terça-feira, 24 de dezembro de 2013


Ataque à sede da polícia do Egito é uma legítima resposta das massas ao golpe militar contrarrevolucionário imposto contra a Irmandade Muçulmana e o movimento popular

A sede da bárbara e assassina polícia egípcia na cidade do Delta do Nilo de Mansoura, a 110 km ao norte do Cairo, foi atingida por uma explosão de um carro-bomba na noite desta segunda-feira, 23 de dezembro. Pelo menos 14 policiais morreram, entre eles o chefe da Direção de Segurança assim como agentes militares e civis. Logo após o atentado, o primeiro-ministro egípcio, Hazem Beblawi, classificou a Irmandade Muçulmana (IM), à qual pertence o presidente deposto Mohamed Morsi por um golpe militar de ser uma “organização terrorista”. Na verdade o ataque à sede da polícia foi uma resposta legítima das massas e de suas organizações políticas ao próprio golpe contrarrevolucionário desferido pela alta cúpula das FFAA em um quadro onde a IM foi posta na ilegalidade e seus dirigentes presos enquanto o regime deu liberdade ao odiado Mubarak e todo seu staff político. No apagar de 2013 se polariza a situação política no Egito com a ditadura cívico-militar atacando os mais elementares direitos democráticos dos trabalhadores e a resistência assumindo cada vez mais contornos de ataques a alvos que representam o poder golpista. Tal realidade joga na lata do lixo na história as teses que o Egito foi palco de uma “revolução” e desmoraliza por completo aqueles que apoiaram (como várias correntes revisionistas do trotskismo) o golpe militar apresentando-o como mais um capítulo do suposto “triunfo das massas”!

Não por acaso, no mesmo dia do ataque à sede da polícia, a IM anunciou que mais de 450 presos islamitas, incluindo pessoas próximas ao presidente deposto Mohamed Morsi, iniciavam uma greve de fome contra as más condições de detenção: “Mais de 450 membros da Irmandade Muçulmana presos políticos e próximos a Morsi iniciaram uma greve de fome para denunciar o tratamento desumano na prisão”, anunciou pelo Twitter o grupo, perseguido pelos militares e continua: “Muitos presos políticos da Irmandade Muçulmana têm proibidas as visitas de familiares, a assistência jurídica, os cuidados médicos e (moram) em celas superlotadas e insalubres”. Entre os que iniciaram esta greve de fome estão Esam al Arian, número dois do partido da Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, Mohamed Beltagi, um ex-parlamentar, e Jairat al Shater, que era considerado o verdadeiro “homem forte” da confraria. Após o golpe de julho passado, que depôs o presidente islamita, o exército reprimiu de forma sangrenta os manifestantes pró-Morsi, particularmente desde 14 de agosto, quando policiais e soldados mataram centenas de partidários da IM ao dispersar um protesto no Cairo. Desde então, mais de mil manifestantes morreram. Lembremos que em agosto as FFAA promoveram um massacre no Egito via uma verdadeira operação de guerra que matou mais de 600 apoiadores da IM, sendo decretado desde então o toque de recolher e o Estado de Emergência como nos tempos de Mubarak. Na época, os revisionistas que apoiaram o golpe de estado (como a LIT e a CMI de Alan Woods) apresentando-o como um triunfo popular e apregoavam que se deveria organizar as massas para atacar a IM devem ter ficado eufóricos com o massacre, afinal de contas foram eliminados milhares de “islâmicos reacionários”!!!

Para os marxistas revolucionários, as ações da IM no atual quadro político do Egito representam um exemplo de resposta militar legítima das massas e suas organizações ao golpe militar apoiado pelo imperialismo, muitas vezes por meios não convencionais de combate militar. Por isso defendemos que o direito da IM atacar a sede da polícia egípcia e nos declaramos pela unidade de ação com as forças que estão em luta contra o imperialismo e dos golpistas. Nesse combate consideramos legítima toda e qualquer ação de resistência armada das massas ao regime parido do golpe contra Morsi e nunca os classificamos como “atos terroristas”! Cabe lembrar, quando ocorreu o 11 de Setembro em 2011, o conjunto da esquerda revisionista condenou os ataques da Al-Qaeda contra o alvos imperialistas, caracterizando-os como atos de “terrorismo individual”. Desta forma, se integraram politicamente à frente única antiterrorista encabeçada por Bush e os governos lacaios, apresentando os EUA como uma “vítima” dos “bárbaros terroristas” muçulmanos. Agora, diante do ataque da IM a sede da assassina polícia egípcia perguntamos a esta mesma esquerda revisionista se a “resposta” da resistência armada no Egito também será condenada como um “ato terrorista” e não considerada como uma “vingança” justa e legítima da IM? Não temos dúvida que a LIT irá condenar tais ataques afinal de contas essa corrente corrompida até a medula apoiou o golpe militar! Diante das FFAA que massacram apoiadores de Morsi, decretam Estado de emergência e toque de recolher no Egito, o que dizem agora os apoiadores do “golpe revolucionário”? Logo após o massacre a membros da IM a LIT apregoava que “No Egito, quando a Irmandade Muçulmana sai às ruas defendendo a volta do governo bonapartista de Morsi, está protagonizando uma mobilização contra o regime, mas de caráter contrarrevolucionário, e por isso não é correto defender nenhum tipo de unidade de ação com essa organização. Essa mobilização, portanto, não tem nada de progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam, erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um ‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de mobilização que só serve à contrarrevolução. Diante disso, se impõe a necessidade de que as organizações populares, que derrubaram Morsi, tenham planos e organismos de autodefesa para impor a vontade das massas contra a reacionária Irmandade Muçulmana, de tal forma que não dependam do Exército e da polícia para impor sua vontade.” (sítio LIT, 26/07). Como podemos observar, trata-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as FFAA, responsáveis pelo verdadeiro banho de sangue do último semestre!

Desde a LBI nos opomos pelo vértice a esta posição escandalosa. Uma vigorosa delimitação programática com as organizações fundamentalistas muçulmanas ou com qualquer direção política que não represente os interesses do proletariado mundial mas que em qualquer circunstância se enfrente militarmente com o imperialismo e seus agentes internos deve partir do pressuposto do nosso apoio incondicional à sua trincheira militar, sem capitular um milímetro sequer ao seu programa contrarrevolucionário. Combatemos desde o mesmo campo militar com nossa estratégia da revolução socialista mundial, para construir, no campo da luta real e concreta das massas oprimidas, o partido revolucionário, ou seja, a Quarta Internacional. Apoiamos criticamente (pelo fato de não serem conduzidos por uma estratégia proletária) cada ofensiva sobre os golpistas e seus apoiadores imperialistas, postando-se em frente única, com absoluta independência política, com a IM e as forças políticas que enfrentam o exército e a polícia egípcia. Cada revés sofrido pelo regime partido do golpe militar ajuda a elevar o nível de consciência do proletariado e aumenta a sua confiança de a alta cúpula das FFAA pode ser derrotada, forjando as condições para a construção de uma autêntica direção revolucionária que lute pela edificação do socialismo.