Ucrânia: Uma nova
“revolução laranja” made in CIA a serviço de acomodar os interesses
capitalistas na antiga república soviética?
Por pressão da Rússia, o
governo da Ucrânia se recusou no último minuto a assinar o Acordo de Associação
com a União Europeia (UE). Uma série de condições humilhantes tornava a Ucrânia
uma moribunda semicolônia dentro da UE, apesar do atual presidente da antiga
república soviética ter aceitado (inicialmente) colocar parte da infraestrutura
do país a serviço dos grupos capitalistas europeus, inclusive os gasodutos
russos que passam por seu território e que abastecem a Europa. Frente ao recuo
do presidente Viktor Yanukovych na assinatura do tratado, manifestações tomaram
as ruas da capital do país, Kiev, no que a mídia “murdochiana” começa a
descrever como a segunda etapa da “revolução laranja”, referindo-se aos
protestos que levaram o país em 2004 a se distanciar da Rússia e se aproximar
dos EUA e da UE, processo que foi interrompido com a ascensão de Viktor
Yanukovych ao governo, homem próximo a Vladimir Putin. A oposição
pró-imperialista promete uma greve geral para os próximos dias e exige a
renúncia do presidente. Pressionado, Yanukovich disse neste domingo, 01 de
dezembro, que fará todo o possível para acelerar o processo de aproximação de
seu país da União Europeia, mas ressaltou que a colaboração com o bloco europeu
deve ser feita como “parceiros igualitários”: “Farei tudo o que dependa de mim
para acelerar o processo de aproximação da Ucrânia com a União Europeia, sem
permitir para isso grandes perdas para nossa economia nem a piora das condições
de vida de nossos cidadãos”, disse Yanukovich em mensagem à nação pela
comemoração do aniversário do referendo de independência da Ucrânia da antiga
URSS. A oposição pró-imperialista exigiu a realização de eleições presidenciais
e legislativas antecipadas e a demissão do presidente. Anunciou também que se
reunirá com os embaixadores da União Europeia, depois da dispersão dos
manifestantes em Kiev: “Nossas reivindicações são a demissão de Zakhartchenko
[ministro do Interior], uma investigação e diligências contra ele a demissão do
governo e do presidente, e eleições presidenciais e legislativas antecipadas”,
declarou à imprensa Arseni Yatseniuk, um dos líderes do Partido Batkivschina.
Qualquer similaridade com o que ocorreu na Líbia e está em curso da Síria não é
mera coincidência...
Alentando uma segunda etapa da “revolução laranja” ocorrida em 2004 e seguindo o mesmo script imposta no Oriente Médio e no norte da África, ou seja, buscando uma mudança de regime para atender seus interesses políticos e econômicos, um comunicado firmado pela chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton e o comissário da Ampliação da UE, Stefan Fule afirmou: “A União Europeia condena firmemente o uso excessivo da força na noite passada pela polícia de Kiev para dispersar manifestantes pacíficos. O uso injustificado da força vai contra os princípios aos quais todos os participantes da Cúpula de Vilna reafirmaram sua adesão, incluindo o presidente ucraniano”. O governo Obama, conhecido repressor dos protestos em seu próprio país e assassino pelo planeta afora, cinicamente alertou que “Os direitos a manifestações são fundamentais para uma saudável democracia e para o respeito aos valores universais que orientam a colaboração entre Estados Unidos e Ucrânia”, destacou a porta-voz do departamento de Estado Jen Psaki e vociferou ainda que “A violência e a intimidação não deveriam ter lugar na Ucrânia da atualidade, acrescentando que Washington “apoia as aspirações do povo ucraniano visando uma próspera democracia europeia e que a integração europeia é o caminho mais seguro para o crescimento econômico e o reforço da democracia”. A opositora detida Yulia Timoshenko pediu à população que “derrube” o regime do presidente Viktor Yanukovich nas ruas, em carta lida por sua filha Evguenia em entrevista coletiva: “Me dirijo a todos os ucranianos para pedir que se levantem contra a ditadura do regime de Yanukovich. Não abandonem as ruas até que o regime tenha caído por meios pacíficos”, disse Timoshenko, que cumpre pena de 7 anos de prisão. “Exigimos do Parlamento o estudo de um procedimento de expulsão do presidente e eleições antes de 2015”, declarou também Arseni Yatseniuk, aliado da opositora e ex-primeira-ministra detida Yulia Timoshenko, que não por acaso era antes de ser presa era uma alta-executiva da indústria de petróleo e gás e logo se tornou uma das pessoas mais ricas da Ucrânia. Antes de ser primeira-ministra, Yulia foi considerada a aliada mais importante do então líder da oposição Viktor Yushchenko. Ela ganhou extrema visibilidade durante as eleições ucranianas de 2004, quando um golpe levou à anulação do pleito vencido pelos governistas e acabou alçando Yushchenko ao governo, no episódio que ficou apelidado como “Revolução Laranja”. Nas eleições presidenciais de 2010, Timochenko obteve o segundo lugar, perdendo para líder pró-russo Viktor Yanukovych, que agora é alvo dos protestos.
Segundo o presidente do
Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, a Ucrânia “escolheu um caminho para lugar
nenhum”. Em tom de ameaça, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz
também declarou “O que é certo é que o presidente do país não é o país
inteiro”. Esta reação ocorreu porque o presidente ucraniano decidiu no último
dia 28/11 que mesmo depois de seis anos de negociações e preparações, a
associação com a UE não poderia se concretizar porque seria um passo muito
doloroso para a economia nacional. Ele também falou sobre as condições
draconianas ditadas pelo FMI (cujas negociações foram fracassadas) sobre um
empréstimo de 830 milhões de dólares necessários para assegurar a transição
para as normas europeias e requisitos técnicas, que exigiam privatizações,
cortes de salários e controle fiscal extremo. O tratado com o FMI inclui
rebaixamento de salários e congelamento de pensões, aumento do preço do gás,
fim dos investimentos no setor agrícola e de energia, o que seria um fardo
pesado demais para a vida dos ucranianos. Yanukovych enfatizou, no entanto, que
não descarta que o acordo poderia ser assinado em um futuro próximo, o que
desatou a onde de protestos incentivados pela UE. Serguei Smolianinov, deputado
da câmara municipal de Sevastopol, denunciou que “serviços de inteligência
ocidentais e seus agentes empreenderam uma tentativa de derrubar o governo
legítimo” do país (site Voz da Rússia, 02/12). Ele pede que o presidente russo
“entre em acordo com o governo da Ucrânia na entrada no território nacional das
forças armadas da Federação Russa, para proteger (a Ucrânia) contra o exército
dos EUA e os agressores da OTAN”. Na verdade, pelo grau de crise em outros
países da UE, como Grécia, Portugal, Itália, o FMI foi mais duro com a Ucrânia.
Até então os novos membros e os países candidatos à adesão da UE foram
concedidos empréstimos de longo prazo, algo que foi oferecido à Ucrânia. A
situação de enorme pobreza do país, produto da restauração capitalista oriunda
da liquidação contrarrevolucionária da URSS levou um terço de sua população de
cerca de 5,3 milhões de habitantes a viver abaixo da linha de pobreza. As
dramáticas condições de vida e o descontentamento com a corrupção generalizada
foram os móveis para a crise atual, em que a UE busca tirar o máximo de
proveito possível tentando retomar sua influência sobre o país, processo que a
Rússia deseja barrar.
Lembremos que na época
das “revoluções” made in CIA nas ex-repúblicas soviéticas, o PSTU publicou no
Opinião Socialista nº 213 (abril/2005) um artigo intitulado “Leste Europeu: o
gosto amargo do capitalismo”. O texto que abordava os acontecimentos no
Quirguistão e em outros países que integravam a antiga URSS, como a Ucrânia e a
Geórgia, afirmava que “Uma revolução acaba de abalar o Quirguistão.
