HISTÓRIA DA IV INTERNACIONAL: A CARTA ABERTA DE CANNON
REFORÇA A LUTA POLÍTICA DEFENSIVA CONTRA O PABLISMO DANDO ORIGEM AO COMITÊ
INTERNACIONAL (CI-QI)
Como parte da luta pela reconstrução da IV Internacional,
resgatando sua história e a disputa interna no partido mundial fundado por
Trotsky em 1938, o BLOG da LBI publica um documento político raro no Brasil, a
carta histórica de J. Cannon do SWP norte-americano, escrita em novembro de
1953, que impulsionou a fundação do Comitê Internacional da Quarta
Internacional (CI-QI). Foi a partir deste documento, escrito também para
combater a fração secreta que Michel Pablo estava fomentando no interior do SWP
comandada pela dupla Cochran-Clarke, que se reforçou a luta política contra as
teorias revisionistas naquele momento. O pablismo, nome dado ao revisionismo de
Pablo e Mandel, seguido por Moreno e Posadas, difundia que o estouro da
terceira guerra mundial era inevitável, que não daria tempo construir a IV
Internacional e que o stalinismo se converteria em revolucionário. Decidiu
então que os trotskistas deveriam fazer entrismo nos PCs (embora em alguns
países, como na Alemanha e na Inglaterra, a tática entrista de Pablo tivesse
sido aplicada à socialdemocracia), o que fizeram muitos grupos europeus por 20
anos. Esta orientação significou uma capitulação à burocracia stalinista, que
se estenderia também pouco depois a outras direções burguesas e
pequeno-burguesas, como fizeram Moreno e Posadas na América Latina. Isto
provocou a quase extinção do trotskismo na Europa e o domínio tranquilo do
movimento operário por direções populistas burguesas, como é o caso argentino
em que o peronismo segue à cabeça da quase totalidade das direções sindicais
nas últimas seis décadas. Esta escandalosa revisão liquidacionista do
trotskismo foi questionada por vários setores da Internacional,
particularmente, pela maioria da seção francesa do Partido Comunista
Internacionalista, liderada de Pierre Lambert, que logo é expulsa e acaba
levando consigo a seção inglesa, Socialist Labour League (SLL), dirigida por
Gerry Healy e o Socialist Workers Party (SWP) norte-americano de James P.
Cannon, autor do documento que publicamos abaixo, dando origem a primeira
grande cisão da IV Internacional em 1953. Os antipablistas fundaram o Comitê
Internacional (CI-QI) que, apesar de se apresentar como uma alternativa ao
revisionismo do Secretariado Internacional (SI) pablista, caracterizavam-se
pela frouxidão organizativa (eram uma mera federação de partidos sem nenhum
centralismo). O racha ocorreu no III Congresso da IV Internacional. Michel
Pablo com o documento 'Aonde Vamos?', de 1951, teoriza sobre a iminência de uma
"guerra civil internacional, que nestas condições, com as relações de
forças existentes, seria essencialmente a revolução, portanto, o avanço da
revolução anticapitalista no mundo coloca ao mesmo tempo o perigo de uma guerra
geral."('Aonde Vamos?' - Michel Pablo). Seguindo o raciocínio da iminência
de uma guerra entre os dois blocos, "americano" e
"soviético", Pablo afirma que não haverá tempo para construção de
partidos trotskistas e, que nestas circunstâncias, "os partidos comunistas
conservam a possibilidade de esboçar uma orientação revolucionária"(Idem).
No primeiro momento, a maioria dos dirigentes da IV, inclusive Mandel,
coloca-se em oposição às teses revisionistas de Pablo, Mandel chegou a divulgar
um manifesto conhecido como "Dez Teses" contra os "exageros"
de Pablo. Mas a pressão dos aparatos sob a direção da IV a fez naufragar
completamente no caudal do estalinismo, arrastando a quase totalidade de suas
seções. Em oposição à orientação pablista conformou-se um bloco
"antipablista" com a maioria da seção francesa e inglesa e o SWP norte-americano,
que acusa Mandel de "Zinoviev" e ausente "desta pequena coisa
chamada caráter" (La Verite, fev./51). A heterogeneidade política do
Comitê Internacional (antipablista) composto até por Nahuel Moreno, que na
Argentina era entusiasta apoiador do General Perón, assim como sua confusão
programática (seu documento mais importante consiste em reafirmar o caráter
anti-estalinista de Tito e Mao) e frouxidão organizativa (nunca adotou o
centralismo político, funcionando como uma federação internacional), fez com
que este agrupamento não fosse uma alternativa político-programática de fato ao
Secretariado Internacional da IV, que no início dos anos 60 já tinha Mandel
como seu principal dirigente. Apesar das limitações, a carta de J. Cannon, um
documento fundamental na hisória do trotskysmo pouco conhecido no Brasil,
serviu de base política-teórica para opor-se ao Pablismo, combate que a LBI
reivindica e leva a cabo até hoje contra os revisionistas do século XXI,
adaptados a social-democracia e as frente populares.
