quarta-feira, 13 de junho de 2012

O conluio reformista entre a Rio+20, a Cúpula dos Povos e seus parceiros “ecossocialistas”

Neste dia 13 de junho começou a “Rio+20” com a presença da presidente Dilma Rousseff. Está prevista a chegada da madame Clinton e do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. Paralelo à Conferência das Nações Unidas para o meio-ambiente, ocorre a “Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental”. Os dois eventos, um promovido pela ONU e o outro por ONGs e “entidades da sociedade civil” (CUT, Via Campesina, UNE...) ligadas ao Fórum Social Mundial e apoiadas por ninguém menos que a Fundação Ford, são duas faces da mesma política “ecocapitalista” levada a cabo pelo imperialismo e seus governos títeres da centro-esquerda burguesa com o ajuda dos chamados “movimentos sociais” completamente cooptados pela agenda da “economia verde de mercado”. Como “ala esquerda” da Cúpula dos Povos estão os defensores do chamado “ecossocialismo”, cujo principal porta-voz é Michael Lowy, que visa colocar como centro da defesa da necessidade histórica do socialismo a questão ambiental e não a luta de classes que tenha o proletariado como vanguarda da emancipação humana.

O que une os “ecocapitalistas” que se proclamam tão preocupados com o planeta Terra é um programa de violento ataque às condições de vida do homem, o principal vetor das forças produtivas da humanidade, enquanto fingem defender os recursos naturais. Ao denunciar a farsa em torno da Rio+20 e da própria “Cúpula das Povos” dizemos claramente que só a revolução socialista, com a expropriação da burguesia em nível mundial e a liquidação do modo de produção capitalista podem por um fim às forças destrutivas, às guerras e aos monopólios predadores que ameaçam a existência da humanidade. Nesse sentido, fazemos também a polêmica com os próprios “ecossocialistas” que buscam novas vanguardas justamente para negar a luta de classes como motor da história e o método da violência revolucionária e a ditadura do proletariado como únicos meios capazes de salvar a humanidade da barbárie capitalista.

Não por acaso, Lowy nos diz que “O objetivo do ecossocialismo é o de uma transformação radical, a transição para um novo modelo de civilização, baseado em valores de solidariedade, democracia participativa, preservação do meio ambiente. Mas a luta pelo ecossocialismo começa aqui e agora, em todas as lutas sócio-ecológicas concretas que se enfrentam, de uma forma ou de outra, com o sistema. A única esperança então são os movimentos socais e aquelas ONGs que são ligadas a estes movimentos (outras são simples “conselheiros verdes” do capital). O movimento camponês – Via Campesina –, os movimentos indígenas e os movimentos de mulheres estão na primeira linha deste combate; mas também participam, em muitos países, os sindicatos, as redes ecológicas, a juventude escolar, os intelectuais, várias correntes da esquerda. O Fórum Social Mundial é uma das manifestações desta convergência na luta por um ‘outro mundo possível’, onde o ar, a água, a vida, deixarão de ser mercadorias”. (Entrevista com Michel Lowy, 24 de marco de 2012). Não há nenhuma referência ao proletariado como classe revolucionária e a necessidade do Partido Comunista, que é substituído por ONGs e “redes ecológicas” partidárias de um “novo modelo de civilização”, algo bem longe do comunismo, já que esses reformistas não querem ser identificados com Lênin e suas “fórmulas ultrapassadas”!

Ironicamente, o Brasil que pela segunda vez sedia a Conferência da ONU, tem um governo de frente popular que une em seu ministério tanto representantes do evento oficial como do “alternativo” e até mesmo “ecossocialistas” como chega a se proclamar a corrente petista Democracia Socialista (PT) que tem em Lowy uma de suas “referências”. Esta mesma Dilma levou a cabo a revisão do Código Florestal, contemplando ainda mais os interesses dos latifundiários e do agronegócio. Como se vê, a Rio+20 e a “Cúpula dos Povos” são atividades diversionistas para encobrir os reais e mais candentes problemas que a humanidade enfrenta nos dias atuais: a ofensiva imperialista através de suas guerras neocolonialistas e o ataque aos mais elementares direitos de existência dos trabalhadores. Agora mesmo está em curso no Oriente Médio sob o tacão da ONU e dos EUA sob o comando da madame Clinton, uma guerra colonialista sob a fachada da “revolução árabe” que na Líbia matou mais de 200 mil pessoas para abocanhar seus recursos naturais e segue em sua sanha assassina ao tentar desestabilizar o governo sírio. O que nos dizem os organizadores da Rio+20, da Cúpula dos Povos e até mesmos os “ecossocialistas” como Lowy e o NPA francês que apoiou a invasão da OTAN na Líbia em nome da defesa dos “direitos humanos”? Temos que apoiar os “rebeldes” que combatem as “ditaduras sanguinárias” nos proclama cinicamente este conluio reformista. Mais uma farsa, os mercenários líbios e sírios patrocinados pela CIA são na verdade porta-vozes das grandes transnacionais petrolíferas, ávidas por dominar territórios e as riquezas das nações oprimidas.

