Nos últimos meses ocorreram em todo país uma série de greves, cujas marcas são reivindicações estritamente econômicas. Em geral elas foram derrotadas devido à própria política das direções sindicais “chapa branca”, ligadas a CUT, CTB e Força Sindical. Ainda assim, em vários casos, principalmente nas categorias em que os sindicatos têm menos controle de suas bases radicalizadas, como os operários de Belo Monte e Jirau ou mesmo nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – Comperj, em Itaboraí, houve forte resistência à imposição de acordos vergonhosos que retiram direitos, mantêm o arrocho salarial e as péssimas condições de trabalho. Na luta direta por tentar romper com a verdadeira camisa-de-força imposta pelos pelegos da frente popular, os trabalhadores de base recorreram a métodos radicalizados de luta que “extrapolam” os estreitos limites da “ordem democrática”. Assim, a imprensa burguesa noticiou “escandalizada” quando os operários no norte do país atearam fogo em canteiros de obras, bloquearam estradas ou expulsaram das assembleias os vendidos dirigentes sindicais, assim como não respeitaram as ordens da justiça burguesa de voltarem ao trabalho quando suas paralisações foram consideradas ilegais.
Como não poderia deixar de ser, essas greves foram isoladas e derrotadas porque suas direções amarelas estão corrompidas política e materialmente pelo governo da frente popular e os patrões. Por esta razão, os sindicatos controlados pela burocracia sindical governista não politizam as lutas, negando-se a ligar as aviltantes condições de trabalho e a política de arrocho salarial das empreiteiras contratadas para as obras superfaturadas da Copa do Mundo e do PAC com a própria conduta do governo Dilma Rousseff que impõe aos servidores públicos “reajuste zero” e um salário mínimo miserável. A resistência instintiva ao pacto social implícito celebrado entre a CUT-CTB-FS, os patrões e o governo Dilma é violentamente atacada, com os próprios sindicalistas a soldo da frente popular ameaçando os trabalhadores, acusando-os de radicais e vândalos, para logo depois provocar sua demissão a partir de “listas negras” entregues diretamente a chefias e ao patronato. Muitos operários inclusive, como em Jirau, foram presos depois de serem delatados pelos próprios dirigentes sindicais mafiosos.
Desgraçadamente, as formas radicalizadas de combate em algumas greves estão em contradição com o nível de consciência dos explorados que protagonizam esses próprios embates. Como não há uma alternativa política de classe ao projeto da frente popular, as greves que assumem um importante grau de radicalização, não conseguem alterar o quadro da correlação de forças, bastante favorável ao PT e seus aliados nas oligarquias estaduais, apesar dos escândalos de corrupção que vem à tona todos os dias. Elas não abalam a popularidade do governo Dilma e daqueles que a frente popular apóia no circo eleitoral que se iniciará em poucos dias para a disputa das prefeituras.
Porém, a conduta de atacar as greves que saem do controle não foi adotada apenas pelas direções sindicais comandadas pela quadrilha da CUT, CTB, UGT, CGTB e Força Sindical. Também os sindicatos ligados a CSP-Conlutas e a Intersindical trataram de condenar os “excessos” de sua própria base quando estas rompiam os estreitos limites da “ordem democrática” ditada pelo regime político bastardo. Dois exemplos dessa conduta vergonhosa ocorreram recentemente: na greve dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza e nos metroviários de São Paulo. No primeiro caso, operários destruíram, em seu ódio de classe, a entrada da sede de um poderoso grupo de comunicação burguês ligado a Rede Globo no último dia 29/05, que através de seu jornal e TV atacava diariamente a greve, taxando os operários de baderneiros e vândalos. Longe de organizar a justa ação operária e defender a legitimidade da violência revolucionária do proletariado, os trabalhadores foram parcialmente contidos por diretores do sindicato ligados ao PSTU, que formaram uma barreira humana de contenção para proteger a sede da filial do grupo dos Marinho em Fortaleza!!! Logo após, vergonhosamente, o próprio presidente do sindicato, Nestor Bezerra, dirigente do PSTU e da CSP-Conlutas, atacou os grevistas mais radicalizados ao afirmar nas mesmas rádios, jornais e TVs que “Não aprovamos atos violentos, mas não temos como controlar um número tão grande de operários. Nós fazemos várias manifestações na cidade e algumas pessoas se aproveitam da multidão e causam um tumulto” (G-1, 31/05).