UMA CARTA ABERTA AOS TROSQUISTAS DO MUNDO INTEIRO
(16 de
novembro de 1953)
Caros Camaradas:
No 25º aniversário de fundação do movimento trotskysta nos
Estados Unidos, a Plenária do Comitê Nacional do Partido Socialista dos
Trabalhadores (Socialist Workers Party—SWP) envia saudações socialistas
revolucionárias aos trotskystas ortodoxos de todo o mundo. Apesar de o SWP,
devido às leis antidemocráticas promulgadas pelos democratas e republicanos,
não mais ser filiado à IV Internacional—o Partido Mundial da Revolução
Socialista fundado por Leon Trotsky para carregar e realizar o programa traído
pela II Internacional dos social-democratas e pela III Internacional dos
stalinistas—defendemos o desenvolvimento da organização mundial criada sob a
direção de nosso líder assassinado.
Como todos sabemos, há 25 anos, os precursores trotskystas
americanos atraíram a atenção da opinião pública mundial ao programa de
Trotsky, censurado pelo Kremlin. Esse ato mostrou-se decisivo para quebrar o
isolamento imposto a Trotsky pela burocracia stalinista e para lançar as bases
para a fundação da IV Internacional. Em seu exílio pouco tempo depois, Trotsky
iniciou uma colaboração estreita e de confiança com a direção do SWP que durou
até o dia de sua morte.
A colaboração incluiu um esforço conjunto para organizar
partidos socialistas revolucionários em vários países. Isso culminou, como se
sabe, na fundação da IV Internacional em 1938. O Programa de Transição, que
permanece como chave do programa do movimento trotskysta internacional hoje,
foi escrito por Trotsky em colaboração com os dirigentes do SWP e a seu pedido
foi assumido por eles em seu Congresso de fundação.
A proximidade e plenitude da colaboração entre Trotsky e a
direção do SWP pode ser avaliada pela trajetória de luta em defesa dos
princípios trotskystas ortodoxos em 1939-40 contra a oposição pequeno-burguesa
liderada por Burnham e Shachtman. Essa atuação teve profunda influência nos
rumos da IV Internacional nos últimos 13 anos.
A partir do assassinato de Trotsky por um agente da polícia
secreta de Stalin, o SWP assumiu a direção da defesa de seus ensinamentos.
Assumimos a direção não por escolha, mas por necessidade—a II Guerra Mundial
obrigou os trotskystas ortodoxos a passar para a clandestinidade em muitos
países, especialmente na Europa sob os Nazistas. Junto aos trotskystas da
América Latina, Canadá, Inglaterra, Ceilão, Índia, Austrália e outras partes,
nós fizemos o possível para levantar a bandeira do trotskysmo ortodoxo ao longo
dos difíceis anos de guerra.
Com o fim da guerra, estávamos contentes com a saída da
clandestinidade, na Europa, dos trotskystas que empreenderam a reconstituição
da organização da IV Internacional. Desde que fomos impedidos de fazer parte da
IV Internacional devido a leis reacionárias, lançamos nossas maiores esperanças
na emergência de uma liderança capaz de continuar a grande tradição legada por
Trotsky ao nosso movimento mundial. Acreditamos que à jovem e nova direção da
IV Internacional na Europa devemos dar toda confiança e apoio. Quando, por
iniciativa dos próprios camaradas, sérios erros foram corrigidos, sentimos que
nosso caminho se mostrava correto.
Todavia, nós temos que admitir que o fato de não termos, nós
e mais alguns, lançado uma crítica severa a essas lideranças, isso facilitou a
consolidação de uma fração fora de nosso controle, secreta e personalista na
administração da IV Internacional, fração que abandonou o programa fundamental
do trotskysmo.
Essa fração, centrada em Pablo, está agora trabalhando consciente
e deliberadamente para quebrar, romper e dilacerar os quadros do trotskysmo
historicamente formados em vários países e para liquidar a IV Internacional.
O PROGRAMA DO TROTSKYSMO
Para demonstrar precisamente o que está em jogo, retomemos
os princípios fundamentais sob os quais o movimento trotskysta internacional
está construído:
1. A agonia mortal do sistema capitalista ameaça a
civilização de destruição através do aprofundamento das crises, guerras
mundiais e manifestações de barbárie como o fascismo. O desenvolvimento das
armas atômicas, hoje, enfatiza o perigo na sua forma mais grave possível.
2. A queda ao abismo só pode ser evitada substituindo o
capitalismo pela economia planejada do socialismo em escala mundial, retomando
assim a espiral de progresso aberto pelo capitalismo no seu início.
3. Isso pode apenas ser realizado sob a direção da classe
trabalhadora, a única e verdadeira classe revolucionária na sociedade. Mas a
própria classe trabalhadora enfrenta uma crise da sua direção, apesar de as
forças sociais não terem sido nunca tão favoráveis como hoje para os
trabalhadores se lançarem no caminho para a tomada do poder.
4. A fim de organizar-se para cumprir essa tarefa histórica
mundial, a classe trabalhadora em cada país deve construir um partido
socialista revolucionário segundo o modelo desenvolvido por Lênin; ou seja, um
partido combativo capaz de combinar dialeticamente democracia e
centralismo—democracia na tomada de decisões e centralismo para leva-las a
cabo; uma direção controlada pela militância, uma militância capaz de seguir
adiante, debaixo de fogo, de maneira disciplinada.
