Neste dia 13 de junho começou a “Rio+20” com a
presença da presidente Dilma Rousseff. Está prevista a chegada da madame
Clinton e do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. Paralelo à Conferência das
Nações Unidas para o meio-ambiente, ocorre a “Cúpula dos Povos por Justiça
Social e Ambiental”. Os dois eventos, um promovido pela ONU e o outro por ONGs
e “entidades da sociedade civil” (CUT, Via Campesina, UNE...) ligadas ao Fórum
Social Mundial e apoiadas por ninguém menos que a Fundação Ford, são duas faces
da mesma política “ecocapitalista” levada a cabo pelo imperialismo e seus
governos títeres da centro-esquerda burguesa com o ajuda dos chamados
“movimentos sociais” completamente cooptados pela agenda da “economia verde de
mercado”. Como “ala esquerda” da Cúpula dos Povos estão os defensores do
chamado “ecossocialismo”, cujo principal porta-voz é Michael Lowy, que visa
colocar como centro da defesa da necessidade histórica do socialismo a questão
ambiental e não a luta de classes que tenha o proletariado como vanguarda da
emancipação humana.
O que une os “ecocapitalistas” que se proclamam tão
preocupados com o planeta Terra é um programa de violento ataque às condições
de vida do homem, o principal vetor das forças produtivas da humanidade,
enquanto fingem defender os recursos naturais. Ao denunciar a farsa em torno da
Rio+20 e da própria “Cúpula das Povos” dizemos claramente que só a revolução
socialista, com a expropriação da burguesia em nível mundial e a liquidação do
modo de produção capitalista podem por um fim às forças destrutivas, às guerras
e aos monopólios predadores que ameaçam a existência da humanidade. Nesse
sentido, fazemos também a polêmica com os próprios “ecossocialistas” que buscam
novas vanguardas justamente para negar a luta de classes como motor da história
e o método da violência revolucionária e a ditadura do proletariado como únicos
meios capazes de salvar a humanidade da barbárie capitalista.
Não por acaso, Lowy nos diz que “O objetivo do
ecossocialismo é o de uma transformação radical, a transição para um novo
modelo de civilização, baseado em valores de solidariedade, democracia participativa,
preservação do meio ambiente. Mas a luta pelo ecossocialismo começa aqui e
agora, em todas as lutas sócio-ecológicas concretas que se enfrentam, de uma
forma ou de outra, com o sistema. A única esperança então são os movimentos
socais e aquelas ONGs que são ligadas a estes movimentos (outras são simples
“conselheiros verdes” do capital). O movimento camponês – Via Campesina –, os
movimentos indígenas e os movimentos de mulheres estão na primeira linha deste
combate; mas também participam, em muitos países, os sindicatos, as redes
ecológicas, a juventude escolar, os intelectuais, várias correntes da esquerda.
O Fórum Social Mundial é uma das manifestações desta convergência na luta por
um ‘outro mundo possível’, onde o ar, a água, a vida, deixarão de ser
mercadorias”. (Entrevista com Michel Lowy, 24 de marco de 2012). Não há nenhuma
referência ao proletariado como classe revolucionária e a necessidade do
Partido Comunista, que é substituído por ONGs e “redes ecológicas” partidárias
de um “novo modelo de civilização”, algo bem longe do comunismo, já que esses
reformistas não querem ser identificados com Lênin e suas “fórmulas
ultrapassadas”!
Ironicamente, o Brasil que pela segunda vez sedia a
Conferência da ONU, tem um governo de frente popular que une em seu ministério
tanto representantes do evento oficial como do “alternativo” e até mesmo
“ecossocialistas” como chega a se proclamar a corrente petista Democracia
Socialista (PT) que tem em Lowy uma de suas “referências”. Esta mesma Dilma
levou a cabo a revisão do Código Florestal, contemplando ainda mais os
interesses dos latifundiários e do agronegócio. Como se vê, a Rio+20 e a
“Cúpula dos Povos” são atividades diversionistas para encobrir os reais e mais
candentes problemas que a humanidade enfrenta nos dias atuais: a ofensiva
imperialista através de suas guerras neocolonialistas e o ataque aos mais
elementares direitos de existência dos trabalhadores. Agora mesmo está em curso
no Oriente Médio sob o tacão da ONU e dos EUA sob o comando da madame Clinton,
uma guerra colonialista sob a fachada da “revolução árabe” que na Líbia matou
mais de 200 mil pessoas para abocanhar seus recursos naturais e segue em sua
sanha assassina ao tentar desestabilizar o governo sírio. O que nos dizem os
organizadores da Rio+20, da Cúpula dos Povos e até mesmos os “ecossocialistas”
como Lowy e o NPA francês que apoiou a invasão da OTAN na Líbia em nome da
defesa dos “direitos humanos”? Temos que apoiar os “rebeldes” que combatem as
“ditaduras sanguinárias” nos proclama cinicamente este conluio reformista. Mais
uma farsa, os mercenários líbios e sírios patrocinados pela CIA são na verdade
porta-vozes das grandes transnacionais petrolíferas, ávidas por dominar
territórios e as riquezas das nações oprimidas.
