Compra dos caças Gripen:
Burguesia nacional, orientada por Lula, posiciona-se estrategicamente para a “defesa”
diante da ofensiva militar ianque
Completamente mal focado
o debate travado na esquerda acerca da compra dos caças suecos Gripen, a
decisão histórica tomada pelo governo Dilma (neste caso Lula atuou como o
gestor direto da operação) vai bem mais além da questão técnica (bélica) ou
mesmo comercial. O acordo pré-firmado entre o Brasil e Suécia, que envolve
inicialmente a aquisição de 36 caças Gripen NG, permitirá ao nosso país
desenvolver pela primeira vez em sua história (desde o aborto do avançado
programa da arma nuclear nacional) um complexo industrial militar de “ponta”,
aglutinando tanto a produção de aviões (caças) de combate como de mísseis de
longo alcance. O projeto técnico estrutural do Gripen NG não está completamente
concluído, permitindo a EMBRAER a inferência em seu desenvolvimento final, o
que significará adaptar o caça sueco à realidade geoespacial do território
brasileiro. Esta questão não significa apenas um “detalhe técnico”, representa
a possibilidade do domínio total de todas as fases das operações do caça pela
FAB, desde a manutenção mais básica do aparelho até as manobras de ataque
contra qualquer força militar inimiga. Não seria demais lembrar aos defensores da
compra do caça francês Rafale pelo governo brasileiro (sem dúvida alguma mais “possante”
que o Gripen) que a frota área da Líbia (composta em sua maioria por modernos
caças franceses adquiridos por Kadaffi pouco antes de sua derrubada) sequer
conseguiu sair do chão para defender o país atacado pela OTAN. Caso similar
ocorre na Turquia que “descobriu” que seus modernos caças F18, recém-comprados
pelo governo Edorgan, não podem atacar alvos israelenses ou mesmo forças
militares da OTAN. A questão fulcral na aquisição de equipamentos bélicos de “ponta”
se concentra na transferência total de tecnologia, dos fabricantes para os
países usuários. Sem a plena transferência de tecnologia os poderosos artefatos
militares não servem para absolutamente nada! Ou melhor, se prestam para
auxiliar as manobras militares dos países fabricantes. Somente a SAAB sueca,
fabricante do Gripen, abriu esta possibilidade para a FAB, dando um passo além,
o da fabricação do próprio Gripen NG em terras tupiniquins sob a parceria
tecno-científica da EMBRAER. É bem verdade que a proposta de compra dos caças
russos MIG ou do moderno Sukoi, também era interessante para o país, esta foi
por sinal a opção da Venezuela ainda sob o comando de Chávez. Mas assim como os
imperialistas dos EUA e da França, o governo Putin não abria a possibilidade da
transferência de tecnologia das aeronaves. O projeto original do Gripen (dos modelos
que já estão operando) foi concebido tendo um único motor de propulsão, de
fabricação norte-americana. Com o pré-acordo militar firmado entre Brasil e
Suécia, que irritou profundamente a Casa Branca, é muito provável que os ianques
suspendam o fornecimento do motor ao Gripen, atualmente nem a SAAB nem tampouco
a EMBRAER têm a capacidade de fabricação de um motor supersônico destas
características. A alternativa mais viável neste caso seria trazer os motores
da Rússia para serem montados no Brasil e nesta variante formar um tripé bélico
entre os dois países integrantes do BRICs e a Suécia, que tem relativa
independência frente a OTAN.
A “pedra de toque”
alardeada pelo governo da Frente Popular na escolha do Gripen teria sido a
vantagem do baixo custo, cerca de 4,5 bilhões de Dólares pela aquisição de 36
caças, bem abaixo das propostas ianques e francesas (a Rússia já estava fora da
competição). A presidente Dilma, o ministro Amorin e seu comandante militar
Juniti Saito fizeram questão de “despolitizar” ao máximo a escolha pelo Gripen,
temendo principalmente uma retaliação do governo Obama. A verdade é que o
acordo firmado, se realmente tiver fio de continuidade, colocará o país na rota
mundial de produção de equipamentos militares com alta tecnologia agregada, bem
superiores a atual venda internacional de carros de combate (na maioria
anfíbios) e mísseis terra-ar de médio alcance. O Gripen montado com parceria
tecnológica no Brasil (na cidade industrial de São Bernardo) deverá ser
exportado para África do Sul, que já possui poucas unidades da versão mais
antiga C/D e muito provavelmente para países da UNASUL. Este elemento, ou seja,
o da construção nacional de um avançado complexo industrial de segurança,
mudará substancialmente a correlação de forças continental, colocando o Brasil
como único país na América a ter capacidade aérea de defesa frente a um
possível um ataque militar do imperialismo ianque. Este fator posto
concretamente no horizonte da conjuntura mundial, foi que avalizou
politicamente a compra dos Gripen, por parte da nossa covarde e impotente
burguesia nacional, coube ao “quadro” Lula a tarefa de “empurrar” a “gerente” Dilma
nesta direção.