5. O principal obstáculo a isso é o stalinismo, que atrai
trabalhadores explorando o prestígio da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia,
para depois, traindo sua confiança, arremessa-los nos braços da
social-democracia, na apatia ou de volta às ilusões no capitalismo. Essa
traição é paga pela classe trabalhadora sob a forma de consolidação das forças
fascistas e monarquistas, e da deflagração de novas guerras criadas e
preparadas pelo capitalismo. Desde seu início, a IV Internacional coloca como
uma de suas principais tarefas a derrota revolucionária do stalinismo dentro e
fora da URSS.
6. A necessidade de táticas flexíveis para as muitas seções
da IV Internacional, e de partidos ou grupos simpáticos ao seu programa, torna
imperativo que eles saibam lutar contra o imperialismo e todas as agências
pequeno-burguesas (tais como os grupos nacionalistas ou a burocracia sindical)
sem capitular para o stalinismo; e, por outro lado, saber lutar contra o
stalinismo (que em última análise é uma agência pequeno-burguesa do
imperialismo) sem capitular ao imperialismo.
Esses princípios fundamentais apresentados por Leon Trotsky
mantêm toda a validade na política cada vez mais complexa e fluida do mundo
atual. De fato, as situações revolucionárias que se abrem em todos os lugares,
como previu Trotsky, apenas agora trazem concretude para o que uma vez pode ter
aparecido como abstrações remotas não diretamente ligadas à realidade viva do
tempo. A verdade é que esses princípios hoje se sustentam com mais força tanto
nas análises políticas como na determinação da direção da ação prática.
REVISIONISMO DE PABLO
Esses princípios foram abandonados por Pablo. Ao invés de
enfatizar o perigo de uma nova barbárie, ele vê o caminho ao socialismo como
algo “irreversível”; todavia, não vê o socialismo para esta geração ou para as
próximas. Ao contrário, ele desenvolve a ideia de uma onda “avassaladora” de
revoluções que darão origem a Estados Operários “deformados”, do tipo
stalinista, que durarão por “séculos”.
Isso revela um grande pessimismo em relação à capacidade da
classe trabalhadora, pessimismo que está totalmente de acordo com a
ridicularização que ele faz da luta em construir partidos socialistas
revolucionários independentes. Em vez de manter como caminho principal, a
construção de partidos socialistas revolucionários independentes a partir de
meios táticos, Pablo considera a burocracia stalinista—ou, pelo menos, uma de
suas seções principais—capaz de mudar sob pressão das massas, podendo chegar a
aceitar as “ideias” e o “programa” do trotskysmo. Sob o pretexto de uma
“diplomacia” necessária—segundo ele—para aproximar trabalhadores no campo do
stalinismo em alguns países como a França, ele agora encobre as traições do
stalinismo.
Esse caminho já levou a inúmeras deserções das fileiras do
trotskysmo para o campo dos stalinistas. A ruptura pró-stalinista no partido do
Ceilão é um aviso aos trotskystas de todo o mundo sobre as trágicas
consequências das ilusões com o stalinismo que o pablismo promove.
Em outro documento, apresentamos uma detalhada análise do
revisionismo de Pablo. Nessa carta, nos limitaremos a algumas provas recentes
que mostram no campo fundamental da ação o quão longe foi Pablo em suas
conciliações com o stalinismo e o quão grave é o perigo para a existência da IV
Internacional.
Com a morte de Stalin, o Kremlin anunciou uma série de
concessões na URSS, nenhuma delas de caráter político. Em vez de
caracterizá-las como apenas parte de uma manobra destinada a um posterior
entrincheiramento da burocracia usurpadora e parte da preparação de um
burocrata dirigente para assumir o capote de Stalin, a fração pablista tomou
tais concessões como legítimas, apresentando-as como concessões políticas, e
até projetou a possibilidade de que a burocracia stalinista “dividisse o poder”
com os trabalhadores. (IV Internacional, jan-fev, 1953, p.13).
O conceito de “dividir o poder”, expressado na sua forma
mais direta por Clarke, um dos sumo sacerdotes do culto a Pablo, foi
indiretamente proclamado como dogma pelo próprio Pablo em uma questão não
respondida, mas obviamente fundamental: Pablo pergunta: A liquidação do regime
stalinista tomará a forma “de lutas interburocráticas violentas entre os
elementos que lutarão para manter o status quo—se não para voltar para trás—e
os elementos cada vez mais numerosos lançados pela poderosa pressão das
massas?” (IV Internacional mar-abr, 1953, p.39).
Essa linha dá novo conteúdo ao programa trotskysta ortodoxo
de revolução política contra a burocracia do Kremlin; ou seja, contra a posição
revisionista de que as “ideias” e o “programa” do trotskysmo irão purificar e
penetrar a burocracia, ou uma de suas importantes seções, destruindo então o
stalinismo de maneira imprevista.
Na Alemanha Oriental, em junho [de 1953], os trabalhadores
se levantaram contra governo dominado pelo stalinismo em uma das maiores
manifestações na história da Alemanha. Esse foi o primeiro levante proletário
de massas contra o stalinismo, desde que este usurpou e consolidou o poder na
União Soviética. Como Pablo respondeu a esse notável acontecimento?
