SETEMBRO DE 1969, MORRE HO CHI MINH: UM ÍCONE STALINISTA A
SERVIÇO DA POLÍTICA DA PAZ MUNDIAL
(Home Page da LBI, Setembro/2009)
Ho Chi Minh, morto por um ataque cardíaco em Setembro de
1969, é identificado como um dos maiores estrategistas militares e políticos do
século XX, considerado o libertador da Indochina, vencendo uma verdadeira
batalha de Davi contra Golias. Um Che oriental que teria inspirado inclusive o
próprio Guevara a declarar que a tarefa de sua geração era construir vários
Vietnãs. No entanto, é pouco conhecida a história verdadeira da libertação
nacional indochinesa, muitas vezes sendo atribuída à genialidade da direção
stalinista, que subjetiva e objetivamente retardou a libertação da Indochina
com sua política em favor da "convivência pacífica" com o
imperialismo invasor e tornou muito mais penosa a libertação do povo oprimido.
O que surpreendeu o mundo, de fato, foi a heróica resistência da população que
sobrepôs todos os erros e traições de sua direção, excepcionalmente
prescindindo dela inclusive para vencer, haja vista que o próprio Ho faleceu
seis anos antes da espetacular vitória do Vietnã sobre a maior potência
imperialista de todos os tempos, jogando por terra o mito da invencibilidade
dos EUA no pós-segunda-guerra. Esta derrota e expulsão humilhantes desde então
assombram os invasores ianques quando se enfrentam com a resistência armada de
outros povos invadidos, como no Afeganistão, Iraque, etc.
Quando adolescente, Nguyen Sinh Cung, que depois viria a
assumir o codinome de Ho Chi Minh, viajou o mundo como trabalhador precarizado
do mesmo modo que muitos emigrantes orientais que encontramos nas ruas das
grandes metrópoles. Foi jardineiro, lavador de pratos, marinheiro, cozinheiro
e, segundo relatara Astrogildo Pereira, fundador do PCB, Ho teria morado no
Morro Santa Tereza, quando trabalhou por alguns meses no Rio de Janeiro como
garçom. Em Paris, liga-se ao Partido Comunista Francês e em 1923 visita Moscou
como delegado do mesmo. Logo nas primeiras divergências entre Stalin e Trotsky
sobre a China, acerca da entrada do PC Chinês no partido da burguesia
nacionalista, o Kuomintang, Ho assume a defesa da política stalinista contra as
posições de Trotsky que se opunha ao ingresso do partido burguês como
"simpatizante" do Comitern e da aclamação de seu dirigente, Chiang
Kai Shek, como "membro de honra da Internacional", defendendo a
criação de sovietes camponeses, a independência política do PCCh e a adoção de
uma linha revolucionária para que o próprio tomasse o poder. O pragmático Ho
percebera que as coisas haviam mudado após a morte de Lênin, alinha-se a ala
majoritária do Comitern e, por sua fidelidade a mesma, é encarregado pela
Terceira Internacional de partir para a China para auxiliar Mikahil Borodin na
formação política e militar dos quadros do Kuomintang em Cantão. Nesta cidade
encontra outros vietnamitas e funda a Thanh Nien (Associação da Juventude Revolucionária
do Vietnã) que se constituiria no Partido Comunista Indochinês (PCI).
Em 1927, Chiang Kai-shek rompe a aliança com os comunistas,
dissolvendo os sindicatos e esmagando os sovietes proletários de Cantão e
Xangai. O PCCh que só não dirigira uma revolução proletária pela política de
colaboração de classes do stalinismo, pela qual Ho era um dos responsáveis, é
quase completamente dizimado pelo "aliado" Kuomitang. Ho consegue
fugir e volta para Moscou.
