domingo, 28 de julho de 2013


“Governo revolucionário” no Egito mostra a que veio: massacre aos apoiadores de Morsi, colaboração com Israel e perseguição aos palestinos...

Nesta sexta-feira, 26 de julho, ocorreu um massacre de grandes proporções no Egito. Mais de 200 apoiadores da Irmandade Muçulmana foram mortos e 4.000 ficaram feridos após as FFAA terem atacado as manifestações que exigiam o retorno do presidente deposto Mohamed Morsi. Ficou evidente que estamos diante de um “governo interino” controlado pelos generais que servem as ordens do imperialismo ianque. Paralelamente, o exército desencadeou uma operação de perseguição aos palestinos, explodindo os túneis na fronteira do Egito com a Faixa de Gaza, sendo a ação coordenada com o enclave sionista. Israel também autorizou ataques das FFAA egípcias na Península do Sinai para capturar militantes da Irmandade Muçulmana. A esmagadora maioria dos revisionistas do trotskismo, dos reformistas e até mesmo stalinistas apoiaram o Golpe de Estado no Egito desferido por generais treinados e armados pelo Pentágono apresentando-o como um “triunfo popular”, porque supostamente expressava o descontentamento popular com o governo da Irmandade Muçulmana. O que nos dizem agora estes senhores diante das bárbaras ações das FFAA? Para os marxistas-leninistas o apoio de grande parte da “esquerda” aos golpistas foi a expressão mais evidente de que esta perdeu qualquer referência de classe, chegando ao ponto de apresentar a alta-cúpula militar reacionária do Egito como aliada dos trabalhadores.

Após ultimato dado aos partidários da Irmandade Muçulmana, com o exército dando um prazo de 48 horas para abandonarem as ruas, os golpistas promoveram um novo banho de sangue. A repressão deixou um saldo de 200 mortos e 4.000 feridos só neste dia 26. O principal objetivo das FFAA foi dispersar a concentração nas proximidades da mesquita de Rabá al-Audawiya, onde milhares de pessoas têm ficado acampadas há várias semanas exigindo a restituição de Mohammed Morsi, derrubado pelo golpe militar de 3 de julho. De acordo com o ministro do interior golpista, Mohamed Ibrahim, o objetivo da repressão foi “acabar com a desordem”. Com este objetivo, o governo militar tenta incriminar os principais líderes da Irmandade Muçulmana valendo-se do aparato jurídico da época de Mubarak. Estamos vendo uma cópia do regime cívico-militar de Mubarak, promovida por antigos funcionários do primeiro escalão aliados a setores da direita abertamente pró-imperialista, agrupados na FSN (Frente de Salvação Nacional). O “novo” governo do Egito também vem cooperando ativamente com Israel em relação ao bloqueio à Faixa de Gaza. O general Abdel Fatah al-Sissi, chefe das Forças Armadas do país e ministro da Defesa, logo após a deposição do governo da Irmandade Muçulmana, mandou fechar a passagem entre o Egito e a cidade palestina de Rafah – único ponto de contato dos palestinos de Gaza com o mundo – e mandou destruir vários túneis da rede subterrânea que liga seu país à faixa litorânea palestina. Esses túneis levam aos palestinos aquilo a que Israel não lhes permite o acesso, como variedade de alimentos, eletrodomésticos, gás e combustível. O combustível é essencial não apenas para abastecer veículos, mas para gerar energia elétrica. Como a única central de geração de eletricidade de Gaza funciona à base de óleo, sem ele a região pode ficar às escuras, com hospitais paralisados e pacientes sem UTI, sem cirurgia e sem atendimento de emergência.

O “governo interino” do Egito também conseguiu a autorização de Israel para executar operações militares na Península do Sinai, fronteira norte do país. O Exército egípcio enviou tropas à região para neutralizar “ameaças terroristas”, em uma clara ação contra partidários da Irmandade Muçulmana que já deixou 20 mortos. Israel permitiu o pouso de helicópteros apache do Egito, que vinham de um sobrevoo pela Faixa de Gaza. A operação teve o aval de Israel e dos EUA, já que consideram que corresponde ao “interesse de estabelecimento da paz” na região e não pretendem ser obstáculos no “combate aos terroristas”. O portal Debka, afiliado ao serviço de inteligência do enclave sionista, anunciou que o governo de Israel permitiu as operações das Forças Armadas do Egito contra “grupos terroristas” que se refugiam no Sinai. Segundo o portal, os helicópteros são usados pelo Exército egípcio para impedir que membros do Hamas, que governa a Faixa de Gaza, apoie a Irmandade Muçulmana no Egito: “Pela primeira vez, as forças egípcias no Sinai foram capazes, nesta sexta, de usar apaches para atacar alvos do Hamas na Faixa de Gaza, por um lado, e por outro, alcançar frentes salafistas e células da Al-Qaeda na área montanhosa de Jabal Al-Halal, no centro do Sinai”, diz o portal.

