata, que se fazem passar como “trotskistas anti-stalinistas”, mas que na verdade são uma espécie de falsários ideológicos que nunca integraram as fileiras da IV Internacional e que agora querem fazer sucesso editorial “pegando carona” na onda reacionária mundial para defenestrar a antiga URSS e seus dirigentes históricos, como Lenine e o próprio Stalin.

Não seria demais repassar para os papagaios da intelectualidade corrompida pela democracia burguesa, a genuína posição Trotskista acerca do caráter dual do stalinismo: “Stálin defende as conquistas operárias da URSS, com seus próprios métodos torpes, e por esta razão, e exclusivamente por isso nós o defendemos frente a contrarrevolução imperialista” (Carta a seção chilena, L. Trotsky, 1938). Os farsantes que escrevem “laudas e laudas” sobre os reais crimes de Stalin, e não foram poucos, a contar pelo próprio assassinato de Trotsky, perdem a dimensão histórica e programática ao desconsiderarem completamente que foi a burocratização do Estado Operário que gerou o fenômeno social e político do Stalinismo e não o contrário. Portanto a casta burocrática stalinista era obrigada a defender as conquistas da URSS, como sua própria fonte de existência. Foi assim até o final da URSS, quando um grupo de generais stalinistas (Bando dos Oito) desferiu torpemente a última defesa do Estado Operário diante do liquidacionista Gorbachov, um golpe militar fracassado, que sendo derrotado abriu as portas para a restauração capitalista.

Evidentemente os genuínos Trotskistas apoiaram na época o “Bando dos Oito” e seu fracassado golpe de Estado, reivindicando de forma autônoma que fosse organizada e armada a classe operária contra a fração restauracionista Gorbachov&Yeltsin. Como um critério cristalino de divisão entre revolução política e restauração capitalista, os militantes da IV Internacional apoiaram o derrotado “Golpe de Agosto” (18 a 21 de agosto de 1991), já os falsários adeptos do revisionismo trotskista, em nome da “democracia universal”, acusaram o Comitê de Emergência (Bando dos Oito) de “assassinos stalinistas”... Este é o mesmo paralelo programático que traçamos sobre Stalin, ou seja, o apoiamos na perspectiva de defesa do Estado Operário, apesar de seus covardes crimes contra a Oposição de Esquerda.

Se estendermos este exemplo da verdadeira posição programática Trotskista frente ao stalinismo, na direção do dirigente comunista (stalinista) Domenico Losurdo, guardadas é lógico as diferenças da dimensão histórica dos dois casos, veremos que não faz o menor sentido, sempre sob a ótica da IV Internacional, o ataque “teórico” pela direita a trajetória de Losurdo, que esteve nas últimas trincheiras de luta contra a ofensiva imperialista, como na destruição da Líbia e na guerra contra a Síria. Por sua vez os detratores supostamente “trotskistas intelectuais” de Losurdo, não se envergonharam em nenhum momentos em desfilar junto a OTAN, CIA e Casa Branca, na “defesa da democracia” contra os “ditadores Kadaff e El Assad”.

Certamente não precisaremos nominar para nossos leitores mais atentos quem são os autênticos farsantes do Marxismo. Os que recorrem à moda da academia diletante para denunciar estridentemente os “crimes de Stalin” e se juntam a escória imperialista para atacar a antiga URSS, ou o militante (sim, Losurdo era um militante organizado e não simplesmente um “livre pensador” da cátedra universitária) comunista que muito equivocadamente defendia parcialmente o legado de Josef Stalin? Se apresentar hoje como um “trotskista” nos meios intelectuais pode render algum “status” e até dividendos financeiros, isso nada tem a ver com a herança programática e o exemplo de abnegação militante que nos deixou Trotsky.

Os papagaios da “democracia civilizatória”, que nunca dedicaram suas vidas a construção da IV Internacional, ou mesmo que em algum passado remoto tiveram curta passagem pela militância organizada, são um câncer da esquerda reformista, ao difundir a ideia para a classe operária, de que não existe mais a necessidade da ruptura e da construção do partido revolucionário, bastaria que alguns “professores e intelectuais de academia” apontassem o “caminho da conquista hegemônica”, para o socialismo chegar gradualmente com as reformas promovidas pelos governos Sociais Democratas. Estes vigaristas não escondem sua reverência política a gerentes do capital, como Lula ou mesmo regionalmente tipos como o “honesto” Olívio Dutra. Neste sentido deixamos aqui nosso respeito por Domenico Losurdo que dedicou o final da sua vida a denúncia de engodos deste tipo...

