terça-feira, 27 de setembro de 2016

A MORTE DE "SOMBRA" E AS SOMBRAS DO CASO DO ASSASSINATO DO EX-PREFEITO PETISTA CELSO DANIEL


Foi noticiado esta tarde que Sérgio Gomes da Silva, mais conhecido como Sombra, faleceu em um hospital de São Paulo vítima de um câncer diagnosticado há dois anos. Sombra era então o homem de confiança do ex-prefeito petista de Santo André quando Celso Daniel foi assassinado em janeiro de 2002. Na época Sombra um ex-segurança alçado à condição de empresário do ramo de transporte público, almoçava com Celso Daniel  em um restaurante no jardins, quando retornavam a Santo André o carro do prefeito (uma Pajero blindada) foi interceptado por um bando armado que obrigou Daniel a sair do veículo, deixando Sombra para trás. O amigo empresário e também motorista da Pajero, alegou à polícia que ocorreu uma falha mecânica na Pajero que o teria obrigado a abrir as portas do veículo blindado, facilitando assim a ação dos bandidos. Na manhã do dia 20 de janeiro de 2002, dois dias após o sequestro o corpo do prefeito Celso Daniel, com onze tiros, foi encontrado na Estrada das Cachoeiras em Itapecerica da Serra. Sombra afirmou sua inocência no caso, apesar da família do prefeito e o Ministério Público terem acusado o empresário de participação ativa no assassinato, levando a prisão do empresário por quase um ano até ser revogada por determinação do STF. Para além da intricada trama policial que até hoje não foi desvendada completamente, a morte trágica de Celso Daniel revelou um esquema de súbito enriquecimento de um ex-segurança que ao longo das três gestões petistas na prefeitura de Santo André se transformou em um próspero empresário do ramo de transporte público. Empresas de ônibus da cidade de Santo André vinham contribuindo pesadamente para as campanhas eleitorais de Celso Daniel, gerando uma volumosa "sobra de caixa" utilizada pelo PT em todo o estado de São Paulo. O segurança de Celso, Sérgio "Sombra", logo se converteu ele mesmo em empresário de transportes, sem explicar a origem de seu "capital". O fato da inexplicável capitalização ocorrido com Sombra, também se repetiu com uma série de dirigentes do PT na cidade, causando preocupação a Celso Daniel que passou a ocupar um posto político chave na campanha presidencial de Lula em 2002. Assim como o prefeito Palocci em Ribeirão Preto, Daniel seguia um modelo de gerência municipal neoliberal que privilegiava grupos capitalistas em detrimento dos serviços públicos estatais. Celso gozava de grande prestígio junto ao empresariado de Santo André e Sombra funcionava como uma espécie "testa de ferro" para os negócios do PT na cidade. Porém com a proximidade da possível vitória de Lula ao Planalto em 2002, Celso foi escolhido para como coordenador da campanha nacional, cotado para ocupar o cargo de ministro da Fazenda no primeiro governo do metalúrgico de São Bernardo do Campo. Era o momento de interromper temporariamente a cobrança das "comissões"(conhecidas popularmente por propinas) por parte do PT em Santo André, decisão de Celso que desagradou alguns dirigentes do partido no município, incluindo o "empresário" Sombra. A partir deste ponto não podemos afirmar com absoluta convicção que Sombra teria sido um dos autores intelectuais do assassinato de Celso Daniel, apesar das fortes evidências neste sentido. Os que foram presos e condenados pela morte de Celso são apenas os "matadores de aluguel", os verdadeiros assassinos estão em liberdade e agora Sombra leva para o túmulo o deslinde final deste caso. As lições que os Marxistas abstraem deste episódio não poderia ser outra: A gerência estatal da crise do capital só pode conduzir a completa decomposição moral e programática de seus protagonistas políticos. Celso pagou com a própria vida ao se propor a administrar a "massa falida" do regime capitalista.