HO CHI MINH CALUNIOU E ASSASSINOU OS TROTSKISTAS INDOCHINESES
Seguindo a orientação política ultraesquerdista do chamado
"terceiro período", o PCI despreza a luta do proletariado das
cidades, alia-se a burguesia nacionalista, despreza a luta pela independência
nacional em favor da campanha anti-fascista aliada aos colonizadores franceses
e promove um levante militar na guarnição de Yen Bay, que fracassa assim como o
levante comunista de 1935 nos quartéis brasileiros. Para Ho era mais importante
a legalização do PCI e boas relações com a França. Em 1935 participa, como
delegado do PC Indochinês, do VII Congresso da Internacional Comunista
defendendo a política das Frentes Populares. Alguns exilados intelectuais
indochineses em Paris fazem um balanço negativo da política do PCI e fundam uma
Oposição de Esquerda ao stalinismo que adquire uma forte penetração no
movimento operário das principais cidades indochinesas. O trotskismo chega a
possuir tanta força na península que mesmo durante os processos de Moscou, o
PCI se via obrigado a realizar uma política de frente única com os trotskistas
dirigidos por Tha Thu Thau, Phan Van Chanh e Ngo Van que possuem duas
organizações: La Lutte e LCI. Em Saigon, os trotskistas chegam a eleger quatro
vereadores em 1935. Parlamentares presos no dia seguinte de sua posse, por discursar
em apoio à greve dos condutores de carroça. Mas a relação com os stalinistas
locais era cada vez mais conflituosa. Os trotskistas defendiam a independência
de classe e a resistência operária e camponesa armada contra todos os invasores
imperialistas e o não pagamento de impostos a França justificado pelo país
imperialista "para a defesa da Indochina" contra o fascismo japonês.
Com a chegada do poder da Frente Popular na França, em 1936, aumenta a defesa
que o PCI e Ho, sob as ordens de Moscou e do nacionalista PC francês, fazem do
governo fantoche de Saigon e da potência colonizadora como aliada do povo
vietnamita. Na votação da sobrecarga de impostos para a "defesa
nacional" no Conselho Municipal de Saigon, os stalinistas votaram com a
burguesia e contra os parlamentares trotskistas. O PCI rompeu a frente com os
trotskistas e neste processo, milhares de militantes passaram-se ao trotskismo
indochinês cujas fileiras chegaram a reunir cinco mil ativistas.
Em abril de 1939, tendo como plataforma política a luta
contra o imperialismo, a burguesia nacional e o stalinismo, Thau e outros dois
trotskistas foram eleitos vereadores em Saigon com 80% dos votos. O partido
pró-colonialismo francês obteve 15% e o PCI, 1%. Desesperadamente, Ho Chi Minh,
de Paris, foi o encarregado por Stalin para disseminar as asquerosas calúnias
dos Processos de Moscou contra as populares organizações trotskistas
indochinesas, como demonstra a carta de maio de 1939 (https://www.novacultura.info/single-post/2015/08/15/Ho-Chi-Minh-e-os-trotskistas). Neste mesmo
período, o Comitern orienta o PCCh para uma nova aliança com o Kuomitang contra
o avanço do fascismo japonês na China e Indochina e Ho é novamente enviado como
Comissário Político de Moscou para novamente treinar as tropas de Chang Kai
Chek na tática de guerrilha. Neste período conhece Vo Nguyen Giap que viria ser
seu braço direito e sucessor após sua morte.
Em outubro de 1939, a França, ocupada pelas tropas da
Alemanha nazista, une-se ao Japão, que também fazia parte do Eixo juntamente
com a Alemanha e a Itália, para esmagar o levante popular de Tonkin e assegurar
o domínio colonial e agora fascista sobre o país. Forma-se então o Vietminh, a
Liga pela independência da Indochina, uma frente única de partidos
nacionalistas (a ala esquerda da burguesia liberal e a pequena burguesia) e
comunistas (stalinista e trotskistas) e outras organizações populares, de
mulheres, camponeses, jovens e soldados. A administração francesa
colaboracionista persegue e o stalinismo isola os trotskistas que são presos e
passam cinco anos em campos de concentração.
A derrota da Alemanha para a URSS, seguida da expulsão das
tropas alemãs da França, debilitou o domínio fascista franco-japonês da
Indochina e abriu caminho para o fim do domínio colonial do país oprimido. Um
poderoso movimento de massas tomou conta de toda a península e deu origem aos
Comitês do Povo, organizações de poder popular que tomam nas suas mãos os
governos locais. Ao saíram da prisão em 1944, os trotskistas recomeçam a
organizar a atividade política, fundam o Partido Socialista dos Trabalhadores e
editam o jornal O Combate, ganhando grande influência nas principais cidades do
país e entre os mineiros e defendendo a palavra de ordem "Todo poder aos
Comitês do Povo!" e o armamento popular, enquanto o PCI defendia
"Todo poder ao Vietminh!", acatava os acordos de Ialta e Potsdam, que
entregam o poder político e militar do país para a administração aliada e à
recolonização francesa. Sob a direção de Ho, e apoiado pela URSS e pelas
potências imperialistas aliadas, o PCI toma de assalto todos os postos
governamentais, desarma e dissolve os Comitês do Povo e prende aos trotskistas
como Tha Thu Thau e seus companheiros. Segundo um informe publicado por
Quatrième Internationale em 1947, Ta Thu Thau foi julgado por uma espécie de
"tribunal popular". No entanto, devido a seu grande prestigio no
movimento operário, o tribunal não conseguiu ser convencido de nenhuma acusação
lançada pelos stalinistas, mas mesmo não encontrando nenhuma culpa Thau, Phan
Van Chanh e outros foram massacrados. Ngo Van foi exilado e impedido de voltar
ao Vietnã pelo governo stalinista até o seu falecimento em 2005.
