segunda-feira, 2 de dezembro de 2013


Ucrânia: Uma nova “revolução laranja” made in CIA a serviço de acomodar os interesses capitalistas na antiga república soviética?

Por pressão da Rússia, o governo da Ucrânia se recusou no último minuto a assinar o Acordo de Associação com a União Europeia (UE). Uma série de condições humilhantes tornava a Ucrânia uma moribunda semicolônia dentro da UE, apesar do atual presidente da antiga república soviética ter aceitado (inicialmente) colocar parte da infraestrutura do país a serviço dos grupos capitalistas europeus, inclusive os gasodutos russos que passam por seu território e que abastecem a Europa. Frente ao recuo do presidente Viktor Yanukovych na assinatura do tratado, manifestações tomaram as ruas da capital do país, Kiev, no que a mídia “murdochiana” começa a descrever como a segunda etapa da “revolução laranja”, referindo-se aos protestos que levaram o país em 2004 a se distanciar da Rússia e se aproximar dos EUA e da UE, processo que foi interrompido com a ascensão de Viktor Yanukovych ao governo, homem próximo a Vladimir Putin. A oposição pró-imperialista promete uma greve geral para os próximos dias e exige a renúncia do presidente. Pressionado, Yanukovich disse neste domingo, 01 de dezembro, que fará todo o possível para acelerar o processo de aproximação de seu país da União Europeia, mas ressaltou que a colaboração com o bloco europeu deve ser feita como “parceiros igualitários”: “Farei tudo o que dependa de mim para acelerar o processo de aproximação da Ucrânia com a União Europeia, sem permitir para isso grandes perdas para nossa economia nem a piora das condições de vida de nossos cidadãos”, disse Yanukovich em mensagem à nação pela comemoração do aniversário do referendo de independência da Ucrânia da antiga URSS. A oposição pró-imperialista exigiu a realização de eleições presidenciais e legislativas antecipadas e a demissão do presidente. Anunciou também que se reunirá com os embaixadores da União Europeia, depois da dispersão dos manifestantes em Kiev: “Nossas reivindicações são a demissão de Zakhartchenko [ministro do Interior], uma investigação e diligências contra ele a demissão do governo e do presidente, e eleições presidenciais e legislativas antecipadas”, declarou à imprensa Arseni Yatseniuk, um dos líderes do Partido Batkivschina. Qualquer similaridade com o que ocorreu na Líbia e está em curso da Síria não é mera coincidência...

Alentando uma segunda etapa da “revolução laranja” ocorrida em 2004 e seguindo o mesmo script imposta no Oriente Médio e no norte da África, ou seja, buscando uma mudança de regime para atender seus interesses políticos e econômicos, um comunicado firmado pela chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton e o comissário da Ampliação da UE, Stefan Fule afirmou: “A União Europeia condena firmemente o uso excessivo da força na noite passada pela polícia de Kiev para dispersar manifestantes pacíficos. O uso injustificado da força vai contra os princípios aos quais todos os participantes da Cúpula de Vilna reafirmaram sua adesão, incluindo o presidente ucraniano”. O governo Obama, conhecido repressor dos protestos em seu próprio país e assassino pelo planeta afora, cinicamente alertou que “Os direitos a manifestações são fundamentais para uma saudável democracia e para o respeito aos valores universais que orientam a colaboração entre Estados Unidos e Ucrânia”, destacou a porta-voz do departamento de Estado Jen Psaki e vociferou ainda que “A violência e a intimidação não deveriam ter lugar na Ucrânia da atualidade, acrescentando que Washington “apoia as aspirações do povo ucraniano visando uma próspera democracia europeia e que a integração europeia é o caminho mais seguro para o crescimento econômico e o reforço da democracia”. A opositora detida Yulia Timoshenko pediu à população que “derrube” o regime do presidente Viktor Yanukovich nas ruas, em carta lida por sua filha Evguenia em entrevista coletiva: “Me dirijo a todos os ucranianos para pedir que se levantem contra a ditadura do regime de Yanukovich. Não abandonem as ruas até que o regime tenha caído por meios pacíficos”, disse Timoshenko, que cumpre pena de 7 anos de prisão. “Exigimos do Parlamento o estudo de um procedimento de expulsão do presidente e eleições antes de 2015”, declarou também Arseni Yatseniuk, aliado da opositora e ex-primeira-ministra detida Yulia Timoshenko, que não por acaso era antes de ser presa era uma alta-executiva da indústria de petróleo e gás e logo se tornou uma das pessoas mais ricas da Ucrânia. Antes de ser primeira-ministra, Yulia foi considerada a aliada mais importante do então líder da oposição Viktor Yushchenko. Ela ganhou extrema visibilidade durante as eleições ucranianas de 2004, quando um golpe levou à anulação do pleito vencido pelos governistas e acabou alçando Yushchenko ao governo, no episódio que ficou apelidado como “Revolução Laranja”. Nas eleições presidenciais de 2010, Timochenko obteve o segundo lugar, perdendo para líder pró-russo Viktor Yanukovych, que agora é alvo dos protestos.

