Paraguai: Aplastar a tentativa de golpe mobilizando as massas e com total independência do governo da centro-esquerda burguesa
Mal tinha finalizado a brutal repressão aos camponeses que lutam contra a ofensiva dos latifundiários da soja (sojeros), o presidente Fernando Lugo recebeu de “agradecimento” por parte da oligarquia um fulminante processo parlamentar de impeachment, equivalendo a um verdadeiro golpe de estado. Ainda não sabemos se a tentativa de derrubar Lugo irá contar com o apoio aberto da cúpula militar ou se restringirá a elite civil, representada na totalidade das cadeiras do Parlamento paraguaio. O governo de Lugo, eleito sob a base de uma composição (Aliança Patriótica) com o tradicional Partido Liberal, um dos braços políticos da oligarquia fundiária, vinha sofrendo um forte esgarçamento social no último período. Os trágicos acontecimentos ocorridos em Curuguaty, a duzentos quilômetros da fronteira com o Brasil, serviram como estopim para os sojeros alertarem a burguesia em seu conjunto para a incapacidade do governo Lugo conter o movimento dos camponeses sem-terra, carperos. Sob a acusação de conivência com os carperos e até com Exército do Povo Paraguaio (EPP) a Câmara dos Deputados aprovou hoje (21/06) por 73 votos a favor e apenas um contra a abertura de um processo sumário de impeachment, que culminará com a votação final no senado na sexta-feira ou no máximo no sábado. Lugo não conta com o apoio de um único senador sequer e terá apenas duas horas para sua defesa. Agora a noite a igreja católica, da qual Lugo é bispo, emitiu um comunicado exigindo sua renúncia para “evitar um confronto nacional”. Sem apoio parlamentar, Lugo conta com o relativo apoio da UNASUL, que enviou uma delegação a Assunção para mediar o conflito. Por outro lado o movimento camponês anunciou a chegada a capital do país de delegações de todas as regiões em apoio ao presidente, que encerraria seu mandato no ano de 2013, sem direito constitucional a reeleição. Assim que soube da movimentação no Congresso, Lugo disse que não deixaria a presidência: “Não renunciarei ao cargo para o qual fui eleito pelo voto popular”.
A situação aponta para que Lugo aposte suas fichas no peso dos governos do Mercosul, no qual tem identidade política, para manter-se no cargo. A questão a saber é até que ponto limite, em especial, a burguesia brasileira estará disposta a bancar Lugo contra seus novos sócios do agronegócio paraguaio. O ministro (nada) Patriota que encabeça a delegação da UNASUL tentará a todo custo uma saída de compromisso, tentando obter de Lugo uma posição mais “dura” em relação ao movimento dos sem terra. A formação de um novo gabinete, sem os traços políticos da “centro esquerda”, é uma condição “sine qua non” para a permanência de Lugo na presidência. Mas, a tendência hegemônica da polarizada conjuntura se inclina para uma alternativa tipo hondurenha, onde a burguesia executa o golpe de estado pela via parlamentar e constitucional, com o apoio velado dos militares.
O movimento de massas, apesar da relativa experiência com a política neoliberal de Lugo, continua apoiando o governo apesar do seu imenso desgaste. O proletariado urbano e rural ainda identifica no governo do ex-bispo da teologia da libertação a possibilidade de superar toda uma história nacional de subordinação as velhas oligarquias agrárias. A marcha camponesa que se dirige a Assunção é um elemento importante da situação, e não se pode descartar a possibilidade de um grande confronto nas ruas da capital. O Partido Comunista (PCP), que acaba de ser legalizado, já se manifestou em apoio a Lugo, depositando suas esperanças para barrar o impeachment em um “isolamento internacional dos golpistas”.
Os marxistas revolucionários da LBI fomos a primeira corrente política de esquerda no Brasil a denunciar a repressão do governo burguês de Lugo aos carperos, mas compreendemos muito bem que sua derrubada sob a condução da oligarquia dominante representa um ataque histórico ao conjunto do povo trabalhador do Paraguai. Também entendemos que o método para derrotar os golpistas não pode estar concentrado na expectativa do “lobby” dos governos da UNASUL, que deverá significar uma capitulação ainda maior de Lugo em relação à direita reacionária parlamentar. A classe operária e a juventude que odeia os verdugos oligarcas, deve mobilizar-se contra o golpe, não para defender o covarde governo Lugo, cúmplice da ofensiva fascista em seus três anos de mandato, tampouco em nome do atual regime democratizante bastardo, mas para aplastar os golpistas pela senda da ação direta, com a greve geral política e o armamento geral do movimento de massas. No curso deste processo de mobilização independente, deve- se construir organismos de poder proletário, embrião de um verdadeiro governo operário e camponês.