OBAMA E SANTOS COMEMORAM A TRANSFORMAÇÃO DAS FARC EM
SUSTENTÁCULO DO SIMULACRO DE DEMOCRACIA BURGUESA NA COLÔMBIA... OS
REVOLUCIONÁRIOS ESTÃO AO LADO DO ELN E DA “FRENTE UM” NA DENÚNCIA DOS “ACORDOS
DE PAZ”
Neste último 28 de agosto foi celebrado oficialmente o
“Acordo de Paz” entre as FARC e o governo Santos. As palavras de Iván Marquéz,
chefe da delegação da guerrilha, são categóricas “Podemos proclamar que termina
a guerra com as armas e começa o debate das ideias. Confessamos que concluímos
a mais bela de todas as batalhas: a de assentar as bases para a paz e a
convivência”. Segundo a direção das FARC “a partir do indulto e da mais ampla
anistia política, abre o caminho para nossa conversão em partido ou movimento
político legal no novo cenário social que surge do conjunto dos Acordos de
Paz”. Não por acaso, o pacto está sendo comemorado como “histórico” pela mídia
mundial e os governos burgueses de todos os matizes políticos. Obama anunciou
que depois da aprovação do acordo no referendo de outubro a Casa Branca
liberará 450 milhões dólares para ajudar no processo de “pacificação” do país.
Santos comemorou efusivamente os termos do acordo, tanto que acertada a entrega
das armas pelas FARC e o plano de sua transformação em partido político
subordinado as regras da democracia burguesa, o imperialismo ianque
imediatamente felicitou o governo colombiano. O principal ponto celebrado
inclui o cessar fogo, entrega de armas da guerrilha à ONU e a imposição de que
os guerrilheiros passariam a condições de civis em um prazo de 180 dias.
Ficariam isolados em “campos de transição”, sendo estabelecidas 22 áreas
temporárias e 8 campos para os guerrilheiros das Farc, que devem existir por
seis meses. O ELN não concorda com os termos do acordo e o denuncia duramente.
Através de um comunicado advertiu “O Governo nega a natureza política do
levante armado e mantém intato o regime oprobioso de violência, exclusão,
desigualdade, injustiça e depredação. Se as guerrilhas se desarmarem, será
maior a entrega da pátria aos interesses imperialistas e a oligarquia irá se
encorajar com maior repressão contra as reivindicações sociais” (Diário da
Liberdade, 09/08). A segunda guerrilha colombiana assegurou ainda que enquanto
for mantido “um regime oligárquico no país é uma obrigação se manter como
guerrilheiros de armas na mão. Para Juan Manuel Santos a paz não é uma
convicção política, mas unicamente um cálculo econômico, porque é mais barato
levar a insurgência à legalidade sem se comprometer com as transformações que a
sociedade precisa”. Também criticou os outros pontos alcançados pelo Governo e
as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) - desenvolvimento agrário
e rural, participação política, drogas e vítimas - porque “deformam os
fundamentos essenciais do direito à rebelião”. Por fim o texto recrimina que
“torna evidente que o objetivo principal da comandância das FARC é se converter
em uma organização legal, aceitando acordos que exculpam o Estado de sua
responsabilidade no desenvolvimento da guerra suja e o Terrorismo de Estado”.