Após esmagar a ala esquerda da insurreição antifascista, o
Vietminh dá boas vindas às tropas aliadas, particularmente britânicas e chinesas
que tentam impor o restabelecimento do domínio colonial pré-guerra. Apesar da
política colaboracionista do PCI, o imperialismo francês governado por De
Gaulle que tinha como ministro o secretario geral do PCF, Maurice Thorez,
"camarada" de Ho Chi Minh, recusa-se a tolerar um governo
nacionalista independente. A divisão do mundo realizada pelas Conferências de
Ialta e Potsdam garantiram o direito à recolonização do país pela França. Ho
assina um acordo reconhecendo o Vietnã como parte integrante da chamada
"União Francesa", dando direito ao governo de Paris de permanecer
ocupando militar e ostensivamente a península. As negociações em favor da
independência que Ho tanto acreditava fracassam e a França reocupa militarmente
a Indochina do Sul.
A base do Vietminh chega a se rebelar contra o acordo
capitulador. Em um grande comício Ho se defende: "Vocês sabem que eu
preferiria morrer a trair a nação. Juro que não traí vocês" (Ho Chi Minh
por Dana Ohlmeyer LLoyod, 1986). Acuado no norte, Ho quase perde o controle
também desta região do país negando-se a princípio a romper a aliança com a
traiçoeira burguesia nacional, até que se vê obrigado a organizar uma
resistência guerrilheira que ganha força com a reforma agrária e aliada à
guerra de libertação nacional transforma-se em revolução agrária.
A liquidação física dos trotskistas vietnameses, a oposição
de esquerda à direção stalinista do movimento de libertação nacional, debilita
tanto a resistência proletária antiimperialista nas cidades, onde o trotskismo
era bastante influente, quanto retarda por três décadas a revolução indochinesa
(Vietnã, Camboja e Laos) e estrangula as perspectivas da democracia soviética
do futuro Estado operário.
A revolução indochinesa poderia ter se aproveitado da vaga
aberta com o final da Segunda Guerra, o interregno na dominação francesa e a
expulsão do imperialismo japonês pela resistência antifascista. A revolução
chinesa, ocorrida nesta época, por exemplo, só foi possível quando o PCCh foge
da orientação de Moscou de "convivência pacifica" com a burguesia e
derrota o Kuomintang (1949-50). Na mesma vaga, nasce o Estado operário da
Coréia do Norte (1950-53), fruto da radicalização da luta antiimperialista e
anticapitalista das massas na península coreana e do impulso burocrático dos
stalinistas da China e URSS por estabelecerem um cinturão de isolamento nas
suas fronteiras que pusesse limite aos apetites do imperialismo ianque por
substituir o colonialismo japonês no extremo oriente. No entanto, a política de
Ho Chi Minh, cujo partido era muito mais oportunista e influenciado por Moscou
e pelo PCF que o PC Chinês, debilitou profundamente a luta revolucionária e fez
o imperialismo ianque acreditasse que depois de perder tanto terreno na Ásia e
da desmoralização que foi a invasão da Bahia dos Porcos, visse no Vietnã uma
débil resistência para dar o troco na guerra fria. Em 1961, logo após a
tentativa de ocupação gusana armada pela CIA ser repelida de Cuba, John F.
Kennedy declara "Agora temos um problema: tornar nossa força digna de crédito
e o Vietnam parece ser o lugar."
Ledo engano, os lutadores vietnamitas que haviam repelido as
tropas britânicas e o Kuomitang, a ocupações japonesa e francesa, dispunham de
uma resistência quase heróica que se tornou mitológica (que foi apropriada quase
exclusivamente pela direção stalinista). Assim como as massas soviéticas
conseguiram derrotar a poderosíssima Alemanha nazista na década de 1940, os
franzinos lutadores vietnamitas derrotaram a maior máquina de guerra de toda a
história em 1975, que cometeu atrocidades iguais e piores que os alemães como o
bombardeio de toda a península com o agente laranja que seguem hoje deixando
seqüelas irreparáveis nas gerações atuais.
