As jornadas de junho mostraram que o ciclo estatal do PT está esgotado?
Hoje um debate cruza o
meio político, da extrema-esquerda à direita todas as análises lançam o “enigma”,
as multitudinárias jornadas de junho revelaram o esgotamento do ciclo petista
na gerência do Estado capitalista? Candidato a responder esta questão, o decano
Tucano José Serra em conferência nacional realizada ontem (24/07) assevera o
seguinte: “Me lembra os últimos seis meses do governo Jango e os últimos dias
do governo Collor”, para depois concluir: “O ciclo do lulismo acabou, e o pior
é que o governo não está apresentando uma alternativa para a superação desse
modelo”. Caracterização semelhante a esta é compartilhada pelo conjunto da
esquerda revisionista argentina (e seus respectivos apêndices brasileiros).
Para este segmento político é correto afirmar que o: “Gigante acordou” (o mesmo
mote da reação tupiniquim!) e que em: “Junho: um novo país surgiu das maiores
mobilizações” (Site da LER, afiliada ao PTS argentino). Já para o Partido
Obrero (PO) e seu consultor “brargentino” Osvaldo Coggiola, a crise mundial
teria finalmente chegado ao Brasil e encerrado o “milagre Lulista” ancorado na
China. Mas, será mesmo que o móvel das mobilizações populares que cortaram o
país teria sido uma conjuntura econômica de “caos”, como tentam demonstrar a
oposição burguesa conservadora e seus “colegas” da esquerda revisionista? Que “novo”
país teria surgido após junho, estaríamos enfim vivendo os últimos estertores
do governo da Frente Popular?
Em primeiro lugar, para dissipar a “ignorância” dos charlatães de “esquerda” é necessário dizer que o país continua exatamente o mesmo, o Estado burguês mantém absolutamente intacta suas instituições de dominação e regime político (governo e parlamento), sequer foi abalado pelos massivos protestos nacionais. Estivemos bem distantes de atravessar qualquer crise revolucionária de poder, e somente na mente ficcional de revisionistas como Valério Arcary (PSTU) a burguesia perdeu suas noites de sono com medo dos protestos, vejamos até onde pode chegar o delírio do dirigente Morenista: “Ontem, toda a ordem econômica, social e política que preserva o Brasil como um dos países mais injustos do mundo tremeu. Eles não podiam ir dormir.” (Blog da Convergência18/06). Nesta “versão” messiânica da realidade estivemos na borda de impor o socialismo, “derrubando” a ordem social capitalista com as jornadas de junho. Só o completo desconhecimento da teoria marxista da luta de classes é capaz de produzir “pérolas” do prognóstico catastrofista como estas da LER, PSTU, PO etc... Como nos ensinou Lenin, a configuração de uma crise revolucionária requer a dualidade de poderes, entre “os de cima e os de baixo”. Exatamente neste confronto do embrião de poder das massas e o poder decadente da burguesia emerge uma situação revolucionária. Mas, deixando um pouco de lado os disparates lançados por uma “esquerda” que perdeu completamente a referência nos conceitos do Leninismo, é importantíssimo definir duas questões sobre junho, a saber o móvel político das mobilizações e a capacidade de sobrevivência estatal do projeto da Frente Popular em um quadro político de continua perda de apoio popular.
Em primeiro lugar, para dissipar a “ignorância” dos charlatães de “esquerda” é necessário dizer que o país continua exatamente o mesmo, o Estado burguês mantém absolutamente intacta suas instituições de dominação e regime político (governo e parlamento), sequer foi abalado pelos massivos protestos nacionais. Estivemos bem distantes de atravessar qualquer crise revolucionária de poder, e somente na mente ficcional de revisionistas como Valério Arcary (PSTU) a burguesia perdeu suas noites de sono com medo dos protestos, vejamos até onde pode chegar o delírio do dirigente Morenista: “Ontem, toda a ordem econômica, social e política que preserva o Brasil como um dos países mais injustos do mundo tremeu. Eles não podiam ir dormir.” (Blog da Convergência18/06). Nesta “versão” messiânica da realidade estivemos na borda de impor o socialismo, “derrubando” a ordem social capitalista com as jornadas de junho. Só o completo desconhecimento da teoria marxista da luta de classes é capaz de produzir “pérolas” do prognóstico catastrofista como estas da LER, PSTU, PO etc... Como nos ensinou Lenin, a configuração de uma crise revolucionária requer a dualidade de poderes, entre “os de cima e os de baixo”. Exatamente neste confronto do embrião de poder das massas e o poder decadente da burguesia emerge uma situação revolucionária. Mas, deixando um pouco de lado os disparates lançados por uma “esquerda” que perdeu completamente a referência nos conceitos do Leninismo, é importantíssimo definir duas questões sobre junho, a saber o móvel político das mobilizações e a capacidade de sobrevivência estatal do projeto da Frente Popular em um quadro político de continua perda de apoio popular.