Segundo o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, a Ucrânia “escolheu um caminho para lugar nenhum”. Em tom de ameaça, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz também declarou “O que é certo é que o presidente do país não é o país inteiro”. Esta reação ocorreu porque o presidente ucraniano decidiu no último dia 28/11 que mesmo depois de seis anos de negociações e preparações, a associação com a UE não poderia se concretizar porque seria um passo muito doloroso para a economia nacional. Ele também falou sobre as condições draconianas ditadas pelo FMI (cujas negociações foram fracassadas) sobre um empréstimo de 830 milhões de dólares necessários para assegurar a transição para as normas europeias e requisitos técnicas, que exigiam privatizações, cortes de salários e controle fiscal extremo. O tratado com o FMI inclui rebaixamento de salários e congelamento de pensões, aumento do preço do gás, fim dos investimentos no setor agrícola e de energia, o que seria um fardo pesado demais para a vida dos ucranianos. Yanukovych enfatizou, no entanto, que não descarta que o acordo poderia ser assinado em um futuro próximo, o que desatou a onde de protestos incentivados pela UE. Serguei Smolianinov, deputado da câmara municipal de Sevastopol, denunciou que “serviços de inteligência ocidentais e seus agentes empreenderam uma tentativa de derrubar o governo legítimo” do país (site Voz da Rússia, 02/12). Ele pede que o presidente russo “entre em acordo com o governo da Ucrânia na entrada no território nacional das forças armadas da Federação Russa, para proteger (a Ucrânia) contra o exército dos EUA e os agressores da OTAN”. Na verdade, pelo grau de crise em outros países da UE, como Grécia, Portugal, Itália, o FMI foi mais duro com a Ucrânia. Até então os novos membros e os países candidatos à adesão da UE foram concedidos empréstimos de longo prazo, algo que foi oferecido à Ucrânia. A situação de enorme pobreza do país, produto da restauração capitalista oriunda da liquidação contrarrevolucionária da URSS levou um terço de sua população de cerca de 5,3 milhões de habitantes a viver abaixo da linha de pobreza. As dramáticas condições de vida e o descontentamento com a corrupção generalizada foram os móveis para a crise atual, em que a UE busca tirar o máximo de proveito possível tentando retomar sua influência sobre o país, processo que a Rússia deseja barrar.

Lembremos que na época das “revoluções” made in CIA nas ex-repúblicas soviéticas, o PSTU publicou no Opinião Socialista nº 213 (abril/2005) um artigo intitulado “Leste Europeu: o gosto amargo do capitalismo”. O texto que abordava os acontecimentos no Quirguistão e em outros países que integravam a antiga URSS, como a Ucrânia e a Geórgia, afirmava que “Uma revolução acaba de abalar o Quirguistão. Recentemente ocorreram abalos também na Geórgia, Ucrânia, Polônia. A Rússia assiste a cada dia uma revolta em distintos setores da população. Mesmo com algumas diferenças entre si, esses fatos fazem parte do mesmo processo, e mostram que, ao contrário do que parece, já que a mídia esconde ou distorce tudo, o Leste Europeu vive uma situação avançada de ascenso das massas. Elas sentem o gosto amargo do capitalismo, cuja restauração caiu como um tsunami”. Como denunciamos naquele momento “Quase quinze anos após o início da contrarrevolução social aberta nestes países, que os reduziram à condição de semicolônias dos imperialismos europeu e ianque, a ofensiva da Casa Branca para pôr fim à influência da Rússia burguesa, através de regimes alinhados a Moscou sobre essas repúblicas satélites (Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, etc.) é saudada como uma nova ‘revolução’ pela LIT, uma ‘situação avançada de ascenso das massas’” (O gosto amargo da restauração capitalista degustado pela LIT no Leste Europeu e na URSS, Jornal Luta Operária nº 107, Maio/2005). Já em 2005 caracterizávamos o real conteúdo destas supostas revoluções: “O que está em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados, é a segunda etapa da restauração capitalista. Nessa fase, Bush e o imperialismo europeu desejam impor títeres nos países que ainda estão sob a influência do Kremlin e mantêm relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. São manifestações como as ‘revoluções das rosas’ na Geórgia ou a ‘revolução laranja’ da Ucrânia, designações, inclusive batizadas por Condoleezza Rice, Secretária de Estado dos EUA e copiadas nada originalmente pela LIT, que buscam dar um verniz popular a esse processo de mudança de regime político em favor dos EUA e das potências capitalistas europeias”. (Idem). Os catastrofistas que na década de 90 festejaram o fim da URSS e a queda do Muro de Berlim como uma “vitória das massas” são os mesmos que agora veem revoluções em cada esquina para justificar sua política que profetizou o fim do capitalismo em decorrência do crash de 2008. Como nada do que prognosticaram se concretizou, vendem forçosamente cada crise política burguesa como “insurreições de massas” ou mesmo “revoluções”, como fazem agora também no Oriente Médio e no Norte da África. A realidade, porém, mais uma vez, desmente nossos alucinados pseudotrotskistas. Não houve revolução política em 2004 na Ucrânia como pregava a LIT e, muito menos, está em curso neste momento algo parecido no país da Ásia Central. O que está ocorrendo na antiga república soviética é na verdade uma troca de gestores a frente do Estado burguês, que se apoiam no descontentamento popular para conseguir alcançar seus objetivos políticos. Essa permuta ocorre devido à disputa de influência entre a Rússia e os EUA.