VIETNÃ, A REVOLUÇÃO QUE SOBREVIVEU ÀS TRAIÇÕES DE SUA
DIREÇÃO
A guerra de guerrilha provara sua eficácia quando os povos
oprimidos não dispunham de qualquer chance em combate convencionais contra
invasores imensamente mais poderosos. Todavia, a vitória da resistência
antiimperialista em condições extremamente penosas, depois da derrota do
proletariado urbano e de sua direção revolucionária e impulsionadora de
organismos soviéticos de poder dos trabalhadores foi posteriormente justificada
com a criação da teoria da "Guerra popular prolongada" de guerrilhas
de bases camponesas. Na China, o mesmo mito foi alimentado depois do
esmagamento das insurreições do proletariado de Xangai e Cantão, devido à
política de colaboração de classes com a burguesia nacionalista, o que também
retardou por duas décadas a revolução naqueles países, comprometeu e
burocratizou o Estado operário após a revolução de 1949.
Quando a recolonização francesa foi derrotada pelo Vietminh
em 1954, o imperialismo propõe um acordo para a divisão do país, como fizera na
Coréia, ficando o norte, acima do paralelo 17 sob o controle do PCI e o sul sob
um governo fantoche dos EUA até a realização de eleições em 1956 pela
reunificação do país. China e URSS se põem inteiramente de acordo com este
engodo separatista conhecida como Tratado de Genebra.
O Vietminh capitula novamente, recua onde dominava no sul do
país. Em 1956, os EUA substituem a debilitada administração francesa na
península, não cumprem o acordado, não realizam as eleições gerais pela
reunificação e intensificam a opressão colonial. Um dos líderes da resistência
do sul, Le Duan, que viria a ser eleito Secretário Geral do PCI em 1959, foi a
Hanói para cobrar de Ho seu abandono à luta pela reunificação do país. Ho se
opunha a lançar um confronto militar em larga escala por temer a intervenção
dos EUA e acreditava que as condições no Vietnã do Sul ainda não estavam
prontas para uma revolução. Isto fez com que o imperialismo ianque ganhasse um
bom tempo para estabelecer uma ditadura bem armada no sul. Abandonados pelos
seus camaradas do norte, que acreditavam em uma futura reunificação nacional
pacífica, continua a resistência guerrilheira clandestina no sul até que o
acirramento dos conflitos e por fim o bombardeio do Vietnã do Norte, em
1964-65, que finalmente forçam Ho Chi Minh a assumir uma guerra aberta contra
os EUA.
Em 12 de dezembro de 1960, Hanói autorizou a criação da
Frente de Libertação Nacional (FLN) para não perder a completa autoridade que
possuía sob o exército guerrilheiro do sul, com 15 mil combatentes, também
chamado de Vietcong. Sucessivos governos norte-americanos superestimaram o
controle e a influência do Vietnã do Norte sobre o Vietcong, como observou
Robert McNamara, secretário de defesa dos governos de John F. Kennedy e Lyndon
Johnson. Na metade de 1962, o número de conselheiros militares norte-americanos
no Vietnã do Sul havia aumentado de 700 para 12 mil.
A fome se abateu sobre o norte do país que precisava do
arroz produzido no sul, o qual o governo fantoche ianque se recusava a
comerciar. A coletivização forçada empreendida por Ho só agravou a situação.
100 mil camponeses foram assassinados para sufocar levantes como o da província
natal de Ho, Nghe Na, onde haviam sido originados os conselhos de aldeia na
década de 30. Não era preciso ser grande estrategista para compreender que para
sobrevivência do norte dependia da reconquista do sul do país.
A corrupção deslavada e a crescente resistência guerrilheira
fazem desmoronar o governo fantoche ao que os EUA tratam de contrapesar cada
vez mais com o aumento de sua presença militar na península, ao ponto de
produzir a guerra contra-revolucionária mais destruidora da história. Entre
março de 1965 e novembro de 1968, a operação "Rolling Thunder", como
foi chamada, descarregou um milhão de toneladas de mísseis, foguetes e bombas
atingindo o Vietnã, o Camboja e o Laos, por onde passava a famosa trilha Ho Chi
Minh que intercomunicava as frentes guerrilheiras. Os bombardeios massivos,
guerra química, massacre de combatentes e indefesas populações civis, tortura,
assassinatos e campos de concentração causam uma comoção mundial e grandes
mobilizações anti-guerra. Mas o elemento decisivo para o triunfo foi a
abnegação sem limites das massas indochinesas que lograram êxitos militares em
ofensivas espetaculares.