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UM BREVE OBITUÁRIO: COMPANHEIRO DOMENICO, PRESENTE! UM STALINISTA SIM, PORÉM NÃO ERA NOSSO INIMIGO DE CLASSE!

Morreu hoje (28/06/2018) na Itália Domenico Losurdo aos 77 anos. A família divulgou que a morte foi em decorrência de um súbito câncer cerebral. Rompido com o defunto PCI (atual Partido Democrata de Esquerda - PDS) e frustrado com Rifondazione Comunista, Domenico aderiu recentemente ao jovem Partido dos Comunistas Italianos. Essa trajetória foi produto de seu distanciamento do PCI, vanguarda do Eurocomunismo e que se transformou em um partido burguês conservador, mostrando o caminho para todo um setor do stalinismo no mundo, como o PPS do Brasil que se tornou uma sublegenda da direita pró-imperialista enquanto na própria Itália o PDS defendeu a intervenção militar da OTAN na Líbia e outras posições contrarrevolucionárias neocolonialistas.

Nesse curso mais à esquerda contra a integração a democracia burguesa do PCI, Losurdo tem contribuições de grande importância, sobretudo suas denúncias muito ricas contra o imperialismo, suas formas de dominação e manipulação, como também as críticas arrasadoras ao liberalismo. Na sua produção intelectual, sua contribuição questionava importantes “intelectuais de esquerda” ao criticar o abandono da orientação comunista e anti-imperialista. Lançou um livro recentemente que estraçalha o chamado Marxismo acadêmico, antes havia publicado várias obras importantes, entre elas “Stalin: História e Crítica de uma Lenda Negra”.

É bem verdade que Domenico era um Stalinista, do ponto de vista formal, porém um ácido crítico da integração da esquerda reformista ao regime da democracia burguesa, não era nosso inimigo de classe e sim um adversário político a ser respeitado e enfrentado no terreno vivo do debate político e teórico da luta de classes.

Defensor “crítico” do Stalinismo, buscava resgatar na história do movimento operário mundial justificativas para a política de coexistência pacífica da URSS stalinizada com o imperialismo e “explicar” as razões políticas e conjunturais que levaram o dirigente soviético a recorrer, por exemplo, ao “Grande Terror” nos anos 30 que dizimou grande parte da vanguarda do Partido Bolchevique. Ao contrário do típico stalinista “ortodoxo”, o intelectual marxista italiano não buscava encobrir uma série de crimes cometidos pelo regime burocratizado na URSS, nem os qualifica simplesmente como “erros”. Presenciamos em vários debates Losurdo denunciando os revisionistas do Trotskysmo, como Osvaldo Coggiola (PO argentino) e grupos como a LIT, UIT e afins pela política vergonhosa de não defenderem as conquistas da URSS contra o imperialismo.

A justa crítica de Losurdo a essas correntes pseudo revolucionárias estava correta. O programa de fundação da IV Internacional já apontava a necessidade do estabelecimento da frente única entre a “fração Reiss” (referindo-se a Ignace Reiss, trotskista soviético assassinado posteriormente por Stalin) com a burocracia termidoriana do Kremlin, no caso de alguma ameaça ao Estado operário, “esta perspectiva torna bastante concreta a defesa da URSS. Se amanhã a tendência burguesa fascista, isto é a ‘fração Butenko’, entra em luta pela conquista do poder, a ‘fração Reiss’ tomará inevitavelmente, lugar no outro campo da barricada... Se a ‘fração Butenko’ se achar em aliança militar com Hitler a ‘fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no interior do país, quanto a nível internacional. Qualquer outro comportamento seria uma traição” (Programa de Transição). 

Os genuínos trotskistas que souberam defender a URSS mesmo burocratizada e o Muro de Berlim como um instrumento deformado de defesa militar (Pacto de Varsóvia) dos Estados operários contra a restauração capitalista perderam um adversário político militante que respeitavam e polemizavam acidamente nos debates sobre os rumos da revolução mundial no século XXI.