Flip 2013: Uma “homenagem” a Graciliano Ramos sob a ótica da pequena burguesia anticomunista
Iniciou-se nesta semana,
a 11ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), uma pequena
cidade do Rio de Janeiro, que escolheu como homenageado deste ano o escritor
Graciliano Ramos, filiado ao velho “Partidão” (PCB) desde os anos 40 até a sua
morte em 1953. Trata-se de um megaevento patrocinado pelos governos federal e
estadual, empresas privadas (Banco Itaú) que reúne em um só local não apenas
escritores e a literatura, mas envolve a arquitetura e outras artes plásticas
para o qual já afluíram cerca de 25 mil pessoas. Só para termos uma pequena
ideia acerca do caráter político da Flip, as principais “estrelas” convidadas
são o ex-ministro da cultura do governo Lula, Gilberto Gil, o escritor egípcio
Tamin Al-Bargliout, batizado pela imprensa “murdochiana” como o “poeta da
Primavera Árabe”, Pablo Capilé, da rede “Fora do Eixo”, um dos expoentes
intelectuais do antipartidarismo nas manifestações de rua que varreram o país
nas últimas semanas, ou seja, o suprassumo da intelectualidade pequeno-burguesa
anticomunista. Os organizadores da “festa” tentaram seguir o “embalo” dos
grandes protestos nacionais, só que através de seu viés mais atrasado,
direitista e reacionário em suas concepções e formulações pequeno-burguesas: o
antipartidarismo difundido e imposto pela Rede Globo e seu subsequente
anticomunismo raivoso como forma de disciplinar o movimento de massas sob a
ótica do PIG. O que temos presenciado nas mesas expositivas do evento foi a sua
desvirtualização acintosa da vida e obra de Graciliano apresentada como exemplo
de “ética na política”. Como exemplo disto, o discurso de abertura feito por
Milton Hatoum, onde proferiu verdadeiras asneiras elogiando Graciliano por ser
“um político responsável com relação a gastos públicos” quando prefeito de
Palmeira dos Índios (uma pequena cidade do interior de Alagoas) em 1928, revela
com fidelidade o real “espírito” da Flip, ou seja, desvirtua totalmente o
significado da obra e a própria trajetória política do “velho Graça”, um
simpatizante ativo do programa comunista.
Diametralmente oposto a este “espírito” que tenta prostituir o significado revolucionário de Graciliano Ramos e sua denúncia da miséria social imposta pelo capitalismo e as velhas oligarquias políticas do Nordeste brasileiro, como vemos em “São Bernardo”, “Angústia” e “Vidas Secas”. Os marxistas leninistas sabem que o escritor comunista era totalmente avesso ao academicismo oco das universidades e aos “críticos literários” de ocasião (que pululam na Flip) e não tinha nada a ver com o atual conceito de “ética na política” como móvel de gerencia “responsável” do capitalismo que tanto denunciou. Neste sentido, eis o que diz Dênis de Moraes, o biógrafo de Graciliano: “Graciliano nos chama a atenção para a coerência ética, ele que teve um absoluto respeito pelas coisas públicas. Se vivo fosse, Graciliano estaria apoiando de forma entusiástica às manifestações. Pedindo mais e mais. E antes estaria denunciando a posição letárgica do país”. Como podemos constatar, a pequena burguesia reverencia-o como um prefeito que “não roubou o erário público”, o que é uma enorme idiotice, porque mesmo gerindo uma prefeitura burguesa nunca seguiu à risca o que lhe determinava o regime político: mandava soltar os presos da cidade para que trabalhassem em obras públicas de primeira necessidade do povo e exerceu o cargo apenas por dois anos até renunciar, uma vez que chegou a conclusão da inviabilidade de “gerenciar” o capitalismo, ainda que em um pequeno município cruzado pelas contradições entre as demandas do povo faminto e o controle das oligarquias. A respeito de sua “gestão” e “estrelato” literário afirmava com sarcasmo e ironia: “Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram. Veja o senhor como coisas aparentemente inofensivas inutilizam um cidadão. Depois que redigi esses infames relatórios, os jornais e o governo resolveram não me deixar em paz. Houve uma série de desastres: mudanças, intrigas, cargos públicos, hospital...” (carta ao tradutor argentino Raúl Navarro, 1937). Sem papas na língua gostava de dizer em voz alta para todo mundo ouvir: “Não me sento à mesa com patrão. Todo patrão é filho da puta!”. Em resumo, Graciliano rompeu com o status quo dominante ao denunciar em suas obras e como “político” as mazelas expostas do capitalismo, defendo sua superação como objetivo estratégico para o futuro da humanidade!
