Fraudaram o congresso
para impor Randolfe candidato ao Planalto ou
revelou-se a fraude que sempre foi apresentar o PSOL como um “partido socialista”?
revelou-se a fraude que sempre foi apresentar o PSOL como um “partido socialista”?
Desde a sua fundação em
2004, o PSOL tem como slogan central “um novo partido contra a velha política”.
O seu mais recente Congresso Nacional, o IV, findado no último domingo, 1 de
dezembro, demonstrou que nem mesmo esta bizarra fórmula vazia ao gosto da
pequena-burguesia “ética” consegue se sustentar frente à galopante integração
da legenda ao regime da democracia dos ricos. Fraudes, manobras, golpes e
agressões físicas marcaram os principais momentos da arena (ou seria ringue?)
que “escolheu” ao seu final o sarneysista Randolfe Rodrigues como pré-candidato
do partido à presidência da República. A maioria conformada por Ivan Valente,
Randolfe, Luiz Araújo, Edilson Silva, Milton Temer e Janira Rocha em torno da
tese “Unidade Socialista por um PSOL Popular” (US) literalmente tratorou em
todas as votações o chamado Bloco de Esquerda (BE), impulsionado pelo MES, CST,
TLS, LSR e Insurgência. Vale lembrar que a maioria imposta pela US foi
sacramentada na véspera do próprio Congresso, quando o Diretório Nacional se
reuniu e aprovou não só todas as plenárias fraudadas mas também decidiu pela
manutenção da deputada estadual fluminense Janira Rocha no partido, invalidando
sua expulsão decidida anteriormente pela executiva do PSOL-RJ, em troca de que
a parlamentar garantisse seus 14 valiosos delegados para votar na US. Desta
forma, nem mesmo na disputa em torno das prévias para definir a
pré-candidatura, quando os também parlamentares Chico Alencar e Marcelo Freixo
se somaram ao BE, a situação se alterou: por 201 votos contra 186 venceu fechar
questão já no Congresso pelo nome de Randolfe, sem haver sequer a Conferência Eleitoral
partidária prevista no estatuto. A Convenção Nacional a ser realizada em junho,
como exige a justiça eleitoral, apenas “homologará” o nome do senador pelo
Amapá como candidato do partido ao Planalto. A escolha de Randolfe é a expressão
consequente de um partido que em menos de 10 anos de vida fez alianças desde o
PT até a oposição conservadora (PSDB-DEM) depois de ter encabeçado em 2006 a
chamada “Frente de Esquerda” com PSTU e PCB, aceita receber financiamento de
grandes empresas e não por acaso marcha para um giro ainda mais à direita com o
objetivo de conquistar mais postos parlamentares em 2014.
O IV congresso do PSOL revelou a completa incapacidade política do BE (na verdade de “centro-esquerda”) de enfrentar a US. Também pudera, quem o encabeçava era Luciana Genro (MES), a mesma que em 2008 estava coligada ao PV em Porto Alegre e recebeu dinheiro da Gerdau e da Taurus. O MES integrava o setor majoritário até pouco tempo, inclusive foi o maior entusiasta da candidatura de Heloísa Helena em 2006, com seu programa de aberta colaboração de classe com toques reacionários. Agora, Luciana e o MES, apesar de criticarem as “irregularidades” do Congresso, fazem o seguinte balanço: “Aceitei disputar a indicação como candidata à presidente pelo partido... Por muito pouco não se chegou ao resultado que permitiria que a militância debatesse mais, isto é, as prévias. Com mais democracia, tenho confiança que teríamos ainda mais força. Mas o Congresso escolheu o nome de Randolfe Rodrigues. Este resultado não me desanima nem um pouco. Sigo firme na defesa de um PSOL fiel a seu programa fundacional e às jornadas de junho. Continuarei também ativa na vida interna do partido e na disputa de seus rumos” (site LG, artigo “Um breve balanço e perspectivas”, 02/12). De fato, Luciana permanecerá “ativa”... tanto que já declarou “Randolfe é o pré candidato escolhido por maioria pelo Congresso, mas meu nome segue colocado e poderá ser avaliado pela convenção do ano que vem. Luiz Araújo, o novo presidente do PSOL, falou em sua intervenção no Congresso que desejava que eu fosse candidata a Vice-Presidente na chapa com Randolfe. Não descarto esta hipótese, pois não concordo com a decisão de alguns de boicotar a campanha presidencial do PSOL” (Idem) . Desde já o MES está costurando o retorno aos braços de seus antigos aliados e censura os membros do BE que se mostraram mais “rebeldes” com a fraude imposta no Congresso, conduta de Luciana que teve o apoio da CST. Tanto que o próprio BE rachou na votação do nome a ser indicado para pré-candidatura, como revela o balanço da Insurgência, agrupamento que uniu várias correntes de “esquerda” como CSOL e Enlace: “A recusa à realização da Conferência Eleitoral, mecanismo garantido pelo Estatuto do PSOL, mostrou o abandono completo pela Unidade Socialista de qualquer marco de razoabilidade. Considerando aquela decisão ilegítima, inclusive por ignorar o estatuto do PSOL, a Insurgência optou por nem apresentar o nome do companheiro Renato Roseno, nem apoiar a pré-candidatura da companheira Luciana Genro. Consideramos a abstenção a melhor forma de manifestar nossa posição sobre aquela ilegitimidade” (site Insurgência, Artigo “Maioria calcada em fraudes aprova pré-candidatura presidencial de senador Randolfe no IV Congresso do PSOL”, 01/12).