E, afinal de contas, quais são as “polêmicas” entre a Rio+20 e a Cúpula dos Povos? Os primeiros querem levar a frente os interesses dos grandes grupos econômicos fingindo a preocupação com o meio ambiente, como relata o texto da ONU: “Discutir a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável (governança)”. Já os organizadores da Cúpula “paralela” desejam fazer ajustes nestes planos oficiais, mas ambos tem como unidade pétrea a manutenção do capitalismo. Vejamos o que nos diz a convocatória da Cúpula dos Povos: “A pauta prevista para a Rio+20 oficial – a chamada ‘economia verde’ e a institucionalidade global – é considerada por nós como insatisfatória para lidar com a crise do planeta, causada pelos modelos de produção e consumo... Queremos, assim, transformar o momento da Rio+20 numa oportunidade para tratar dos graves problemas enfrentados pela humanidade e demonstrar a força política dos povos organizados. ‘Venha reinventar o mundo’ é o nosso chamado e o nosso convite à participação para as organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo”. Como se vê, as discussões entre as tendências burguesas e pequeno-burguesas do chamado “ecocapitalismo” sobre até onde é possível tomar medidas de pretensa proteção ao meio ambiente e ao equilíbrio climático, não pode reconhecer o caráter anárquico da produção mercantil e a impossibilidade de conter o saque da natureza com meios e métodos capitalistas. O saque e a destruição do homem e da natureza são consequências do modo de produção, apropriação e distribuição capitalistas, que não tem como ser planejada e racionalizada, mas sim liquidada pelos trabalhadores.

Já os “ecossocialistas” tentam colocar-se um passo à esquerda dos “ecocapitalistas”. Segundo Lowy “O reformismo ‘verde’ aceita as regras da ‘economia de mercado’, isto é, do capitalismo; busca soluções que seja aceitáveis, ou compatíveis, com os interesses de rentabilidade, lucro rápido, competitividade no mercado e ‘crescimento’ ilimitado das oligarquias capitalistas. Isto não quer dizer que os partidários de uma alternativa radical, como o ecossocialismo, não lutam por reformas que permitam limitar o estrago: proibição dos transgênicos, abandono da energia nuclear, desenvolvimento das energias alternativas, defesa de uma floresta tropical contra multinacionais do petróleo (Parque Yasuni!), expansão e gratuidade dos transportes coletivos, transferência do transporte de mercadorias do caminhão para o trem, etc”. Em resumo, os ecossocialistas são os “consequentes” defensores das reformas e da “verdadeira” cidadania, enquanto abominam os métodos de ação direta da classe operária para impor suas reivindicações, únicas que podem derrotar os capitalistas genocidas.

Não nos estranha que os promotores da Cúpula dos Povos abominem a defesa da revolução agrária em nome das “reformas” que o imperialismo e a burguesia venham a oferecer pela via estatal. Por isso, atuam como grupo de pressão sobre os governos burgueses, no papel de conselheiros de esquerda de seus programas eco-ambientais. Não por coincidência no Brasil, tendo como parceiros o PSTU e o PSOL, ambos “ecossocialistas”, esse ambientalistas atuam em conjunto com as ONGs manipuladas pelo imperialismo ianque para se passarem como “baluarte das florestas”. Nós revolucionários, ao contrário, defendemos que a verdadeira defesa do meio-ambiente só pode ser realizada através da aliança do campesinato pobre com o proletariado do campo e da cidade através da luta pela revolução agrária que exproprie os latifundiários através da construção de comitês de autodefesa armados, preservando a vida dos lutadores ameaçados pelo terror dos grandes proprietários, acobertados pela frente popular.

Para os marxistas revolucionários é preciso denunciar tanto a farsa da Rio+20 como a Cúpula dos Povos assim como o reformismo “ecossocialista”. Nesse sentido, o combate efetivo em defesa das reservas naturais, jamais poderá ser realizado em aliança política com empresários, ONGs e setores ligados ao imperialismo e seu projeto de “capital verde”. Somente o proletariado mundial, urbano e rural, e seus aliados históricos como o campesinato pobre, será capaz de travar uma luta consequente para expropriar o latifúndio, as grandes empresas e os monopólios por meio da luta pela revolução proletária e o socialismo!