Recentemente ocorreram abalos também na Geórgia, Ucrânia, Polônia. A Rússia
assiste a cada dia uma revolta em distintos setores da população. Mesmo com
algumas diferenças entre si, esses fatos fazem parte do mesmo processo, e
mostram que, ao contrário do que parece, já que a mídia esconde ou distorce
tudo, o Leste Europeu vive uma situação avançada de ascenso das massas. Elas
sentem o gosto amargo do capitalismo, cuja restauração caiu como um tsunami”.
Como denunciamos naquele momento “Quase quinze anos após o início da contrarrevolução
social aberta nestes países, que os reduziram à condição de semicolônias dos
imperialismos europeu e ianque, a ofensiva da Casa Branca para pôr fim à
influência da Rússia burguesa, através de regimes alinhados a Moscou sobre
essas repúblicas satélites (Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, etc.) é saudada como
uma nova ‘revolução’ pela LIT, uma ‘situação avançada de ascenso das massas’”
(O gosto amargo da restauração capitalista degustado pela LIT no Leste Europeu
e na URSS, Jornal Luta Operária nº 107, Maio/2005). Já em 2005 caracterizávamos
o real conteúdo destas supostas revoluções: “O que está em curso nas antigas
repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados, é a
segunda etapa da restauração capitalista. Nessa fase, Bush e o imperialismo
europeu desejam impor títeres nos países que ainda estão sob a influência do
Kremlin e mantêm relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia.
São manifestações como as ‘revoluções das rosas’ na Geórgia ou a ‘revolução
laranja’ da Ucrânia, designações, inclusive batizadas por Condoleezza Rice,
Secretária de Estado dos EUA e copiadas nada originalmente pela LIT, que buscam
dar um verniz popular a esse processo de mudança de regime político em favor
dos EUA e das potências capitalistas europeias”. (Idem). Os catastrofistas que
na década de 90 festejaram o fim da URSS e a queda do Muro de Berlim como uma
“vitória das massas” são os mesmos que agora veem revoluções em cada esquina para
justificar sua política que profetizou o fim do capitalismo em decorrência do
crash de 2008. Como nada do que prognosticaram se concretizou, vendem
forçosamente cada crise política burguesa como “insurreições de massas” ou
mesmo “revoluções”, como fazem agora também no Oriente Médio e no Norte da
África. A realidade, porém, mais uma vez, desmente nossos alucinados
pseudotrotskistas. Não houve revolução política em 2004 na Ucrânia como pregava
a LIT e, muito menos, está em curso neste momento algo parecido no país da Ásia
Central. O que está ocorrendo na antiga república soviética é na verdade uma
troca de gestores a frente do Estado burguês, que se apoiam no descontentamento
popular para conseguir alcançar seus objetivos políticos. Essa permuta ocorre devido
à disputa de influência entre a Rússia e os EUA.
