segunda-feira, 16 de dezembro de 2013


Bachelet vence apesar da abstenção recorde de 60% dos chilenos que disseram não à “Nova Maioria” da esquerda burguesa e a velha direita pinochetista

Com uma altíssima taxa de abstenção que chegou aos 60% dos votos dos chilenos em um sistema de comparecimento eleitoral facultativo, o segundo turno das eleições presidenciais deu a vitória a Michele Bachelet com 63% derrotando a representante da direita Evelyn Matthei, que foi Ministra do Trabalho do atual governo de Sebastián Piñera e obteve 37% neste domingo, 15 de dezembro. Em uma prova que a “Nova Maioria” (PS, PDC e PC) asseguraram a continuidade da ordem burguesa, Evelyn Matthei se dirigiu ao comitê de campanha de Bachelet para lhe parabenizar afirmando: “A cidadania manifestou sua escolha e decidiu pela candidatura da nossa adversária. Da nossa parte, nos resta felicitar a vencedora, desejar o melhor para ela durante a gestão e garantir àqueles que votaram pela nossa proposta, especialmente a classe média esforçada deste país, que, apesar do revés de hoje, estaremos lutando, durante os próximos quatro anos, pelas ideias que eles querem ver defendidas”. A mídia burguesa tratou de enfatizar que apesar da abstenção recorde, Bachelet obteve o maior percentual da história das eleições chilenas, superando os 57,98% conseguidos por Eduardo Frei Ruiz-Tagle em 1994. O atual presidente do Chile, o odiado Sebastián Piñera, foi no mesmo caminho de sua candidata derrotada e afirmou “a senhora pode ter a certeza que de nossa parte vai ter uma atitude patriótica, porque além das diferenças, todos queremos o melhor para o Chile (…) Tomara tenhamos um grande governo a partir de março do próximo ano”. Tamanhas “gentilezas” por parte da direita pinochetista se deve ao profundo giro conservador que a “Nova Maioria” deu no segundo turno, aprofundando um programa neoliberal em que já estava baseada a aliança que elegeu Bachelet, tanto que esta respondeu as saudações da direita declarando: “Estão aí as condições econômicas, sociais e políticas, agora é o momento, Chile, finalmente agora é o momento (...) Temos a força cidadã, temos a vontade e a unidade (...) é tempo de combater a desigualdade juntos, é tempo de voltar a crer em nós mesmos. Agora devemos ter uma Constituição nascida da democracia que assegure direito e que se transforme no novo pacto social e renovado de que o Chile precisa”. Na verdade, o segundo governo de Bachelet terá o apoio desde o grande empresariado até o PC, que ingressou pela primeira vez na antiga Concertação (hoje Nova Maioria), frente que representa a base do próprio “pacto social” que a presidente do PS deseja celebrar com a direita pinochetista via a futura Constituição.

Na primeira eleição presidencial sendo de voto facultativo desde o fim da ditadura militar houve uma abstenção recorde, o que demonstra o amplo descontentamento popular e a frustração dos chilenos com a democracia burguesa, além de um rechaço aos partidos do regime, tanto da direita pinochetista como da centro-esquerda burguesa. Dos 13,5 de milhões de chilenos que estavam convocados para participar nestas eleições que se realizaram com um novo sistema de voto voluntário, somente votaram 5,2 milhões, ou seja, 40%. Os dados da participação mostraram uma abstenção recorde de cerca de 60%, que inclusive cresceu no segundo turno eleitoral apesar da polarização artificial entre “esquerda” e direita”, em uma clara manifestação de que tudo continuará o mesmo, “ganhe quem ganhe”, uma lição que amplos setores das massas mostraram ao efetivamente boicotar o pleito!

O PC que foi “premiado” pela sua vergonhosa integração a esta coalizão burguesa com a eleição de Camila Vallejo, ex-presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile e outros dirigentes estudantis para o posto de parlamentares nacionais já sentiu os efeitos de sua vergonhosa política. Como uma espécie de punição à adesão de ao menos cinco dirigentes estudantis à corrida ao Parlamento, o Partido Comunista, que entrou na coalizão de Bachelet, sofreu uma derrota sem precedentes na votação que definiu em novembro, antes do primeiro turno, a nova presidente da Federação de Estudantes do Chile (Fech). Ficou em terceiro lugar cedendo espaço para os anarquistas, tanto que Melissa Sepúlveda que se reivindica “anarquista de orientação libertária” eleita presidente da Fech, cargo em que Camila se projetou. Como se observa, o partido stalinista será fiador de um futuro novo governo burguês de Bachelet, cuja gestão passada atacou conquistas sociais e não se atreveu em questionar o domínio privado do setor de educação do país.

O fracasso político da “experiência reformista” do Partido Socialista custou a vida de milhares de combatentes, desarmados bélica e programaticamente diante da ofensiva mortal dos militares gorilas orientados pelo imperialismo ianque. Como consequência dos governos do PDC e PS e a colaboração de classes do stalinismo, os trabalhadores foram atomizados e dispersos em suas lutas que não ultrapassam os limites sindicais de resistência à precarização e à superexploração. Nestas eleições a candidata da “Nova Maioria”, reproduziu de forma ainda mais neoliberal o programa dos quase vinte anos de governo da “Concertação Democrática”, prometendo um alinhamento econômico preferencial com o bloco comercial liderado pelos EUA. Agora chama um “pacto social” em torno da tarefa de escrever a nova Constituição burguesa “democrática”. Assim como no passado, a política frentepopulista é a responsável pelas maiores derrotas impostas à classe operária em nome da institucionalidade e da ordem burguesa, tanto de ontem, como em nossos dias atuais. Está colocada para a vanguarda classista a superação deste quadro de conciliação de classes, não só para derrotar a direita fascista, mas também para denunciar os partidos da antiga “Concertación” e seus satélites apenas patrocinam ilusões no regime cívico-militar atual. Por esta razão, o verdadeiro boicote à farsa eleitoral da democracia dos ricos com os mais de 60% de chilenos que deixaram de votar deve servir como base para a luta dos trabalhadores que tenha como norte a revolução  comunista e não o anarquismo, retomando o caminho de 40 anos atrás interrompido pelo chacal Pinochet e a política impotente de colaboração de classes da UP.