Na verdade, CST e MES
colaboraram com a US para legitimar a eleição de Randolfe ao manterem a
pré-candidatura da deputada Luciana Genro em um congresso abertamente fraudado, ajudando dessa forma a direção a
apresentar que houve uma disputa democrática sobre a questão. A farsa montada
pela US tendo como coadjuvantes o MES e a CST (em busca de preservar seu espaço
no aparato) garantiu a votação, entretanto as abstenções foram em maior número
que os votos para Luciana Genro. Já segundo ela “Na votação da candidatura
presidencial, mais uma vez quase metade do plenário, composto por delegados do
Bloco de Esquerda, rejeitaram Randolfe, sendo que cerca de 30% apoiaram o meu
nome e os demais se abstiveram em protesto contra as irregularidades” (site LG,
artigo “Um breve balanço e perspectivas”, 02/12). Lembremos que nas eleições de
Belém e Macapá, as duas correntes também “denunciaram” as aliança com o PT,
DEM, PTB...mas acabaram chamando o voto em Edmilson e Clécio! Não por acaso ao
final do Congresso o conjunto das correntes, inclusive os “insurgentes”, se
curvaram a fraude imposta pela US e compuseram a direção como minoria. A
maioria conformada por Ivan Valente, Randolfe Rodrigues, Luiz Araújo, Edilson
Silva e Milton Temer (US) obteve 201 votos (52% – 32 membros no DN – 10 membros
na Executiva) e o Bloco de Esquerda todo unificado conquistou 175 votos (45% –
27 membros no DN e 9 membros na Executiva). O grupo de Chico Alencar e Freixo
(Para o PSOL Continuar Necessário) lançou chapa própria obtendo 11 votos (3% –
2 membros no DN – Nenhum membro na Executiva). Registre-se que Chico Alencar,
Marcelo Freixo e Eliomar Coelho não quiseram sequer votar junto com o BE para a
direção nacional a fim de manter sua eterna condição de “independentes” sempre
dispostos a mudar de lado quando melhor lhe convém. Assim como Luciana Genro,
Plínio de Arruda Sampaio e Raul Marcelo, os caciques eleitorais fluminenses já
lançaram declarações tipo “Acabo de ler na telinha manifestações de Plínio de
Arruda Sampaio e Luciana Genro. Ali há grandeza política e responsabilidade para
com a construção do PSOL. Chegue ao site desses camaradas e saiba porque.
Estaremos unidos nas lutas de 2014, inclusive a eleitoral. Com ideias e causas,
contra o sistema da exclusão, da ganância, do preconceito, do capital
monopolista, dos grandes rentistas, da corrupção, do vandalismo de estado dos
‘white blocs’” (facebook Chico Alencar, 04/12). Depois dessas declarações, em
uníssono foram saudados pelos dirigentes da US, sintetizadas nas palavras de
Milton Temer, o artífice da aliança majoritária: “Todos na campanha de
Randolfe. Vamos Juntos!! Luta que Segue!!” (facebook Milton Temer, 04/12). Em
resumo, está tudo em família, afinal de contas o conjunto do PSOL (inclusive
sua “esquerda”) apesar das diversas teses apresentadas e chapas em disputa
compartilha da mesma estratégia de colaboração de classes e do ávido apetite
parlamentar, como demonstrou a aliança de Luciana Genro em 2008 com o PV, o
recebimento entusiasta do apoio de Lula e Dilma a Edmilson Rodrigues em 2012 e
as estreitas relações políticas de Randolfe/Clécio com a direita reacionária
(DEM, PTB) no Amapá!
