terça-feira, 19 de junho de 2012


Aliança costurada por Lula com Maluf desmonta a candidatura de Haddad, seria mais um ato com a digital do Planalto?

O anúncio oficial do apoio do PP de Maluf à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo parece ter provocado a falência prematura da já debilitada postulação eleitoral do iniciante ex-ministro da educação. A candidata a vice na chapa de Haddad, a deputada Luiza Erundina (PSB), anunciada a menos de 48 horas antes da aliança com Maluf, resolveu declinar da composição com o PT, alegando “desconforto ético”. Erundina e a cúpula do PSB nacional sabiam previamente da negociação do PT com Maluf, que envolveu a nomeação de um “afilhado” para uma secretaria do ministério das cidades (pasta ocupada pelo PP desde o governo Lula), mas a ex-prefeita de São Paulo manifestou “ciúme” com a publicação da foto de Lula abraçando Maluf, já que no ato do anúncio da entrada do PSB na chapa de Haddad o presidente de honra do PT não se fez presente. Como se pode aferir a aproximação entre a quadrilha Malufista e o PT não é exatamente uma novidade ou surpresa, remonta quase uma década com a entrada do PP no primeiro governo Lula, retirando do ministério das cidades o petista histórico Olívio Dutra. Também não é a primeira vez que Maluf declara apoio a uma candidatura petista à prefeitura de São Paulo. Mas porque então a deputada “socialista" Erundina que integra um partido que participa da gestão do tucanato paulista e rompeu com o PT há cerca de vinte anos por aceitar um convite para ocupar um ministério no governo Itamar Franco, infestado pelo então PPR (hoje PP), decidiu em uma reunião em Brasília com o governador Eduardo Campos “pular fora” da canoa comandada pelo “mestre” Lula?

Somente muito tolos e incautos podem acreditar na versão dada por Erundina (referendada logicamente pela mídia murdochiana), que tenta agora passar-se por paladina da ética na política. O apoio eleitoral de Maluf na cidade de São Paulo estava sendo disputado renhidamente entre o PSDB e o PT, e só foi definido após Lula conseguir contornar a resistência da ex-presidente “poste” em nomear um técnico malufista para o segundo escalão palaciano. Selado o acordo com o PP, o grupo de José Dirceu logo saiu a comemorar a aliança como uma vitória do “campo majoritário” do PT. Em seu blog Dirceu tinha sido o primeiro a defender a entrada do gangster Maluf na frente popular de São Paulo: “Seria, no entanto, um grave erro negar a política de alianças e de governos de coalizão a partir da provável aliança com o PP”. Erundina em primeiro momento declarou que apesar do “desconforto” continuaria como vice de Haddad, e que a presença de Maluf na coligação não determinaria nem os rumos da campanha, nem do possível futuro governo paulistano. Mas, os ares de Brasília, onde tomou a decisão final, fizeram Erundina voltar atrás e socavar a candidatura de Haddad a uma desmoralização política irreversível. Agora o PSB liberou os petistas a procurar outro vice em outro partido, praticamente desfazendo nacionalmente todas as alianças com o PT.

O saldo político da operação “beija mão” do “capo” fascista Maluf, não é só um desastre eleitoral para as pretensões do “avant premier” Haddad  representa mais um golpe na combalida liderança de Lula, abalada pela frágil saúde e por seguidas traições que possuem as digitais estatais do Palácio do Planalto. Como se não bastasse a completa ausência de reação a ofensiva do bandido togado Gilmar Mendes, Lula assiste passivo a insolvência da CPI do Cachoeira que não intimida nem os camundongos do Congresso Nacional. Mas, para o ex-presidente metalúrgico, o pior ainda está por vir com a provável condenação exemplar pelo STF dos “bons companheiros” petistas envolvidos no esquema do “Mensalão”. Até mesmo o escândalo dos “dólares na cueca” (onde o personagem central é o deputado José Guimarães, irmão de Genuíno Neto) foi ressuscitado pela atual diretoria do BNB, coincidentemente agora sob controle do PSB “Cirista”. Tudo isto somado muito interessa a entourage Dilmista, hoje convicta no rompimento da promessa que Dilma fez ao “padrinho” político de abrir mão da reeleição em 2014.

O circo eleitoral burguês somente em andamento inicial já demonstrou que não é um “jogo” para amadores, ou melhor dizendo, apenas um instrumento tático para a verdadeira militância classista e revolucionária. Setores da esquerda reformista, como o PSOL, PSTU e até mesmo o PCdoB, tentaram tirar algum dividendo demagógico do episódio, tentando demonstrar a adaptação do PT à ordem vigente da “política suja”. Mas, estes “probos” reformistas estão juntos na mesma lama emporcalhada da política burguesa. O PSOL acaba de anunciar uma aliança com o DEM (sócio do PP na ditadura militar) na importante cidade de Resende no interior Fluminense, isto sem falar das composições feitas em Macapá com os partidos Sarneysistas. O PSTU, parceiro do PSOL, quer integrar em Belém uma “frente ampla” com o PPS, PV e o PCdoB, para apoiar a candidatura do ex-prefeito Edmilson Rodrigues. O convertido PCdoB pretende superar a “abertura” do PT, buscando em Porto Alegre um acordo eleitoral com o PP e o PSDB, para eleger a “musa” Manuela D'Ávila. Com esta esquerda corrompida pelo regime da democracia dos ricos o proletariado estará muito distante de lutar pela conquista de seu próprio poder revolucionário. A classe operária deve abstrair todas as lições programáticas da farsa eleitoral, onde o que menos importa é a verdadeira soberania popular, na qual as “cartas” já estão marcadas pela vontade das grandes corporações capitalistas.