Troika “elege” a direita tradicional (Nova Democracia)
e mantém seu “Plano B” (Syriza) na oposição para melhor gerenciar a crise grega
O partido da direita tradicional grego, a Nova Democracia (ND), venceu neste domingo, 17/06, as eleições parlamentares. Segundo os resultados preliminares ND alcançou quase 30% dos votos, tendo direito a 129 assentos, enquanto a Coalizão de Esquerda Radical (Syriza) obteve 27% e 71 parlamentares. O Pasok ficou em terceiro lugar com 12,5% dos votos, abocanhando 33 deputados e os outros quatro partidos (Gregos Independentes, Esquerda Democrática, o fascista Aurora Dourada e o Partido Comunista - KKE) dividiram as 67 cadeiras restantes. Somando os deputados de ND com os do Pasok, ambos partidos serão maioria no parlamento e terão direito a indicar o primeiro-ministro através da formação de um governo de coalizão sob controle da direita, tendo Antonis Samaras, dirigente da ND a cabeça do gabinete. Como prevemos, a crise grega deu lugar a um governo de direita, abrindo caminho para a formação de um gabinete ainda mais conservador para aplicar os planos da Troika. Nosso prognóstico se confirmou plenamente “Como afirmamos desde o início da crise grega, em oposição do que apregoava o conjunto do revisionismo delirando que a revolução está ‘batendo às portas’ da Grécia, quem está ‘capitalizando’ a debacle do Pasok é o partido da direita tradicional, a ‘Nova Democracia’ que vem sistematicamente votando contra o governo ‘socialista’ numa tentativa de se cacifar para as eleições legislativas próximas, adiadas mais uma vez com o ‘voto de confiança’ em Papandreu. O Pasok deverá ser derrotado pela direita que implementará com ainda mais dureza novas medidas de salvação do capital às custas do sacrifício da classe operária como ocorreu em Portugal e irá se repetir na Espanha com a volta do PP ao governo” (Jornal Luta Operária, 226, novembro de 2011).
Ao contrário da esquerda revisionista (LIT, UIT, MAS, PO...) que apostava na vitória do Syriza na nova eleição, inclusive chamando o voto nesta coalizão frente populista que pediu a benção de Obama e dos mais importantes governos capitalistas, quando seu dirigente Alexis Tsipras, foi beijar a mão destes em uma reunião do chamado G-20, nós apontávamos claramente que “A tendência é que em uma nova eleição, ND conquiste mais votos e com o bônus de 50 deputados para o partido mais votado, como prevê a aberrante legislação grega, consiga formar um governo que tenha o controle absoluto” (JLO, 235, maio 2012). E por que tamanha diferença de caracterização e da política traçada frente à conjuntura grega? Porque todo arco revisionista vendeu a ilusão que o crash financeiro de 2008 era a antessala da revolução. Como o fim do capitalismo obviamente não ocorreu porque não há uma direção revolucionária com peso de massas para liquidá-lo de forma consciente pela ação do proletariado organizado, esta mesma esquerda catastrofista jogou todas suas fichas em um “governo de esquerda” comandado pelo Syriza, inclusive com vários grupos trotskistas como o PSTU-LIT, PO e o MAS argentinos vergonhosamente criticando os stalinistas do KKE por não aceitarem fazer uma aliança governamental com o partido de Alexis Tsipras, que nesta nova eleição foi ainda mais à direita. Resultado: quebraram novamente a cara e receberam mais uma vez um tapa da realidade.
Em seu primeiro pronunciamento oficial, Samaras reiterou seu compromisso com o acordo firmado com a Troika, garantindo que “cumprirá suas promessas”, ou seja, manter um violento ataque aos trabalhadores. Nesse sentido, o dirigente de ND afirmou cinicamente: “A Grécia vai permanecer na zona do euro e esperamos que as políticas tragam crescimento, justiça e desenvolvimento. O povo votou hoje pela permanência do país na zona do euro e à favor das forças políticas que trarão desenvolvimento e emprego. Convidamos todas as forças políticas que acreditam nisso a participar de um governo de salvação nacional” Já Tsipras reconheceu a derrota e garantindo que não participará da coalizão governamental disse “Pretendo liderar uma força antiausteridade de oposição no Parlamento. Ainda que o Syriza não tenha sido o partido mais votado, é a primeira força de oposição contra o memorando”, o que na prática significa manter o jogo de cena da democracia dos ricos e tentar estabilizar o regime político pela via de suas instituições apodrecidas, através de seus postos parlamentares.
