Passados os procedimentos clínicos da quimioterapia e
radioterapia do câncer do ex-presidente Lula, há cerca de dois meses, não
faltaram manchetes “plantadas” na mídia “murdochiana” sobre a completa cura (sem
o menor resquício do tumor na laringe) do “capo” maior do PT. Mas, a realidade
mostrava outro cenário, o que se podia ver era um Lula abatido, física e
psicologicamente, bastante distante das promessas que o partido fazia de
colocá-lo “full time” nas principais campanhas petistas para as eleições
municipais de outubro próximo. Há cerca de um mês, no lançamento oficial da “comissão
da verdade” em Brasília, Lula posava com os octogenários ex-presidentes Sarney
e FHC, parecia o mais velho dos três carregado pela mão da presidenta Dilma que
aparentava uma excitação desproporcional. Enquanto a candidatura do ex-ministro
da educação, Fernando Haddad, afundava na capital paulista a espera da presença
do “grande líder”, Lula era atacado sem piedade pelo odiado ministro Gilmar
Mendes, sem esboçar a mínima capacidade de reação política, e o que é pior, sem
o menor apoio da “tropa de choque” do Palácio do Planalto. Agora nos chega a
notícia de uma nova e inesperada internação hospitalar, nesta quarta-feira,
13/06. Segundo a assessoria de imprensa de Lula, a internação no Sírio-Libanês
(prevista para quatro dias) era necessária para a colocação de um cateter para
a reavaliação da laringe. Fica absolutamente cristalino, para além dos artigos “encomendados”
na mídia, que o quadro de saúde de Lula é bastante frágil e que está aberta no
interior do PT uma disputa feroz pela “construção” de uma nova liderança, com
vistas é claro para a sucessão presidencial de 2014.
O julgamento dos “mensaleiros” petistas pelo STF, sob
pressão marcado para agosto, cumpre um papel determinante para a sedimentação
de uma nova correlação de forças no campo da frente popular. Com uma conjuntura
politicamente favorável ao governo Dilma, que mantém a economia estável diante
das turbulências financeiras internacionais, o Julgamento da entourage de José
Dirceu pela corte maior parecia até bem pouco tempo uma questão já superada
pela história, tudo indicava para uma ampla absolvição de todos os petistas
envolvidos no esquema do “Valerioduto”. Mas com a incapacidade de Lula em
defender vigorosamente seus “bons companheiros”, entra em cena o novo
personagem da ex-presidenta “poste”, interessada pessoalmente em decapitar a
turma da “Articulação”, atual “Campo Majoritário” do PT. Ao que tudo aponta, os
“mensaleiros” receberão uma punição exemplar do STF, podendo parar diretamente
no presídio da Papuda, sob os auspícios jurídicos da burguesia que cobra de
Dilma “pronta” para a reeleição, uma depuração rígida no interior do PT.
No curso deste processo político, onde as dúvidas
acerca do quadro real da saúde de Lula passam a ter um peso enorme, ocorrem as
eleições municipais, que despertam o interesse direto dos aliados burgueses do
PT. Também os Demo-Tucanos em estado semifalimentar, vislumbraram alguma
perspectiva eleitoral em outubro, diante do impasse que paralisa as principais
forças petistas. A orientação política dada pelo Planalto foi a de sabotar os
prefeituráveis identificados com o grupo de Dirceu, fomentando candidaturas dos
partidos da base aliada, como o PSB e PMDB. Lula ainda atônito diante da
ofensividade de um governo que parecia anteriormente um fantoche seu, deve
permanecer “neutralizado” por razões óbvias.
Os trabalhadores não devem nutrir a menor expectativa
no circo armado das próximas eleições municipais. A ausência de uma ferramenta
revolucionária dos explorados vem permitindo que o movimento de massas assista
passivo a todos os confrontos interburgueses ocorridos no último período da
luta de classes. O proletariado deve construir seu próprio projeto de poder,
superando o estágio atual do sindicalismo de “resultados” e das greves
economicistas que em nada contribuem para a formação de sua consciência
revolucionária de classe. As receitas postas pela burguesia e seus principais
partidos (PT, PSB, PSDB e PMDB) de um capitalismo “ sustentável” já se
mostraram falidas historicamente. Não será nenhuma eleição que terá a
capacidade de “mudar o mundo”, como pregam os revisionistas de todas as
latitudes. Somente a ação direta da classe operária, no sentido de demolir
violentamente as instituições apodrecidas desta república dos barões
capitalistas, representará algo verdadeiramente novo neste horizonte de
estancamento das forças produtivas da humanidade.