Ao invés de expressar claramente as aspirações políticas
revolucionárias dos trabalhadores insurgentes da Alemanha Oriental, Pablo
encobriu os dirigentes stalinistas contrarrevolucionários que mobilizaram
tropas soviéticas para derrotar o levante (“os dirigentes soviéticos e aqueles
das várias `democracias populares´ e Partidos Comunistas não poderiam continuar
falsificando ou ignorando o profundo significado de tais acontecimentos por
muito tempo. Eles foram obrigados a continuar no caminho de dar concessões
ainda mais amplas e genuínas para evitar o risco de perder para sempre o apoio
das massas e para evitar explosões ainda maiores. A partir de agora eles não
mais poderão parar no meio do caminho. Serão obrigados a fazer concessões para
evitar explosões mais sérias no futuro imediato e, se possível, efetuar uma
transição `de maneira fria´ da situação presente para uma situação mais
tolerável para as massas.”) (Declaração do Secretariado Internacional da IV
Internacional publicado em The Militant, 6]de julho).
Ao invés de exigir a retirada das tropas soviéticas — a
única força que sustenta o governo stalinista — Pablo criou a ilusão de que
“concessões mais amplas e genuínas” estariam vindo dos gauleiters do Kremlin.
Poderia Moscou ter tido melhor apoio enquanto procedia monstruosamente em
falsificar o profundo significado daqueles acontecimentos, estigmatizando os
trabalhadores em luta de “fascistas” e de “agentes do imperialismo americano”,
e abrindo uma onda de bárbara repressão contra eles?
A GREVE GERAL NA FRANÇA
Em agosto [de 1953], na França, aconteceu a maior greve
geral na história do país. Deflagrada pelos próprios trabalhadores, contra a
vontade das suas lideranças oficiais, ela apresentou uma das mais favoráveis
aberturas na história da classe trabalhadora para o desenvolvimento de uma luta
real em direção à tomada do poder. Além dos trabalhadores, os camponeses
franceses somaram-se com manifestações, indicando sua grande insatisfação com o
governo capitalista.
A liderança oficial, tanto a socialdemocrata quanto a
stalinista, traiu o movimento, fazendo o máximo para conte-lo e evitar o perigo
ao capitalismo francês. Seria difícil encontrar, na história das traições,
outra mais abominável se a compararmos à oportunidade que ali se apresentava.
Como a fração de Pablo respondeu a esse acontecimento
colossal?
Eles consideraram a ação da socialdemocracia uma traição—mas
pelas razões erradas. A traição, diziam eles, consistia na negociação com o
governo pelas costas dos stalinistas. Essa traição, no entanto, era secundária,
derivava de seu maior crime: a recusa em lançar-se no caminho da tomada do
poder.
Quanto aos stalinistas, os pablistas encobriram sua traição
e com isso foram cúmplices a ela. A crítica mais severa que foram capazes de
formular contra o caminho contrarrevolucionário dos stalinistas, foi acusá-los
de uma “falha” política.
Isso era mentira. Os stalinistas não fizeram uma “falha”
política. Sua política consistia em manter o status quo dos interesses da
política externa do Kremlin e assim, ajudar a sustentar o capitalismo francês
em crise.
Mas isso não era tudo. Até para a educação interna do
partido dos trotskystas franceses, Pablo recusou-se a caracterizar a ação
stalinista como traidora. Ele afirmou “o papel de freio realizado, em maior ou
menor medida, pela direção das organizações tradicionais”—uma traição é um mero
“freio”! — mas também sua capacidade—especialmente da direção stalinistas—em
ceder à pressão das massas quando essa pressão se torna poderosa, como foi o
caso dessas greves”. (Political Note no. 1)
Poderíamos pensar que isso já é uma conciliação suficiente
com o stalinismo por um líder que abandonou o trotskysmo ortodoxo, mas ainda
procura encobrir-se sob a IV Internacional. No entanto, Pablo foi ainda mais
longe.
UM PANFLETO VERGONHOSO
Um panfleto de seus seguidores, dirigido aos trabalhadores
da fábrica Renault em Paris, declarava que na greve geral as lideranças
stalinistas da CGT (maior central sindical na França) “estavam corretas em não
apresentar demandas outras que as exigidas pelos trabalhadores”. Isso,
lembrando o fato de que os trabalhadores, através de suas ações, estavam
reivindicando o governo operário e camponês!
Arbitrariamente separando os sindicatos stalinistas do
Partido Comunista — evidência do pensamento mais mecânico ou evidência do
projeto deliberado de encobrir os stalinistas? — os pablistas declararam em seu
panfleto que, em relação ao significado da greve e de suas perspectivas, “isso
apenas se refere ao sindicato de maneira secundária. A crítica a isso não se
aplica à CGT que é uma organização sindical, que deve primeira e principalmente
agir como tal, mas sim aos partidos cujo papel era apontar o profundo
significado desse movimento e de suas conseqüências” (Panfleto “Às organizações
de trabalhadores e aos trabalhadores da Renault”, 3 de setembro de 1953.
Assinado por Frank, Mestre e Privas.)
