sexta-feira, 8 de setembro de 2017

DE MILITANTE DA OSI E “LIBELU” (ATUAL “O TRABALHO”) A HOMEM DO CAPITAL FINANCEIRO NO INTERIOR DA FRENTE POPULAR: A TRAJETÓRIA DE PALOCCI, O RECORRENTE “DELATOR” DA ESQUERDA


Publicamos o artigo escrito pelo camarada Candido Alvarez (ex-dirigente da CS e atual Secretário Geral da LBI) em abril de 2006 analisando a demissão de Palocci diante das denúncias de corrupção do governo Lula, desligamento à época muito lamentado pelo FMI e os rentistas de Wall Sreet. Depois desse episódio o presidente "operário" se distanciou de seu ex-ministro em função de Palocci ter proposto internamente, no ápice da crise do Mensalão, que Lula se afastasse da Presidência da República. O ex-“Libelu” só voltou ao Planalto pelas mãos de Dilma. De coordenador de sua campanha presidencial em 2010 virou ministro-chefe da Casa Civil, vindo a “cair em desgraça” depois quando se achando “seguro” como homem do mercado no interior da Frente Popular começou a agir como “novo rico” e pagou um preço caro por tal “audácia”. O que hoje fica envidente, com Palocci cinicamente alinhado ao Juiz fascistoide Moro para atacar o PT e Lula, há 11 anos a LBI já alertava as bases do seu atual “pacto de sangue” com a direita via suas ligações com o capital financeiro no interior da Frente Popular. Palocci atualmente não passa de um rato delator, formado no escopo de "quadros" da corrente degenerada “O Trabalho” e depois "aperfeiçoado" pela plataforma de conciliação de classes dos burocratas da "Articulação" (atual "Campo Majoritário"). O primeiro prefeito privatista do PT passou-se para o campo político da “República de Curitiba”, tudo para preservar um robusto patrimônio financeiro acumulado ao longo dos governos Lula e Dilma... A trajetória do canalha vem de longe. Lembramos que 1983 no Congresso da UNE de São Bernardo do Campo Palocci então dirigente da tendência "Liberdade e Luta" já dedurava os militantes da esquerda revolucionária petista (CS, OQI, MEP, ORMDS, etc...) para que a “Articulação dos 113” (atual campo majoritário do PT) não aceitasse o ingresso destas organizações nas plenárias do partido. De lá pra cá muita "água rolou", porém Palocci convertido ao neoliberalismo nos governos petistas nunca esqueceu as "lições" de deduragem de Pierre Lambert e da antiga "Libelu"(ex-OSI) hoje a tendência petista "O Trabalho" e agora entrega o próprio Lula para o justiceiro Moro e os fascistas da "República de Curitiba"... A torpe tentativa de identificar Palocci com o Trotskismo, feita por alguns dirigentes neostalinistas não pode vingar nem por um segundo, pelo simples motivo de que a antiga OSI, atual "O Trabalho", não passa de uma paródia mal produzida do legado revolucionário do "velho" Bolchevique. Palocci nunca passou de um relés revisionista e jamais sequer "arranhou" o perfil político de um verdadeiro Trotskista!

A DEMISSÃO DE PALOCCI E A MALDIÇÃO DOS CARDEAIS DO PT
(HOME PAGE DA LBI, 04/04/2006)