Diante destes fatos, o conto do “golpe revolucionário” não se sustenta, já que se viu no Egito foi a instalação de um regime cívico-militar reacionário que impõe a ordem pela via da repressão aberta. Desmoralizada em apresentar o golpe como um “trinfo popular”, logo a LIT lançou um artigo às pressas intitulado: “Egito: Nenhuma confiança no novo governo fantoche dos militares e do imperialismo” (26/07). Engana-se que buscou alguma autocrítica no texto! No corpo do artigo vemos a LIT reafirmar sua posição em apoio ao golpe de estado: “A derrubada de Morsi representa a queda de um novo autocrata, um novo Mubarak — nesse caso, um civil de corte islâmico — e a interrupção da implantação de seu projeto ultra-reacionário, bonapartista teocrático, encabeçado pela Irmandade. E as massas percebem esse fato como uma vitória democrática. Em síntese, durante o governo Morsi, estávamos sempre junto com as massas contra esse governo e contra o regime militar e não mudamos essa posição nem sequer quando o governo foi ameaçado e depois derrubado pelos militares”.Porém, as aberrações defendidas pela LIT não param por aí. Enquanto o exército massacra os apoiadores de Morsi e da Irmandade Muçulmana, os morenistas chamam a unidade militar com os repressores! Para não pairar dúvidas publicamos na íntegra sua posição: “No Egito, quando a Irmandade Muçulmana sai às ruas defendendo a volta do governo bonapartista de Morsi, está protagonizando uma mobilização contra o regime, mas de caráter contrarrevolucionário, e por isso não é correto defender nenhum tipo de unidade de ação com essa organização. Essa mobilização, portanto, não tem nada de progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam, erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um ‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de mobilização que só serve à contrarrevolução. Diante disso, se impõe a necessidade de que as organizações populares, que derrubaram Morsi, tenham planos e organismos de autodefensa para impor a vontade das massas contra a reacionária Irmandade Muçulmana, de tal forma que não dependam do Exército e da polícia para impor sua vontade.” (Idem). Como podemos obsevar trata-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as FFAA!

Apesar de setores da “esquerda” terem apresentado o golpe militar como uma “vitória das mobilizações populares”, o que se observou foi a deposição pelas FFAA do governo eleito da Irmandade Muçulmana (relativamente frágil e sem a confiança integral do Pentágono, apesar de todos os esforços do presidente deposto), impondo um gabinete golpista escolhido “a dedo” pelo imperialismo ianque, com oficiais e civis que estão totalmente entregues ao FMI e à OTAN. O quadro atual representa que as massas estão em uma situação pior quando sob o governo da Irmandade Muçulmana, porque antes tinham a capacidade de enfrentar um governo civil frágil (neoliberal e islâmico) e agora ficaram totalmente refém da alta-cúpula militar, como na época de Mubarak, cuja queda foi apresentada por esta mesma esquerda como uma “revolução democrática triunfante”. Até poucos dias atrás esses filisteus diziam que o fato da Junta Militar alinhada com o Pentágono depor um governo burguês islâmico eleito, porém fragilizado e dar um golpe de estado era uma revolução! Ao contrário desses calhordas, não nos cansamos de afirmar: a estranha aliança entre militares e um setor das “massas” em apoio ao golpe militar demonstra que na ausência de um partido comunista e de um programa revolucionário o movimento de massas pode girar à direita. Tanto que na própria sexta-feira, 26, centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas do Cairo e de outras cidades, em particular do norte do país, em apoio ao chamado do ministro de Defesa Abdel Fattah el-Sissi para reprimir o que qualificou de “violência e embrião de terrorismo” em alusão aos protestos da Irmandade Muçulmana. Todos esses elementos demonstram que a ação das FFAA em 3 de julho não se tratou de um “golpe militar preventivo” para barrar o avanço da “revolução” como defende o PCO, justamente porque nunca houve uma revolução em curso no Egito, mas um processo de transição operado pela Casa Branca no curso da chamada “Primavera Árabe” que conseguiu com sucesso manipular o movimento de massas para tirar de cena um gerente senil (Mubarak) e colocar em seu lugar alternativas minimamente confiáveis a seus interesses, primeiro a Irmandade Muçulmana (que se mostrou frágil), agora com um gabinete composto por El Baradei e outros homens de sua inteira confiança, sustentado diretamente pela FFAA.

Agora que a repressão do exército de abate com toda força sobre os apoiadores de Mursi, ficou clara a colaboração das FFAA com Israel e a perseguição aos palestinos por parte do “governo de transição” fica insustentável a posição da “esquerda” que foi fiadora do golpe, inclusive daqueles setores reformistas e stalinistas que chegaram a dizer, como o próprio PC do Egito, que com a ascensão dos militares ao governo se romperia o eixo que o atual governo de Morsi formou com a Turquia e as petromonarquias do Golfo, como Arábia Saudita e Qatar, contra a Síria e o Irã. Esta tese é completamente falsa, já que o alto-comando militar encastelado no poder desde Sadat e Mubarak sempre esteve alinhado com os objetivos estratégicos do imperialismo ianque, tendo em vista que é diretamente financiado e orientado pelo Pentágono. O exército egípcio é cúmplice histórico dos massacres ao povo palestino perpetrado por Israel, tanto que o país é um dos poucos no Oriente Médio que tem relações diplomáticas com o enclave sionista desde os acordos de Camp David. Na verdade, ao Conselho Supremo das FFAA ter perpetrado o golpe militar se aprofundou ainda com maior força o alinhamento político e militar do Egito contra a Síria e o Irã, já que colaboram diretamente com os planos da OTAN! Os fatos atuais só comprovam o que afirmamos! Neste momento é necessário chamar a derrubada do “novo governo” golpista pela via da ação direta das massas, convocando atos e manifestações em frente única com a Irmandade Muçulmana e os setores populares que se opõem ao golpe, construindo comitês de autodefesa contra a repressão estatal. Ao contrário dos canalhas da LIT e seus irmãos da família revisionistas, os genuínos trotskistas estão nas tricheiras dos que combatem os golpistas, serviçais da Casa Branca!