Nessas afirmações, vemos o completo abandono de tudo o que
Trotsky nos ensinou sobre o papel e as responsabilidades dos sindicatos na
época da agonia mortal do capitalismo.
Portanto, o panfleto pablista “critica” o Partido Comunista
Francês por seu “afastamento do caminho”, por simplesmente colocar-se no nível
do movimento sindical ao invés de explicar aos trabalhadores que essa greve era
uma importante etapa(!) na crise da sociedade Francesa, o prelúdio (!) para uma
grande luta de classes, onde o problema do poder dos trabalhadores seria
colocado na ordem do dia para salvar o país da armadilha capitalista e abrir o
caminho ao socialismo”.
Se os trabalhadores da Renault acreditassem nos pablistas,
os burocratas stalinistas franceses traidores seriam culpados apenas de serem
sindicalistas, e não de uma traição deliberada à maior greve geral na história
da França.
A aprovação de Pablo à política da direção da CGT parece
pouco verossímil, mas esse outro fato ainda salta aos olhos: na maior greve
geral já vista na França, Pablo brandamente caracteriza como “correta” uma
versão francesa da política burguesa de Gomper, a de manter os sindicatos fora
da política. E isso em 1953!
Se é incorreto para as lideranças da CGT avançarem
reivindicações políticas em consonância com necessidades objetivas, incluindo a
formação de um governo operário e camponês, então por que o SWP exige dos
atuais Gompers do movimento sindical americano que eles organizem um Partido
dos Trabalhadores? Um Partido dos Trabalhadores que objetive colocar um governo
operário e camponês no poder nos Estados Unidos?
A aprovação de Pablo parece ainda mais estranha se nos
lembrarmos que a liderança da CGT é altamente política. Ao menor sinal do
Kremlin, essa liderança não hesita em convocar os trabalhadores para a mais
precipitada aventura política. Lembremos, por exemplo, seu papel nos
acontecimentos iniciados com as manifestações anti-Ridgway no ano passado.
Esses dirigentes sindicais stalinistas não hesitaram em chamar greves para
protestar contra a prisão de Duclos, um líder do Partido Comunista.
O fato é que a direção da CGT revelou seu alto caráter
político mais uma vez em greves gerais. Com toda a habilidade de anos de
traição e jogo duplo, ela deliberadamente tentou eliminar os trabalhadores, sufocar
suas iniciativas, impedir de avançarem suas reivindicações políticas. As
lideranças sindicais stalinistas foram conscientemente traidoras. E esse
caminho de traições é o que Pablo considera “correto”!
E isso não é tudo. Um dos principais objetivos do panfleto
pablista é denunciar os trotskystas franceses que atuaram durante a greve na
fábrica Renault como genuínos revolucionários. O panfleto nomeia
especificamente 2 camaradas que “foram expulsos da IV Internacional e da seção
francesa há mais de um ano.” Declara também que esse “grupo foi expulso por
razões de indisciplina; e a orientação que seguiram, especialmente durante o
último movimento grevista, era oposta àquela realmente defendida pelo PCI
(Seção francesa da IV Internacional).” A referência ao “grupo” é, na verdade, à
maioria da Seção Francesa da IV Internacional que foi arbitraria e injustamente
expulsa por Pablo.
O movimento trotskysta internacional alguma vez ouviu
tamanho escândalo como a denúncia de militantes trotskystas a stalinistas e
ainda a apresentação de tal fato aos trabalhadores justificando-o como uma
traição stalinista abominável?
Deve-se observar que a denúncia pablista desses camaradas
aos stalinistas, se dá depois de um veredito do tribunal dos trabalhadores,
absolvendo os trotskystas da fábrica da Renault das calúnias que lhes fizeram
os stalinistas.
OS PABLISTAS AMERICANOS
O exame desses acontecimentos mundiais é suficiente, na
nossa opinião, para indicar a profundidade da conciliação entre o pablismo e
o stalinismo. Mas nós gostaríamos de submeter à análise de
todo o movimento trotskysta internacional alguns fatos adicionais.
Por mais de um ano e meio o SWP esteve comprometido em uma
luta contra uma tendência revisionista liderada por Cochran e Clarke. A luta
contra essa tendência foi uma das mais duras na história do nosso partido. Na
verdade, se tratavam das mesmas questões fundamentais que nos dividiram do
grupo de Burnham e Shachtman e do grupo de Morrow e Goldman no começo e final
da II Guerra Mundial. Essa é uma nova tentativa de revisar e abandonar nosso
programa fundamental. Suas posições comprometem a perspectiva da revolução
americana, o caráter e o papel do partido revolucionário e seus métodos de
organização, e as perspectivas para o movimento trotskysta internacional.
Durante o período pós-guerra, uma poderosa burocracia
consolidou-se no movimento operário americano. Essa burocracia apóia-se sobre
uma ampla camada de trabalhadores privilegiados, conservadores, que foram
“amolecidos” pelas condições da prosperidade da guerra. Essa nova camada
privilegiada saiu em grande medida das fileiras dos setores militantes da
classe trabalhadora, da mesma geração dos que fundaram a CIO.
A relativa segurança e estabilidade das suas condições de
vida paralisaram temporariamente a iniciativa e o espírito de luta daqueles
trabalhadores que anteriormente estavam na linha da frente em todas as ações
militantes de classe.
