O OUTRO 11 DE SETEMBRO: 43 ANOS DO GOLPE NO CHILE, ABSTRAIR
AS LIÇÕES DA TRÁGICA EXPERIÊNCIA DA “VIA PACÍFICA AO SOCIALISMO”. REVISIONISTAS
DE HOJE AINDA INSISTEM NA SENDA PARLAMENTAR COMO EIXO CENTRAL DE INTERVENÇÃO DO
MOVIMENTO OPERÁRIO
Há 43 anos, em 11 de Setembro de 1973, era desferido um
golpe de corte fascista patrocinado diretamente pelo imperialismo ianque (em
uma operação direta da CIA) contra Salvador Allende, dirigente máximo do PS. A
ofensiva da contrarrevolução ganhou terreno e desferiu sua investida fatal
nesta data trágica para o proletariado mundial como produto direto da política
de colaboração de classes do governo da Unidade Popular encabeçado por Salvador
Allende. A UP correspondeu às características clássicas de uma frente popular,
onde a burguesia em crise extrema e sob a pressão do ascenso popular faz
concessões e entrega as linhas gerenciais do Estado burguês a partidos reformistas de massas (PS e PC)
para que estes controlem o movimento operário nos marcos do regime político
burguês, orientação conhecida como “via pacífica ao socialismo”. Como herdeiro
político desta orientação reformista, nas últimas eleições presidenciais, o PC
seguiu a candidatura burguesa do PS, integrando a “Concertación”, uma coalizão
de centro-esquerda que englobou o PS, a Democracia Cristã e o Partido pela
Democracia. Hoje, Bachelet governa o país tendo como base uma política de
colaboração de classes que não ameaça o imperialismo. Esta conduta demonstra
que os neostalinistas chilenos não conseguiram abstrair as trágicas lições da
grande derrota de 73. Por outro lado os revisionistas do trotskismo, que dizem
criticar a chamada “via pacífica ao socialismo”, ainda hoje insistem na via
parlamentar como eixo central de intervenção da “esquerda” e do movimento
operário, demonstrando que também são reféns da estratégia reformista de
alterar o caráter de classe das apodrecidas instituições do regime político
bastardo democratizante, patrocinando trágicas ilusões entre os trabalhadores,
senda contrarrevolucionária que leva nos nossos dias, assim como ocorreu no
passado, a derrotas sangrentas para o proletariado latino-americano. No Brasil
alguns falsários da esquerda frente populista insistem em defender a
“democracia” como valor universal para denunciar o “golpe” contra Dilma
Rousseff, comparando a gestão neoliberal do PT com o governo nacionalista
burguês de Allende. Agora chegam a reivindicar "Eleições Já" como saída para a crise do regime político burguês, visando subordinar a luta das massas ao circo eleitoral da democracia dos ricos. Em comum aos dois períodos históricos somente a
política seguidista dos reformistas, que em nome do "combate à direita"
abdicam da tarefa de preparar a independência de classe do proletariado frente
às diversas variantes políticas das classes dominantes e pavimentam o caminho da derrota seja pela via parlamentar ou pelas armas. Com esta estratégia
desastrosa os reformistas abriram espaço para o desfecho golpista, apesar de
terem "jurado" que lutariam contra o fascismo até a morte. No Brasil,
o PT foi golpeado no parlamento pelos seus ex-aliados das oligarquias e não ousa questionar as carcomidas instituições burguesas, como o parlamento e a justiça patronal! O
esgotamento precoce do governo Dilma e o desenvolvimento do golpe parlamentar
no Brasil, não partiu de uma necessidade da burguesia nacional em desfechar um
Golpe de Estado, ou seja, alterar radicalmente as linhas fundamentais do regime
democratizante (uma paródia de democracia burguesa) instaurado com o advento da
“Nova República” no Colégio Eleitoral em 1985. Esta variante (Golpe de Estado),
como ocorreu no Chile, se coloca diante de uma situação de absoluta
radicalização da luta de classes, onde a liberdade de organização da classe
operária (direitos democráticos) pode se transformar em avanços revolucionários
que ameacem a dominação capitalista. Nenhum destes ingredientes esteve presente
na atual crise política do regime burguês no Brasil, mas todos estiveram
evidentes no Chile de Allende há 43 anos atrás!
