As duas faces do WikiLeaks: enquanto Assange é alvo dos holofotes da grande mídia, Bradley Manning, sua fonte de informações, é torturado em solitária ianque
Nesta semana, o criador e porta-voz do WikiLeaks, Julian Assange, se apresentou em teleconferência a uma plateia em São Paulo (SP) onde afirmou frases de efeitos como “A grande verdade é a verdade sobre mentiras”. Para ser coerente deveria, no mínimo, ter denunciado a prisão de Bradley Manning, a principal fonte do WikiLeaks, que está detido na Base dos Fuzileiros Navais em Quântico, Virgínia, desde julho de 2010, sob a acusação pelo governo ianque de “conluio com o inimigo. Na sua fala, entretanto, Assange não fez qualquer referência à perseguição ao ex-soldado. Enquanto Assange pode lançar livros, prepara um filme produzido pelo hollywoodiano Steven Spielberg, abocanha quantias milionárias junto a ONGs e a grande mídia burguesa, o jovem ex-soldado do exército dos Estados Unidos está detido nas piores condições possíveis, além de forma totalmente ilegal. Não tem direito a habeas corpus, está em confinamento solitário num cubículo, é obrigado a ficar nu nos “interrogatórios”, impedido de dormir exposto a luzes intensas e vigiado 24 horas por câmeras de TV. Em resumo, para Assange as tiradas midiáticas e os holofotes, para Bradley Manning tortura e solitária!
O jovem soldado Bradley Manning foi o verdadeiro responsável por dar visibilidade mundial ao WikiLeaks e demonstrar que o verdadeiro terrorista é o imperialismo ianque. Captou os dados da “Net Centric Diplomacy”, um imenso arquivo que contém toda a corrupção e patifarias ianques provenientes da “diplomacia secreta” de todas as nações do planeta enquanto prestava serviço militar no Iraque. Na prática, é um centro ativo de espionagem intimamente vinculado a CIA. Manning forneceu a Julian Assange 250 mil telegramas secretos retirados destes arquivos, além do vídeo “Colateral” em que mostra o massacre de civis metralhados por um helicóptero americano em Bagdá em 2007. Em um dos diálogos dos soldados no vídeo aparece a ordem que muito bem expressa os “valores” do imperialismo ianque: “Light'em all up. Shoot” (“Acendam eles todos. Atirem” [nos civis]). Em consequência desta macabra descoberta, todos os “louros” da divulgação ficaram com Assange. A Manning restou a prisão e as feridas da tortura.
Ainda que Assange insista que seu projeto WikiLeaks seja um meio “alternativo” que busca revelar os segredos dos governos e das corporações, Daniel Estulin em seu livro “Desmontando o WikiLeaks” mostra em seu trabalho investigativo que os milhares de arquivos que foram filtrados foram publicados sob prévio acordo nos meios mais conservadores que estão controlados pelos setores oligopólicos do planeta. Além disso, não é um segredo que da junta diretiva do WikiLeaks faz parte o arquicorrupto magnata dos meios de comunicação Rupert Murdoch e que um dos financiadores deste projeto é o especulador financeiro internacional George Soros. Por isso, não é gratuito que Assange tenha subscrito acordos para que seus documentos digitais, previamente selecionados, sejam publicados em jornais como The New York Times, Der Spiegel (a maior revista semanal da Europa de origem alemã) e a revista inglesa The Economist. Isto demonstra que o “latifúndio midiático” internacional e o WikiLeaks são sócios, daí que Assange tenha recebido o Prêmio no Novo Meio de Comunicação de The Economist em 2008. Desta forma, o WikiLeaks é um meio “alternativo” a serviço do monopólio da imprensa mundial e muitos especialistas denunciam que o portal é controlado secretamente pela própria CIA. Agora, recentemente, WikiLeaks resolveu publicar seu arquivo completo com mais de 250 mil telegramas diplomáticos dos Estados Unidos sem qualquer edição. Mais um jogo de mídia, já que o portal de informações perdeu o controle de seu arquivo de 284 milhões de palavras já no ano passado, quando Assange forneceu, mediante uma fortuna, os documentos originais para parceiros na imprensa burguesa!
Definitivamente, Assange não é um ativista anti-imperialista como entusiasticamente proclamam alguns tolos setores da esquerda, os mesmos que vergonhosamente relegam ao esquecimento o próprio Bradley Manning! Como não fazemos parte deste “mundo do espetáculo” exigimos a liberdade imediata para Manning e ao mesmo tempo alertamos que não se deve nutrir a menor confiança política no Wikileaks e muito menos no seu pérfido fundador, que abandonou o ex-soldado a própria sorte!