O Cochranismo é a manifestação da pressão dessa nova
aristocracia operária, com sua ideologia pequeno-burguesa exercida sobre a
vanguarda proletária. Os ânimos e tendências das camadas de trabalhadores
passivos e relativamente satisfeitos atuam como um mecanismo poderoso transmitindo
pressões contrárias para o nosso movimento. O slogan dos Cochranites, “abaixo o
velho Trotskysmo”, expressa esse sentimento.
A tendência cochranista vê um grande potencial
revolucionário da classe trabalhadora americana como um projeto distante. Eles
acusam de “sectária” a análise marxista que revela os processos moleculares de
criação de novos setores de luta no proletariado norte-americano.
À medida que há tendências progressistas no interior da
classe trabalhadora nos Estados Unidos, eles as vêem apenas nas fileiras ou
periferia do stalinismo e entre “sofisticados” políticos dos sindicatos—o
restante da classe é considerada irremediavelmente adormecida, e somente o
impacto de uma bomba atômica poderia acordá-la.
Sinteticamente, suas posições revelam: falta de confiança na
perspectiva da revolução norte-americana; falta de confiança no papel do
partido revolucionário em geral e no SWP em particular.
CARACTERÍSTICAS DO COCHRANISMO
Como bem sabem todas as seções do movimento internacional a
partir de suas duras e difíceis experiências, as pressões que existem são
maiores que as que se criaram com a prolongada prosperidade da guerra e com a
onda de reação como a que ocorreu nos Estados Unidos. Mas o fator que sustenta
os quadros sob as mais difíceis circunstâncias é a total convicção da
concretude teórica do nosso movimento, é saber que eles são os meios reais para
seguir adiante na tarefa histórica da classe trabalhadora, é compreender que,
de uma maneira ou de outra, o destino da humanidade depende do que eles fazem,
é a firme convicção de que quaisquer que sejam as circunstâncias momentâneas, a
linha principal do desenvolvimento histórico exige a criação de partidos
leninistas combativos que resolverão a crise da humanidade a partir da
revolução socialista vitoriosa.
Cochranismo é a substituição desta visão de mundo trotskysta
ortodoxa pelo cepticismo, improvisações teóricas e especulações jornalísticas.
Foi isso que tornou irreconciliável a luta no SWP, no mesmo sentido em que a
luta com a oposição pequeno-burguesa em 1939-40 era irreconciliável.
Os Cochranistas manifestaram as seguintes posições ao longo
da luta:
1. Desrespeito à tradição do partido e à sua tarefa
histórica. Os cochranistas dificilmente perdem uma oportunidade para denegrir,
ridicularizar e desprezar os 25 anos de tradição do trotskysmo norte-americano.
2. Uma tendência a substituir a política fundamentada em
princípios marxistas por combinações sem princípios contra o “regime” do
partido. Assim, a fração cochranista é composta por um bloco de elementos
contraditórios. Um grupo, centrado principalmente em Nova Iorque, favorece uma
espécie de tática “entrista” no movimento stalinista norteamericano.
Outro grupo, composto por elementos conservadores do
sindicato, centrados originalmente em Detroit, considera que pouco será ganho
na aliança com os stalinistas. O grupo baseia sua perspectiva revisionista em
uma super-estimação da estabilidade e duração do poder da nova burocracia
operária.
Também se vêem atraídos pelos cochranistas indivíduos
cansados que não mais podem suportar a pressão das condições adversas atuais e
que estão buscando uma justificativa plausível para afastarem-se para a
inatividade.
O cimento que une este bloco sem princípios é a comum
hostilidade ao trotskysmo ortodoxo.
3. Uma tendência a afastar do partido aquilo que deve ser
nosso principal campo de luta na América, os trabalhadores politicamente
adormecidos das grandes indústrias. Os cochranistas, de fato, eliminaram do
programa as palavras de ordem e reivindicações transitórias as quais o SWP tem
usado como ponte a esses trabalhadores e argumentam ainda que a maioria que
permanece nesse caminho está se adaptando ao atraso dos trabalhadores.
4. Uma convicção de que se deveria descartar toda a
possibilidade da classe trabalhadora norte-americana avançar em oposição
radical ao imperialismo norte-americano antes da III Guerra Mundial.
5. Uma absurda teorização experimental com o stalinismo de
“esquerda” que se reduz à extravagante crença de que os stalinistas “já não
podem mais trair”, de que o stalinismo inclui um lado revolucionário que torna
possível aos stalinistas liderarem uma revolução nos Estados Unidos, no
processo no qual eles absorveriam “idéias” trotskystas, de tal maneira que a
revolução eventualmente “entraria para o caminho correto”.
6. Adaptação ao stalinismo diante dos novos acontecimentos.
Eles apoiam e defendem a conciliação com o stalinismo baseados na interpretação
de Pablo sobre a queda de Béria e as conseguintes desobstruções na URSS. Eles
repetem todos os argumentos pablistas que encobrem o papel
contrarrevolucionário do stalinismo no grande levantamento dos trabalhadores da
Alemanha Oriental e na Greve Geral na França. Eles chegam a interpretar a
aproximação do stalinismo norte-americano com o Partido Democrata como uma mera
“oscilação” à direita dentro de um “processo de esquerdização”.