A vitória eleitoral de Allende e da UP em 1970 ocorreu
quando as massas estavam em uma mobilização ascendente que ameaçava destruir o
Estado burguês. O aniquilamento eleitoral da direita (Partido Nacional), a
derrota do democrata-cristão Eduardo Frei — em condições de divisão da
burguesia — era uma expressão aberta de que estava na ordem do dia para as
massas chilenas a luta por construir um governo operário e camponês. Para sair
dessa encruzilhada, que a própria evolução da luta de classes impunha, os
partidos frentepopulistas se aliaram com a burguesia, o exército e o clero com
o objetivo de preservar a ordem capitalista. Essa tarefa era impossível sem
desorganizar as massas e derrotá-las. Esta foi a função política que veio a ter
o governo da UP: organizar a derrota pacífica dos trabalhadores e, portanto,
pavimentar o caminho para o seu esmagamento sangrento. No programa da UP, a
conquista do poder deveria ocorrer a partir de mecanismos institucionais
existentes através de um processo gradual, progressivo e pacífico, ou seja,
rechaçava a tarefa de armar as massas para pôr abaixo o Estado burguês em um
enfrentamento direto com a burguesia nacional e o imperialismo. As reacionárias
instituições e estruturas capitalistas deveriam ser transformadas
paulatinamente sem a necessidade de organismos de poder popular e soviéticos
que superassem e destruíssem a estrutura jurídica, política e econômica que
mantinha de pé o regime burguês. Essa utopia reacionária pregava que a ordem
capitalista deveria ser transformada a partir da institucionalidade montada
para mantê-la, a passagem do poder de uma classe para outra deveria ocorrer sem
que se abrisse um processo revolucionário para sua conquista. Cumprindo esse
objetivo, Allende promulgou uma lei que dava poderes ao Exército para fazer
apreensões de armas sem aviso prévio. Esta medida estava dirigida às fábricas
ocupadas e aos partidos de esquerda, em especial o MIR (Movimento de Esquerda
Revolucionário) que possuía um contingente de mais de 16 mil homens armados,
que compunham a própria UP. Ao mesmo tempo em que exigia o desarmamento dos
cordões industriais, em meio à maior crise militar de seu governo, nomeou
Augusto Pinochet como chefe das FFAA. A cúpula da coalizão governista
apoiava-se nestes organismos de base exclusivamente para pressionar a direita e
buscar uma solução negociada para a crise, conferindo-lhe funções de
colaboração com o governo. Ademais, o próprio Allende e o PC se manifestam
contra os organismos de base, taxando-os de esquerdistas e desestabilizadores
do quadro jurídico-político e institucional. Dado o peso e a influência da UP
no movimento operário e popular (CUT e sindicatos) e a ausência de um partido
revolucionário que dirigisse esses setores mais conscientes, a vanguarda
classista que se aglutinava em torno dos organismos de base não conseguiu se
contrapor frontalmente ao governo e às instituições do Estado burguês que,
naquele momento, eram apresentadas pelo PC e o PS como estando a serviço dos
interesses dos explorados. Em consequência dessa política criminosa, um dos
momentos de maior radicalização das massas foi desprezado e seu ímpeto contido,
como forma de garantir a estratégia política reformista. Alçada ao poder para
conter e desviar o avanço das massas trabalhadoras do campo e da cidade,
criando a ilusão de uma “via pacífica para o socialismo”, a frente popular foi
derrubada em um momento em que a classe dominante e o imperialismo conseguiram
organizar a contraofensiva auxiliados pela política da UP de desarmar o
proletariado e pactuar com os setores “constitucionalistas” da burguesia (DC) e
das FFAA. Como bem sintetizou Trotsky: “a política conciliadora das Frentes
Populares condena a classe operária à impotência e abre caminho para o
fascismo” (Programa de Transição, 1938).