Para justificar sua
capitulação a maioria fraudada da US, já que sequer passou pelo cabeça de seus
dirigentes romper com o PSOL, a Insurgência, hoje o setor mais “a esquerda” no
PSOL, declara “As votações apertadas do Congresso revelaram que a maioria
constituída pela Unidade Socialista não será tranquila. Foram somente 16 votos
de diferença na votação das prévias e dos 19 cargos da Executiva Nacional, 9 são do Bloco de
Esquerda. A militância da Insurgência e do Bloco de Esquerda em geral foi
embora de Luiziânia com o gosto amargo de uma pré-candidatura presidencial
imposta, que não representa os ventos de junho, mas um perfil institucionalista
que naturaliza alianças com setores da direita. Mas é preciso ter claro que
Randolfe é apenas um pré-candidato e que as bases partidárias querem ser
ouvidas. Apostamos no fortalecimento do Bloco de Esquerda e na sua unidade nas
lutas sociais e na construção do partido como essencial nessa disputa” (site Insurgência, Artigo “Maioria calcada em fraudes aprova pré-candidatura presidencial de senador Randolfe no IV Congresso do PSOL”, 01/12). Para os
marxistas revolucionários não há qualquer sentido no que apregoam, desde dentro
ou fora do PSOL, em “não reconhecer o congresso” ou mesmo de forma ainda mais
farsesca “disputar a convenção nacional” imposta pela Justiça Eleitoral. O PSOL
não serve (e nunca serviu) como ferramenta para a luta revolucionária. O fato
de alguns setores até ventilarem desesperadamente propor que o PSOL apoie a
candidatura de Mauro Iasi (PCB) a presidente a fim de reeditar a “Frente de
Esquerda”, em nada representaria nenhuma ruptura com o programa do PSOL. O que
resta a saber neste “debate” é se o nome do senador é mesmo “pra valer”, se
trata de uma mera barganha eleitoral ou apenas um “laranja” a serviço do
tucanato, como agiu no episódio do “Mensalão” apoiando a farsa montada pelo
STF. Com a migração de Marina Silva para o PSB, o arco de possibilidades
políticas para uma aliança eleitoral com a Frente de Esquerda se estreitou
bastante, sem o REDE fica “complicada” uma coligação “a seco” com o governador
Eduardo Campos. Mesmo rebaixando ao máximo seu programa socialdemocrata, o PSOL
não encontrará no atual “mercado” eleitoral forças burguesas de “peso” que
possam catapultar suas candidaturas proporcionais ao parlamento ou governos
estaduais, ficando como praticamente certo o lançamento do sarneysista
Randolfe, em um movimento defensivo de sobrevivência política para “marcar
posição”.
De nossa parte
caracterizamos que o PSOL já nasceu como um partido pequeno-burguês de
carreiristas profissionais de “esquerda” que perderam espaço dentro do PT e
justamente por isto formaram a legenda. Suas críticas pontuais ao lulismo nunca
tiveram nenhum corte de classe proletário e mais cedo do que tarde sabia-se que
o PSOL iria ingressar de “corpo e alma” no jogo eleitoral burguês. O que chama
a atenção é que grupos que se dizem “contra as alianças burguesas” dentro do
PSOL estão absolutamente centralizados pela política de sua direção (US)
controlada por Ivan Valente, Randolfe, os parlamentares e todo um arco de
“tendências” direitistas. CST, LSR, Insurgência, CRS e grupos menores como o
“Reage Socialista” (Rio de Janeiro), que elegeu Paulo Eduardo Gomes para
vereador em Niterói, criticam apenas para consumo interno as coligações com os
partidos burgueses, mas na verdade compartilham da mesma estratégia de
colaboração de classes, tanto que quando podem acabam se beneficiando “por
tabela” das alianças. Um exemplo disso foi o apoio entusiasta desses grupos a
campanha de Marcelo Freixo, que apesar de não estar coligado diretamente a
nenhum partido burguês, recebeu o apoio “individual” de vários políticos do PV,
PSB e mesmo do PSDB! Tamanha simpatia a Freixo se deu justamente porque ele
encarna a esquerda domesticada a serviço do regime político burguês, basta ver
sua defesa reacionária das UPPs que ocupam as favelas do Rio de Janeiro como
exemplo de luta pela “cidadania”! A chamada “esquerda” do PSOL se limita a
resmungar baixinho contra as alianças, mas de fato sai às ruas freneticamente
em apoio aos maiores defensores desta política canalha.