7. Desprezo pelas tradições do leninismo em relação à
organização. Durante algum tempo eles tentaram implementar um “poder dual” no
partido. Quando foram rechaçados pela esmagadora maioria do partido na Plenária
de Maio de 1953, eles aceitaram por escrito submeter-se à decisão da maioria e
à linha política tal como fora decidido na Plenária. Posteriormente romperam o
acordo renovando sua sabotagem fracionista às ações do partido sobre bases mais
febris e histéricas.
O cochranismo, cujas principais características mencionamos
acima, nunca foi mais que uma fraca minoria no partido. Não teria tido mais que
uma insignificante e fraca expressão de pessimismo, se não tivesse a ajuda e
apoio de Pablo por trás das lideranças do partido.
A ajuda e apoio secretos dados por Pablo foram desmascarados
logo depois da nossa Plenária de Maio, e desde então, Pablo vem colaborando
abertamente com a fração revisionista no nosso partido, sendo inspirador da sua
campanha de sabotagem das finanças do partido, destruição do trabalho do
partido e da preparação para uma ruptura.
A fração Pablo-Cochran, por fim, culminou sua conduta
desleal em um boicote organizado à celebração do 25º Aniversário do Partido,
que se realizou em Nova Iorque, combinada com uma manifestação para a campanha
às eleições municipais de Nova Iorque, que finalmente foram canceladas.
A ação traidora e de quebrar a greve constituiu, de fato,
uma manifestação organizada contra a luta de 25 anos do trotskysmo
norte-americano e, ao mesmo tempo, um ato de apoio direto ao stalinismo, que
havia expulsado os núcleos iniciadores do trotskysmo norte-americano em 1928.
O boicote organizado a esse encontro foi, de fato, uma
demonstração contra a campanha do SWP nas eleições municipais de Nova Iorque.
Todos os que participaram deste ato traidor anti-partido,
obviamente consumaram a ruptura com o partido, a qual vinham planejando há
muito tempo e perderam o direito de fazer parte do nosso partido.
Em um reconhecimento formal desse fato, a Plenária do 25º
Aniversário do SWP expulsou os membros do Comitê Nacional que organizaram o
boicote, e declarou que todos os membros da fração Pablo-Cochran que
participaram dessa ação traidora e de quebra da greve ou que se negaram a
repudiar esses atos, colocavam-se, por isso, fora das fileiras do SWP.
MÉTODOS DO COMINTERN
O jogo duplo de Pablo ao apresentar uma face à liderança do
SWP enquanto secretamente colaborava com a tendência revisionista cochranista é
um método que está fora da tradição do trotskysmo. Mas existe uma tradição à
qual ela pertence—ao stalinismo. Tais instrumentos, usados pelo Kremlin, são os
mesmos usados para corromper a Internacional Comunista. Muitos de nós
experimentamos isso no período de 1923-1928.
A evidência agora é clara de que aquela forma de atuação não
é uma aberração isolada por parte de Pablo. Um padrão consistente aparece.
Por exemplo, em uma das principais seções europeias da IV
Internacinal, um destacado dirigente do partido recebeu uma ordem de Pablo,
segundo a qual ele deveria conduzir-se como alguém que “defende até o 4o
Congresso Internacional, a linha e a disciplina da IV Internacional”. Junto a
esse ultimato, Pablo anunciava represálias àqueles que não obedecessem às
ordens.
A “maioria” a que Pablo se refere é simplesmente a modesta
etiqueta que ele coloca sobre si mesmo e sobre a pequena minoria hipnotizada
pelas suas novidades revisionistas. A nova linha de Pablo está em violenta
contradição com o programa fundamental do trotskysmo e está apenas começando a
ser discutida em muitas partes do movimento trotskysta internacional. Não
havendo sido sustentada por qualquer organização trotskysta, ela não constitui
a linha oficial aprovada da IV Internacional.
Os primeiros informes que temos recebido indicam a
indignação que provoca sua vontade arbitrária de introduzir à força suas
concepções revisionistas na organização em nível mundial, sem esperar por uma
discussão ou votação. Já temos informações suficientes para afirmar que a IV
Internacional está decidida a rechaçar a linha de Pablo por esmagadora maioria.
A exigência autocrática de Pablo a um dirigente da IV
Internacional, de abster-se de criticar a linha política revisionista de Pablo,
já é ruim o suficiente. Mas Pablo não para por aí. Enquanto tenta silenciar
esse líder e impedi-lo de participar de uma discussão na qual a militância se
beneficiaria de sua experiência, conhecimento e percepção, Pablo continuava a
intervir organizativamente, tratando de consolidar uma fração minoritária
revisionista que levasse adiante a luta pela liderança da seção.
Esse fato é típico da asquerosa tradição do Cominterm,
quando este caiu em degeneração sob a influência do stalinismo. Se não houvesse
outro problema como este, seria necessário vencer o pablismo até o final para
salvar a IV Internacional da corrupção interna.