Como um castelo de cartas que desaba, o coringa do governo Lula acaba de cair em desgraça, sendo exonerado pelo “capo” da quadrilha instalada no Palácio do Planalto. A demissão de Antônio Palocci, o homem do mercado financeiro no fulcro do governo da frente popular, não foi produto exclusivo da luta entre “David e Golias”, ou seja, das denúncias do humilde caseiro Francenildo, como tentam emplacar a grande mídia e a esquerda pequeno-burguesa caudatária da “opinião pública”. A desblindagem de Palocci pela burguesia nacional corresponde exatamente ao esgotamento do “modelo de sufoco total” imposto pelo títere do FMI à economia brasileira, esgarçada por um superávit primário de 5% do PIB ao ano. O anúncio da taxa de crescimento do PIB em 2005, em torno de 2%, foi o “start” que sinalizou a inconveniência da permanência da política “ultra” pró-imperialista, levada a cabo pela equipe econômica comandada por Palocci. Tanto é assim, que a queda do “chefe” motivou a saída dos acólitos Murilo Portugal e Joaquim Levi, contra-mestres do neoliberalismo palocciano no Planalto. O FMI logo se apressou em lamentar a saída abrupta de tão dedicado “office boy”. Seu diretor geral, Rodrigo de Rato, em nota oficial, afirmou: “Gostaria de aproveitar a oportunidade para enfatizar as realizações do Brasil sob o comando do ministro Palocci... graças à sensatez da política econômica, o Brasil conquistou um bem-vindo grau de estabilidade econômica” (Nota do FMI, 27/03/06). O cordão sanitário estabelecido pelo FMI em torno da equipe de Palocci não suportou a tremenda pressão política, resultado do fracasso da economia em 2005, assim como o gritante desequilíbrio favorecendo os lucros dos rentistas nacionais e internacionais, em contraste com o semicolapso da burguesia industrial. As denúncias acerca da “República de Ribeirão” feitas desde 2004 com o escândalo Valdomiro Diniz, pareciam não atingir o inexorável Palocci, mesmo quando a crise do mensalão atingia seu maior ápice. Mas a revelação de Francenildo de que o ministro não só freqüentava a mansão do Lago Sul para “despachar” com seus ex-assessores da prefeitura, como também participava de suas “festinhas” com garotas de programa, funcionou como uma verdadeira válvula de pressão, por onde desaguou a vendeta da burguesia nacional com o embaixador dos mercados e da Bolsa de Wall Street. A insatisfação da FIESP com Palocci, longe de ser uma contradição frontal entre “modelos”, é apenas um sintoma da profunda crise estrutural do capitalismo nativo, que atravessa uma etapa de recolonização global, conduzida pelo imperialismo ianque. Foi a própria FIESP que tratou de “blindar” a política econômica do governo Lula, de drásticos cortes de investimentos em áreas sociais, como também aplaudiu de pé o brutal arrocho salarial dos trabalhadores do setor público e privado. Mas, agora, a tensão da corda chegou ao limite, ameaçando afundar o barco da impotente burguesia nacional, e nada melhor que um “Francenildo” útil para provocar uma leve inflexão na política de juros altos e pesado arrocho fiscal.
  
O golpe de misericórdia desferido contra Palocci veio de “fogo amigo”, mais precisamente do interior da alta cúpula do PT, que resolveu liquidar a fatura, sepultando definitivamente qualquer pretensão eleitoral do outrora “todo-poderoso” ministro da mais alta confiança de Lula. Com as denúncias do caseiro e a conseqüente proporção assumida, sob encomenda, pela mídia burguesa, o afastamento de Palocci já estava selado. Operava-se uma “saída honrosa” do tipo desencompatibilização eleitoral como ocorreria com sete ministros na última semana de março. Mas a máfia do PT de São Paulo, chefiada pelo ex-lambertista Luis Favre e sua “querida” esposa Marta Suplicy, não gostou da alternativa e detonou Palocci pelas mãos de Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal, “afilhado” da ex-prefeita de São Paulo. Não se pode saber exatamente se o “vazamento” do extrato bancário do caseiro foi obra de Mattoso ou do próprio Palocci, mas a “deduragem” do “chefe” é considerada falta gravíssima no código moral dos corruptos, e só acontece motivada por interesses “superiores”, como o ocorrido no caso do ex-deputado Roberto Jefferson. Nesse episódio, Marta e sua corte não admitiram o ofuscamento de seu brilho regional, ainda mais quando salivam a conquista do governo de São Paulo.
  
