Capitulação vergonhosa de Lugo sob a orientação da centro-esquerda burguesa da Unasul
Logo depois da sessão do Senado que o destituiu da Presidência do Paraguai na última sexta-feira, 22 de junho, Fernando Lugo fez um rápido pronunciamento que revela bem o caráter de capitulação aberta que seu governo e conjunto da centro-esquerda burguesa do continente agrupada na Unasul adotaram diante do verdadeiro golpe de estado fulminante desferido pela via parlamentar e constitucional, tramado pela arquirreacionária burguesia do país com o apoio velado dos militares. Estampando um sorriso cínico, Lugo agradeceu à polícia, ao exército e a imprensa — os mesmos que deram suporte ao golpe a mando dos dois partidos burgueses tradicionais do país (Colorado e Liberal) — por ajudarem “na construção da democracia no Paraguai” e declarou que aceitava a decisão orquestrada pelo parlamento: “Como sempre atuei no marco da lei, ainda quando esta tenha sido distorcida, submeto-me a decisão do Congresso e estou disposto a responder sempre com meus atos como ex-mandatário nacional” (Telesul, 22/06). No discurso, nenhuma palavra chamando a resistência popular e muito menos a enfrentar pela ação direta o aparato policial que cercava o parlamento e reprimia os manifestantes que se opunham instintivamente ao golpe. Ao contrário, Lugo se submeteu imediatamente à decisão do Senado que o retirou da presidência em um processo golpista de impeachment que durou menos de 24 horas!
Logo depois da sessão do Senado que o destituiu da Presidência do Paraguai na última sexta-feira, 22 de junho, Fernando Lugo fez um rápido pronunciamento que revela bem o caráter de capitulação aberta que seu governo e conjunto da centro-esquerda burguesa do continente agrupada na Unasul adotaram diante do verdadeiro golpe de estado fulminante desferido pela via parlamentar e constitucional, tramado pela arquirreacionária burguesia do país com o apoio velado dos militares. Estampando um sorriso cínico, Lugo agradeceu à polícia, ao exército e a imprensa — os mesmos que deram suporte ao golpe a mando dos dois partidos burgueses tradicionais do país (Colorado e Liberal) — por ajudarem “na construção da democracia no Paraguai” e declarou que aceitava a decisão orquestrada pelo parlamento: “Como sempre atuei no marco da lei, ainda quando esta tenha sido distorcida, submeto-me a decisão do Congresso e estou disposto a responder sempre com meus atos como ex-mandatário nacional” (Telesul, 22/06). No discurso, nenhuma palavra chamando a resistência popular e muito menos a enfrentar pela ação direta o aparato policial que cercava o parlamento e reprimia os manifestantes que se opunham instintivamente ao golpe. Ao contrário, Lugo se submeteu imediatamente à decisão do Senado que o retirou da presidência em um processo golpista de impeachment que durou menos de 24 horas!
Se a frágil economia paraguaia depende fundamentalmente do Brasil (receita de Itaipu, comércio em Foz do Iguaçu e entrada de mercadorias pelo Porto de Paranoá, no Paraná) e dos seus parceiros da Unasul, por que Lugo aceitou tão rapidamente o golpe da direita e não chamou a resistência, inclusive se apoiando nos governos da centro-esquerda burguesa do continente que formalmente lhe davam suporte? A resposta é simples: para barrar o golpe Lugo teria que mobilizar os trabalhadores em luta direta contra os latifundiários e o conjunto da burguesia, que inclusive se encontravam ocupando postos chaves em seu governo de colaboração de classes. Lugo e os governos da Unasul, particularmente do Brasil, eram contra essa perspectiva que, sem dúvida, derrotaria o golpe e abriria uma situação revolucionária no país, porque mais cedo do que tarde o movimento de massas questionaria a própria política de conciliação de classes do ex-“bispo dos pobres”. Não por acaso, a Polícia Nacional de Lugo, em seu último ato como presidente, foi responsável pelo massacre de Curuguaty, que deixou 11 sem-terras (carperos) sem vida quando faziam a resistência armada à desocupação do megalatifundio de um ex-senador do próprio Partido Colorado.
