Ataque à sede da polícia
do Egito é uma legítima resposta das massas ao golpe militar
contrarrevolucionário imposto contra a Irmandade Muçulmana e o movimento
popular
A sede da bárbara e
assassina polícia egípcia na cidade do Delta do Nilo de Mansoura, a 110 km ao
norte do Cairo, foi atingida por uma explosão de um carro-bomba na noite desta
segunda-feira, 23 de dezembro. Pelo menos 14 policiais morreram, entre eles o
chefe da Direção de Segurança assim como agentes militares e civis. Logo após o
atentado, o primeiro-ministro egípcio, Hazem Beblawi, classificou a Irmandade
Muçulmana (IM), à qual pertence o presidente deposto Mohamed Morsi por um golpe
militar de ser uma “organização terrorista”. Na verdade o ataque à sede da
polícia foi uma resposta legítima das massas e de suas organizações políticas
ao próprio golpe contrarrevolucionário desferido pela alta cúpula das FFAA em
um quadro onde a IM foi posta na ilegalidade e seus dirigentes presos enquanto
o regime deu liberdade ao odiado Mubarak e todo seu staff político. No apagar
de 2013 se polariza a situação política no Egito com a ditadura cívico-militar
atacando os mais elementares direitos democráticos dos trabalhadores e a
resistência assumindo cada vez mais contornos de ataques a alvos que
representam o poder golpista. Tal realidade joga na lata do lixo na história as
teses que o Egito foi palco de uma “revolução” e desmoraliza por completo
aqueles que apoiaram (como várias correntes revisionistas do trotskismo) o
golpe militar apresentando-o como mais um capítulo do suposto “triunfo das
massas”!
Não por acaso, no mesmo dia do ataque à sede da polícia, a IM anunciou que mais de 450 presos islamitas, incluindo pessoas próximas ao presidente deposto Mohamed Morsi, iniciavam uma greve de fome contra as más condições de detenção: “Mais de 450 membros da Irmandade Muçulmana presos políticos e próximos a Morsi iniciaram uma greve de fome para denunciar o tratamento desumano na prisão”, anunciou pelo Twitter o grupo, perseguido pelos militares e continua: “Muitos presos políticos da Irmandade Muçulmana têm proibidas as visitas de familiares, a assistência jurídica, os cuidados médicos e (moram) em celas superlotadas e insalubres”. Entre os que iniciaram esta greve de fome estão Esam al Arian, número dois do partido da Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, Mohamed Beltagi, um ex-parlamentar, e Jairat al Shater, que era considerado o verdadeiro “homem forte” da confraria. Após o golpe de julho passado, que depôs o presidente islamita, o exército reprimiu de forma sangrenta os manifestantes pró-Morsi, particularmente desde 14 de agosto, quando policiais e soldados mataram centenas de partidários da IM ao dispersar um protesto no Cairo. Desde então, mais de mil manifestantes morreram. Lembremos que em agosto as FFAA promoveram um massacre no Egito via uma verdadeira operação de guerra que matou mais de 600 apoiadores da IM, sendo decretado desde então o toque de recolher e o Estado de Emergência como nos tempos de Mubarak. Na época, os revisionistas que apoiaram o golpe de estado (como a LIT e a CMI de Alan Woods) apresentando-o como um triunfo popular e apregoavam que se deveria organizar as massas para atacar a IM devem ter ficado eufóricos com o massacre, afinal de contas foram eliminados milhares de “islâmicos reacionários”!!!
Para os marxistas
revolucionários, as ações da IM no atual quadro político do Egito representam
um exemplo de resposta militar legítima das massas e suas organizações ao golpe
militar apoiado pelo imperialismo, muitas vezes por meios não convencionais de
combate militar. Por isso defendemos que o direito da IM atacar a sede da
polícia egípcia e nos declaramos pela unidade de ação com as forças que estão
em luta contra o imperialismo e dos golpistas. Nesse combate consideramos
legítima toda e qualquer ação de resistência armada das massas ao regime parido
do golpe contra Morsi e nunca os classificamos como “atos terroristas”! Cabe
lembrar, quando ocorreu o 11 de Setembro em 2011, o conjunto da esquerda
revisionista condenou os ataques da Al-Qaeda contra o alvos imperialistas,
caracterizando-os como atos de “terrorismo individual”. Desta forma, se
integraram politicamente à frente única antiterrorista encabeçada por Bush e os
governos lacaios, apresentando os EUA como uma “vítima” dos “bárbaros
terroristas” muçulmanos. Agora, diante do ataque da IM a sede da assassina
polícia egípcia perguntamos a esta mesma esquerda revisionista se a “resposta”
da resistência armada no Egito também será condenada como um “ato terrorista” e
não considerada como uma “vingança” justa e legítima da IM? Não temos dúvida
que a LIT irá condenar tais ataques afinal de contas essa corrente corrompida
até a medula apoiou o golpe militar! Diante das FFAA que massacram apoiadores
de Morsi, decretam Estado de emergência e toque de recolher no Egito, o que
dizem agora os apoiadores do “golpe revolucionário”? Logo após o massacre a
membros da IM a LIT apregoava que “No Egito, quando a Irmandade Muçulmana sai
às ruas defendendo a volta do governo bonapartista de Morsi, está
protagonizando uma mobilização contra o regime, mas de caráter
contrarrevolucionário, e por isso não é correto defender nenhum tipo de unidade
de ação com essa organização. Essa mobilização, portanto, não tem nada de
progressivo, ainda que participem dela milhares de pessoas que acreditam,
erroneamente, que dessa forma estão ‘defendendo a democracia’ contra um
‘golpe’. Para que a revolução avance é necessário derrotar esse tipo de
mobilização que só serve à contrarrevolução. Diante disso, se impõe a
necessidade de que as organizações populares, que derrubaram Morsi, tenham
planos e organismos de autodefesa para impor a vontade das massas contra a
reacionária Irmandade Muçulmana, de tal forma que não dependam do Exército e da
polícia para impor sua vontade.” (sítio LIT, 26/07). Como podemos observar,
trata-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as
FFAA, responsáveis pelo verdadeiro banho de sangue do último semestre!
Desde a LBI nos opomos
pelo vértice a esta posição escandalosa. Uma vigorosa delimitação programática
com as organizações fundamentalistas muçulmanas ou com qualquer direção
política que não represente os interesses do proletariado mundial mas que em
qualquer circunstância se enfrente militarmente com o imperialismo e seus
agentes internos deve partir do pressuposto do nosso apoio incondicional à sua
trincheira militar, sem capitular um milímetro sequer ao seu programa
contrarrevolucionário. Combatemos desde o mesmo campo militar com nossa
estratégia da revolução socialista mundial, para construir, no campo da luta
real e concreta das massas oprimidas, o partido revolucionário, ou seja, a
Quarta Internacional. Apoiamos criticamente (pelo fato de não serem conduzidos
por uma estratégia proletária) cada ofensiva sobre os golpistas e seus
apoiadores imperialistas, postando-se em frente única, com absoluta
independência política, com a IM e as forças políticas que enfrentam o exército
e a polícia egípcia. Cada revés sofrido pelo regime partido do golpe militar
ajuda a elevar o nível de consciência do proletariado e aumenta a sua confiança
de a alta cúpula das FFAA pode ser derrotada, forjando as condições para a
construção de uma autêntica direção revolucionária que lute pela edificação do
socialismo.