Diametralmente oposto a este “espírito” que tenta prostituir o significado revolucionário de Graciliano Ramos e sua denúncia da miséria social imposta pelo capitalismo e as velhas oligarquias políticas do Nordeste brasileiro, como vemos em “São Bernardo”, “Angústia” e “Vidas Secas”. Os marxistas leninistas sabem que o escritor comunista era totalmente avesso ao academicismo oco das universidades e aos “críticos literários” de ocasião (que pululam na Flip) e não tinha nada a ver com o atual conceito de “ética na política” como móvel de gerencia “responsável” do capitalismo que tanto denunciou. Neste sentido, eis o que diz Dênis de Moraes, o biógrafo de Graciliano: “Graciliano nos chama a atenção para a coerência ética, ele que teve um absoluto respeito pelas coisas públicas. Se vivo fosse, Graciliano estaria apoiando de forma entusiástica às manifestações. Pedindo mais e mais. E antes estaria denunciando a posição letárgica do país”. Como podemos constatar, a pequena burguesia reverencia-o como um prefeito que “não roubou o erário público”, o que é uma enorme idiotice, porque mesmo gerindo uma prefeitura burguesa nunca seguiu à risca o que lhe determinava o regime político: mandava soltar os presos da cidade para que trabalhassem em obras públicas de primeira necessidade do povo e exerceu o cargo apenas por dois anos até renunciar, uma vez que chegou a conclusão da inviabilidade de “gerenciar” o capitalismo, ainda que em um pequeno município cruzado pelas contradições entre as demandas do povo faminto e o controle das oligarquias. A respeito de sua “gestão” e “estrelato” literário afirmava com sarcasmo e ironia: “Nunca fui literato, até pouco tempo vivia na roça e negociava. Por infelicidade, virei prefeito no interior de Alagoas e escrevi uns relatórios que me desgraçaram. Veja o senhor como coisas aparentemente inofensivas inutilizam um cidadão. Depois que redigi esses infames relatórios, os jornais e o governo resolveram não me deixar em paz. Houve uma série de desastres: mudanças, intrigas, cargos públicos, hospital...” (carta ao tradutor argentino Raúl Navarro, 1937). Sem papas na língua gostava de dizer em voz alta para todo mundo ouvir: “Não me sento à mesa com patrão. Todo patrão é filho da puta!”. Em resumo, Graciliano rompeu com o status quo dominante ao denunciar em suas obras e como “político” as mazelas expostas do capitalismo, defendo sua superação como objetivo estratégico para o futuro da humanidade!
Preso em 1936 de forma
totalmente arbitrária pela repressão do governo Getúlio Vargas, “suspeito de
exercer atividade subversiva”, como era comum acontecer com ativistas e
intelectuais logo após a derrota da Aliança Nacional Libertadora (ANL) de
novembro de 1935, Graciliano ainda não era militante do partido comunista, já
que sua adesão formal ocorreu quase dez anos depois, quando o PCB foi
temporariamente legalizado pelo regime político varguista, permanecendo no
partido mesmo após ser proscrito novamente. Sua filiação ao PCB foi produto
direto de sua repulsa ao fascismo, no marco da polarização mundial em torno da
chamada “guerra fria”, condensada em sua frase: “A ditadura do Estado Novo é
uma cachorrada”. Deriva do período em que esteve preso uma de suas principais
obras, “Memórias do Cárcere”, escrito em 1953. Neste livro, escrito quase vinte
anos depois de sua prisão no presídio da Ilha Grande, e já como militante amigo
do “Partidão”, é uma recordação vívida e realista da situação dos presos
políticos da ditadura Vargas, onde os personagens são tratados pelo autor por
seus nomes verdadeiros e sem mistificações personalistas, porém sempre
exaltando com profundo respeito a bravura e virtude de cada um deles, muitas
vezes entrando em conflito com as orientações da direção stalinista. Aqui não
existe aquela imagem “domesticada” que a pequena burguesia e o PIG querem fazer
transparecer do escritor comunista. Um bom exemplo disto foi a forma como
Graciliano retratou seu companheiro de cárcere, militante trotskista Febus
Gikovate que atuou na década de 30 junto com Mario Pedrosa, ou seja, na
contracorrente do pensamento hegemônico da época foi o único que o defendeu das
hostilidades e discriminações por parte dos demais presos que estavam sob forte
influência da campanha difamatória stalinista contra Trotski, que tinha na
figura de Jorge Amado no mundo literário um dos seus principais e ignóbeis
detratores.