Já nos metroviários de São Paulo, a contenção também foi bastante clara e escandalosa. Após apenas um dia de greve, 23/05, que parou 100% da categoria apesar da chantagem do governo Alckmin e da imprensa burguesa contra os trabalhadores, a direção sindical ligada a CSP-Conlutas e a Intersindical impôs o fim da paralisação aceitando uma proposta aquém da apresentada anteriormente pelo TRT e já rejeitada pela categoria na assembleia que deflagrou a paralisação. O motivo de tanta “pressa” e servilidade: a força da mobilização que por decisão da base não cumpriu as exigências da justiça burguesa de manter o metrô funcionando em horários de pico. Alegando que a greve iria ser decretada ilegal, PSTU e PSOL, trataram de fazer o jogo do governo e da justiça encerrando a paralisação em uma assembleia esvaziada, convocada fora do seu horário tradicional e sem nenhuma conquista, como confessou o próprio presidente do sindicato, Altino de Melo, dirigente do PSTU e da Conlutas, durante a assembleia “Realizamos uma das maiores greves dos últimos anos, com ampla adesão de todo o quadro de funcionários. Pararam os operadores de trem, funcionários da manutenção e das estações e o corpo de segurança. A proposta é ruim, não contempla nenhuma reivindicação, mas é o máximo que podemos conseguir neste momento”. Cabe a “singela” pergunta: por que não se manteve e radicalizou a luta para arrancar a vitória, já que a greve era fortíssima e havia recém começado? A resposta é justamente porque a CSP-Conlutas e a Intersindical, profundamente adaptadas ao regime político burguês, preferiram minar a ação direta da classe para não se enfrentar com a “ordem democrática” que não aceita os métodos radicalizados de luta da classe operária, ainda mais em uma categoria como os metroviários, capaz de paralisar São Paulo e provocar enormes prejuízos à burguesia.
No momento em que escrevemos as linhas desse Editorial estamos em meio a um novo processo de luta que é a greve dos professores universitários, dirigida pelo ANDES, também controlada pelo PSOL e PSTU. Tragicamente, até o momento a greve nas universidades públicas, apesar da imensa adesão, padece dos mesmos limites impostos aos dois exemplos citados. A paralisação foi deflagrada completamente dentro da ordem burguesa, em que as direções sindicais ligadas à “oposição de esquerda” respeitam “religiosamente” os trâmites legais impostos pela justiça, usando a força do movimento para forçar a retomada das mesas de negociação (enrolação) e para estrategicamente desgastar eleitoralmente a gestão petista em busca de algum dividendo nas eleições municipais de outubro. Como é uma mobilização em curso e está se unificando com os estudantes e servidores técnicos-administrativos, cuja greve deve ter início no dia 11 de junho em conjunto com outras categorias do funcionalismo federal, mais radicalizados, a luta dos professores universitários encontra-se em uma encruzilhada, necessita romper com a política de respeito à ordem burguesa e ao “lobby de massas” imposto pelo ANDES, radicalizando na ação direta contra o governo Dilma para vencer. Desgraçadamente, a “folha corrida” tanto das direções “chapa branca” (CUT-CTB) que intervêm na greve fazendo o jogo do Palácio do Planalto, assim como da burocracia sindical de esquerda agrupada na CSP-Conlutas e Intersindical, demonstra que se depender de sua condução política teremos em um horizonte próximo mais um desfecho desfavorável para os trabalhadores.
Para romper com esse verdadeiro ciclo de derrotas é necessário superar a própria concepção economicista vulgar que domina os sindicatos, em sua esmagadora maioria completamente cooptados política e materialmente pelo governo da frente popular e que têm como limite de atuação as regras ditadas pelas instituições do regime, como a justiça burguesa. Faz-se necessário travar uma dura luta programática e ideológica no seio da vanguarda classista do proletariado para alterar o atual rumo das mobilizações em curso, antes que sejam derrotadas, já que teremos as campanhas salariais do segundo semestre chegando. Para começar, trata-se de lançar a consigna de unificação nacional de todas as lutas econômicas para o norte político estratégico de derrotar o governo Dilma. Em segundo lugar, mas não menos importante, é preciso retomar a pauta das reivindicações históricas da classe operária, muito mais além do que alguns pontos percentuais superiores aos que nos oferece a patronal. Mas, para empreender esta verdadeira batalha central contra toda sorte de oportunistas e revisionistas “chapa branca” ou de “esquerda” que dirigem o movimento de massas no Brasil, atrelando-o ao regime da democracia dos ricos, é fundamental forjar a construção de um verdadeiro embrião do partido operário revolucionário e de frações classistas nos sindicatos, com um trabalho diretamente estruturado em suas bases mais radicalizadas. Este é o principal desafio político, programático e ideológico a ser enfrentado pelos setores da vanguarda classista que buscam construir uma alternativa revolucionária de poder dos trabalhadores em nosso país, enfrentando a pressão daqueles que querem sempre disciplinar o movimento de massas sob as ordens “responsáveis e pacíficas” do grande capital.
Editorial do Jornal Luta Operária nº 236, 2ª Quinzena de maio/2012