No teatro do absurdo, os personagens rapidamente trocam seus papéis para confundir a platéia, assim ocorreu na queda de Palocci, seus mais ácidos críticos da política neoliberal, da esquerda petista ao PCdoB, passaram ao papel de sua tropa de choque, diante de mais uma “armação da direita”, e seus apologistas de plantão, como a FIESP e a cúpula do PT, assumiram o script de seus “éticos” algozes. Neste fogo cruzado, só restou a Lula protagonizar mais uma vez suas lágrimas de crocodilo e nomear o economista Guido Mantega, logo saldado por todas as alas da política como uma escolha discreta e responsável, afastando do páreo as pretensões nebulosas do senador Aloísio Mercadante, um dos sobreviventes da cepa dos vestais do PT. Mantega assume prometendo “mais do mesmo” e acenando com um discreto alívio nas taxas de juros praticadas pelo BC, seja a Selic ou a TJPL. O governo, que já comemorava uma boa margem de dianteira sobre Alckmin, põe as barbas de molho, ainda mais com a disposição do prefeito José Serra de disputar o governo de São Paulo, fechando as portas para uma possível barganha entre PT e PSDB, envolvendo a “facilitação” do acesso ao Palácio dos Bandeirantes de um nome mais raquítico dos tucanos, como José Aníbal ou mesmo Paulo Renato.
  
A disposição do presidente Lula de sacrificar todos os quadros dirigentes do PT, em troca de sua reeleição, vem se confirmando como uma verdadeira maldição para os “cardeais” do PT. A longa “quarentena” de Palocci já se soma às de Delúbio Soares, José Genoíno, José Dirceu, Luis Gushiken e muito provavelmente à do ex-presidente da Câmara, João Paulo, com a corda da cassação no pescoço. Um a um são “vítimas” de sua própria política de gerentes descartáveis do capital financeiro em nosso país. O governo da frente popular torna-se, a cada nova crise, ainda mais refém das velhas oligarquias políticas corruptas, que devem rir sobejamente das trapalhadas e incompetências da gangue petista, sempre flagrada em “pequenos delitos”, se comparados ao verdadeiro saque estatal promovido no governo FHC. A inação do PT, não reagindo aos golpes da oposição burguesa, sempre indo para o córner à espera que seu adversário canse de tanto bater, para depois retomar o fôlego, apresentando-se como vítima do preconceito das elites, tem uma explicação material. O “Big Boss” tem sua preferência nessas eleições, e a sua receita para o PT é de “apanhar calado”, ou seja, manter o controle absoluto de um movimento de massas passivo e acorrentado pela política de colaboração de classes, mesmo diante da mais profunda crise política. Subserviência total às ordens de Washington e a direção hegemônica do movimento operário e popular são os dois elementos que só a frente popular pode elencar em seu “currículo” eleitoral, e é este “plus” que a faz ser a opção preferencial do imperialismo na próxima disputa presidencial, onde o povo não decidirá absolutamente nada sob a tutela de um regime democrático-burguês decomposto.
  
A classe operária, mais uma vez, assistiu passiva a este novo capítulo da crise política do governo da frente popular. Todas as forças da esquerda reformista se voltam exclusivamente para as próximas eleições em outubro. Enquanto segue a contenda eleitoral entre tucanos, petistas e psolistas, herdeiros diretos do respeito à democracia como valor universal, o povo trabalhador permanece como a verdadeira vítima deste regime capitalista, onde só se agravam as péssimas condições de vida e o desemprego, seguindo um ritmo das demandas do capital, completamente indiferente ao circo eleitoral que se avizinha. Somente uma ruptura violenta deste regime da propriedade privada dos meios de produção poderá apresentar uma saída “progressista” diante do iminente colapso da democracia dos ricos. É necessária a construção de uma ferramenta revolucionária dos explorados para superar as atuais direções políticas do proletariado, comprometidas até a medula com a manutenção da “ordem democrática” e com o “status quo” vigente em nosso país, apontando para o norte da transformação da crise política do governo Lula em crise da dominação burguesa sobre o proletariado brasileiro.