quinta-feira, 5 de dezembro de 2013


FIT racha diante do primeiro fato relevante da luta de classes: Diante do motim das forças de segurança em Córdoba, IS apóia a “greve” policial, PTS se diz contra e o Partido Obrero “muito pelo contrário”...

Mal assumiu seus três postos parlamentares no Congresso Nacional argentino, a “Frente de Esquerda e dos Trabalhadores” (FIT em espanhol) acaba de se fraturar gravemente diante do primeiro acontecimento importante da luta de classes, confirmando assim o que já tínhamos caracterizado anteriormente: o “concreto” programático que uniu PO, PTS e IS era composto de puro oportunismo e de um rebaixado eleitoralismo sem o menor princípio de classe. A província de Córdoba, governada pelo peronista De La Sota, atravessa uma profunda crise política desatada ontem (04/12) com um motim de suas sinistras forças de segurança e uma avalanche de saques a grandes redes comerciais e assaltos a pequenos produtores. Bandos lúmpens marginais, organizados pelas alas mais assassinas da polícia cordobense espalharam o pânico na segunda maior cidade da Argentina. Os policiais reivindicam aumento geral de salários, melhores e mais modernos equipamentos de repressão para a corporação. No curso da “pressão” estabelecida pelos saques, o governador De La Sota saiu rapidamente a negociar com os amotinados, ao mesmo tempo em que “costurava” com o governo central de Cristina a adoção de medidas emergenciais de conteúdo antidemocrático e repressivo. O agrupamento Morenista “Esquerda Socialista” (IS em espanhol) que possui uma relativa influência política na província, recém compondo a FIT teve fraudada a eleição da ex-deputada Liliana Olivero, seguindo sua tradição oportunista que já apoiou o lockout dos produtores de soja (sojeros), saiu logo em defesa do motim policial. A IS qualificou como progressista o movimento reacionário dos agentes da repressão capitalista: “Los policías rasos (los llamados ‘juanes’) no quedaron ajenos a esta situación, con salarios de hambre y sobreexplotación, motivo central de quienes estaban acuartelados protagonizando una masiva huelga por salarios con un acatamiento de casi el 85% en toda la provincia...De la Sota debe resolver el conflicto de la única forma posible: poniendo plata para aumento salarial.” (Sítio da IS 05/12). O PTS, segunda força política no interior da FIT, seguiu uma orientação totalmente oposta a da IS diante do mesmo conflito policial: “Las organizaciones que integran el FIT tienen obligación de plantear una clara delimitación de clase frente a las fuerzas represivas y sus reclamos.” (sítio do PTS 05/12). A principal organização política integrante da FIT, PO, tentou fazer uma “média” entre as duas posições divergentes no seio da Frente, mas tendo sempre como “foco” capitalizar eleitoralmente a crise do Peronismo, nem que para isto “esqueça” de suas próprias convicções acerca de levantamentos policiais. Em artigo firmado pelo dirigente Eduardo Salas, PO tenta tergiversar a questão fazendo uso de um cretino sindicalismo policlassista: “Los trabajadores debemos hacernos una idea precisa del carácter de la crisis que ha sacudido a la provincia, e incluso al país, para desarrollar una mejor preparación de las luchas que se vienen por el trabajo y el salario.” (Sítio PO 05/12). Como se pode claramente aferir, diante da atual conjuntura Argentina, a formação da FIT não correspondeu a homogeneização de uma plataforma revolucionária de unidade da esquerda, ao contrário serviu aos interesses revisionistas que tem no parlamento burguês o centro da ação política, capitulando historicamente ao bastardo regime da “democracia dos ricos”. O futuro político desastroso da FIT já foi selado pelo primeiro teste que a luta de classes lhe impôs, ou seja, agora trata-se de “administrar” diplomaticamente as diferenças internas de princípios entre seus agrupamentos para tentar chegar ainda “unida” até a próxima eleição presidencial.

Durante várias décadas na Argentina o Partido Obrero tentou delimitar “pela esquerda” com os grupos Morenistas, a questão do aparato militar/policial do Estado burguês era um dos pontos divergentes mais candentes. Quando da primeira eleição do deputado nacional Luiz Zamora, pelo “velho” MAS em meados dos anos 80, PO denunciou vigorosamente a atuação parlamentar de Zamora baseada no “populismo de esquerda” por prestar apoio indiscriminado a “movimentos reacionários de militares e policiais”. Mas parece que Altamira “morenizou-se” ao longo do tempo e agora considera os policiais “agentes como empregados públicos” e, portanto, suas ações “devem confluir com a de outros trabalhadores”. Para quem como o PO que já comparou o resultado da última eleição da FIT com uma verdadeira “revolução”, podemos ver que a antiga atuação dos parlamentares Morenistas (Zamora, Vilma etc...) em apoio às “reivindicações” policiais estava em pleno acordo com o que hoje pensa o ultra revisionista Altamira. O governador de Córdoba que apesar de peronista não “reza” na cartilha do kirchnerismo, foi forçado a reconhecer demagogicamente a “legitimidade” dos reclamos dos “trabalhadores” policiais, ao que tudo indica hoje o PO também está pensando da mesma forma.

Mas as fissuras políticas da FIT não se restringem à questão do motim policial, atualmente em curso em Córdoba, mas que pode se alastrar pelo país inteiro. No campo da atuação no parlamento, o PTS se colocou contra a formação de um bloco único dos deputados da FIT, sob a justificativa de não poderia chancelar todos os pronunciamentos do PO ou eventualmente da IS. O Comitê Central do PO respondeu violentamente a esta posição, afirmando que não permitirá que o PTS atue com atos de “fragmentação e usurpação política da FIT”. O que realmente está por trás desta falsa polêmica é o fato da vigência do acordo de rotação das bancas parlamentares da FIT. PO pretende fazer o “rodízio” dos postos no parlamento somente quando estiverem ocupados pelos dirigentes do PTS, privilegiando um acordo interno com a IS, cujas posições tem sido elogiadas constantemente por Altamira.

A enorme crise política e social da província de Córdoba reflete em escala regional a dinâmica extremamente polarizada da Argentina inteira. Os setores da oligarquia reacionária se animaram muito com o resultado das eleições passadas, onde apesar da vitória em separado do bloco kirchnerista, a unidade das “oposições” ( direita e esquerda) poderá impor uma derrota ao candidato da presidenta Cristina. A FIT pretende dobrar sua bancada parlamentar, confiante nos resultados de Salta onde conseguiu arrancar um triunfo na capital, à custa de uma plataforma eleitoral totalmente adaptada as instituições do Estado burguês. Ainda é muito cedo para prognosticar se a FIT conseguirá chegar politicamente “inteira” nas próximas eleições gerais de 2015, mas podemos afirmar com toda certeza que o “fenômeno” do oportunismo parlamentar não é propriamente inédito na esquerda revisionista argentina. A pulverização do “velho” MAS (considerado na época como o maior potencial eleitoral do revisionismo internacional) em dezenas de microgrupos Morenistas, produto de seu exitismo parlamentar, revela a inexorável dinâmica que assumem as organizações da esquerda que perdem completamente o norte revolucionário.