FIT racha diante do primeiro fato relevante da luta de classes: Diante do motim das forças de segurança em Córdoba, IS apóia a “greve” policial, PTS se diz contra e o Partido Obrero “muito pelo contrário”...
Mal assumiu seus três
postos parlamentares no Congresso Nacional argentino, a “Frente de Esquerda e
dos Trabalhadores” (FIT em espanhol) acaba de se fraturar gravemente diante do
primeiro acontecimento importante da luta de classes, confirmando assim o que
já tínhamos caracterizado anteriormente: o “concreto” programático que uniu PO,
PTS e IS era composto de puro oportunismo e de um rebaixado eleitoralismo sem o
menor princípio de classe. A província de Córdoba, governada pelo peronista De
La Sota, atravessa uma profunda crise política desatada ontem (04/12) com um
motim de suas sinistras forças de segurança e uma avalanche de saques a grandes
redes comerciais e assaltos a pequenos produtores. Bandos lúmpens marginais,
organizados pelas alas mais assassinas da polícia cordobense espalharam o
pânico na segunda maior cidade da Argentina. Os policiais reivindicam aumento
geral de salários, melhores e mais modernos equipamentos de repressão para a
corporação. No curso da “pressão” estabelecida pelos saques, o governador De La
Sota saiu rapidamente a negociar com os amotinados, ao mesmo tempo em que “costurava”
com o governo central de Cristina a adoção de medidas emergenciais de conteúdo
antidemocrático e repressivo. O agrupamento Morenista “Esquerda Socialista” (IS
em espanhol) que possui uma relativa influência política na província, recém
compondo a FIT teve fraudada a eleição da ex-deputada Liliana Olivero, seguindo
sua tradição oportunista que já apoiou o lockout dos produtores de soja (sojeros),
saiu logo em defesa do motim policial. A IS qualificou como progressista o
movimento reacionário dos agentes da repressão capitalista: “Los policías rasos
(los llamados ‘juanes’) no quedaron ajenos a esta situación, con salarios de
hambre y sobreexplotación, motivo central de quienes estaban acuartelados
protagonizando una masiva huelga por salarios con un acatamiento de casi el 85%
en toda la provincia...De la Sota debe resolver el conflicto de la única forma
posible: poniendo plata para aumento salarial.” (Sítio da IS 05/12). O PTS,
segunda força política no interior da FIT, seguiu uma orientação totalmente
oposta a da IS diante do mesmo conflito policial: “Las organizaciones que
integran el FIT tienen obligación de plantear una clara delimitación de clase
frente a las fuerzas represivas y sus reclamos.” (sítio do PTS 05/12). A principal
organização política integrante da FIT, PO, tentou fazer uma “média” entre as
duas posições divergentes no seio da Frente, mas tendo sempre como “foco”
capitalizar eleitoralmente a crise do Peronismo, nem que para isto “esqueça” de
suas próprias convicções acerca de levantamentos policiais. Em artigo firmado
pelo dirigente Eduardo Salas, PO tenta tergiversar a questão fazendo uso de um
cretino sindicalismo policlassista: “Los trabajadores debemos hacernos una idea
precisa del carácter de la crisis que ha sacudido a la provincia, e incluso al
país, para desarrollar una mejor preparación de las luchas que se vienen por el
trabajo y el salario.” (Sítio PO 05/12). Como se pode claramente aferir, diante
da atual conjuntura Argentina, a formação da FIT não correspondeu a
homogeneização de uma plataforma revolucionária de unidade da esquerda, ao
contrário serviu aos interesses revisionistas que tem no parlamento burguês o
centro da ação política, capitulando historicamente ao bastardo regime da “democracia
dos ricos”. O futuro político desastroso da FIT já foi selado pelo primeiro
teste que a luta de classes lhe impôs, ou seja, agora trata-se de “administrar”
diplomaticamente as diferenças internas de princípios entre seus agrupamentos
para tentar chegar ainda “unida” até a próxima eleição presidencial.
Durante várias décadas
na Argentina o Partido Obrero tentou delimitar “pela esquerda” com os grupos
Morenistas, a questão do aparato militar/policial do Estado burguês era um dos
pontos divergentes mais candentes. Quando da primeira eleição do deputado nacional
Luiz Zamora, pelo “velho” MAS em meados dos anos 80, PO denunciou vigorosamente
a atuação parlamentar de Zamora baseada no “populismo de esquerda” por prestar
apoio indiscriminado a “movimentos reacionários de militares e policiais”. Mas
parece que Altamira “morenizou-se” ao longo do tempo e agora considera os policiais
“agentes como empregados públicos” e, portanto, suas ações “devem confluir com
a de outros trabalhadores”. Para quem como o PO que já comparou o resultado da
última eleição da FIT com uma verdadeira “revolução”, podemos ver que a antiga
atuação dos parlamentares Morenistas (Zamora, Vilma etc...) em apoio às “reivindicações”
policiais estava em pleno acordo com o que hoje pensa o ultra revisionista
Altamira. O governador de Córdoba que apesar de peronista não “reza” na
cartilha do kirchnerismo, foi forçado a reconhecer demagogicamente a “legitimidade”
dos reclamos dos “trabalhadores” policiais, ao que tudo indica hoje o PO também
está pensando da mesma forma.
Mas as fissuras
políticas da FIT não se restringem à questão do motim policial, atualmente em
curso em Córdoba, mas que pode se alastrar pelo país inteiro. No campo da
atuação no parlamento, o PTS se colocou contra a formação de um bloco único dos
deputados da FIT, sob a justificativa de não poderia chancelar todos os
pronunciamentos do PO ou eventualmente da IS. O Comitê Central do PO respondeu
violentamente a esta posição, afirmando que não permitirá que o PTS atue com
atos de “fragmentação e usurpação política da FIT”. O que realmente está por
trás desta falsa polêmica é o fato da vigência do acordo de rotação das bancas
parlamentares da FIT. PO pretende fazer o “rodízio” dos postos no parlamento
somente quando estiverem ocupados pelos dirigentes do PTS, privilegiando um
acordo interno com a IS, cujas posições tem sido elogiadas constantemente por
Altamira.