quinta-feira, 4 de julho de 2013


Sequestro de Evo: Governos da “centro-esquerda”, como França e Brasil, mostraram completa submissão ao grande amo do norte

 Desde a II Guerra Mundial não se presenciava a tentativa de um governo nacional tentar interceptar um avião presidencial de outro país, como foi o caso quando Hitler tentou sequestrar um voo que Churchill fazia para visitar as tropas inglesas na África. O novo “führer” do imperialismo ianque, Barack Obama, tentou fazer o mesmo com o presidente Evo Morales da Bolívia, ainda que ao contrário do exemplo da II Guerra os dois países não estejam formalmente em guerra. Quando voltava de uma reunião de cúpula sobre a produção mundial de gás em Moscou, o avião do presidente Evo foi impedido de sobrevoar os países da Europa ocidental. França, Itália, Espanha e Portugal não autorizaram que o jato que levava a bordo o presidente de um país que mantém relações diplomáticas recíprocas, sobrevoasse seus territórios. O fato assume maior gravidade ainda porque o avião presidencial da Bolívia estava prestes a iniciar a grande travessia sobre o oceano Atlântico e necessitava de reabastecimento. A única alternativa encontrada foi a de se submeter à humilhação oferecida pela Áustria, que sob escolta aérea autorizou a aterrissagem de Evo. Em solo austríaco, o avião presidencial foi revistado por policiais que estariam a procura do ex-agente da CIA, Edward Snowden. A suspeita de que a Bolívia teria concedido asilo político a Snowden, que ainda se encontra na Rússia, levou aos terroristas encastelados na Casa Branca a ordenar o sequestro do presidente de uma nação soberana, equivalente nos meios diplomáticos internacionais a uma verdadeira declaração de guerra contra o povo da Bolívia.

O governo Obama vem sendo desmoralizado internamente (pela esquerda e direita) neste novo episódio que revelou o óbvio para qualquer cidadão minimamente esclarecido, a internet e suas “redes sociais” estão sob controle mundial direto da CIA. O suposto “técnico” da inteligência ianque, Snowden, hoje perseguido pela própria CIA, vem denunciando o que os marxistas revolucionários já afirmavam há muito, a manutenção da hegemonia planetária norte-americana passa necessariamente pelo controle absoluto da transmissão de dados e informações pela rede mundial de computadores. Ainda é cedo para aferirmos as reais intenções de Snowden ao fugir dos EUA para a China e passar a denunciar de espionagem o governo que um pouco antes servira. Mas independente das ligações “secretas” de Snowden, sua captura é hoje uma questão de honra para o império, fazendo com que Obama subordine a autonomia de nações inteiras aos seus interesses de “segurança nacional”.

Que os governos lacaios da direita conservadora europeia batam continência a Obama, nenhuma surpresa, mas a postura servil do Partido Socialista francês e do presidente François Hollande gerou repugnância a todas as forças democráticas que combatem o nazifascismo mundial, hoje disfarçado de imperialismo “republicano”. Hollande não passa de um gerente neoliberal de “segunda” do capital financeiro europeu, servindo à Casa Branca para transformar a França em base aérea colonial norte-americana. A ameaça realizada por Hollande contra a vida do presidente Evo Morales, corresponde historicamente à humilhação imposta pela Alemanha a França, quando invadiu seu território e obrigou a fuga do então presidente Charles de Gaulle. Caso Evo resolvesse desobedecer as ordens do governo “socialista” francês, seguindo normalmente sua viagem, caças Rafale já estavam prontos e autorizados para abater o avião da Bolívia, o que só não aconteceu por um recuo tático em função da permissão que a Áustria concedeu ao pouso “vigiado” da comitiva presidencial de Evo.

Mas se a França sob a gerência “socialista” mostrou-se como um entreposto militar dos EUA, o governo petista no Brasil também revelou sua subordinação política ao amo imperial. Primeiro o Itamaraty negou o pedido de asilo feito por Snowden, contrariando a tradição da própria diplomacia brasileira que já abrigou até assassinos confessos como o general Alfredo Stroessner. Quando Evo estava sequestrado na Áustria, sob escolta da OTAN, nem o chanceler Patriota nem a própria presidenta Dilma foram encontrados para se pronunciarem, em contraste com seus colegas do Mercosul, Argentina, Uruguai, Venezuela e Equador. Depois da liberação da Áustria, onde finalmente foi reabastecido após a constatação de que Snowden não se encontrava ali, o avião de Evo seguiu para uma escala no Brasil, onde desembarcou no aeroporto de Fortaleza. Esperava-se que no mínimo depois da brutal agressão sofrida, o presidente Evo fosse recebido no Brasil por Dilma ou no mínimo por um de seus ministros, como um ato simbólico de desagravo latino-americano contra o governo Obama e sua corja europeia. Mas o que se viu em Fortaleza foi o presidente de um país amigo ser recepcionado por um funcionário de “quinta” no staff do Ministério das Relações Internacionais.

Diante da agressão à soberania da Bolívia, considerada como um ataque à autonomia de todas as nações latino-americanas, a UNASUL convocou uma reunião de emergência para deliberar sobre a questão, mais uma vez o governo neoliberal do PT se acovardou e não enviou nenhum ministro ao encontro, em contraste com a presença de quase todos os presidentes membros da entidade. Finalmente, e para não passar em branco, somente quando Evo chegou a La Paz, Dilma emitiu um tímido comunicado oficial em solidariedade ao governo boliviano. Para os que ainda defendem o suposto caráter anti-imperialista do governo da Frente Popular fica a lição deste episódio de sequestro internacional de um presidente latino-americano, onde Dilma ficando bem atrás do próprio nacionalismo burguês de nossa região, demonstra sua subordinação visceral com o imperialismo ianque.