Por sua vez, as chamadas Frente 1 e 7, setores dissidentes das FARC, denunciam
os campos de transição como "cárceres a céu aberto”. Para a Frente 1
- Armando Ríos (que manteve Ingrid
Betancourt como prisioneira de guerra) “A política do estado colombiano e seus
aliados só busca o desarme e a desmobilização das guerrilhas. Não estão
pensando nos problemas sociais e econômicos do país” (BBC, 08/08). Aos
dissidentes o facínora Santos prometeu mão dura “Todo o poder de nossas forças
se concentrará em quem ficar fora desse processo. Qualquer deles que tiver
alguma dúvida, melhor que a deixe de lado. É a última oportunidade que eles têm
para mudar de firma. De outro modo, terminarão, eu garanto, em um túmulo ou em
uma prisão”, afirmou de forma taxativa o presidente colombiano no que foi
vergonhosamente reforçado pela direção da própria FARC “O setor de comando e
combatentes da Primeira Frente que decidiu renegar de sus princípios, apela a
argumentações ideológicas e políticas a fim de ocultar a evidente influencia de
interesses econômicos opostos ao termino do conflito. Não só adotam um
temerário comportamento contrario as determinações da Direção Nacional das
FARC, chocam-se frontalmente com os sonhos de paz que estão dentro do coração
do povo” assinalou o comunicado assinado pelo Estado Maior das FARC. Para nós,
revolucionários trotskistas, não há nada a comemorar! As “negociações de paz”
com Santos e o conjunto das medidas anunciadas pelas FARC foram sendo tomadas
desde 2012 no marco de uma enorme pressão “democrática” de seus “aliados”,
particularmente do governo venezuelano e os irmãos Castro, comandantes da
burocracia cubana, elas não fortalecem a luta revolucionária na Colômbia e no
mundo, na verdade a sabotam . A ofensiva militar imperialista na Líbia e na
Síria, apoiando-se na onda de “reação democrática” que varre o Oriente Médio, é
a prova do que afirmamos. Frente a essa conjuntura dramática, os
revolucionários bolcheviques criticam publicamente as decisões tomadas pela
direção das FARC porque estas medidas desgraçadamente levam paulatinamente à
sua rendição política e não “só” militar. Através de concessões crescentes se
aposta na via da conciliação de classes e na política de integração ao regime
títere como prega Piedad Córdoba e seu movimento “Colombianos pela Paz”. Na
Colômbia, mais que em qualquer outra parte do mundo, hoje a simples luta
sindical contra os patrões e as multinacionais exige a ruptura do proletariado
com os limites da legalidade burguesa e a construção de milícias operárias
armadas para desarmar os exércitos paramilitares e as escaramuças do aparato
repressivo. Não é por acaso, que os mesmos moralistas pequeno-burgueses de
“esquerda” se mostram tão preocupados com os danos que os métodos da guerrilha
causam à consciência e à organização dos trabalhadores, sejam incapazes de
conclamar a organização de milícias operárias para combater o assassinato
sistemático de trabalhadores pelos bandos armados burgueses. Isso acontece
porque tal tarefa deve ser encabeçada por um genuíno partido trotskista
completamente independente da opinião pública burguesa e de sua moral, armado
de um programa revolucionário capaz de preparar pacientemente a insurreição das
massas colombianas. É vital para o movimento de massas colombiano organizar
milícias operárias tão fortes que sejam capazes de acaudilhar atrás de si as
organizações guerrilheiras, submetendo-as militarmente à democracia das
assembleias proletárias para desarmar o aparato repressivo oficial e paramilitar
assassino.
Os “acordos de paz” celebrados hoje são fruto de um processo
de iniciou sobre a pressão direta de Hugo Chávez já em 2008. Não esqueçamos que
dias após os guerrilheiros das FARC terem sido massacrados pelo governo Uribe,
cujo ministro da defesa era Manoel Santos, em uma operação militar conjunta com
o imperialismo ianque no Equador, Hugo Chávez defendeu que as FARC entreguem as
armas: “Que (as Farc) entreguem as armas, que formem um partido político, mas
que não lhes matem” (Folha On Line, 07/02/2008). Agora seu “pedido” começa a
tornar-se realidade. Tal declaração tratou-se de um chamado à completa rendição
militar das FARC pela via de um acordo para esta se integrar ao simulacro da
democracia burguesa colombiana. A proposta tem como consequência direta e
prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa
exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na
década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da Unidade
Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como resultado o
assassinato de cerca 5 mil dirigentes pelas forças de repressão do Estado,
pilar-mestre da democracia bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as
mesmas ilusões reformistas hoje patrocinadas. Ao narcotraficante regime burguês
colombiano não interessa sequer a conversão da guerrilha em partido político
desarmado, apenas sua extinção. Ainda que consideremos justo que as FARC tomem
medidas de autopreservação neste momento delicado do combate, pois a guerrilha
tem todo direito de negociar a liberdade de seus presos políticos através da
troca de reféns, definitivamente não é anunciando o desarmamento total e sua
integração ao bastardo regime democrático o melhor caminho para se defender dos
ataques do genocida regime colombiano, muito menos tendo ilusões de que este
possa chegar a algum acordo com a guerrilha que não seja baseado na sua
liquidação enquanto força política e militar.
