HÁ QUATRO ANOS DA MORTE DE LUIZ GUSHIKEN: ASSIM COMO
PALOCCI, OUTRO EX-DIRIGENTE DA OSI QUE TRANSITOU PARA O CAMPO DA CÚPULA DA
"ARTICULAÇÃO DOS 113"
No dia 13 de setembro de 2013 falecia Luiz Gushiken, um dos
fundadores da antiga OSI (Organização Socialista Internacionalista) atual
corrente petista "O Trabalho". A história política de Luiz Gushiken
em muito se assemelha aos “melhores” quadros da antiga OSI, que acabaram
abandonando a organização e o próprio Trotsquismo para ingressarem em outros
“projetos” que poderiam render bem mais dividendos políticos e materiais.
Falecido aos 63 anos, em decorrência de um câncer generalizado, doença que
vinha lhe consumindo desde 2002. A trajetória do ex-ministro da SECOM do
governo Lula foi marcada pela militância política de esquerda que se iniciou já
no final da década de 70. O “China”, como era conhecido no movimento
estudantil, aderiu ao Trotsquismo durante sua militância na USP, sendo um dos
dirigentes da tendência “Libelu” (Liberdade e Luta), corrente juvenil
impulsionada pela Organização Socialista Internacionalista (OSI), ligada a
Pierre Lambert (ex-OCI francesa). A “Libelu” chegou a obter uma significativa influência
no final dos anos 70, já que foi a primeira tendência política no movimento de
massas a defender a palavra de ordem “Abaixo a Ditadura!” de forma pública e
aberta. Como bancário do extinto Banespa participou ativamente das greves
contra a ditadura militar, sendo inclusive preso por defender que os
trabalhadores deveriam participar dos sindicatos “oficiais” e não desprezá-los
como simples “escola do peleguismo”. Por conta da defesa desta orientação,
Gushiken rompeu com a OSI (atual corrente “O Trabalho”) que postulava a
política sectária e antitrotsquista de “sindicatos livres”, conquistando
posteriormente o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Logo após sua saída da
OSI Gushiken e sua irmã mais nova tiveram um rápido flerte com a Causa Operária
(atual PCO), mas rapidamente abandonaram o grupo por considerá-lo pequeno e
vazio de quadros, pensamento próprio dos burocratas sindicais. Gushiken chegou
a ser um dos fundadores da CUT na condição de presidente do sindicato dos
bancários de SP, aproximando-se pessoalmente de Lula (junto com toda uma leva
de quadros oriundos de OT), na formação da “Articulação dos 113”, que agrupava
o chamado “novo sindicalismo”. Em paralelo, Gushiken se dedicou à fundação do
PT e foi eleito deputado federal por três mandatos consecutivos. Na condição de
exímio estrategista e brilhante quadro político, foi o coordenador das
campanhas eleitorais de Lula em 1989 e 1998. Como ministro de Lula e
“conselheiro” da frente popular no Planalto foi até pouco antes de morrer um
“capo” formulador da política reformista da Articulação, atualmente chamada de
"Campo Majoritário", escapando por pouco da acusação de ser um dos
petistas que integravam o esquema do “mensalão” na farsa jurídica montada pelo
STF.A ruptura de Gushiken com a OSI no final dos anos 70 foi produto do
zigue-zague político da corrente Lambertista que vinha de uma posição correta
nas eleições de 78, convocando a construção de um partido operário independente
ao mesmo tempo em que lançava a campanha do voto nulo nas eleições parlamentares
e a denúncia do Colégio Eleitoral que “elegeu” presidente o general Figueiredo.
Desgraçadamente, OT dava seus primeiros grandes sinais de degeneração, primeiro
caracterizando o PT como mais um partido da transição golberyana para depois
capitular vergonhosamente ao lulismo, identificando este fenômeno político como
sendo a “materialização possível” de sua palavra de ordem em defesa de um
partido operário independente. São aproximadamente mais de 35 anos de entrismo
no PT, partido que serviu de manjedoura para acolher todos os quadros
oportunistas formados na OSI, como o próprio Gushiken, Palocci, Clara Ant,
Arlete Sampaio, Luiz Favre... Concomitante ao apoio da OCI ao governo de
Mitterrand na França, a OSI, a segunda maior seção Lambertista, realiza um giro
de 360º e a “Libelu” substitui uma oposição sectária à formação do PT até então
tido como uma “articulação burguesa” montada pelos militares por um adesismo
sem princípios, desembocando grande parte de sua influência na corrente de
Lula, a “Articulação”, que seria agora uma “direção classista de um partido
operário independente”. Gushiken, a exemplo da maioria dos dirigentes da OSI,
após um breve período de vacilação, integra-se a direção do PT e passa a ser um
quadro formulador político-ideológico da “Articulação”, já com o viés do “novo
sindicalismo” absorvido com a experiência das greves bancárias (quando teve a
oportunidade de conhecer Lula), durante as quais o Sindicato dos bancários de
São Paulo contribuía financeiramente para apoiar e sustentar os enfrentamentos
dos metalúrgicos do ABC com os patrões e a repressão da ditadura militar. Neste
período adquiriu grande prestígio nas hostes do lulismo que emergia no final da
década de 70, ascendendo na hierarquia política da burocracia sindical-partidária.