As vozes internas da
reação, ligadas umbilicalmente ao imperialismo, não tardaram para atacar
violentamente a decisão do governo Dilma. Na noite do dia 18/12 no Jornal da
Globo, o ventríloquo da CIA William Waack afirmava que o anúncio da compra tinha sido
feito de forma apressada, apesar de ter sido retardada por 15 anos! Agora no
ridículo papel de bajuladores do governador Eduardo Campos, instrumento da
oposição conservadora, o ex-MR8 atual PPL, criticou a opção pelo Gripen
argumentando que: “Carrega menos armas e menos combustíveis, o que dificulta
sua ação em um país com dimensões continentais como o Brasil, além do mar
territorial, onde se encontra os campos de petróleo do pré-sal. Seu alcance é
de apenas 1.300 km a partir da base. Sem grande automonia de voo, deve servir a
defesa de países com características com as dimensões da Suécia” (Hora do Povo
nº 3214). Se não bastassem mais de vinte anos defendendo incondicionalmente o
corrupto Quércia, agora o PPL quer “atacar” de pata esquerda do PIG. Mentem
descaradamente ao omitir o fato de que o projeto do Gripen NG é diferente dos
anteriores C e D, inclusive no quesito autonomia de voo. Para os interesses de
defesa da FAB é muito importante ter muitos caças mais ágeis e leves, que podem
ser reabastecidos rapidamente em terra ou no ar, do que poucos jatos mais
pesados com características de ataque. O Brasil precisaria de no mínimo 70
novos caças para cobrir todo seu território (terra e mar), levando em conta que
atualmente sua frota aérea militar está praticamente zerada com a “aposentadoria”
dos Mirrage e o sucateamento dos poucos F-5 que ainda conseguem decolar. Hoje a
FAB só dispõe de aeronaves antiguerrilha, como os turbo-hélices Tucanos ou de
jatos para monitoramento ou pequenos combates de pouca altitude. Somente a
parceria com a SAAB poderia produzir quase 40 caças em tempo recorde, espera-se
que em 2018 estejam parcialmente em operação, e que nos próximos dez anos o
país tenha uma frota de caças perto de cem unidades, todas fabricadas “em casa”.
Para nós Marxistas
Revolucionários, a decisão estratégica do governo petista de reorganizar as
defesas militares nacionais, completamente desatualizadas ao longo dos últimos
50 anos, é em primeiro lugar produto de uma reação limitada e atrasada da
burguesia nacional diante da etapa mundial de completa ofensiva imperialista em
todos os terrenos. A brutal pilhagem dos recursos de uma nação, ocorrida na
Líbia e patrocinada pela OTAN, colocou um sinal de alerta “vermelho” paras as
burguesias lacaias de todo o mundo. A novela da pirataria imperial parecia que
iria se repetir na Síria, mas no último momento os abutres covardes da Casa Branca
se convenceram que os MIGs do regime Assad estavam prontos para combater, os
imperialistas poderiam vencer pela franca superioridade militar, mas não
aconteceria o “vexame” passado na Líbia (onde seus aviões eram controlados
desde Paris), diante da dúvida Obama “amarelou”! Esta lição com certeza
acelerou a “vontade política” de nossa classe dominante em pactuar um acordo
militar histórico com a Suécia, deixando de lado “aliados” tradicionais como os
EUA e a França.
Ainda é muito cedo para
vaticinar o sucesso definitivo deste acordo econômico-militar entre Brasil e
Suécia, também não podemos saber se será concluído em sua plenitude. Não podemos
esquecer do “arquivamento” do bem sucedido projeto científico de nossa arma
atômica, seriamos o segundo país no continente a dominar esta tecnologia
militar, assegurando ao Brasil um assento permanente no Conselho de Segurança
da ONU. As pressões imperialistas fizeram com que Sarney “congelasse” o projeto
e FHC o “enterrasse” de vez. Talvez somente em outubro de 2018, na eleição de
um novo governo “pós-Dilma”, é que se estabelecerá com mais sedimentação as
bases políticas da relação entre Brasil e EUA. No bojo deste processo também
entrará em debate a decisão da compra ou não de um moderno submarino nuclear,
com capacidade de lançamento de mísseis a longa distancia. Com absoluta certeza
a burguesia nacional aguardará o “retorno” financeiro concreto das jazidas do
Pré-Sal para dar a última palavra sobre a capacidade militar de defesa do país.
A classe operária não deve nutrir nenhuma expectativa no caráter anti-imperialista
de nossa classe dominante, nem mesmo “guiada” pelo timoneiro Lula, ao mesmo tempo
em que deve estar preparada para responder com sua ação direta a ofensiva neoliberal
do capital em todos os campos da vida humana. Não está descartada nesta
conjuntura de reação imperial em toda linha, que o proletariado possa inclusive
estabelecer uma frente única pontual com a burguesia e seu regime, no sentido
da defesa militar da nação oprimida se atacada pelo imperialismo. É nesta
direção que os Comunistas não se oporão de forma alguma ao armamento do país,
voltado ao combate de nossos parasitas internacionais!