Há cerca de um ano e meio a quase totalidade da esquerda mundial comemorava o triunfo da “revolução democrática” no Egito, produto da queda do senil ditador Mubarak. Delegações enviadas desde o Brasil e Argentina, pelas correntes revisionistas, até o Egito afirmavam entusiasticamente: “Agora se pode respirar a liberdade neste país”. Talvez agora estes mesmos setores da esquerda replicante da Casa Branca na Líbia e na Síria, tenham um pouco de dificuldade em explicar a ocorrência de dois golpes de estado no “pais da revolução” apenas em uma semana, e a iminência da imposição da maior fraude eleitoral patrocinada pelos EUA na última década. A junta militar que retirou Mubarak do governo simplesmente resolveu dissolver o parlamento, sob o inusitado argumento de “inconstitucionalidade” e anular a Constituinte “revolucionária” que estava em curso. Para completar, o quadro “democrático” deliberou por retardar o anúncio oficial do resultado das eleições presidenciais diante da vitoria da organização Islâmica Irmandade Muçulmana, através de seu braço político, o reacionário partido da liberdade e justiça.
Os militares egípcios manipularam descaradamente para levar ao segundo turno seu candidato, o odiado general Ahmed Shafik, ex-premier do tirano Mubarak, ultrapassada com “sucesso” esta etapa agora planejam impor a derrota de Mohammed Morsi, o candidato “light” da Irmandade Muçulmana. Acontece que ao contrário de Shafik, Morsi e o partido da liberdade e justiça possuem uma enorme base social, que está ocupando multitudinariamente há vários dias a legendária Praça Tahrir, palco da fraudulenta “revolução”, tanto saudada pela mídia murdochiana mundial. Posto o impasse, fica a cargo de Washington “proclamar” o novo presidente, já que todo o processo eleitoral é uma farsa, onde os candidatos mais “incômodos” já foram “depurados”. A decisão está a espera de um novo compromisso da Irmandade com a manutenção do regime militar em plena vigência no país dos faraós.
A crise política na “fase superior da revolução”, que seria justamente a realização das primeiras eleições presidenciais de toda a história do Egito, é produto da desconfiança cada vez maior de setores das massas com as ONGs e organizações islâmicas, que vem utilizando seu prestígio político adquirido com a queda de Mubarak, vem traficando a ilusão distracionista que o Egito atravessa um período revolucionário. A realidade vem mostrando exatamente o contrário, ou seja, em nome da suposta “primavera árabe” a burguesia vem desencadeando uma brutal ofensiva contra as conquistas do proletariado, com o aumento do desemprego e um plano de privatização de vários serviços públicos. Desde a saída de cena de Mubarak, a chamada transição negociada, o governo Obama reduziu o envio dos “subsídios” que os EUA destinava ao Egito desde a assinatura dos acordos de Camp David com Israel, nos anos 70. Muito provavelmente o “subsidio” ianque que era destinado ao Egito está sendo enviado para os mercenários sírios, que combatem pela causa da “revolução made in USA”. O sentimento anti-imperialista das massas árabes ainda é marcante em suas consciências e setores cada vez mais representativos do proletariado já começam a perceber o real conteúdo da farsesca “revolução democrática”, este fator vem começando a provocar fissuras no processo de transição política do Egito.
Uma revolução socialista, mesmo em sua primeira fase democrática, só poderá ocorrer com a formação de organismos de poder operário, apoiados no embrião de uma força armada do proletariado. Somente charlatães do marxismo, como os revisionistas da LIT, podem sustentar a “tese” de revoluções baseadas simplesmente em protestos populares, sem a construção de organismos de duplo poder. Mas o que era apenas uma “tese” equivocada (revisionista) elaborada pelo fundador da LIT, Nahuel Moreno, foi transformada pelos seus discípulos pilantras em um programa político para atuar em conjunto com o imperialismo, contra governos stalinistas e nacionalistas burgueses. Assim foi que os Morenistas estiveram no campo militar da OTAN no muro de Berlim, na URSS e na Iugoslávia em meados dos anos 90. Agora, com a mesma defesa da teoria da “revolução made in USA” os Morenistas integraram política e militarmente o bloco dos mercenários líbios e sírios para derrotar governos burgueses não alinhados integralmente com a Casa Branca.
No Egito o campo político das ONGs e correntes revisionistas cumprem a função de bloquear o desenvolvimento independente de uma nova vanguarda classista, que molecularmente começam a superar o engodo da “primavera árabe”, se colocando a disposição para combater a invasão imperialista em curso na Síria e no Líbano e posteriormente no Irã. O desastre social e humanitário provocado pela “revolução” dos rebeldes da OTAN na Líbia fez despertar na vanguarda antissionista egípcia, a necessidade de romper com a orientação revisionista, que no segundo turno pregava abertamente o “voto critico” em Morsi. Seguindo as teses da revolução permanente, os marxistas revolucionários combatem no Egito pela construção de verdadeiros organismos de poder da classe operária, partindo da luta concreta das massas e seu justo ódio contra o gendarme do imperialismo na região, o sionismo, e seus sócios autóctones (militares e Irmandade) que desejam preservar os acordos de Camp David.