E, afinal de contas, quais são as “polêmicas” entre a
Rio+20 e a Cúpula dos Povos? Os primeiros querem levar a frente os interesses
dos grandes grupos econômicos fingindo a preocupação com o meio ambiente, como
relata o texto da ONU: “Discutir a economia verde no contexto do
desenvolvimento sustentável e o quadro institucional para o desenvolvimento
sustentável (governança)”. Já os organizadores da Cúpula “paralela” desejam
fazer ajustes nestes planos oficiais, mas ambos tem como unidade pétrea a
manutenção do capitalismo. Vejamos o que nos diz a convocatória da Cúpula dos
Povos: “A pauta prevista para a Rio+20 oficial – a chamada ‘economia verde’ e a
institucionalidade global – é considerada por nós como insatisfatória para
lidar com a crise do planeta, causada pelos modelos de produção e consumo...
Queremos, assim, transformar o momento da Rio+20 numa oportunidade para tratar
dos graves problemas enfrentados pela humanidade e demonstrar a força política
dos povos organizados. ‘Venha reinventar o mundo’ é o nosso chamado e o nosso
convite à participação para as organizações e movimentos sociais do Brasil e do
mundo”. Como se vê, as discussões entre as tendências burguesas e pequeno-burguesas
do chamado “ecocapitalismo” sobre até onde é possível tomar medidas de pretensa
proteção ao meio ambiente e ao equilíbrio climático, não pode reconhecer o
caráter anárquico da produção mercantil e a impossibilidade de conter o saque
da natureza com meios e métodos capitalistas. O saque e a destruição do homem e
da natureza são consequências do modo de produção, apropriação e distribuição
capitalistas, que não tem como ser planejada e racionalizada, mas sim liquidada
pelos trabalhadores.
Já os “ecossocialistas” tentam colocar-se um passo à
esquerda dos “ecocapitalistas”. Segundo Lowy “O reformismo ‘verde’ aceita as
regras da ‘economia de mercado’, isto é, do capitalismo; busca soluções que
seja aceitáveis, ou compatíveis, com os interesses de rentabilidade, lucro
rápido, competitividade no mercado e ‘crescimento’ ilimitado das oligarquias
capitalistas. Isto não quer dizer que os partidários de uma alternativa
radical, como o ecossocialismo, não lutam por reformas que permitam limitar o
estrago: proibição dos transgênicos, abandono da energia nuclear,
desenvolvimento das energias alternativas, defesa de uma floresta tropical
contra multinacionais do petróleo (Parque Yasuni!), expansão e gratuidade dos
transportes coletivos, transferência do transporte de mercadorias do caminhão
para o trem, etc”. Em resumo, os ecossocialistas são os “consequentes”
defensores das reformas e da “verdadeira” cidadania, enquanto abominam os
métodos de ação direta da classe operária para impor suas reivindicações, únicas
que podem derrotar os capitalistas genocidas.
Não nos estranha que os promotores da Cúpula dos Povos
abominem a defesa da revolução agrária em nome das “reformas” que o
imperialismo e a burguesia venham a oferecer pela via estatal. Por isso, atuam
como grupo de pressão sobre os governos burgueses, no papel de conselheiros de
esquerda de seus programas eco-ambientais. Não por coincidência no Brasil,
tendo como parceiros o PSTU e o PSOL, ambos “ecossocialistas”, esse
ambientalistas atuam em conjunto com as ONGs manipuladas pelo imperialismo
ianque para se passarem como “baluarte das florestas”. Nós revolucionários, ao
contrário, defendemos que a verdadeira defesa do meio-ambiente só pode ser
realizada através da aliança do campesinato pobre com o proletariado do campo e
da cidade através da luta pela revolução agrária que exproprie os
latifundiários através da construção de comitês de autodefesa armados,
preservando a vida dos lutadores ameaçados pelo terror dos grandes
proprietários, acobertados pela frente popular.
Para os marxistas revolucionários é preciso denunciar
tanto a farsa da Rio+20 como a Cúpula dos Povos assim como o reformismo “ecossocialista”.
Nesse sentido, o combate efetivo em defesa das reservas naturais, jamais poderá
ser realizado em aliança política com empresários, ONGs e setores ligados ao
imperialismo e seu projeto de “capital verde”. Somente o proletariado mundial,
urbano e rural, e seus aliados históricos como o campesinato pobre, será capaz
de travar uma luta consequente para expropriar o latifúndio, as grandes
empresas e os monopólios por meio da luta pela revolução proletária e o
socialismo!