REVISITANDO A HISTÓRIA: VEJAM COMO O DIRIGENTE DO MAIS,
FÁBIO JOSÉ, QUANDO ERA VEREADOR PELO PSTU JÁ DEFENDIA A CONCILIAÇÃO DE CLASSES
COM PARTIDOS BURGUESES
VEREADOR DO PSTU EM JUAZEIRO DO NORTE (CE) INTEGRA BLOCO
PARLAMENTAR COM O PT E PHS DE APOIO AO GOVERNO LULA
(ARTIGO PUBLICADO NO JLO EM
06/08/2003)
Nos últimos meses, o PSTU tem dirigido um chamado aos
parlamentares petistas que estão sendo ameaçados de expulsão do partido e ao
conjunto da vanguarda classista a romper com o PT para conformar um novo
partido de esquerda e socialista. Porém, onde possui alguma expressão
parlamentar, o PSTU vem seguindo uma trajetória completamente oposta a que
aconselha aos seus aliados da esquerda petista e aos trabalhadores.
VALE TUDO ELEITORAL E CRETINISMO PARLAMENTAR
Dos dois únicos mandatos parlamentares que o PSTU possui
nacionalmente, o mais importante é o do vereador Fábio José, eleito na cidade
de Juazeiro do Norte, no interior Ceará. Juazeiro é a segunda maior cidade do
Estado do Ceará e em torno dela se concentra o importante pólo político da
região do Cariri. Fábio foi militante do morenismo tupiniquim desde a
Convergência Socialista. Foi eleito em 2000 em uma coligação entre o PT e o
PSTU, que tinha como candidata à prefeita, a petista Íris Tavares. O lema da
coligação frente-populista que recebeu apoio até de notórios políticos do PSDB
era “quando o povo quer, Padre Cícero abençoa”, reivindicando o que há de mais reacionário
na cultura local, o fanatismo religioso que tem como expressão maior o
padre-coronel, símbolo da manipulação da crença popular pelas oligarquias
latifundiárias e a igreja católica no Cariri. A esta arqui-reacionária
coligação, o PSTU tem a repugnante cara-de-pau de chamar de “frente classista”.
Iris não foi eleita prefeita, mas a tal frente elegeu dois vereadores em
Juazeiro, um do PT e o próprio Fábio José. Desta forma, o PSTU foi
imediatamente recompensado eleitoralmente por integrar a frente eleitoral
burguesa e clerical. Nas eleições de 2002 Irís Tavares elegeu-se deputada
estadual e ingressou na DS.
Uma vez eleito, o vereador do PSTU “abençoado”(termo
utilizado na campanha de Fábio) por Padre Cícero conformou um bloco parlamentar
liderado pelo vereador do PT Manoel Raimundo Santana, da Articulação e pelo
vereador Tarso Magno, do Partido Humanista Social (PHS). O vereador do PSTU não
se deteve nos marcos da frente popular com o PT e estendeu sua aliança a um
partido burguês marginal.
Após seis meses do governo Lula, nenhum argumento utilizado
no Jornal Opinião Socialista reivindicando a ruptura dos parlamentares radicais
do PT com o governo Lula foi forte o bastante para convencer o vereador do
próprio PSTU a romper com o bloco parlamentar burguês de apoio ao governo da
frente popular. Tampouco tiveram importância para que o vereador Fábio viesse a
mudar de posição e romper com o bloco de vereadores apoiadores do governo Lula,
os ataques aos trabalhadores, arrocho salarial, pagamento da dívida externa,
negociações em favor da ALCA, repressão ao funcionalismo em greve desferidos
pelo governo nacional do PT mais recentemente. Pelo contrário, o bloco se
mantém cada vez mais unido e homogêneo a cada nova sessão, a ponto de que em
uma audiência pública no final de julho, Tarso Magno se viu obrigado a declarar
categoricamente que apesar de seu alinhamento político com os outros dois
vereadores, não o confundissem, seu partido ainda era o PHS e não o PT.
Mas o mandato que deveria servir de exemplo para os
parlamentares petistas convidados a romper com o cretinismo parlamentar segue
muito bem obrigado, vegetando na sombra da frente popular e a reboque do líder
parlamentar da Articulação na Câmara Municipal, que defende ardorosamente as
alianças eleitorais com as oligarquias e, entre outras maldades do governo
Lula/FMI, a famigerada Reforma da Previdência.
A principal marca do mandato de Fábio e do bloco parlamentar
(PT, PSTU, PHS) foi fazer uma oposição responsável, ética, ao prefeito que
derrotou Íris e a seu séqüito de vereadores, no marco da moralização da Câmara
Municipal. Trata-se do velho colaboracionismo de classes voltado à pressão
popular sobre o parlamento, típico do reformismo parlamentar burguês, cujo
objetivo é desgastar eleitoralmente o prefeito e catapultar as candidaturas da
frente popular para 2004.
FAÇA O QUE EU DIGO, NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO
O mandato de Fábio não serve aos trabalhadores para
enfrentar a alienação religiosa alimentada secularmente pelas oligarquias
nordestinas e, em particular, as do Cariri. Não serve como exemplo de ruptura
com o governo Lula “em quem chamou a votar” e com suas reformas
pró-imperialistas. Não serve de exemplo de como os revolucionários atuam no
parlamento burguês, como nos ensinou o revolucionário alemão Karl Liebknecht
votando contra os créditos de guerra. Mas serve como tubo de ensaio de
demonstração de que a alternativa de esquerda e socialista apontada pelo PSTU
em nada se diferencia do PT e não passa de uma sombra envergonhada da frente
popular das “origens”.
Mas as coisas não param por aí. Fábio José não quer colocar
em risco a sua reeleição, e enquanto o PSTU chama nacionalmente os
trabalhadores a romper com o PT e a construir um novo partido, seus militantes
em Juazeiro do Norte já convocam o PT a reeditar a “frente classista” de 2000
nas eleições municipais de 2004, tendo como candidata a mesma Íris Tavares, que
junto com a DS apoia a reforma da previdência de Lula. Tamanho oportunismo
serve também para demonstrar como uma tática de sobrevivência sem princípios se
tornou uma estratégia e que, para garantir seu lugarzinho como vereador numa
câmara municipal, o PSTU apela para a combinação entre o vale tudo eleitoral e
o cretinismo parlamentar.