O máximo que a Unasul declarou foi sua oposição formal ao rito sumaríssimo da votação que destituiu Lugo, já que buscou uma saída de consenso com a direita. Os chanceleres da Unasul queixaram-se da ausência de um “processo justo”, o que em última instância acabaria por legitimar o golpe, já que os partidos Colorado e Liberal tem a esmagadora maioria do Congresso e resolveram atuar de forma fulminante temendo a reação popular. Orientado pelos governos da centro-esquerda burguesa, Lugo aceitou imediatamente a imposição do golpe porque tanto a burguesia paraguaia como os membros da Unasul tinham uma preocupação comum: impedir a entrada em cena do movimento de massas e de sua vanguarda classista que poderiam iniciar a resistência, avançando para a expropriação das terras e questionando o próprio poder burguês e suas instituições apodrecidas, como o parlamento corrupto. A oposição de classe a esta tendência política uniu os golpistas, Lugo e a centro-esquerda burguesa, tanto que o comunicado dos representantes da Unasul enviados ao Paraguai é claro neste ponto quanto afirma: “Mantivemos reuniões com o Presidente Fernando Lugo. Adicionalmente, nos reunimos com o vice-presidente Federico Franco, com dirigentes políticos de diversos partidos e autoridades legislativas, de quem lamentavelmente não obtivemos respostas favoráveis as garantia processuais e democráticas que se lhes solicitaram. Os chanceleres reafirmam que é imprescindível o pleno respeito das clausulas democráticas do Mercocul, da Unasul e da Celac. Os governos da Unasul avaliarão em que medida será possível continuar a cooperação no marco da integração sul-americana. A missão de chanceleres reafirma sua total solidaridade ao povo paraguaio e o respaldo ao Presidente constitucional Fernando Lugo” (Cubadebate, 22/06). Tais palavras significam cristalinamente que a Unasul e Lugo aceitaram de fato o “golpe institucional” e formalmente reclamaram da forma que foi orquestrado, sabotando efetivamente qualquer possibilidade de enfrentar por fora das instituições controladas pela direita a destituição do atual presidente. Este foi imediatamente substituído pelo seu vice, Federico Franco, do Partido Liberal, que horas antes havia articulado a votação no Senado.
O golpe contra Lugo demonstra a impotência política da centro-esquerda para enfrentar a burguesia quando esta se lança decididamente para trocar seus gerentes de plantão, como agora no Paraguai ou anteriormente em Honduras. Lembremos que o próprio golpe militar na Venezuela em 2002 só não foi vitorioso porque não havia unidade no interior da própria classe dominante e nas FFAA. Ainda assim Chávez voltou ao governo ainda mais tutelado pelo alto-comando das FFAA e pregando a “reconciliação nacional” com os golpistas. Na verdade, a Unasul deseja posar de “defensora da democracia” buscando um acordo institucional com a direita porque teme que governos de centro-esquerda mais frágeis, como o de Rafael Correa no Equador, sejam alvos de novas investidas desestabilizadoras. Esse quadro continental se torna ainda mais delicado com a débil saúde de Chávez às vésperas das eleições presidenciais venezuelanas e quando Evo Morales enfrenta neste momento uma greve arquirreacionária da polícia boliviana. Nesse sentido, como parte de uma barganha preventiva, o Mercosul acaba de suspender a participação do Paraguai na Reunião de Cúpula de presidentes programada para a próxima semana na cidade argentina de Mendoza e cogita-se a participação do próprio Lugo como “convidado”.
Demagogia midiática à parte de Chávez, Correa, Evo Moraes, Dilma e Cristina Kirchner, nenhuma saída progressiva virá da mediação da diplomacia da Unasul e dos governos da centro-esquerda burguesa. Como ficou demonstrado no caso de Honduras e agora no Paraguai, a intervenção destes senhores está voltada a controlar a resposta do movimento de massas e impedir a ação independente dos trabalhadores, no máximo levando as disputas para os “organismos multilaterais” como a Unasul, Mercosul e a própria OEA, que ao final acabam legitimando os golpistas e seus “governos de fato” em busca de um “acordo de compromisso”, enquanto a direita fascistizante, como em Honduras, assassina centenas as lideranças operárias e populares. Tragicamente, o mesmo deve se repetir no Paraguai se os trabalhadores e sua vanguarda não tirarem imediatamente as lições programáticas do processo em curso!
Compreendemos muito bem que a derrubada do governo Lugo sob a condução da oligarquia dominante representa um ataque histórico ao conjunto do povo trabalhador do Paraguai. Por isso é preciso romper o bloqueio diplomático imposto pelos governos da centro-esquerda e pelo próprio Lugo, que chamou a aceitar a decisão do Congresso, levando a “disputa” para os fóruns da diplomacia burguesa e mobilizar os trabalhadores no Paraguai e no conjunto da América Latina contra o golpe de estado imposto pela via parlamentar e constitucional. Esta medida baseada na ação direta está na ordem do dia e não está voltada a defender o covarde Lugo, cúmplice da ofensiva fascista em seus três anos de mandato e muito menos o atual regime democratizante. Os trabalhadores devem se organizar para derrotar os golpistas através da convocação de uma greve geral política e recorrer ao armamento geral, seguindo assim o exemplo dos sem-terra (cerpeiros) de Curuguaty. Neste momento em que a burguesia paraguaia vai ampliar sua ofensiva reacionária diretamente sobre os trabalhadores e suas lideranças, é necessário encabeçar um processo de mobilização independente para resistir, construindo organismos de poder operário e popular que sejam capazes de superar no curso do combate nas ruas e nos locais de trabalho e estudo a política de Lugo e da centro-esquerda burguesa do continente!