Em uma conjuntura política abertamente favorável ao
governo Dilma, que alcança excelentes índices de popularidade superando
inclusive a do ex-presidente Lula, contraditoriamente o PT parece que caminha
para o cadafalso nas próximas eleições municipais. Não se trata de uma crise no
“projeto de poder” da frente popular, baseado na colaboração de classes e
estabilidade institucional do regime político, mas sim da luta autofágica das
camarilhas internas do partido dos trabalhadores que deverá beneficiar diretamente
os partidos aliados da base de apoio do governo Dilma e até mesmo da oposição
Demo-tucana. A disputa intestina que hoje “sangra” o PT está diretamente
relacionada ao debilitamento físico da figura dirigente de Lula e do
crescimento dos apetites vorazes da reeleição da ex-presidente “poste” Dilma
Rousseff. A burguesia apóia descaradamente a iniciativa do grupo petista pró-Dilma
em se livrar definitivamente da influência hegemônica da entourage de José
Dirceu nas decisões partidárias . Com a repentina doença de Lula abriu- se a
oportunidade de se consolidar uma nova maioria no PT (derrotando a antiga tendência
“Articulação”), visando não as eleições municipais, mas a própria sucessão
presidencial de 2014. Com a proximidade do julgamento do chamado esquema do “mensalão”
pelo STF, Dilma passou a atuar ofensivamente pela condenação dos mensaleiros,
passando por cima inclusive da vontade política do ex-padrinho em defender
incondicionalmente seus “bons companheiros”. Com sua liderança abalada, Lula
foi entregue às “feras” sendo atacado pela figura mais impopular da república,
o ministro do STF Gilmar Mendes. Sem mostrar nenhum poder de fogo contra o
odiado Gilmar, quem acredita que Lula poderá agora alavancar suas candidaturas “preferenciais”,
como a de Haddad em São Paulo. Na sequência destes acontecimentos o setor
planaltista não-alinhado com Dirceu partiu para defenestrar as candidaturas
próprias do PT, não só em São Paulo, mas também em Recife, Fortaleza, BH, tendo
a senadora Marta Suplicy como paladina desta “causa”.
Atentos a esta crise, os partidos da chamada base
aliada já trabalham em coordenação direta com o planalto para sabotar as
candidaturas próprias do PT. O PSB, representante das oligarquias “socialistas”
nordestinas, saliva inviabilizar as candidaturas petistas em Fortaleza e
Recife, além de impor a submissão do PT em BH. O PDT e o PMDB planejam realizar
a mesma operação política em outras cidades e o PSDB paulistano já declarou que
só teme a presença de Dilma na campanha de Haddad, já que Lula não teria mais a
força de catapultar seus “afilhados” na disputa municipal. No Rio de Janeiro, o
aliado Cabral impôs o apoio do PT à reeleição de Paes, o antigo carrasco dos
mensaleiros na CPI de 2005. Em síntese, as tendências da situação apontam para
um fiasco do PT em 2012, preparado domesticamente, para melhor postular a recondução
de Dilma ao Planalto e “romper” diplomaticamente a cláusula da “renovação
democrática”.
A operação de “desmanche” das candidaturas do PT vem
provocando a reação da chamada esquerda petista e de alguns “caciques”
preteridos pela sanha liquidacionista dos neopetistas, agrupados pelas
generosas verbas estatais. Este é o caso do atual prefeito de recife, João da
Costa, que praticamente teve seu mandato cassado pelos próprios
correligionários. Para não perder o norte de um programa revolucionário, em
primeiro lugar é necessário afirmar que tanto os membros do “campo majoritário”
de Dirceu e Lula, como os neopetistas “planaltistas” são farinha do mesmo saco,
ou seja, defensores da ordem burguesa e gestores estatais da crise estrutural
do capitalismo. Chega a soar ridícula a tese levantada pelo revisionismo, como
OT e EM, que ainda permanecem na frondosa sombra das “oportunidades” do PT. Os
poucos seguidores de Alan Woods no Brasil, diante do impasse atravessado pelo
PT afirmam que: “Os marxistas do PT devem ampliar a discussão da resistência
contra esta política liquidadora em todo o partido de forma firme e ampla. A
situação nacional e internacional exige a unidade dos petistas que desejam
manter-se fiéis a sua classe para que se articulem nacionalmente lutando para
que o Partido dos Trabalhadores vire à esquerda e reate com a luta pelo
socialismo”. A única coisa que realmente pode virar a esquerda no interior do
lamaçal petista é o próprio carro Land Rover de mais de cem mil dólares
recentemente adquirido por Dirceu a título de honorários de consultoria
política.
Os genuínos marxistas revolucionários não disseminam a
menor ilusão em uma suposta recuperação do PT para o socialismo, depois de dez
anos de governo servindo ao capital financeiro e aos trustes imperialistas.
Tampouco cabe bancar os “conselheiros de esquerda” da presidente Dilma, como
faz sistematicamente a oposição de esquerda (PSOL e PSTU), lembram- se da
campanha “veta tudo Dilma”? A chave para superar a paralisia do movimento de
massas passa bem longe das próximas eleições municipais, mais uma etapa do
engodo burguês para “distrair” o proletariado. É necessário concentrar o
acumulo de forças da classe operária na perspectiva da construção de uma
alternativa revolucionaria de poder, agrupando os comunistas em uma frente
única para impulsionar a ação direta das massas, para além dos estreitos
limites institucionais do regime burguês.