A Syriza visa continuar sendo o “Plano B” da burguesia se credenciando para assumir o governo em uma crise futura. No momento vai atuar na oposição parlamentar eleitoralista como um dique de contenção para a radicalização das lutas do proletariado grego. Esse é seu principal papel hoje: sustentáculo fundamental do regime político. Nesta tarefa, conta com o apoio dos revisionistas (LIT, PO, MAS, UIT...) que clamaram por um “governo de esquerda” para fazer uma política abertamente frente populista. Se ganhasse as eleições seu objetivo era compor um gabinete com uma roupagem renovada para gerir a crise do regime grego questionando limitadamente os termos estabelecidos pela troika em seu “plano de ajuste” que impõe mais miséria e desemprego aos trabalhadores. Por isso, a Syriza não defende sequer a saída da União Europeia (UE) e sim a revisão do chamado “memorando” sob o slogan “Euro sem austeridade”. Como o imperialismo não a escolheu para a tarefa de gerenciar diretamente o governo, fará uma oposição parlamentar de fachada para legitimar o circo eleitoral e se apresentar como “alternativa” eleitoral frente às massas descontentes.
Pelos resultados preliminares, o Partido Comunista Grego – KKE perdeu parte dos votos que obteve na eleição anterior de maio, quando um setor significativo de seu potencial eleitorado já havia migrado para o voto na Syriza. Ficou claro que a política do KKE de patrocinar ilusões nas eleições não lhe rendeu o resultado esperado como a LBI já alertava meses antes: “Ao lado do avanço da barbárie social, assistimos a crise de direção política dos trabalhadores em luta. O KKE atua para desgastar eleitoralmente o governo, com vistas às eleições de abril. Sua tática distracionista está condensada no slogan ‘A Troika deve ir-se! Desligamento da EU’ (Comunicado KKE, 12/02), mas esta impotência política tem aberto caminho para uma senda cada vez mais autoritária do regime, com as tendências fascistas ganhando força entre o povo pobre desesperado. A coligação governamental PASOK-ND tende a se esfacelar, porém em seu lugar a burguesia e o imperialismo planejam um governo puro da Nova Democracia (ND) em aliança com os partidos da extrema-direita” (Artigo sítio LBI, As duas tragédias gregas, março 2012). O KKE saiu das eleições em uma situação difícil, já que a Syriza tende a capitalizar “pela esquerda” no terreno parlamentar e sindical o descontentamento com o novo governo. Como os stalinistas gregos não chamaram em nenhum momento da crise a ruptura revolucionária com a ordem burguesia e sim adotaram uma política de pressão parlamentar, devem assumir o papel de atores coadjuvantes na polarização entre ND versus Syriza, a sombra da Syriza e como conselheiros “críticos” da coalizão liderada por Alexis Tsipras.
Nesse primeiro balanço das eleições gregas podemos afirmar que a Troika “elegeu” um gabinete de “união nacional” sob controle da direita na Grécia como saída preferencial, mas busca comprometer com a governabilidade burguesa os setores da “esquerda” domesticada como a Syriza e a chamada Esquerda Democrática (ED). Este último agrupamento inclusive foi chamado pelo Pasok a formar o novo gabinete. Essa polarização “direita versus esquerda” são dois lados da mesma moeda porque no fundo todos os dois setores representam os mesmos interesses de classe. Nesse sentido, não esqueçamos o crescimento da extrema-direita fascista representada pelo grupo Aurora Dourada. Nesse cenário, os trabalhadores não devem rechaçar a falsa polarização parlamentar entre essas duas alternativas burguesas voltadas a jogar mais uma vez nos ombros dos trabalhadores o custo da crise capitalista. Ao contrário, é preciso alertar, preparar e organizar o proletariado e, particularmente, sua vanguarda mais combativa para um período de fascistização do regime político. Tragicamente, o conjunto da esquerda grega, desde o stalinismo até os revisionistas do trotskismo apresentam nada mais do que impotentes programas sindicalistas e de lobby parlamentar, opondo-se a armar de uma plataforma revolucionária a classe para os novos embates que emergem desta nova conjuntura dramática. Os catastrofistas da LIT que ontem apregoavam que a “revolução” batia às portas da Grécia e depois imploraram pela formação de um “governo de esquerda” para gerir a Estado capitalista, agora chamarão a Syriza para comandar a oposição parlamentar ao governo dentro das regras do regime político! Já o EEK, grupo ligado ao PO argentino, que também vendia ao mundo que estávamos às vésperas do fim do capitalismo na Grécia em 2009, mas que foi uma das legendas menos votadas nas duas eleições segue o mesmo caminho dos morenistas, como conselheiros da coalizão frente populista.
Aos genuínos marxistas, que chamaram a não depositar nenhum voto nestas alternativas do regime e muitos menos em seus satélites de “esquerda”, cabe a tarefa de intervir ativa e pacientemente sobre estas lutas para elevar o nível de consciência dos setores mais radicalizados, a fim de fazê-la avançar da resistência defensiva atual para a disputa pela conquista do poder político contra seus algozes, superando a criminosa influência política que a centro-esquerda reformista e seus satélites revisionistas exercem sobre o proletariado. A materialização deste longo e paciente processo de evolução da consciência dos trabalhadores é a construção de um partido internacionalista e revolucionário que lute por derrotar a União Europeia imperialista, sob a qual a vida das massas converte-se em uma bárbara escravidão, para edificar em seu lugar uma Federação das Repúblicas Socialistas da Europa, apontando a única saída verdadeiramente progressista para o velho continente.