A dinâmica movimentação dos guerrilheiros Vietcongs em pequenas
unidades de combate surpreende o poderoso invasor. Ao contrário dos soldados da
Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Coréia, as tropas americanas eram
vulneráveis a ataques de surpresa onde quer que se encontrassem, sem conseguir
relaxar, mesmo na retaguarda.
Seguindo a política de "conquistar corações e
mentes" da população sul-vietnamita, imaginada por Kennedy anos antes, o
Vietnã do Sul foi inundado por bens manufaturados norte-americanos. A injeção
de produtos e de dinheiro americano no país degenerou a economia e a sociedade
sul-vietnamita, causando também uma grande onda de corrupção local. Em uma onda
quase autofágica pelo controle da máquina e do dinheiro vindos dos EUA, a
ditadura de Saigon patrocinada pela CIA se desmoralizava por dezenas de golpes
militares consecutivos, perdendo qualquer capacidade para enfrentar a FLN.
Enquanto isto, outros dois movimentos insurrecionais se fortaleciam na
península: o Pathet Lao, no Laos e o Khmer Vermelho, no Camboja, que receberam
ajuda militar da URSS e da China, ao mesmo tempo em que politicamente eram
orientados a buscar um acordo com o imperialismo assassino. Numa declaração
similar a que havia feito aos franceses anos antes, Ho Chi Minh declarou que
"se os americanos querem fazer a guerra por vinte anos, então nós a
faremos por vinte anos; se eles querem fazer a paz, nós faremos a paz e os
convidaremos para um chá à tarde". Ho queria acabar a guerra a qualquer
custo. Em 1964 enviou uma mensagem ao secretário geral da ONU dizendo que
aceitaria reunir-se com os parlamentares ianques sob quaisquer condições. A
proposta foi desprezada pelos EUA que não acreditavam na possibilidade de serem
derrotados pelos Vietcongs. Ho reivindicou a intermediação da França,
assegurando que aceitaria uma paz que tivesse como única condição a retirada
das tropa estrangeiras. Os EUA exigiram que primeiro a FLN saísse do Sul. Ho
não tinha poder para tanto, a FLN operava por iniciativa própria.
As burocracias stalinistas tanto dividiram os movimentos de
libertação nacional da península, quanto jogaram uns contra os outros (invasão
do Vietnã pela China e do Camboja pelo Vietnã) e ainda estabeleceram relações
cordiais com o agressor colonialista como fizera Mao ao encontrar-se com Nixon
em Pequim (1972) enquanto seguia o massacre do povo oprimido. Os acordos de Paz
de Paris de janeiro de 1973, por exemplo, comemorados pelo stalinismo como uma
"vitória histórica" não impediram a continuidade encarniçada da
guerra por mais três anos em que o norte respeitou o cessar fogo a princípio
enquanto o sul continuou o massacre de milhares de comunistas indochineses.
Tudo isto fez com que apesar dos esforços heróicos e dos triunfos colossais no
terreno militar do povo indochinês, as direções stalinistas como Ho e seus
sucessores burocratizassem a tal nível o nascente estado operário que
comprometeram a extensão e duração das conquistas revolucionárias da revolução.
Após a vitória sobre o imperialismo o stalinismo continuou
atuando febrilmente para quebrar a revolução indochinesa. Em 1978, o Vietnã
invadiu e destroçou criminosamente o Camboja, arruinando prematuramente aquele
estado operário deformado recém fundado. A partir de então, o PCV (antigo PCI)
segue a trajetória restauracionista chinesa, restabelecendo pacificamente
acordos de dependência econômica com o imperialismo ianque do qual se libertou
em 1975 a um enorme custo final da guerra de 1,5 milhão de mortos e 3 milhões
de feridos.
Sobrevivendo a todas as traições de sua direção, graças a
uma combinação de fatores excepcionais que obrigaram a direção stalinista a ir
além de onde pretendia na ruptura com a burguesia e o imperialismo a revolução
vietnamita triunfou.