O PCO, por sua vez, que
hoje cinicamente se apresenta como defensista e critica a política
pró-imperialista do PSTU, festejou a queda da URSS ao lado dos revisionistas do
trotskismo. Não por acaso, quando estouraram as manifestações pró-ocidentais
entre 2004/2005 nas ex-repúblicas soviéticas da Ucrânia, Geórgia e Quirguistão,
apresentou-as como “revoluções”. Para os “esquecidos” do PCO relembremos suas
palavras sobre a “Revolução das Tulipas” no Quirguistão em 2005, que ao lado da
“revolução laranja” na Ucrânia visava operar a transição para regimes mais
alinhados com a Casa Branca e que se afastavam da influência russa! Segundo o
PCO, “A verdadeira revolução que se levantou no Quirguistão põe uma cunha nas
rachaduras do plano do imperialismo para reverter o fracasso da campanha no
Iraque e no Afeganistão. O quadro é o mais negativo possível para o
imperialismo norte-americano: milícias estão sendo formadas nos bairros, os
manifestantes enfrentam a polícia armados e o governo se dissolveu após fechar
as fronteiras e o aeroporto de Manas. É, em toda sua extensão, um pesadelo para
o imperialismo norte-americano e o prenúncio do aprofundamento da crise
internacional. A boa notícia é: este ‘pesadelo’ está se tornando realidade”
(sítio PCO, 08/04/2010). O mais grave, como no caso do Quirquistão, é que em
seus delírios chegam a apresentar os dirigentes da oposição burguesa como
adversários do imperialismo. O PCO declarava na época que a “Revolução no
Quirguistão: Um golpe decisivo contra os aliados do imperialismo
norte-americano na Ásia Central” (idem). Como se pode ver, o “surto” defensista
do PCO é uma cortina de fumaça para encobrir suas posições pró-imperialistas, tão
nefastas quanto às da LIT/PSTU.
Longe do que pregava o
PCO, os atuais opositores não passam de velhos aliados do imperialismo e
inclusive ex-apoiadores da pretensa “revolução laranja”. Como se constata,
trata-se de mais uma falsa “revolução” voltada a acomodar os interesses
capitalistas na antiga república soviética, cujo governo atual não conseguiu
servir a dois senhores e os novos gestores estão a vender seus serviços para
quem melhor pagar. Para as massas, que lutaram tanto antes como agora contra a
miséria capitalista, produto da restauração capitalista na URSS, cabe construir
uma alternativa política independente dos dois bandos burgueses em disputa.
Esta tarefa é algo bem distante da política dos revisionistas do trotskismo que
tanto em 2004 como nos dias atuais saúdam as falsas revoluções patrocinadas
pelas quadrilhas burguesas que, apesar dos conflitos conjunturais, têm o único
objetivo de rapinar o país e torná-lo um apêndice militar a serviço de seus interesses
capitalistas na região.
Está colocado para o
proletariado mundial e, particularmente, para os trabalhadores das
ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da UE, dos EUA e de seus
agentes da Ucrânia. Apesar de não depositarmos qualquer confiança no governo
burguês ucraniano de Viktor Yanukovych e do ex-burocrata Putin-Medvedev, cuja
conduta está voltada a defender os interesses da nascente burguesia russa, as
fricções com a Casa Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão
guerreirista da OTAN na região. Nesse sentido, os revolucionários devem
denunciar as manifestações dos grupos pró-imperialistas e seu caráter
contrarrevolucionário, voltado a fazer na Ucrânia e na própria Rússia uma
“transição democrática” conservadora aos moldes da que vem sendo operada no
Oriente Médio. Opomos-nos pelo vértice à política dos grupos revisionistas como
a LIT, que depois de saudarem a farsesca “revolução árabe” agora apoiam as
manifestações da direita assim como festejaram no passado as “revoluções das
cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais “revoluções” nada mais eram que a
segunda etapa da restauração capitalista em curso nas antigas repúblicas
soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados semicoloniais,
quando o imperialismo ianque e europeu impuseram títeres nos governos que ainda
estavam sob a influência do Kremlin e mantinham relações políticas e econômicas
privilegiadas com a Rússia. Agora, a Ucrânia é novamente a bola da vez da
reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou grande impulso com a derrubada
do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Yanukovych como o “adversário” indesejado a
ser removido do governo! Somente genuínos trotskistas que não se deixaram levar
pelo canto de sereia “humanitário” imperialista, que se mantêm firmes na luta
para que os povos oprimidos assumam o controle dos recursos energéticos do
planeta, pela expulsão dos abutres multinacionais e expropriação do conjunto
das burguesias mafiosas, terão autoridade suficiente perante as massas
ucranianas, georgianas, ossetas e russas para conduzir a luta estratégica por
uma Federação de repúblicas socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas
revoluções bolcheviques.