O médico “mauricinho” da novela global e os protestos da elite de branco
A atual novela das 21h
da Rede Globo, “Amor à Vida”, tem veiculado a personagem de um jovem médico
“mauricinho” habituado a desmarcar as consultas dos seus pacientes para receber
no consultório, já devidamente “pelado”, sua namorada. Em outras cenas, o personagem
promove escândalos bestiais com direito a quebra-quebra nos bares em cenas de
ciúmes. Muitos podem estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com os
protestos da área da saúde contra o programa “Mais Médicos” do governo Dilma?
Parafraseando a própria Globo, tem “tudo a ver”! Embora de forma caricatural, o
personagem do estúpido folhetim da emissora da “famiglia” Marinho expressa
muito bem o estereótipo dos jovens de classe média que vislumbram a profissão
como símbolo de status, ascensão social e poder sem qualquer vestígio de
preocupação social com a prática da medicina na coletividade, ávidos por encher
seus bolsos em consultas privadas em consultórios de luxo ou pela via de
convênios nos escorchantes planos de saúde. Também não é desprezível o fato de
que uma parcela considerável da categoria médica no Brasil utilize a profissão
para fins políticos eleitorais (aproveitando-se da extrema miséria de uma parte
da população), sendo que atualmente pelo menos um quarto do Congresso Nacional
e Assembleias Estaduais está sendo ocupada por deputados “doutores”. O programa
“Mais Médicos”, criado por uma Medida Provisória e apresentado pelo Palácio do
Planalto como uma “solução” para a moribunda saúde pública, mas na verdade não
passa de mais um arremedo para tapar buracos sobre a questão, está sendo alvo
de uma sabotagem organizada pelas direções das entidades (direitistas) da
classe medi(c)a justamente porque, apesar de todos os seus limites, colocou em
debate a questão do caráter mercantil e mercenário da profissão médica na
sociedade capitalista.
Dentre as medidas anunciadas estão a contração de médicos brasileiros e estrangeiros para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS) em municípios do interior do país, percebendo uma bolsa de R$10 mil/mês; a alteração da carga acadêmica de seis para oito anos nos cursos de medicina, sendo dois anos de residência prestados na rede pública de saúde e a criação de 11 mil vagas nos cursos de medicina em universidades públicas e privadas até 2017. Apesar de não representar uma efetiva solução para o caótico sistema da saúde pública do país, o programa está sendo atacado notadamente por um viés reacionário e de direita. A adesão quase imediata de mais de onze mil médicos mostrou que houve uma “sabotagem” organizada ao programa, ou seja, a esmagadora maioria fez a inscrição no programa para ocupar as vagas e posteriormente realizar uma desistência em massa, inviabilizando o início do “Mais Médicos”. Esta conduta não se restringe à defesa de interesses corporativos, mas representa uma reação política insuflada pelos setores mais reacionários da burguesia e o PIG para tornar esse tema uma fonte de desgaste do governo da frente popular. As recentes mobilizações dos médicos contra este programa do Ministério da Saúde, guardadas as devidas proporções, acentuam o curso direitista das manifestações espontâneas que sacudiram o país em junho, apoiadas e pautadas pela Rede Globo que levaram Dilma às cordas, acendendo as esperanças eleitorais dos representantes da direita conservadora em 2014. Não por acaso, as entidades médicas se retiram dos conselhos de saúde do governo federal e se manifestaram contra os vetos de Dilma a lei do chamado “Ato Médico”, legislação que retirava a possibilidade de outras categorias, como os enfermeiros (de corte mais proletário) de atuarem na área clínica, apesar de terem formação para esta finalidade.
Dentre as medidas anunciadas estão a contração de médicos brasileiros e estrangeiros para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS) em municípios do interior do país, percebendo uma bolsa de R$10 mil/mês; a alteração da carga acadêmica de seis para oito anos nos cursos de medicina, sendo dois anos de residência prestados na rede pública de saúde e a criação de 11 mil vagas nos cursos de medicina em universidades públicas e privadas até 2017. Apesar de não representar uma efetiva solução para o caótico sistema da saúde pública do país, o programa está sendo atacado notadamente por um viés reacionário e de direita. A adesão quase imediata de mais de onze mil médicos mostrou que houve uma “sabotagem” organizada ao programa, ou seja, a esmagadora maioria fez a inscrição no programa para ocupar as vagas e posteriormente realizar uma desistência em massa, inviabilizando o início do “Mais Médicos”. Esta conduta não se restringe à defesa de interesses corporativos, mas representa uma reação política insuflada pelos setores mais reacionários da burguesia e o PIG para tornar esse tema uma fonte de desgaste do governo da frente popular. As recentes mobilizações dos médicos contra este programa do Ministério da Saúde, guardadas as devidas proporções, acentuam o curso direitista das manifestações espontâneas que sacudiram o país em junho, apoiadas e pautadas pela Rede Globo que levaram Dilma às cordas, acendendo as esperanças eleitorais dos representantes da direita conservadora em 2014. Não por acaso, as entidades médicas se retiram dos conselhos de saúde do governo federal e se manifestaram contra os vetos de Dilma a lei do chamado “Ato Médico”, legislação que retirava a possibilidade de outras categorias, como os enfermeiros (de corte mais proletário) de atuarem na área clínica, apesar de terem formação para esta finalidade.