No auge dessa crise, ocorre o golpe militar em setembro de
1973. Os trabalhadores resistiram heroicamente, as FFAA bombardearam as
fábricas ocupadas e os rendidos foram sumariamente fuzilados. As ilusões de
Allende que, horas antes de sua derrubada, chamava as massas a confiarem nos
militares “patriotas” foram cúmplices do massacre, ainda que o
“presidente-companheiro” tenha pagado com sua própria vida por elas. Com o
golpe militar, o exército sequestrou e assassinou mais de 8 mil militantes e
provocou o exílio e o cárcere de outros milhares. As Forças Armadas
bombardearam bairros populares, fuzilaram, prenderam milhares de pessoas nos
quartéis e, principalmente, no Estádio Nacional em Santiago do Chile. Por sua
vez, o imperialismo norte-americano, através da CIA, ajudou ativamente a
preparação do golpe. Esse massacre esteve a serviço de assegurar a
recolonização do país e a destruição das conquistas da classe operária. O
“pinochetaço” e o estabelecimento da ditadura militar finalizaram a curta
experiência do governo da UP. Hoje, assim como no passado, a política de
colaboração de classes da frente popular limita a radicalidade do movimento de
massas e sem uma plataforma revolucionária as lutas operárias e estudantis em
curso tem acabado por servir à demagogia “antineoliberal” do PS que, convertido
integralmente ao capital, retornou à presidência já não mais em nome da defesa
da “via pacífica ao socialismo”. Bachelet
voltou à presidência para gerir a reacionária ordem burguesa
“democrática” que mantém intacto o mesmo regime social de exploração da classe
trabalhadora vigente na ditadura militar!
Os longos anos de colaboração de classes do PS e do PC, em
razão da ausência de uma alternativa de direção revolucionária para as massas,
abriram caminho para o neopinochetismo, hoje reciclado com a máscara de uma
direita parlamentar, em face estar mantido intactas as bases políticas, o poder
dos militares torturadores genocidas e, inclusive, a reacionária constituição
de 1980, aprofundando de maneira combinada tudo isto o ataque sobre os
trabalhadores com novas e antioperárias reformas neoliberais. Nas eleições de
2009-2010, o PC chileno (na coligação “Juntos Podemos Más”) no primeiro turno
tinha como candidato Jorge Arrate, ex-PS, que rompeu com a Concertación,
apoiando no segundo turno com todo seu cretinismo o candidato de Bachelet e da
Concertación, Eduardo Frei, contra o pinochetista bilionário Sebastian Piñera (bloco
RN/Coalizão pela Mudança) que então saiu vitorioso. Como consequência dos
governos do PDC e PS e a colaboração de classes do stalinismo, os trabalhadores
foram atomizados e dispersos em suas lutas que não ultrapassam os limites
sindicais de resistência à precarização e à superexploração. Não será apoiando
o atual governo Bachelet e a Concertación, dentro da institucionalidade
burguesa, como almejam equivocadamente os neostalinistas do PC, que a classe
operária irá derrotar o regime vigente neopinochetista de opressão às massas.
Muito menos será, como faz o revisionismo do trotskismo, a exemplo do morenismo
(PSTU e CST no Brasil), que dizem criticar a chamada “via pacífica ao
socialismo”, mas ainda hoje insistem prioritariamente na via parlamentar como eixo
de intervenção da “esquerda” ao defender o “Fora Temer, Eleições Gerais”,
demonstrando que também são reféns da estratégia reformista de mudar por dentro
o caráter das apodrecidas instituições do regime político bastardo
democratizante. Assim como no passado, a política frentepopulista é a
responsável pelas maiores derrotas impostas à classe operária em nome da
institucionalidade e da ordem burguesa. Está colocada para a vanguarda
classista chilena a superação deste quadro de conciliação de classes, denunciando
que os partidos da “Concertación”, incluindo o PC e seus satélites patrocinam
ilusões no regime cívico-militar atual, apontando sua bússola para o norte da
revolução socialista para que não se repita a trágica experiência da “via
pacífica ao socialismo” interrompida há exatamente 43 anos pelo genocida golpe
pinochetista no Chile!