A ex-presidente poste parece mesmo que se lançou em uma “cruzada cívica” pela redução dos juros escorchantes cobrados pelo sistema financeiro nacional. Neste último Primeiro de Maio em cadeia nacional de radio e TV, Dilma se dirigiu aos trabalhadores conclamando que se endividassem mais porque ela “garantiria” juros menores em um futuro muito próximo. Para este objetivo o governo acionou os bancos públicos, que já “reduziram” o patamar de juros de cerca de 8% ao mês para algo em torno de 3,5% em casos “especiais”, como o da conta salário e crédito consignado em folha de pagamento. Os rentistas privados que controlam o sistema financeiro nacional, quase todos agiotas internacionais com exceção do Itaú (o Bradesco já está sob controle da banca norte-americana) se recusam a baixar suas taxas de forma “abrupta” e exigem uma série de contrapartidas jurídicas (como execuções sumárias) por parte do governo federal. Dilma está literalmente sentada em um verdadeiro “barril de ouro”, com a captação recorde de uma enorme massa de capitais voláteis vindos ao Brasil atraídos por juros elevadíssimos e uma segura estabilidade política. Quanto aos salários, Dilma não se preocupou em anunciar nenhum aumento neste dia do trabalhador, ao contrário, segue a política de “reajuste zero” para uma enorme parcela do proletariado, que não deixa de ser “convidado” insistentemente pelo governo a tomar dinheiro emprestado aos bancos, para “compensar” o arrocho salarial. Os rentistas que tiveram uma rentabilidade excepcional no ano passado visualizam que não podem estrangular o setor industrial, sob pena de provocar uma crise econômica no país, apresentaram uma “proposta” para a presidente: “Vamos encontrar um 'pato' para arcar com o ônus financeiro da redução das taxas de juros!”. Dá para adivinhar quem vai bancar o ínfimo “prejuízo” dos parasitas do cassino de Wall Street?
A cartilha capitalista neoliberal que Dilma segue à risca, manda que os trabalhadores sempre paguem a “conta” de qualquer perda nos lucros da burguesia, e na atual “cruzada cívica” da frente popular não poderia deixar de ser diferente. Logo o governo encontrou uma saída para “equalizar” as chorumelas dos banqueiros, recalcitrantes em diminuir uma taxa de juros estratosférica e insustentável a longo prazo (10%) para um nível de extorsão “civilizada” (4%). A solução foi a redução da já miserável rentabilidade da caderneta de poupança, meio ponto percentual ao mês, apontada agora como a “vilã” da luta contra os juros altos. Acontece que a caderneta de poupança representa o fundo de reservas financeiro da maioria dos pequenos comerciantes e dos trabalhadores de baixa renda, que sequer conseguem abrir uma conta corrente em um grande banco comercial, em função das exigências cadastrais. A rentabilidade da caderneta de poupança (independente do estabelecimento onde se concentram os depósitos) é mínima mas garantida por lei federal, desde sua criação durante o regime militar. Em conjunto com o fundo de garantia, são os menores rendimentos pagos aos poupadores mais pauperizados, e mesmo assim Dilma e sua equipe econômica de neomonetaristas canalhas pretendem reduzir ainda mais para agradar as hienas da Febraban.
A operação de roubo institucionalizado aos trabalhadores e pequenos poupadores é bem simples, a grande massa de depósitos da caderneta de poupança (quase um trilhão de reais) encontra-se nos bancos privados, e agora serão remunerados com menos de 0,5% ao mês, podendo chegar a insignificantes 0,1% (quase nada!), então os “pobres” rentistas “forçados” pelo governo emprestarão seu capital (apropriado dos trabalhadores) a uma taxa que pode variar entre 3,5 e 6% ao mês! O presidente do covil de bandidos, que atende pela alcunha de Febraban, Murilo Portugal, está eufórico com a iniciativa “corajosa” de Dilma, afirmando que agora poderá sentar a mesa com o governo para debater a redução dos juros. Mas quem pensa que a equipe do escroque Mantega vai ficar por aí se engana, já cogitam alterar os rendimentos do próprio Fundo de Garantia do Trabalhador (FAT), não por coincidência também regido pela mesma taxa referencial de juros (TR) da caderneta de poupança. Para completar o pacote de “bondades” do governo, Dilma “liberou geral” a desvalorização do Real, atendendo a pedidos dos agroexportadores e da esquerda “desenvolvimentista” estúpida, que não se cansava de reclamar da “subvalorização do Dólar”. Com o Dólar voltando a disparar, a inflação já está de volta, principalmente na cesta básica alimentar, composta de commodities agrárias com suas cotações muito “aquecidas” com a alta artificial do Dólar.
O “país do presente” realmente atravessa um momento “singular” em sua história, com uma bolha de crédito a sua disposição e vivendo uma “trégua social” ofertada pela burocracia sindical corrompida. O crash financeiro mundial de 2008, como afirmávamos solitariamente no mesmo período, não trouxe para o Brasil a “catástrofe”, mas sim uma etapa de forte expansão econômica baseada em uma brutal ofensiva imperialista contra as conquistas sociais do proletariado. Nos EUA e Europa a ofensiva patronal obriga os trabalhadores a lutarem defensivamente, e sem nenhuma perspectiva revolucionária e socialista. As direções reformistas e revisionistas anunciam o “armagedon” do atual modo de produção como uma manobra para ocultar sua política de humanizar o capitalismo e subordinar a ação direta do proletariado a disputa institucional no Parlamento burguês. O “bom combate” contra os parasitas do mercado financeiro não pode estar separado da luta pela revolução socialista e a demolição violenta da instituições “democráticas” do Estado burguês. No Brasil, sob a égide da frente popular, não pode haver ilusões que os governos petistas não passam de agentes submissos da banca internacional, travestidos da mesma social democracia que levou a Europa para a bancarrota econômica.