Somando-se ao coro reacionário daqueles que responsabilizam os “métodos” das FARC pela ofensiva militar do governo Colombiano, ou seja, o uso da luta armada e da captura de prisioneiros de guerra, na época Chávez instigou as FARC a “que humanizem a guerra, que não utilizem o sequestro como uma arma” (Idem). Fidel também aconselhou a guerrilha a libertar incondicionalmente os que continuavam retidos: “Critiquei com energia e franqueza os métodos objetivamente cruéis do sequestro e a retenção de prisioneiros nas condições da selva. Mas não estou sugerindo a ninguém que deponha as armas, se nos últimos 50 anos os que o fizeram não sobreviveram à paz. Se algo me atrevo a sugerir aos guerrilheiros das FARC é simplesmente que declarem por qualquer meio a Cruz Vermelha Internacional a disposição de pôr em liberdade os sequestrados e prisioneiros que ainda estejam em seu poder, sem condição alguma” (Cubadebate, 05/07/08). Em 2012 o conselho de Fidel começou a ser “atendido” e agora virou a base do acordo, no lastro do próprio pacto celebrado recentemente entre a burocracia castrista e Obama que vai acelerar a restauração capitalista.
Diante do cerco crescente neste momento de maior fragilidade das FARC, os marxistas revolucionários sempre declararam seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre as forças guerrilheiras (ELN, Frente 1 e 7) e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa destes agrupamentos. Ao lado dos heroicos guerrilheiros e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres, como hoje desgraçadamente defende o atual comandante das FARC, Timoleón Jiménez.
As “negociações de paz” com Santos e o conjunto das medidas anunciadas pelas FARC são apoiadas pelo conjunto da esquerda mundial e os governos “progressistas” da América Latina. Elas estão sendo tomadas no marco de uma enorme pressão “democrática” dos “aliados” da guerrilha. A centro-esquerda burguesa na Colômbia apoiou as “negociações de paz”. Omer Calderón, presidente do partido colombiano União Patriótica (UP) junto com o Polo Democrático chancelaram as iniciativas de Santos em torno do tema. Calderón destacou que a expectativa do povo colombiano é que as negociações de paz avancem para que prevaleça a democracia no país e que o fim das agressões a militantes populares. Lembremos que por conta desta mesma política suicida a União Patriótica, surgida em 1985 teve dois candidatos presidenciais seus mortos (a candidata atual, Aida, também sofreu atentado recente do qual escapou). 5 mil militantes da UP foram assassinados incluindo oito congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos. As “negociações de paz” entre as FARC e o governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista nacional e internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra desde que começaram: mais de 200 guerrilheiros mortos desde 2012 até agora. Não esqueçamos que em meio aos “diálogos” o governo anunciou novos investimentos no combate às FARC e a aproximação com a OTAN, tanto que a proposta de formalizar um cessar-fogo durante as “negociações” foi rechaçada pelo presidente colombiano várias vezes até a celebração final. Como observamos, trata-se de uma farsa montada justamente para eliminar fisicamente a guerrilha, como a LBI já denunciava quase isoladamente na “esquerda” quando se anunciou o acordo costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do imperialismo ianque. Na verdade está em curso uma ofensiva geral contra a guerrilha pela via da “reação democrática” no lastro do recrudescimento global da ação do imperialismo contra os povos, nações e forças políticas que são obstáculos a seus ditames, como as FARC, a Síria e o Irã, alvos imediatos da sanha imperialista.
Fica cada vez mais claro que a única “paz” que sairá destas
negociações é a dos cemitérios, já que desgraçadamente as vidas dos heroicos
combatentes das FARC foram sacrificadas em nome de uma política que em nada
serve para a luta revolucionária e, muito menos, para libertar a Colômbia do
domínio da burguesia e do imperialismo. Não resta dúvida que Santos e Uribe são
dois lados da mesma moeda na política de eliminação física e política da FARC
patrocinada pelo imperialismo ianque, sendo o atual presidente partidário de
uma orientação que está sendo bem mais sucedida que a do chacal Uribe, de quem
foi ministro da defesa, já que vem neutralizando tanto a guerrilha como a
própria “esquerda” colombiana. A direção da guerrilha nos últimos anos veio
cada vez mais apostando em uma ilusória solução negociada para o enfrentamento
que já duram várias décadas. Tanto que as FARC anunciaram que pretendem formar
um partido político submetido às regras da democracia burguesa. A história está
prestes a se repetir na Colômbia, desta vez como uma segunda tragédia, posto
que as FARC parecem ter esquecido o desastre do passado quando se “converteu”
em partido institucional, em nome da “paz” e teve a maioria de seus quadros
dirigentes assassinados pelo regime burguês. Por esta razão, assim como o ELN,
as dissidente Frente 1 e 7, denunciamos este acordo e o consideramos parte da
estratégia de Obama de deixar como seu legado não só a reaproximação com Cuba,
mas a aniquilação das FARC pela via da “reação democrática”.