Quando a frente popular assumiu o governo federal, o “China” na condição de
ministro de Lula na Secretaria de Comunicação (SECOM) se dedicou a negócios
para parasitar o Estado burguês e as negociadas em torno dos poderosos fundos
de pensão.
Gushiken, após romper com o Trotsquismo transformou-se
inapelavelmente no “capo” formulador do reformismo da ala majoritária petista.
Colocou-se a serviço até mesmo do governo FHC, na condição de artífice de
profundos e vastos estudos acerca da privatização da previdência social e os
fundos de pensão, com o objetivo de colocá-los nas mãos do capital financeiro.
Tarefa a qual se dedicou com tamanho afinco e estresse que sofreu um infarto em
2001, trabalho que logo em seguida seria aplicado no governo Lula quando
assumiu a presidência em 2003. Aliás, Gushiken foi um dos idealizadores da
“Carta ao Povo Brasileiro” em 2002, na qual daria garantias políticas aos
grandes capitalistas que um futuro governo Lula não iria se conflitar com os
banqueiros, o latifúndio e/ou as multinacionais e que, portanto, os grandes
capitalistas poderiam ficar tranquilos quanto a isto, contando inclusive com o
aval da Rede Globo. Mesmo doente foi convocado por Lula em seu primeiro mandato
para assumir a pasta de ministro-chefe SECOM, constituindo o denominado “núcleo
duro” do PT ao lado de José Dirceu e Antônio Palocci. Tinha a incumbência de
desenvolver projetos estratégicos de médio e longo prazos para o país voltados
para beneficiar o capital financeiro entre outras várias atribuições políticas
de contenção e engessamento do movimento operário. Pode-se dizer que era o
ministro mais próximo de Lula. Em 2005, na crise política aberta com o
“mensalão”, foi acusado de liberar antecipações de recursos do Banco do Brasil
a fim de alimentar a extensa teia de corrupção no governo e de manipular os
chamados fundos de pensão em benefício da Articulação, agora conhecida como
“Campo Majorítário”. Para “livrar a cara” de Lula e da frente popular, Gushiken
é “rebaixado” e posteriormente afastado do governo, mas dada a sua importância
dirigente estrategista continuava ativo como “conselheiro” exógeno. Por sua
proximidade com o ex-presidente Lula, foi implicado no atual circo midiático e
na farsa jurídica do chamado “mensalão”, porém conseguiu ser absolvido por
“falta de provas” no julgamento do STF.
A forma repugnante como os “grandes” quadros dirigentes do
revisionismo, como Palocci e Gushiken, se converteram em agentes e gestores do
capital comprova mais do que nunca que se não há uma força programática do
partido revolucionário, os elementos mais capazes do movimento operário são
cooptados pelo Estado burguês utilizando para interesses alheios aos da classe
operária a sólida experiência adquirida nos trâmites sindicais e na militância
partidária, estes atributos fatalmente acabam sendo aplicados e usados a
serviço da burguesia e da ordem capitalista. Gushiken, antes de seu falecimento
já havia enterrado, num canto esquecido de seu passado, os resquícios de sua
militância de esquerda no Trotsquismo, tornando-se conscientemente um dos
pilares formuladores da política burguesa-reformista da “Articulação”. Esta é
mais uma ácida lição que os revolucionários devem abstrair para que se possa
travar um combate programático intransigente perante as novas gerações contra
as tendências liquidacionistas do Trotsquismo diante da ofensiva
contrarrevolucionária que marca a luta de classes em nível nacional e
internacional. A lembrança da morte de Gushiken é simbolicamente o enterro de
uma geração de jovens quadros que se aproximaram do Trotsquismo, mas que
literalmente acabaram como porta-vozes da política reformista e de colaboração
de classes do PT.