O PCO, por sua vez, que hoje cinicamente se apresenta como defensista e critica a política pró-imperialista do PSTU, festejou a queda da URSS ao lado dos revisionistas do trotskismo. Não por acaso, quando estouraram as manifestações pró-ocidentais entre 2004/2005 nas ex-repúblicas soviéticas da Ucrânia, Geórgia e Quirguistão, apresentou-as como “revoluções”. Para os “esquecidos” do PCO relembremos suas palavras sobre a “Revolução das Tulipas” no Quirguistão em 2005, que ao lado da “revolução laranja” na Ucrânia visava operar a transição para regimes mais alinhados com a Casa Branca e que se afastavam da influência russa! Segundo o PCO, “A verdadeira revolução que se levantou no Quirguistão põe uma cunha nas rachaduras do plano do imperialismo para reverter o fracasso da campanha no Iraque e no Afeganistão. O quadro é o mais negativo possível para o imperialismo norte-americano: milícias estão sendo formadas nos bairros, os manifestantes enfrentam a polícia armados e o governo se dissolveu após fechar as fronteiras e o aeroporto de Manas. É, em toda sua extensão, um pesadelo para o imperialismo norte-americano e o prenúncio do aprofundamento da crise internacional. A boa notícia é: este ‘pesadelo’ está se tornando realidade” (sítio PCO, 08/04/2010). O mais grave, como no caso do Quirquistão, é que em seus delírios chegam a apresentar os dirigentes da oposição burguesa como adversários do imperialismo. O PCO declarava na época que a “Revolução no Quirguistão: Um golpe decisivo contra os aliados do imperialismo norte-americano na Ásia Central” (idem). Como se pode ver, o “surto” defensista do PCO é uma cortina de fumaça para encobrir suas posições pró-imperialistas, tão nefastas quanto às da LIT/PSTU.

Longe do que pregava o PCO, os atuais opositores não passam de velhos aliados do imperialismo e inclusive ex-apoiadores da pretensa “revolução laranja”. Como se constata, trata-se de mais uma falsa “revolução” voltada a acomodar os interesses capitalistas na antiga república soviética, cujo governo atual não conseguiu servir a dois senhores e os novos gestores estão a vender seus serviços para quem melhor pagar. Para as massas, que lutaram tanto antes como agora contra a miséria capitalista, produto da restauração capitalista na URSS, cabe construir uma alternativa política independente dos dois bandos burgueses em disputa. Esta tarefa é algo bem distante da política dos revisionistas do trotskismo que tanto em 2004 como nos dias atuais saúdam as falsas revoluções patrocinadas pelas quadrilhas burguesas que, apesar dos conflitos conjunturais, têm o único objetivo de rapinar o país e torná-lo um apêndice militar a serviço de seus interesses capitalistas na região.

Está colocado para o proletariado mundial e, particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da UE, dos EUA e de seus agentes da Ucrânia. Apesar de não depositarmos qualquer confiança no governo burguês ucraniano de Viktor Yanukovych e do ex-burocrata Putin-Medvedev, cuja conduta está voltada a defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN na região. Nesse sentido, os revolucionários devem denunciar as manifestações dos grupos pró-imperialistas e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a fazer na Ucrânia e na própria Rússia uma “transição democrática” conservadora aos moldes da que vem sendo operada no Oriente Médio. Opomos-nos pelo vértice à política dos grupos revisionistas como a LIT, que depois de saudarem a farsesca “revolução árabe” agora apoiam as manifestações da direita assim como festejaram no passado as “revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais “revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da restauração capitalista em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados semicoloniais, quando o imperialismo ianque e europeu impuseram títeres nos governos que ainda estavam sob a influência do Kremlin e mantinham relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. Agora, a Ucrânia é novamente a bola da vez da reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou grande impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Yanukovych como o “adversário” indesejado a ser removido do governo! Somente genuínos trotskistas que não se deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário” imperialista, que se mantêm firmes na luta para que os povos oprimidos assumam o controle dos recursos energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres multinacionais e expropriação do conjunto das burguesias mafiosas, terão autoridade suficiente perante as massas ucranianas, georgianas, ossetas e russas para conduzir a luta estratégica por uma Federação de repúblicas socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas revoluções bolcheviques.