A primeira pergunta a
ser respondida é, porque milhões de pessoas foram às ruas protestar, sem que
houvesse um eixo centralizado de reivindicações. Estamos nos referindo
logicamente ao momento posterior às passeatas do Passe Livre, que conquistaram
o congelamento parcial das tarifas dos transportes urbanos. A ausência de um
centro unificado de demandas nas mobilizações é consequência direta do momento
econômico relativamente estável que atravessa o país, ou seja, não existe um
pico de desemprego, nem tampouco a inflação da cesta básica está fora de
controle (como falsamente tenta provar o PIG), o consumo e a poupança interna
batem recordes e, por último, a renda salarial média apresenta pela primeira
vez um pequeno ganho real nos curso de dez anos. Em resumo, se não estamos
vivendo no “paraíso”, a economia capitalista brasileira está longe de
apresentar sinais de “default” como ocorre em alguns países periféricos da
Europa. Neste marco, o descontentamento da juventude e dos setores populares
que se mobilizaram (estamos aí excluindo os milhares de “protestantes”
reacionários da classe média alta) tem razões sociais mais profundas do que a
de uma crise política conjuntural ou mesmo uma falência precoce do governo da
Frente Popular.
A entrada organizada do
movimento operário nas mobilizações poderia alterar o panorama político do
país, mas as paralisações do dia 11/07 ficaram limitadas a setores parciais da
produção e serviços essenciais, em função da orientação ultraburocrática das centrais
sindicais governistas. A nova convocatória para um dia de “luta” no final de
agosto deve seguir o mesmo “script”, servindo de fato como uma alavanca para o
início das campanhas salariais de setembro. A ausência de uma direção
proletária e genuinamente de esquerda nas mobilizações contribuíram em muito
para “diluir” a construção nacional de uma pauta progressista, livre da influência
dos segmentos direitistas que introduziram bandeiras reacionárias nos
protestos.
Como se tratou de um
movimento de massas difuso e sem direção programática, o timbre histórico das
jornadas de junho deve ser creditado não ao sentimento de oposição direcionada
ao governo do PT, como foi o das “Diretas já” em relação ao regime militar ou o
“Fora Collor”, mas a sensação generalizada de descontentamento da maioria
população com um modo de produção capitalista baseado em valores exclusivamente
do mercado de consumo. No regime do capital financeiro tudo se transforma em
mercadoria, saúde a educação e cultura (não confundir com entretenimento) são
acessíveis apenas mediante pagamento a vista ou crédito. Neste universo de
produção mercantilizada, as gerências estatais (sejam neoliberais ou
nacionalistas) apenas administram a crise da civilização com doses
homeopáticas, algumas muito amargas como os Tucanos ou mais “suaves” como o PT.A experiência concentrada do quadro Lula soube redirecionar( com o apoio da burguesia nacional) o mercado exportador brasileiro para novas fronteiras, descolando o país do "naufrágio" econômico norte-americano, e nisto consiste o "milagre" petista que ainda está em plena vigência.
O modelo de gestão da
colaboração de classes da Frente popular sai profundamente arranhado desta
conjuntura, não por razões de um colapso político e econômico prematuro
galvanizado pela ira popular, mas porque repousa em um “vulcão” capitalista de
imensas contradições sociais que apenas estão “amortecidas” por medidas
superficiais, de aparente mobilidade econômica das camadas mais pauperizadas da
população. Como gestor deste modo de produção baseado na acumulação privada,
que exclui milhões de pessoas dos serviços mais elementares de uma sociedade “moderna”,
o governo do PT sabe das limitações em que opera na arena social e política e não se propõe a transformá-la. Os
artifícios da “bolha de crédito” e “gordura” monetária do caixa estatal não
podem eliminar a incapacidade estrutural do capitalismo em contemplar as
aspirações básicas dos trabalhadores. Mais além de um esgotamento cíclico dos
governos do PT, que apesar do “sufoco” (leia-se Marina Silva) deve ser
reconduzido para mais uma gestão estatal pelas classes dominantes, estamos
diante da falência histórica do capital, incapaz de desenvolver as forças
produtivas da humanidade!