Vale destacar que a
característica sociológica da categoria médica dentro de um Estado burguês
semicolonial a exemplo do Brasil, via de regra, é se constituir como um setor profissional
de elite, uma casta-símbolo da pequena-burguesia reacionária sem qualquer
identidade ou vínculo com a população carente, ao contrário, que explora junto
com os grandes hospitais e clínicas a saúde como se fosse uma mercadoria de
luxo, de acesso a poucos. Os médicos que exercem o trabalho no sistema público,
em grande maioria, fazem plantões para engordar a renda de suas famílias de
classe média com pouco compromisso com os pacientes proletários e de baixa renda. Neste
contexto, o programa “Mais Médicos” entra em choque com os seus interesses
materiais de explorar o mais rápido possível a medicina enquanto proprietários
de consultórios e clínicas. Isso também ocorre no que tange à ameaça da sua
relação de poder, a partir da elevação do numero de médicos oriundos de outros
países, particularmente de Cuba. Não por acaso, o foco de críticas das
entidades medicas é a contratação de médicos estrangeiros por representar uma
ameaça à reserva de mercado do lucrativo setor da saúde, onde a lei da oferta e
da procura regula a atividade médica, tornando-a uma das mais mercenárias
dentre todas as categorias laborais, composta nos últimos anos em sua
esmagadora maioria por “maurichinhos” e “patricinhas” como se pode ver na
novela global que tem o emblemático nome de “Amor à Vida”, uma trama que se
passa em meio às podres relações humanas e profissionais que tem como pano de
fundo um hospital privado. Longe do romântico juramento de Hipócrates, no
capitalismo o exercício da medicina adquire pela sua importância vital um alto
valor de mercado, sendo uma grande fonte de acumulação capitalista explorada
pela burguesia e pela classe média abastada. Quanto maior a carência de
atendimento médico e menor a oferta deste serviço, como ocorre nas periferias
dos grandes centros urbanos e, sobretudo, nas áreas rurais, mais a figura do
médico ganha destaque como elemento de barganha política e como representantes
do poder das oligarquias regionais. Isso explica o enorme contingente de
médicos eleitos, na quase totalidade por partidos burgueses de direita, a
prefeitos, vereadores e deputados nos municípios do interior do país.
A oposição à contratação
de médicos estrangeiros é inda mais reacionária por estar centralizada contra
vinda de médicos cubanos. Para além da conduta de xenofobia, próprio da extrema-direita
que hoje ganha espaço na Europa, a virulenta campanha de rejeição à atuação dos
profissionais do Estado operário cubano representa um ódio de classe das
frações mais conservadoras da burguesia em defesa dos interesses capitalistas,
posição reacionária que é vergonhosamente apoiada pelo PSTU. Apesar de todas as
dificuldades materiais, decorrentes do bloqueio econômico imposto pelo
imperialismo ianque, Cuba conseguiu um grande desenvolvimento na área da saúde,
sendo inclusive referência para o tratamento de várias doenças, adotando um
modelo de medicina baseado na prevenção e o acompanhamento médico humanizado à
população em programas como o conhecido “Médico do Quarteirão”. Esse padrão de
medicina é diametralmente oposto ao praticado nos países capitalistas fundado
no modelo que visa não evitar, mas “curar” (ou mesmo prolongar) doenças a
partir de utilização medicamentos, beneficiando assim a poderosíssima transnacional
indústria dos laboratórios farmacêuticos.
A expansão da rede de
saúde privada, em função de sua alta lucratividade e status social, faz “pipocar”
novos consultórios e clínicas de luxo em todo o país. Esta é a realidade que
move os interesses reacionários dos médicos da elite de branco e não a criação de
uma carreira atrativa para atuar no SUS como tentam justificar suas entidades
representativas ao rejeitar o programa “Mais Médicos”. Outra tergiversação é a
critica sobre a má utilização dos recursos públicos pela União na contratação
de médicos estrangeiros e de até facilitar a corrupção nas prefeituras, um
discurso ético em defesa da moralização do regime burguês que não cabe a estes
senhores, já que não defendem a estatização do sistema de saúde e seu controle
pelos trabalhadores e usuários. O programa “Mais Médicos” do governo Dilma é
paliativo, portanto, inócuo enquanto solução mesmo que parcial, por que além
preservar o atual modelo, mantém toda a estrutura do sistema de saúde voltada
para favorecer o setor privado em todas as suas cadeias. Porém, não está sendo
atacado por suas limitações, mas por aquilo que tem de minimamente
progressista! Somente com o fim da saúde privada, dos planos de saúde pagos e
com a completa estatização de todo o setor (clínicas, laboratórios, hospitais e
indústria farmacêutica) sob o controle dos organismos de poder dos trabalhadores,
associada a uma nova concepção de medicina preventiva e humanizada pode atender
as demandas da população explorada, contribuindo por uma vida com bem-estar
físico e mental, condições impossíveis de serem alcançados pelo capitalismo
doente e senil que arrasta a humanidade para a barbárie.