“Todo apoio à greve dos
aeronautas! Não a privatização dos aeroportos pelo governo Dilma! Abaixo a
divisão da categoria imposta pela burocracia sindical da CUT e da Força!”
O Jornal Luta Operária
entrevistou o companheiro Roberto Bergoci, trabalhador da TAM no setor de
operação de equipamentos de pista do aeroporto de Cumbica em Guarulhos - São
Paulo e militante da Tendência Revolucionária Sindical (TRS), que nos relata as
políticas de precarização das companhias aéreas e a resistência dos
trabalhadores, além da subserviência da burocracia sindical ligada a CUT e a
Força Sindical à patronal, atuando na prática como camisa de força contra o
movimento dos trabalhadores. Neste momento os trabalhadores aeronautas e
aeroviários se mobilizam em nível nacional contra as políticas de
reestruturação e precarização impostas pelas companhias aéreas e o governo do
PT. Ataques estes desferidos contra os trabalhadores, impulsionados ainda mais
com as privatizações dos aeroportos brasileiros levados a cabo pela “gerentona”
neoliberal Dilma. Como resposta, os aeronautas entraram em estado de greve
desde o dia 13 de dezembro após a assembleia geral da categoria, podendo
deflagrar uma paralisação geral no dia 20/12.
Jornal Luta Operária
(JLO) – Como trabalhador da TAM você pode nos relatar com mais detalhes qual a
situação da categoria aeronauta e aeroviária nacional?
Roberto Bergoci (RB) -
As condições de trabalho da categoria como um todo vem se deteriorando de forma
cada vez mais acentuada. As companhias aéreas vêm impondo por debaixo dos panos
uma verdadeira reestruturação, basta olharmos a recente demissão de quase mil
funcionários da TAM com o intuito de rebaixar salários e cortar benefícios,
além de que a rotatividade, o assédio moral e as terceirizações que envolvem
estas companhias é gritante, fato que somado ao elevado valor das passagens
aéreas garantem a estas empresas uma taxa de lucro enorme. Não por acaso, os
pilotos, copilotos e o todo o setor da tripulação aérea estão em estado de
greve que pode ser deflagrada neste dia 20 de dezembro. Nós, que militamos como
oposição classista nos aeroportuários e trabalhamos dando suporte aos voos em
terra, como o carregamento dos aviões, abastecimento de combustível e apoio em
pista, estamos dando nossa solidariedade ativa aos companheiros, inclusive
mobilizando o conjunto da categoria, desgraçadamente dividida em vários
sindicatos para que a paralisação seja vitoriosa!
JLO - Como vem sendo construído o estado de greve anunciado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA)? Acredita que haverá paralisações da categoria até o fim do ano?
RB - O problema é que a
burocracia sindical ligada a CUT e a Força Sindical dividiu todos os
trabalhadores que tenham qualquer tipo de relação empregatícia com as
companhias aéreas em uma série de sindicatos fragmentados, fato que contribui
para heterogenizar ainda mais os trabalhadores dificultando uma ação conjunta
destes contra o inimigo comum, o que tem levado à constantes derrotas desta
categoria importante. Com relação ao estado de greve, embora o SNA tenha
afirmado que pretende organizar uma paralisação a partir do dia 20, tenho muita
desconfiança deste fato, pois a própria burocracia sindical vem dando
declarações que pretendem até o dia 19 fechar um acordo mesmo rebaixado com o
aumento salarial abaixo da inflação para não entrar em greve. De acordo com o
SNA, a proposta das empresas áreas prevê reajuste do piso salarial em 7%,
aumento de 5,6 % dos salários além de aumento de 8% no vale-refeição. A
categoria pede 8% de reajuste nas cláusulas econômicas e também avanços
sociais, como aumento de folgas. Como oposição classista a CUT e a Força,
defendemos a greve no dia 20 abarcando os setores de voo e de pista assim como
a unificação da categoria em um único sindicato para responder aos ataques das
companhias.
JLO - O governo Dilma
privatizou vários aeroportos em novembro. Quais as consequências deste ataque
para os trabalhadores?
RB - Houve a chamada
Terceira Rodada de Concessão dos aeroportos brasileiros, quando o governo Dilma
privatizou dois dos principais aeroportos brasileiros: o Internacional do
Galeão no Rio de Janeiro e Confins em Minas Gerais. Com essa última rodada de privatização,
já foram entregues aos magnatas do capital cinco aeroportos, justamente os
maiores e mais lucrativos do país como o Internacional de Brasília (DF),
Guarulhos (SP) e Campinas (SP), que somado às outras privatizações levadas
adiante por Dilma como no caso das rodovias, portos e o sucateamento e abertura
dos correios e BB ao capital privado, significa um verdadeiro desmonte de toda
a infraestrutura do país, fato que o torna ainda mais dependente e subordinado
ao imperialismo, além de comprometer a própria segurança nacional. É
impressionante o papel dos burocratas mafiosos do Sindicato Nacional dos
Aeroportuários (SINA-CUT), que se calam diante de tal crime contra os
trabalhadores brasileiros e em especial a categoria aeroportuária que
certamente sofrerá uma violenta ofensiva contra suas condições de trabalho por
parte das grandes administradoras privadas, como ocorreu recentemente nas obras
de ampliação de um dos terminais do aeroporto de Guarulhos, onde a empresa GRU
Airport que o administra mantinha uma enorme massa de operários em condições de
trabalho escravo, sem nenhum tipo de direito estabelecido. Temos denúncias
suficientes de operários que trabalham neste aeroporto, nos informando que
depois da privatização pioraram as condições de trabalho, inclusive para os
trabalhadores das empresas aéreas. Ao invés de combater tal política
entreguista, o SINA se resumiu a reproduzir o noticiário da imprensa burguesa e
tratou de embelezar a vergonhosa privatização petista, atuando como verdadeiro
agente da burguesia no movimento operário. A defesa da restatização dos
aeroportos sob o controle dos funcionários e a denúncia política das
privatizações sob encomenda do imperialismo por parte do governo petista, devem
estar necessariamente ligadas ao programa da revolução socialista, caso
contrário não passarão de demagogia barata como fez a CUT, CTB e a Força
Sindical em seus teatrais atos de protestos, na verdade praticamente assistindo
de camarote o governo Dilma “bater o martelo” no leilão da ANAC, como nos velhos
tempos tucanato!
