O IBGE divulgou os dados do crescimento do primeiro
trimestre do PIB em 2012 que, na projeção anualizada, estariam bem longe de
alcançar a meta de 4,5% pretendida pela presidente Dilma. A variação de apenas
0,2% em relação ao trimestre anterior (2011) projeta uma evolução do PIB na
casa de 2,9%, ou seja, praticamente o mesmo resultado obtido pela economia em
2011. Os catastrofistas da “oposição de esquerda” logo saíram a prenunciar a
tão aguardada chegada do “colapso da economia nacional”, em um ato de desespero
para encobrir sua própria impotência política diante de uma conjuntura
abertamente favorável a frente popular. As “viúvas de Cassandra”, como o PSTU e
similares, sonham com a estagnação da economia brasileira não para impulsionar
a ação direta das massas contra a ofensiva do capital, mas para quem sabe poder
eleger algum vereador na carona de um possível débâcle do governo petista e
seus aliados corruptos regionais. “Videntes” desde 2008 de um colapso final do
capitalismo, o máximo que este amálgama de revisionistas conseguiu foi
aprofundar ainda mais o curso direitista de suas intervenções na luta de
classes, transformando-se em um verdadeiro bloco político de lobby parlamentar
de poucos “resultados”. Acontece que se o país está bem longe das taxas de
crescimento da economia chinesa, algo em torno de 8% ao ano, manter a
estabilidade de um ritmo positivo de cerca de 3% do PIB em meio a uma retração
generalizada do mercado mundial, de modo algum significa o limiar do “armagedon”.
A leitura equivocada do ciclo da crise estrutural do modo de produção
capitalista, feita pela “oposição de esquerda”, não ajuda em nada a formação da
consciência de classe do proletariado, ao contrário o economicismo
catastrofista só fortalece o viés oportunista de uma plataforma voltada para as
eleições burguesas de 2012.
Mas, sem a menor sombra de dúvida, a expectativa do
comando político do Planalto e seus acólitos era reeditar o nível de
crescimento econômico alcançado em 2010, uma meta de pelo menos 5% ao ano,
repetindo a sensação do “milagre” da Era Lula. Vários fatores influenciaram
para um desempenho apenas “regular” da economia em 2012, sendo o principal a
queda nas exportações de commodities agrominerais para o mercado asiático.
Neste campo, a equipe econômica neomonetarista de Mantega tratou logo de “equilibrar”
a balança comercial da maneira mais torpe possível, ou seja, desvalorizando
nossa moeda para favorecer o Dólar. Por sinal, uma medida reivindicada por anos
tanto pelo agronegócio, como pela “oposição de esquerda” que reclamavam da
sobrevalorização do Real como um fator de retração econômica. Agora, com a
possibilidade da retomada da escalada inflacionária estes mesmos setores da
oposição reformista “acordaram” para se queixarem da desnacionalização da
economia, ancorada na disparada do Dólar. Com um Real “barato” só no mês de
maio duas grandes empresas brasileiras do ramo alimentício e de bebidas (Yoki e
Ypioca) foram vendidas na “bacia das almas” por mais de um bilhão de reais cada
uma.
Também a queda da taxa referencial dos juros, SELIC,
no pagamento dos spreads dos títulos do Tesouro Nacional, provocou a diminuição
imediata dos investimentos financeiros internacionais no mercado de capital
brasileiro. Como assinalou o periódico imperialista “The Economist”, o Brasil
deixou de ser o “queridinho” dos rentistas de Wall Street, apesar de suas taxas
de juros ainda permanecerem bastante atraentes para estes parasitas do cassino
global. As constantes quedas no índice das ações na BOVESPA, ocorrida neste primeiro
semestre, reflete diretamente na depreciação dos ativos das principais empresas
brasileiras pressionando para baixo o PIB nacional. Com a financeirização da
economia global, em meio ao crash bursátil europeu (Espanha e Grécia no centro
da tormenta), o país não poderia sair incólume desta turbulenta etapa, a não
ser rompendo com a lógica da acumulação de capital, o que passa bem distante
dos ideais programáticos deste governo “cipayo” da frente popular.
Para manter um patamar estável mínimo de crescimento
do PIB em 2012, diante da crise mundial, o governo optou novamente pela
alternativa dos subsídios e renúncia fiscal para os grandes grupos
capitalistas, uma saída política que sempre agrada a burguesia e seus “agentes”
no movimento operário. Esta variante utilizada em 2008, por Lula e que lhe
rendeu a eleição de um poste nas eleições presidenciais de 2010, agora sofre
resistência no interior da própria equipe econômica palaciana, que combate pela
“ortodoxia” de um rígido superávit primário determinado pelo FMI. De toda
maneira, a solução de “compromisso” encontrada pelas duas alas do governo (neodesenvolvimentistas
e monetariatas) envolve um duro ajuste fiscal e corte em investimentos estatais
nas áreas sociais, sem falar, é claro, no “consenso geral” em arrochar os
salários do funcionalismo público. Fora este “pacote de maldades”, o governo
seguirá induzindo o crescimento econômico pelo afrouxamento das linhas de
crédito e inflacionando o orçamento federal com os gastos das obras dos “megaeventos”
e infraestrutura nacionais. Como reflexo imediato destas medidas, as vendas do
comércio no mês de maio (eletrodomésticos, materiais de construção e veículos)
bateram um recorde dos últimos cinco anos, apontando um cenário completamente
distinto de uma depressão econômica.
Para se estabelecer uma política revolucionária, de
combate frontal ao engodo da colaboração de classes deste projeto de “poder” da
frente popular, não é necessário mentir as massas como sistematicamente faz a “oposição
de esquerda”. Não será com previsões que o “fim do mundo” está próximo, do tipo
“irmã jurema”, que os genuínos comunistas “disputarão” as mentes mais
classistas do proletariado, com o arco de apoio do PT e sua asquerosa entourage
política. Desde quando os marxistas-leninistas não sabem combater em momentos
de refluxo ideológico do movimento, precisando iludir a classe operaria com
análises triunfalistas? A verdade é sempre revolucionária, e neste momento é
necessário dizer que o governo Dilma detém a iniciativa política, lastreado em
uma momentânea conjuntura econômica relativamente favorável, apesar do
esgotamento histórico do desenvolvimento das forças produtivas em todo o
planeta. Armados desta compreensão concreta da realidade, os trabalhadores e o
povo oprimido não devem nutrir a menor expectativa política em caminhos “institucionais”
para o atual impasse da luta de classes, mais que nunca mantém-se a atualidade
teórica da dijuntiva: “socialismo ou barbárie”.