Tais táticas têm um objetivo claro. Fazem parte da
preparação de um golpe pela minoria pablista. Utilizando o controle
administrativo de Pablo, eles pretendem impor sua linha revisionista na IV
Internacional e onde encontrarem resistência, provocarem rupturas e expulsões.
O método organizativo stalinista começou, como podemos
perceber agora, com o brutal abuso do controle administrativo por Pablo.na sua
campanha contra a maioria da seção francesa da IV Internacional, há mais de um
ano e meio.
Por ordem do Secretariado Internacional, a maioria eleita da
seção francesa foi proibida de exercer seus direitos de liderar o trabalho
político e de propaganda do partido. Em vez disso, o Bureau Político e a
imprensa foram colocados sob o controle de uma minoria, a partir do modelo
cominternista de uma “comissão paritária”.
Nesse momento, nós desaprovamos profundamente essa ação
arbitrária na qual uma minoria foi usada para contrariar e derrubar
arbitrariamente uma maioria. Assim que soubemos disso, nós comunicamos nosso
protesto a Pablo. No entanto, nós devemos admitir que cometemos um erro em não
tomar atitude mais vigorosa. Esse erro foi devido a uma insuficiente apreciação
da nossa parte dos reais problemas que estavam envolvidos. Pensamos que as
diferenças entre Pablo e a seção francesa eram táticas, o que nos levou para o lado
de Pablo, apesar de nossa desconfiança quanto aos seus procedimentos
organizativos, quando, depois de meses de uma luta destruidora de frações, a
maioria foi expulsa.
No fundo, as diferenças eram de caráter programático. O fato
é que os camaradas franceses da maioria viram o que estava acontecendo de
maneira mais clara do que vimos. O 8º Congresso do seu partido declarou que “um
grave perigo ameaça o futuro e inclusive a existência da IV Internacional...
Concepções revisionistas, produto da covardia e do impressionismo
pequeno-burguês apareceram no interior da sua direção. A fragilidade ainda
grande da IV Internacional, separada da vida de suas seções, facilitaram
momentaneamente a instalação de um sistema de domínio pessoal, que baseia a si
mesmo e os seus métodos anti-democráticos no revisionismo do programa
trotskysta e no abandono do método marxista” (La Verité, 18 de setembro de
1952)
Toda a situação francesa deve ser reexaminada à luz dos
acontecimentos subsequentes. A atuação da maioria da seção francesa na greve
geral demonstrou de maneira decisiva que eles, sim, sabem carregar os
princípios fundamentais do trotskysmo ortodoxo. A seção francesa da IV
Internacional foi injustamente expulsa. A maioria francesa, agrupada em torno
do periódico La Verité, são os verdadeiros trotskystas da França, e o SWP os
reconhece abertamente como tais.
Particularmente repugnante é a declaração caluniosa de Pablo
sobre as posições políticas da seção chinesa da IV Internacional. A fração
pablista os apresentou como “sectários” e “desertores da revolução”.
Contrariamente à impressão deliberadamente criada pela
fração de Pablo, os trotskystas chineses atuaram como verdadeiros
representantes do proletariado chinês. Eles foram escolhidos como vítimas do
regime de Mao, da mesma maneira que Stalin condenou à morte toda a geração de
bolcheviques leninistas na URSS, imitando os Noskes e Scheidemanns alemães que
decidiram executar os Luxemburgos e Liebknechts da revolução de 1918. Mas a
linha de Pablo, de conciliação com o stalinismo, a leva inevitavelmente a
defender o regime de Mao, enquanto ataca a posição principista de nossos
camaradas chineses.
O QUE FAZER?
Resumindo: o abismo que separa o revisionismo pablista do
trotskysmo ortodoxo é tão profundo que nenhum compromisso político ou
organizativo é possível. A fração de Pablo demonstrou que não permitirá
decisões democráticas que reflitam a opinião da maioria. Eles exigem a completa
submissão à sua política criminosa. Eles estão decididos a eliminar da IV
Internacional todos os trotskystas ortodoxos, a calá-los ou atar-lhes as mãos.
Seu plano tem sido introduzir a conciliação com o stalinismo
de forma fragmentada e, ao mesmo tempo, livrar-se daqueles que veem o que se
passa e levantam objeções. Esta é a explicação da estranha ambiguidade de
muitas das formulações e evasões diplomáticas pablistas.
Até agora, Pablo tem tido um certo êxito em suas manobras
maquiavélicas e sem princípios. Mas chega-se a um ponto em que há uma mudança
qualitativa. As questões políticas se apresentam liquidando as manobras, e a
luta é agora um enfrentamento aberto.
Se pudermos dar um conselho às seções da IV Internacional,
da nossa posição forçada de estarmos fora das filas, pensamos que é o momento
de atuar, e atuar de maneira definitiva. É chegada a hora da maioria da IV
Internacional mostrar sua vontade contra a usurpação da autoridade feita por
Pablo.
Eles deveriam, além disso, salvar a direção da IV
Internacional retirando Pablo e seus agentes de seus cargos, e levando para lá,
quadros que têm demonstrado na ação que sabem conduzir o trotskysmo ortodoxo e
manter o movimento no caminho correto tanto do ponto de vista político como
organizativo.
Saudações fraternas trotskystas,
Comitê Nacional do SWP