Já o PSTU, com a
conquista de dois vereadores de capitais via suas coligações com o PSOL, agora
mais do que nunca irá se subordinar à estratégia eleitoral deste último. A
direção morenista não tem porque recuar em sua inflexão à direita, ao
contrário, ingressou em um caminho sem volta. Em Belém se limitou a lançar
“cartas” ao PSOL reclamando de aspectos pontuais da campanha, porém nunca
ventilou a possibilidade de romper com a aliança com Edmilson. O mesmo deve
fazer ao negociar seu apoio a Randolfe. Estas “queixas” não passam de uma
cortina de fumaça para convencer o público interno de que o partido mantém
algum grau de distância do programa de colaboração de classes da minifrente
popular encabeçada pelo PSOL. A estrutura política e material alcançada pelo
PSOL através dos mandatos nas capitais vai incrementar ainda mais seus apetites
eleitorais e o único caminho para crescer será ampliando seu leque de alianças
burguesas. A esta estratégia determinada pela direção do PSOL está
necessariamente colado o PSTU, ainda que finja formalmente reclamar deste
curso. Tais queixas não passam de mero ilusionismo, porque o PSOL, como se
provou em Belém, pode receber recursos de empresários, coligar-se com o PCdoB e
ser apoiado por Marina Silva que o PSTU não rompe a aliança se esta lhe trouxer
dividendos eleitorais. Mesmo o PSOL tendo recebido em 2012 o apoio do PT, DEM,
PPS, PTB e até mesmos dos tucanos, o PSTU “lamentará” tais alianças, mas
continuará aliado ao PSOL esperando que em 2014 seu parceiro “carnal” lhe provenha
um mandato na Câmara Federal! Agora com a festejada “vitória eleitoral” que
garantiu dois postos parlamentares, o PSTU já definiu esta tática típica do
oportunismo morenista como a “justa” para lhe lavar a cara e manter intocáveis
suas alianças com o PSOL. Porém, a luta de classes é implacável e na medida em
que essas críticas são letra morta, sem nenhum desdobramento concreto, o
processo de adaptação ao programa e as alianças do PSOL vão avançando, exigindo
uma maior inflexão à direita por parte do PSTU. Em 2014, por exemplo, o PSTU
“venderá sua alma ao diabo” para coligar-se no máximo de estados com o PSOL,
aceitando “criticamente” suas alianças burguesas desde que esse balaio de gatos
lhe garanta um mandato no parlamento nacional. Registre-se que isto só não
ocorreu até agora porque o PSOL resiste em coligar-se com o PSTU onde tem
chances eleitorais reais, porém com a aceitação pelo PSTU da estratégia
eleitoral do PSOL esta barreira começa a ser superada! Belém mostrou o caminho
e a “retribuição” em Natal consolidou esse processo!
O que realmente deve-se
abstrair de um balanço mais geral do IV Congresso Nacional do PSOL é a sua
completa integração ao regime democratizante, reverenciando até suas
instituições mais apodrecidas e se aliando a partidos como DEM (ex-PFL) e
comandados por figuras sinistras como o PTB de Collor. Já dizia um velho ditado
da sabedoria popular, diz-me com quem tu andas que eu te direi quem és... O
PSOL sai deste congresso totalmente comprometido com os partidos burgueses, até
mesmo de direita. Se o PSTU e seus satélites, dentro e fora do PSOL, mantêm-se
colados a ele é porque compartem da mesma matriz programática, totalmente
oposta ao marxismo revolucionário. O velho Marx principista e rigoroso, se vivo
estivesse não hesitaria em classificar a história deste partido como a
repetição de uma farsa, diante da tragédia original que representou o PT para a
luta de classes. Já não temos a figura de Marx em vida, porém a LBI que
reivindica a herança de seu imenso legado teórico e metodológico pode aferir o
grau de oportunismo político trilhado pelo PSOL, que muito distante de uma
organização revolucionária que luta contra as instituições da República dos
modernos barões capitalistas, se integra a qualquer custo a seu regime político
senil! Diante deste cenário, os marxistas revolucionários devem redobrar seus
esforços no sentido de apontar a ação direta das massas com única “fonte” para
derrotar a brutal ofensiva capitalista em curso, ao mesmo tempo que “dialogam”
com a vanguarda classista a necessidade da agitação publicitária em torno de
uma anticandidatura operária e socialista à presidência da república.