As “memórias” narram sem comedimento o horror das prisões, a sujeira pavorosa e repulsiva, a perfídia e a brutalidade dos carcereiros da “colônia correcional” da Ilha Grande e a odiosa entrega de Olga Benário à Gestapo por parte do governo Vargas numa sufocante energia narrativa que põe a nu o militante comunista Graciliano Ramos em seu ódio de classe, completamente distinto da forma que a pequena burguesia quer descrevê-lo na Flip voltado a agradar ao público de classe média defensora do “Gigante Acordou”, do “Fora Dilma” ou do antipartidarismo, consignas que na verdade expressam o pensamento anticomunista latente da classe média massiva e ideologicamente difundido pelo PIG, que por sua vez avaliza os massacres perpetrados pelos caveirões da PM ou a repressão ao movimento de massas, acusando os setores mais radicalizados de “vândalos”. Não temos dúvidas se o “velho Graça” estivesse vivo cravaria em seus textos a defesa dos “vândalos e baderneiros” que se chocam com as novas oligarquias políticas, herdeiras do carcomido poder burguês que tanto denunciou em seus livros!
As “memórias” narram sem comedimento o horror das prisões, a sujeira pavorosa e repulsiva, a perfídia e a brutalidade dos carcereiros da “colônia correcional” da Ilha Grande e a odiosa entrega de Olga Benário à Gestapo por parte do governo Vargas numa sufocante energia narrativa que põe a nu o militante comunista Graciliano Ramos em seu ódio de classe, completamente distinto da forma que a pequena burguesia quer descrevê-lo na Flip voltado a agradar ao público de classe média defensora do “Gigante Acordou”, do “Fora Dilma” ou do antipartidarismo, consignas que na verdade expressam o pensamento anticomunista latente da classe média massiva e ideologicamente difundido pelo PIG, que por sua vez avaliza os massacres perpetrados pelos caveirões da PM ou a repressão ao movimento de massas, acusando os setores mais radicalizados de “vândalos”. Não temos dúvidas se o “velho Graça” estivesse vivo cravaria em seus textos a defesa dos “vândalos e baderneiros” que se chocam com as novas oligarquias políticas, herdeiras do carcomido poder burguês que tanto denunciou em seus livros!
Não à toa, o PIG, no
Jornal Nacional (5/7), exaltou a edição da Flip 2013 porque ela revela as
“virtudes éticas” de Graciliano afirmando que sua obra “é um retrato preciso do
momento atual de manifestações populares”, fabricando um Graciliano que não existiu,
ao gosto da pequena burguesia anticomunista e democratizante que frequenta a
“festa” e se proclama adepta do tom “patrioteiro” que a Globo e os Setúbal
(Banco Itaú) quiseram impor às manifestações populares. Desta forma os
“especialistas” de sua obra são chamados a palestrar no intuito de eliminar
qualquer resquício de militante comunista do escritor, algo considerado
totalmente ultrapassado por estes “modernosos” escribas do capital e da mídia.
Cabe aos revolucionários denunciar que a atual edição da Flip é uma clara
tentativa de desvincular Graciliano de suas referências e militância comunistas
– embora ele não tenha sido um militante orgânico, mas sempre foi um fiel amigo
do partido comunista e nesta condição sua arte deu lugar a obras que atravessarão
incólumes ao tempo porque revelam em toda sua profundidade política-estética a
necessidade de um mundo sem explorados, um modo de produção de novo tipo: o
socialismo.