LO - A TAM, onde você
trabalha, foi recentemente engolida pela LAM-Chile. Este processo é reflexo do
aprofundamento e do fortalecimento dos monopólios no setor aéreo nacional?
RB - Sem dúvida. Tínhamos
no passado empresas de grande porte atuando no setor como, por exemplo, a VASP,
uma gigante estatal que foi paulatina sucateada pelos governos neoliberais
tucanos paulistas a fim de entrega-la via privatização e depois elimina-la
visando beneficiar os grandes grupos capitalistas. Hoje o mercado aéreo
brasileiro se encontra dividido basicamente entre três empresas sinalizando um
verdadeiro oligopólio bancado pelas mafiosas TAM, GOL e AZUL, fato que resulta
no fortalecimento destes capitalistas ao atacar os trabalhadores, além de perpetuarem
um dos preços mais elevados do mundo das passagens aéreas. A greve que pode
ocorrer no dia 20 tem como tarefa fazer a resistência a este processo. Por sua
vez, a chamada crise aérea na estrutura dos aeroportos, com a visível
insegurança nos voos, demonstra as péssimas condições de trabalho dos
controladores, o arrocho salarial, o sucateamento dos equipamentos, pistas sem
manutenção é causada pelos baixos investimentos do Estado em tecnologia,
contratação, qualificação e treinamento de pessoal, aprofundada pela corrupção.
Os recursos são canalizados para bancar o superávit primário e toda a estrutura
estatal do setor, particularmente a Infraero, é voltada para gerar lucro para
as companhias aéreas, dando preferência à lucratividade administrativa dos
aeroportos, transformados em shopping centers com generosos espaços cedidos à
publicidade. Enquanto o caos aéreo se desenvolve, a Infraero, controlada pela
alta cúpula das FFAA, arrecada milhões com as taxas de embarque, não cobra as
dívidas das companhias de aviação e, ainda, promove um milionário esquema de
corrupção através das fraudes com contratos sem licitações e superfaturamentos.
Os trabalhadores devem defender a constituição de um comando de funcionários,
eleitos e com mandato revogável para gerir o sistema de aviação no país, além
da defesa da estatização das companhias aéreas para baixar os preços das
tarifas e passagens, garantir o fim dos atrasos nos voos e o acesso da
população trabalhadora ao transporte aéreo. Defendemos a criação de uma empresa
estatal única que abranja a construção de aeronaves, a aviação civil
propriamente dita, a infraestrutura e administração aeroportuária, submetendo-a
ao controle direto da classe trabalhadora.
JLO - Como está se
desenvolvendo o trabalho da oposição classista na categoria impulsionado pela
TRS?
RB - Há uma forte pressão
da TAM e das demais companhias aéreas contra a mobilização da categoria. Por
isto esta greve dos aeronautas é tão importante para quebrar o ciclo de
ofensiva da patronal contra os trabalhadores no solo e voo. Nosso decidido apoio
a esta mobilização reside no fato desta poder ter um “efeito dominó”, sendo a
faísca do ascenso de todo pessoal, que trabalha em terra e ar, inclusive os
companheiros da Infraero e da GRU Aiport. Nós da TRS estamos fazendo um
trabalho de base, juntos aos setores mais explorados da categoria para forjar
uma consciência de classe. Do ponto de vista mais geral, compreendo ser urgente
que o proletariado brasileiro se articule um grande movimento de oposição de luta
como única forma de romper com as amarras do gangsterismo sindical que muito
vem beneficiando a burguesia. Nossa classe precisa ter claro o momento
histórico completamente desvantajoso que atravessamos, fato que se aprofundou
com o fim dos estados operários, principalmente a URSS acontecimento este que
potencializou os ataques imperialistas a toda a massa operária do planeta. Só a
revolução socialista pode salvar a humanidade da barbárie iminente e desde
nosso trabalho político e sindical nos aeroportos estamos militando nesta
perspectiva revolucionária, ligando como nos ensinou Trotsky as reivindicações
mais sentidas dos trabalhadores à luta pelo poder político! Por isto
declaramos: Todo apoio a greve dos aeronautas! Não a privatização dos
aeroportos pelo governo Dilma! Abaixo a divisão da categoria imposta pela
burocracia sindical da CUT e a Força!